segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SÉRIE: MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 5: Sacrifício da Missa

Mito 5: "A noção da Missa como Sacrifício é ultrapassada"

Não é.

O Sagrado Magistério da Igreja, por graça do Espírito Santo, é infalível em matéria de fé e moral (Cat., n.2035). Por isso, a fé católica não muda.

A Santa Missa é a Renovação do Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, oferecido pelas mãos do sacerdote. Diz o Catecismo da Igreja Católica (n. 1367): "O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício." 

O Catecismo anterior, publicado pelo Papa São Pio X em 1905, afirma (n. 652-654): "A santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de pão e de vinho, em memória do sacrifício da Cruz. (...) O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece pelas mãos dos sacerdotes seus ministros, sobre os nossos altares, mas quanto ao modo por que é oferecido, o sacrifício da Missa difere do sacrifício da Cruz, conservando todavia a relação mais íntima e essencial com ele. (...) Que diferença, pois, e que relação há entre o Sacrifício da Missa e o da Cruz? Entre o Sacrifício da Missa e o sacrifício da Cruz há esta diferença e esta relação: que Jesus Cristo sobre a cruz se ofereceu derramando o seu sangue e merecendo para nós; ao passo que sobre os altares Ele se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os frutos da sua Paixão e Morte." 

Curiosidade: o Papa Bento XVI afirmou, no dia 09 de Outubro de 2006, que o homem contemporâneo "perdeu o sentido do pecado". Ora, se não há pecado, qual a necessidade de um Sacrifício Propiciatório? Creio que isso explica muitas coisas...

___________________________________

Comentário sobre este Mito (07/05):

Santo Tomás de Aquino, doutor da Santa Igreja, nos fala a respeito do Santo Sacrifício da Missa:

"Tanto vale a Santa Missa quanto vale a morte de Jesus."

Qual o valor da morte de Nosso Senhor na cruz? A nossa SALVAÇÃO! Eis o valor do Santo Sacrifício da Missa, o Sacrifício que nos salva, pagando pelos nossos pecados e nos abrindo o Céu...

Mas em um sentido místico profundo, o Santo Sacrifício da Missa, antes de apontar para algo "nosso", aponta para o imenso Amor de Deus por nós, no Mistério do Seu Real Aniquilamento (Fl 2,7), onde se faz Realmente e Substancialmente Presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade (Cat. 1374-1377), e de alguma forma, do próprio aniquilamento do Pai Eterno, que por amor a nós, sacrificia o Seu Filho Único, realizando o que foi prefigurado no sacrifício de Abraão, em que Abraão é figura do Pai e Isaac é figura de Jesus (Gn 22); mas mais profundamente ainda, a Santa Missa aponta para o Mistério do Amor de Deus na Trindade, e por isso, de alguma forma, a Santa Missa poderia ser chamada misticamente como ATO DE AMOR DA TRINDADE.

Explico: Nosso Senhor aniquilou-se a si mesmo em Sacrifício por amor e obediência ao Pai Eterno, e por amor a nós e sede pela nossa salvação.

O Santo Sacrifício de Cristo nos salva e Nosso Senhor nos ama infinitamente porque Ele é Puro Amor, mas antes disso precisamos ver no Calvário o ato de amor de Nosso Senhor ao Pai.

Ele mesmo rezou: "Pai, se possível afasta de mim este cálice, mas faça-se Tua Vontade e não a minha." (Mt 26,36)

E no Santo Sacrifício da Missa, então, temos o ato máximo de amor de Nosso Senhor em relação ao Pai. Embora seja o Sacrifício que nos salva (e mais abaixo falamos mais profundamente a respeito do que este Mistério diz respeito a nós), é ato de amor de Nosso Senhor ao Pai, ato de amor do Pai por nós, que entrega o Filho, e ao mesmo tempo O recebe, e ato de Amor do Espírito Santo que é o Amor entre o Pai e o Filho. A Trindade se revela na cruz. Sob o olhar amoroso e o coração transpassado de Santíssima Virgem, que em seu coração, se sacrifica também junto com o Filho pela sua entrega e obediência perfeita.

E em uma contemplação da Santo Missa, nesta perspectiva, em um primeiro momento todo nosso humano se apaga, e fica apenas:

O ATO MÁXIMO DE AMOR DA TRINDADE.

E isso é impressionante!

O que o Concílio de Trento nos ensina a respeito da Santa Missa é desconcertante:

“O próprio Deus todo-poderoso não pode fazer que exista uma ação mais sublime do que o Santo Sacrifício da Missa.”

Justifica-se, pois objetivamente falando, o Mistério do Real Aniquilamento de Deus no Santo Sacrifício da Calvário e da Missa (finalidade do Verbo de Deus ter se feito Carne!), e o Ato máximo de Amor da Trindade, tem uma dignidade maior do que a própria Criação do Universo!

