domingo, 27 de fevereiro de 2011

Catequese - VIII Domingo do Tempo Comum

VIII Domingo do Tempo Comum (Mt 6,24-34) 



EVANGELHO COMENTADO PELO PADRE CARLO BATTISTONI

VIII Domingo do Tempo Comum
Mt 6,24-34

«“Ninguém pode servir a dois senhores; pois, ou será indiferente um e amará o outro, ou prestará atenção a um e menosprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e a o que dá segurança. Por isso eu vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, com o que havereis de comer ou beber; nem com o vosso corpo, com o que havereis de vestir. 

Afinal, a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo, mais do que a roupa? Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta. Vós não valeis mais do que os pássaros? Quem de vós pode prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso? E por que ficais preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. 

Porém, eu vos digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará ele muito mais por vós, gente de pouca fé? Portanto, não vos preocupeis, dizendo: ‘O que vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos vestir? 

Os pagãos é que procuram essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso. Pelo contrário, buscai por primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia bastam seus próprios problemas”.»

PALAVRA DA SALVAÇÃO: Glória a Vós Senhor





O discurso da montanha sobre o qual refletimos até agora nos conduziu à exigência de dar um passo: é preciso, para Jesus tomar uma decisão definitiva em relação a Deus, não mais conhecido como legislador ético ou moral do Antigo Testamento, mas como alguém que, acima de tudo é “pai”, pai daquele que escolhe para si a posição de filho. Ser filho de Deus é uma escolha, nos disse Jesus no capítulo 5 de Mateus, é uma escolha que implica em aderir à lógica de Deus, o qual «faz surgir o sol sobre os bons e sobre os maus, sobre os justos e injustos». Quando alguém descobre de ter em si esta lógica, que é a “perfeição de Deus” - como já refletimos -, descobre também de ser “filho desta lógica”, que é amor acima de tudo, que é Deus amando acima de tudo.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 7: Quem celebra?

Mito 7: "Quem celebra a Missa não é o Padre, e sim toda a comunidade"

Não.


A Instrução Redemptions Sacramentum (n. 42), de 2004, discorrendo sobre o Santo Sacrifício da Missa, afirma:

"O Sacrifício Eucarístico não deve, portanto, ser considerado "concelebração", no sentido unívoco do sacerdote juntamente com povo presente. Ao contrário, a Eucaristia celebrada pelos sacerdotes é um dom que supera radicalmente o poder da assembléia. A assembléia, que se reúne para a celebração da Eucaristia, necessita absolutamente de um sacerdote ordenado que a presida, para poder ser verdadeiramente uma assembléia eucarística. Por outro lado, a comunidade não é capaz de dotar-se por si só do ministro ordenado."

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Comentário sobre este ponto (21/05):

Esse mesmo trecho da Instrução Redemptionis Sacramentum (n.42), que citei acima, diz à seguir:

"Urge a necessidade de um interesse comum para que se evitem todas as ambigüidades nesta matéria e se procure o remédio das dificuldades destes últimos anos. Portanto, somente com precaução, faça-se acabar com termos do tipo: «comunidade celebrante» ou «assembléia celebrante», em equivalentes em outras línguas vernáculas: «celebrating assembly», «assemblée célébrante»,«assemblea celebrante», e outros termos deste tipo."

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Como se expandiu a "Reforma" nos séculos XVI e XVII?


DR. UDSON RUBENS CORREIA 

A "reforma protestante" se expandiu rapidamente porque foi imposta de cima para baixo sem exceção em todos os países em que logrou vingar. 

Martinho Lutero
O povo foi obrigado a "engolir" as novas doutrinas porque os reis e príncipes cobiçavam as terras e bens materiais da Igreja Católica. Infelizmente nesta época a Igreja era rica de bens materiais . Foi com os olhos postos nesta riqueza mundana que os soberanos "escolheram" para si e para seu povo as doutrinas dos novos evangelistas, esquecidos de que todo ouro, terra ou prata se enferruja e fenece conforme ensina a escritura: "O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados e a sua ferrugem testemunhará contra vós e devorará as vossas carnes" ( Tg 5, 2-3 ). Prova isto o fato de que as primeiras providências eram recolher ao fisco real tudo o que da Igreja Católica poderia se converter em dinheiro. 