Mais impressionante ainda, se somarmos isso com o fato de que o sacerdote, atuando "in Persona Christi" (na Pessoa de Jesus Cristo, por graça participando ministerialmente do Seu Sacerdócio; ver Cat. 1667-1673), poder realizar isso por um livre ato de vontade!

Nessa perspectiva, o Ministério Sacerdotal é algo grande, muito grande, inexprimível!

E o sacerdote tem o poder de, por um livre ato de vontade, realizar isso! Realizar algo que, parece-me claro, tem uma dignidade maior do que a própria criação do universo!

Por isso se diz que as mãos do sacerdote são o Útero da Santíssima Virgem.

Como é grande o Ministério Sacerdotal! Como é grande a graça que os sacerdotes recebem!

No dizer de São João Maria Vianney, Padroeiro dos Sacerdotes, "o sacerdócio é amor do Coração de Jesus", e "o sacerdote só entenderá a si mesmo no céu". São Pio de Pietrelcina, outro sacerdote Santo Eucarístico da Santa Igreja, expressa isso dizendo: "Sou um mistério para mim mesmo."

Como é grande a responsabilidade depositada em suas mãos, e o ódio de Satanás em querer destruir esses Santos Mistérios na alma dos sacerdotes!


Em um segundo momento de nossa contemplação, vemos mais profundamente o que este mistério diz respeito a nós. Sendo a Santa Missa o Santo Sacríficio de Nosso Senhor, precisamos compreender também que no Corpo Místico de Cristo, Ele é a Cabeça, e nós somos os membros (ICor 12,27; Col 1,18). Não existe Sacrifício da Cabeça sem o Sacrifício dos membros. Na Santa Missa, nós oferecemos o nosso sacrifício espiritual (pois adorar implica em oferecer sacrifício, mesmo nas culturas mais primitivas ao reconhecer nossa pequenez diante de Deus...); e unimos o nosso sacrifício espiritual ao Santo Sacrifício de Nosso Senhor, oferecido ao Pai no altar. Como filhos e filhas da Santa Igreja, precisamos nos entregar com Nosso Senhor no altar. Isso é VIDA EUCARÍSTICA.

Por isso, diz o Sacerdote aos fiéis no Rito da Santa Missa: "Orate, fraters: ut meum ac vestrum sacrifícum acceptábile fiat apud Deum Patrem omnipoténtem", que literalmente significa "Orai, irmãos, para que o MEU e o VOSSO sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso", expressando assim a diferença entre o Sacrifício do Sacerdote - que é "Persona Christi", "Pessoa de Cristo" - e o sacrifício dos fiéis.

Nesse sentido, São Paulo escreve aos Romanos: "Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrificio vivo, santo, agradável a Deus; é este o vosso culto espiritual." (Rm 12,1)

Também Tomás de Kempis, no seu maravilhoso livro "Imitação de Cristo" (chamado analogicamente a 'a segunda Bíblia", dada a sua profundidade espiritual), coloca essas palavras na boca de Nosso Senhor (livro 4, capítulo 8, n.1-2):

"Assim como Eu a Mim mesmo ofereci espotaneamente ao Pai Eterno, com os braços estendidos e o Corpo Nu, de modo que nada restasse em Mim que não fosse oferecido em Sacrifício de Reconciliação Divina; assim também deves tu de coração oferecer-se voluntariamente a Mim."

E ainda:

"Que outra coisa exigo de ti senão que te entregues inteiramente a Mim? De tudo que me deres fora de ti, não faço caso; porque não busco teus dons, mas a ti mesmo. Assim como não te bastariam todas as coisas sem Mim, assim me não pode agradar o que sem ti me ofereces. Oferece-te a Mim, dá-te todo a Deus, e será aceita a tua oblação. Olha como me ofereci todo ao Pai por ti, e dei-te todo o Meu Corpo e Sangue em alimento, para ser todo teu e para que tu te tornasses todo Meu. Se, porém, te apegares a ti mesmo, e não te ofereceres expontaneamente a Minha Vontade, não será completa a tua oblação, nem perfeita a união entre nós. Portanto, a todas as tuas obras deve preceder o voluntário oferecimento de ti mesmo nas Mãos de Deus, se desejas alcançar a liberdade e a graça."

O Papa João Paulo II chamou a Santíssima Virgem de Mulher Eucarística (Ecclesia de Eucharistia, n. 53-56), e o Papa Paulo VI afirma que "Maria é modelo, sobretudo, daquele culto que consiste em fazer da própria vida uma oferenda a Deus." (Marialis Cultus, n. 21)

Esta é a verdadeira "participação" dos fiéis no Santo Sacrifício da Missa!