INGLATERRA: foi "convertida" na marra porque o rei Henrique VIII queria se divorciar de Ana Bolena. Como a Igreja não consentiu, ele fundou a "sua" igreja obrigando o parlamento a aprovar o "ato de supremacia do rei sobre os assuntos religiosos". Padres e bispos foram presos e decapitados, igrejas e mosteiros arrasados, católicos aos milhares foram mortos. Qualquer aproveitador era alçado ao posto de bispo ou pastor. Tribunais religiosos (inquisições) foram montados em todo o país. (Macaulay. A História da Inglaterra. Leipzig, tomo I, pgna 54). Os camponeses da Irlanda pegaram em armas para defender o catolicismo. Foram trucidados impiedosamente pelos exércitos de Cromwell. Ao fim da guerra, as melhores terras irlandesas foram entregues aos ingleses protestantes e os católicos forçados a migrar para o sul do continente. Cerca de 1.000.000 de pessoas morreram de fome no primeiro ano do forçado exílio. Esta guerra criou uma rivalidade entre ingleses protestantes e irlandeses católicos que dura até hoje, e volta e meia aparecem nos noticiários. 



ESCÓCIA: O poder civil aboliu por lei o catolicismo e obrigou todos a aderir à igreja "calvinista presbiteriana". Os padres permaneceram, mas tinham de escolher outra profissão. Quem era encontrado celebrando missa era condenado à morte. Católicos recalcitrantes foram perseguidos e mortos, igrejas e mosteiros arrasados, livros católicos queimados. Tribunais religiosos (inquisições) foram criados para condenar os católicos clandestinos. (Westminster Review, Tomo LIV, p. 453) 



DINAMARCA: O protestantismo foi introduzido por obra e graça de Cristiano II, por suas crueldades apelidado de "o Nero do Norte". Encarcerou bispos, confiscou bens, expulsou religiosos e proclamou-se chefe absoluto da Igreja Evangélica Dinamarquesa. Em 1569 publicou os 25 artigos que todos os cidadãos e estrangeiros eram obrigados a assinar aderindo à doutrina luterana. Ainda em 1789 se decretava pena de morte ao sacerdote católico que ousasse por os pés em solo dinamarquês. (Origem e Progresso da Reforma, pgna 204, Editora Agir, 1923, em IRC) 



SUÉCIA: Gustavo Wasa suprimiu por lei o Catolicismo. Jacopson e Knut, os dois mais heróicos bispos católicos foram decapitados. Os outros obrigados a fugir junto com padres, diáconos e religiosos. Os seminários foram fechados, igrejas e mosteiros, reduzidos a pó. O povo indignado com tamanha prepotência pegou em armas para defender a religião de seus antepassados. Os Exércitos do "evangélico" rei afogaram em sangue estas reivindicações. (A Reforma Protestante, Pgna 203, 7ª edição, em IRC. 1958) 



SUÍÇA: O Senado coagido pelo rei aprovou a proibição do catolicismo e proclamou o protestantismo religião oficial. A mesma maldade e vileza ocorreram. Os mártires foram inumeráveis. ( J. B. Galiffe. Notices génealogiques, etc., tomo III. Pgna 403 ) 



HOLANDA: Aqui foram as câmaras dos Estados Gerais a proibir o catolicismo. Com afã miserável tomaram posse dos bens da Igreja. Martirizaram inúmeros sacerdotes, religiosos e leigos. Fecharam igrejas e mosteiros. A fama e a marca destes fanáticos chegaram até o Brasil. Em 1645 nos municípios de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante ambos no atual Rio Grande do Norte cerca de 100 católicos foram mortos entre dois padres, mulheres, velhos e crianças simplesmente porque não queriam se "batizar" na religião dos invasores holandeses. Foram beatificados como mártires neste ano. Em 1570 foram enviados para o Brasil para evangelizar os índios o Pe. Inácio de Azevedo e mais 40 jesuítas. Vinham a bordo da nau "S. Tiago" quando em alto mar os interceptou o "piedoso" calvinista Jacques Sourie. Como prova de seu "evangélico" zêlo mandou degolar friamente todos os padres e irmãos e jogar os corpos aos tubarões (Luigi Giovannini e M. Sgarbossa in Il santo del giorno, 4ª ed. E.P, pg 224, 1978). 



ALEMANHA: Na época era dividida em Principados. Como havia muito conflito entre eles, chegaram no acordo que cada Príncipe escolhesse para os seus súditos a religião que mais lhe conviesse. Princípio administrativo do "cujus regio illius religio". Os príncipes não se fizeram rogar. Além da administração mundana, passaram também a formular e inventar doutrinas. A opressão sangrenta ao catolicismo pela força armada foi a consequência de semelhante princípio. Cada vez que se trocava um soberano o povo era avisado que também se trocavam as "doutrinas evangélicas" (Confessio Helvetica posterior, 1562, artigo XXX). Relata o famoso historiador Pfanneri: "uma cidade do Palatinado desde a Reforma, já tinha mudado 10 vezes de religião, conforme seus governantes eram calvinistas ou luteranos" (Pfanneri. Hist. Pacis Westph. Tomo I e seguintes, 42 apud Doellinger Kirche und Kirchen, p. 55) 



ESTADOS UNIDOS: Para a jovem terra recém descoberta fugiram os puritanos e outros protestantes que negavam a autoridade do rei da Inglaterra ou da Igreja Episcopal Anglicana. Fugiram para não serem mortos. Ao chegarem à América repetiram com os indígenas a carnificina que condenavam. O "escalpe" do índio era premiado pelo poder público com preços que variavam conforme fossem de homem maduro, velho, mulher, criança ou recém-nascido. Os "pastores" puritanos negavam que os peles vermelhas tivessem alma e consideravam um grande bem o extermínio da nobre raça. 

EM RESUMO

Nenhum país cuja maioria hoje é protestante foi convertido com a bíblia na mão. Foram "convertidos" a fogo e ferro, graças à ambição dos reis e príncipes. Exceção é feita no presente século onde a tática mudou. Agora o que ocorre é uma invasão maciça de seitas de todos os matizes, cores e sabores financiados pelos EUA. Pregam um cristianismo fácil, recheado de promessas de sucessos financeiros instantâneos ou quando não, promovem como saltimbancos irresponsáveis shows de exorcismos e curas às talargadas. Antes, matava-se o corpo. Hoje, estraçalha-se a razão e o bom senso. Dificilmente se conhece um "evangélico" que não seja de todo um ignorante nas Sagradas Escrituras ou tenha para com a Igreja de Cristo um ódio mortal e uma ignorância lamentável. Cursinhos de "teologia" ou "Apologética" onde pouco ou nada se estuda sobre a Bíblia, os escritos dos primeiros cristãos ou história séria são ministrados aqui e ali para fisgar os incautos que abandonam a Igreja duas vezes milenar fundada por Cristo e herdeira de suas promessas para seguir opiniões de aventureiros fundadores de igrejolas e seitas. Falsos profetas que se enganam e enganam. Cegos condutores de cegos (MT 15, 14). Que rodeiam o mar e a terra, para fazer um discípulo, e quando o fazem o tornam duas vezes mais digno do inferno do que eles (MT 23, 15).

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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Catequese - VII Domingo do Tempo Comum

VII Domingo do Tempo Comum (Mt 5, 38-48) 

EVANGELHO COMENTADO PELO PADRE CARLO BATTISTONI


Postado por Jorge Kontovski em 17 fevereiro 2011 às 22:24

VII Domingo do Tempo Comum
Mt 5,38-48
  

« Disse Jesus a seus discípulos: “Vós ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente! ’

Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar com ele mil passos, caminha dois mil com ele! Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado. Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. 

Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!”» 

PALAVRA DA SALVAÇÃO: Glória a Vós Senhor!


          
Eis-nos diante de uma das mais desafiadoras páginas do Evangelho, é a continuação do trecho do domingo passado em que Jesus afirma, com toda a sua força, que a fé cristã não se diferencia das outras maneiras de cultuar a Deus apenas por ser fundamentada em princípios e culto diferentes. Aqui estamos diante de um modo de viver que, com extremo radicalismo, traz à tona o sentido último do estilo de vida de um cristão. Não estamos diante de palavras que apaziguam nossos desejos intimistas de algo espiritual que nos aliena de um mundo do qual queremos fugir porque nos decepciona sempre mais. A fé não é isto. Jesus não propõe nem um idealismo nem uma fuga, mas sim uma inserção tão profunda no viver humano que é capaz de chocar qualquer um e conduzi-lo a perguntar-se: “por que isso?”

O radicalismo cativa o homem porque lhe faz entrever que existem valores que estão acima do pensar comum, acima daquilo que é proposto de volta em volta como valor, pelos sistemas políticos e culturais nos quais vivemos e que mudam tão rapidamente. O radicalismo recorda ao homem o infinito eterno, estável, assim como estáveis são os valores primários da existência humana. Sempre tivemos exemplos na história de homens e mulheres que permaneceram firmes em seus valores até às últimas conseqüências, pessoas que assumiram um valor como centro da própria vida e não se venderam à mudança de opiniões. Por outro lado precisamos ter certo cuidado em não confundir o radicalismo com a intransigência, a rigidez, a intolerância, todos elementos, estes, que destroem as relações porque colocam o princípio acima da pessoa. O radicalismo como nos é proposto por Jesus, faz exatamente o contrário: aproxima as pessoas justamente porque não implica na renúncia ao princípio, mas leva em consideração a pessoa e as relações como valor último. 