Uma das coisas mais impressionantes de tudo isso: o pouco valor que damos à Hóstia Consagrada, ao Santo Sacrifício da Missa e ao Sacerdócio!

É espantoso como, pela disseminação da teologia modernista na Liturgia, o caráter sacrifical da Santa Missa é obscurecido, e nos casos mais extremos, negado!

Um caminho que tomaram alguns liturgistas modernistas, como estratégia natural para disseminar suas crenças ideologias, é afirmar que a Santa Missa é simplesmente "banquete", "ceia" a "festa", onde "se celebra a vida, a fraternidade e a partilha", e assim obscurecer a sua essência, que é sacrifical.

O saudoso Papa João Paulo II, em sua última encíclica, escreveu à este respeito: "As vezes transparece um compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesma. Além disso, a necessidade do sacerdócio ministerial, que se fundamenta na sucessão apostólica, fica às vezes obscurecida, e a sacramentalidade da Eucaristia é reduzida à simples eficácia do anúncio. (...) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um Dom demasiadamente grande para suportar ambigüidades e reduções." (Eccleisa de Eucharistia, n. 10)

Muitos, ainda, simplicam a questão definindo a Santa Missa como uma "festa". O que pensar disso?

Não seria errado se afirmássemos que a Santa Missa é uma festa em um sentido místico profundo, pois nela, no Santo Sacrifício de Nosso Senhor, acontece a nossa salvação. No Calvário se esconde a Glória. São João define o momento do Sacrifício de Nosso Senhor como o momento em que "o Filho do Homem é Glorificado". (Jo 13,31) Por isso, na Santa Missa toda a Santa Igreja triunfante, padecente e militante – o que inclui a Virgem Santíssima, os santos anjos, os santos do purgatório e os santos da terra – se alegra e festejam a alegria da nossa salvação. Mas o fazem em profunda reverência, solenidade e adoração.

Por outro lado, Santa Missa não é absolutamente uma festa no sentido popular do termo, pois a Santa Missa não é um encontro social para onde as pessoas se dirigem para comemorar algo, para confraternizarem, para comer e para dançar. A Santa Missa tem a finalidade de oferecer ao Pai o Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, e a nossa participação nele (no sentido de nos unirmos ao mistério que o sacerdote celebra no altar) nos propicia os frutos deste Sacrifício. 

Embora a Santa Missa tenha uma dimensão de banquete e ceia, é um banquete essencialmente sacrifical, que perde totalmente o sentido se não reconhecermos nele a dimensão de Sacrifício. Pois na Santa Missa não nos alimentamos de uma comida qualquer como em um banquete ou ceia comuns, mas sim do Carne e do Sangue de Nosso Senhor, escondidos sob a aparência do pão e do vinho.

Simplificar a questão afirmando simplesmente que "a Missa é uma festa", em um ambiente onde o povo não está preparado para compreender isso, é realmente um perigo.. .

Nós somos beneficiados pela Santa Missa, mas NÃO somos destinadários dela. A Santa Missa é a Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor, e por isso ela é celebrada para Deus e NÃO para nós. E por isso que o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", incentiva que a Santa Missa seja celebrada em "Versus Deum" ("Voltados para Deus", isto é, com sacerdote e fiéis voltados para a mesma direção), na parte 2, cap. III, chamado "O altar e a orientação da oração na Liturgia". É por isso que os liturgistas modernistas, que querem negar ou obscurecer o caráter sacrifical da Missa, abominam a Missa celebrada em Versus Deum...

A nossa indiferença é espantosa.




Postado por: Francisco Dockhorn

Um comentário:

  1. Abusos de toda ordem na Sagrada Liturgia tem sido motivo de confusão e escândalo para os fiéis. Em certas ocasiões, a comunhão dura quase o mesmo tempo que o momento da saudação da Paz. E uma vez recebido o Corpo de Cristo, não se faz a ação de graças. Inversão de valores? Pouco se vê a Adoração ao Santíssimo Sacramento durante a Santa Missa e tanto se fala em participação na Ceia. Problema esse de formação, em todos os níveis! Triste de ver nos pequenos... Assim sendo, o caráter sacrificial da Missa, em tempos de secularização total, simplesmente se tornou desconhecido.
    Como muito bem ensina a Instrução Redemptionis Sacramentum (Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Roma, 25 de março de 2004), "[6.] Os abusos, sem dúvida, «contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica sobre este admirável Sacramento»... Convém que todos os fiéis tenham e revivam aqueles sentimentos que receberam pela paixão salvadora do Filho Unigênito, que manifesta a majestade de Deus, já que estão ante à força, à divindade e ao esplendor da bondade de Deus[16], especialmente presente no sacramento da Eucaristia.[17]"

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...