Quando somos rígidos, não admitimos outras possibilidades a não ser aquelas que nós vemos e consideramos importantes; quando somos radicais não nos vendemos a qualquer preço, renunciando ao valor último por causa de contingências. Jesus nos apresenta, hoje, algumas situações em que o discípulo sabe colocar cada valor no seu lugar e escolher o que é certo, o que realmente agrada a Deus. Com certeza, para mim, pessoalmente, a leitura deste trecho é sempre um ótimo elemento de exame de consciência para que a minha fé não se transforme nunca em sentimentalismo, ritualismo, idealismo. Vamos juntos, dar um olhar à proposta de Jesus.

A impressão que primeira surge em nós ao ler este trecho é que o cristão parece ser, um homem subjugado, fraco, que não deve impor-se, que deve padecer as injustiças com a esperança de que um dia Deus o recompensará. Deste modo o discípulo é visto como uma pessoa fracassada, incapaz de reagir, de afirmar-se como homem (esta é a visão que algumas ideologias como, por exemplo, a Maçonaria e a Antroposofia têm da fé cristã). Mas o que de fato diz Jesus? A questão central é: o que o cristão oferece como novidade a um mundo que teima continuamente em usar meios que não funcionam? Qual é a alternativa real que a fé traz ao homem? Ela pode ser algo que modifica as relações humanas ou é apenas um artifício que permite a sobrevivência a quem não tem como reagir? Para responder à questão temos apenas um meio: verificar o que acontece quando respondemos a uma pessoa usando uma “arma” imprevisível. Ninguém espera, por exemplo, que uma pessoa que recebe uma “bofetada” apresente também a outra face, ou seja, que não revide usando a mesma moeda. Qual é o efeito que tal atitude gera? Aqui está o critério para distinguir o discípulo de um outro homem qualquer: ele não responde ao mal com o mal, porque esta terrível dinâmica, apenas aumenta o “mal”: mal + mal só dá mal em dobro. E o mal se instaura como uma força sorrateira dentro do mundo das relações dos homens. O mal pode ser destruído apenas como seu contrário: o bem, mesmo que isto custe, custe renunciar aos próprios direitos. Responder ao mal com o mal tem como resultado a divisão, a separação que é o “pecado” do qual fala sempre Paulo: “a inimizade”. 

Onde há inimizade é mais fácil encontrar o Inimigo do que encontrar a Deus. O cristão sabe que o bem, em última análise, vence e derrota o mal; o cristão sabe isso porque viu Jesus viver deste modo e morrer deste modo. Jesus dirimiu qualquer dúvida possível sobre as relações entre o bem e o mal, tanto com a sua vida quanto com a sua promessa a Pedro: «as portas dos ínferos não prevalecerão» (Mt 16,18). Ou seja: a porta indica o que dá acesso, o que faz entrar o homem no mundo dos “ínferos”, ou seja, da degradação definitiva da sua dignidade, ou, em última análise: “não faz ser o homem aquilo que ele é”. Por isso que Paulo exorta o cristão com estas palavras: «Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem» (Rm 12,21).

Jesus toca várias circunstâncias nas quais entra em jogo um outro questionamento: então o cristão é uma pessoa que não reage? Claramente Jesus não nos pede de compactuar com o mal, ou tolerar o mal fingindo que não nos tocou porque estamos acima de tudo isto. Nada mais falso, todos somos profundamente atingidos e feridos pelo mal, sob qualquer forma este venha a nós; o próprio Jesus, quando ressuscitado, ressuscitou com as marcas, com as feridas do mal recebido. A questão é: o que fazemos com o mal que recebemos, usamos este para dividir ou para gerar união? Se repararmos bem, e considerarmos as possíveis reações de alguém que é surpreendido por uma reação inesperada, vemos que nunca há um aumento de distância entre os dois (quem deu a bofetada e quem a recebe, por exemplo; ou quem quer obrigar a andar mil passos e quem decide de fazer dois mil...). 

Pois bem, o integralismo e a rigidez têm como conseqüência o aumento da distância entre as pessoas, a atitude proposta por Jesus não somente não aumenta a distância (=pecado), mas lhe tira a força, destrói o seu ímpeto maligno; eu diria, é uma porta aberta à comunhão, mesmo à custa dos próprios direitos e de certo tipo de justiça. 

É um ato de amor que pode desestabilizar as certezas de alguém que espera ser considerado como inimigo e, invés, é tratado como “amigo”...! «Se a vossa justiça não superar a justiça dos escribas e fariseus... ». É fácil usar esta lógica? Com certeza não, não é humana. A lógica humana é a lógica expressa no primeiro e mais antigo código de Leis, o Código de Hamurabi (XVIII a.C): «olho por olho, dente por dente», retomada pela legislação Judaica (Ex 19,15-51; 21,24; Lv 24,20). A famosa “lei do talião” que visava fazer sentir ao outro aquilo que ele havia provocado, o mal que ele havia causado. Por um lado esta é uma lógica valida, certa... mas é apenas isso, não é capaz de gerar nada de novo, não converte, só reprime. 

O cristão tem uma função nova em tudo isto: ele é a porta aberta pela qual pode passar a mudança de vida de uma pessoa que cometeu o mal; uma porta aberta que agrada a Deus mais que sacrifícios e cultos (parafraseando as palavras de Isaías sobre a misericórdia). Parece sempre mais difícil, mas Jesus nos dá também o caminho que nos permite fazer esta escolha; ouvimos que Ele associa o perdão à oração «orai por aqueles que vos perseguem», sim, sem a oração o homem permanece apenas na esfera humana, é incapaz de contemplar e transformar em vida o princípio divino que está no discípulo. O perdão é o que nos faz mais semelhantes a Deus, é um convite de Jesus, não uma obrigação: «Sejais filhos do vosso Pai... Ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos».

Permito-me uns últimos esclarecimentos, apenas para entender melhor o que Jesus quis dizer com os exemplos que deu.

a) «Se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda»; numa briga não se consegue dar um tapa no lado direito do rosto de uma pessoa; logo Jesus não está se referindo ao simples ato de bater, refere-se antes, à ofensa. Um tapa dado com o dorso da mão não é um ato de raiva é bem mais, é um ato de desprezo. A este ato de desprezo, Jesus sugere que quem é ofendido não somente fique desprendido disso, mas mostre também os outros aspectos de si que não são tão bonitos e agradáveis e que existem dentro do coração.

b) A túnica era um bem próprio, um direito adquirido por herança ou por merecimento (Gen. 37,3); era símbolo de um “status” social. A quem quer tirar esta túnica, ou seja, o “a mais”, a liberdade do discípulo pode chegar a “dar” também o “manto” que, para os hebreus era um direito natural, que não podia ser tirado a ninguém (Ex 22,25; Dt 24,13).

c) «Se alguém te forçar a andar com ele mil passos, caminha dois mil com ele»; era um gesto próprio do autoritarismo, para mostrar a superioridade podiam acontecer casos como o Cirineu: obrigado a mudar de caminho, a mudar o próprio projeto e seguir aquilo que outro impunha; às vezes se fazia isto de propósito para mostrar poder até sobre coisas da vida privada.

d) «Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!» De fato não se encontra esta prescrição na Escritura, a qual apenas diz: “não é obrigado a amar teus inimigos”; o ódio ao inimigo é uma interpretação mais rígida dada pelos rabinos já que, sendo Israel o povo de Deus, todo inimigo de Israel é inimigo de Deus, logo Israel deve combater os inimigos de Deus: nasce a guerra santa (que ainda hoje ceifa milhares de vítimas).

Mas é realmente possível amar alguém que nos fez o mal?

É um desafio, um desafio a percorrer a estrada do amor, sustentados pela força da oração, o exemplo e as promessas de Jesus: tudo isto é mais que humano, é próprio de um filho de Deus.

“O amor do inimigo constitui o núcleo da revolução cristã, uma revolução não baseada em estratégias de poder econômico, político ou mediático. A revolução é do amor, um amor que não se apóia sobre recursos humanos, mas é dom de Deus que se obtém confiando unicamente e sem ressalvas sobre a Sua bondade misericordiosa”; creio que estas palavras (tiradas de uma catequese de Bento XVI) mostrem como hoje a evangelização passa necessariamente por esta proposta alternativa encarnada já que o mundo está simplesmente saturado de propostas e dificilmente consegue escutar. 

O discípulo pode, sim, mostrar a força do amor que «As grandes águas não podem apagar, nem os rios afogar» (Ct. 8,7). Isto é evangelizar, é tocar o coração do homem com a força do amor de Deus. Gostaria de encerrar citando uma reflexão de Santo Tomás de Aquino: “O amor a um amigo pode ter várias motivações que não implicam em Deus, enquanto que Deus é o único motivo pelo qual se pode amar um inimigo” (S.Th. III,27,8).

Deus te abençoe,
Pe. Carlo

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 6: Jesus Crucificado ou Ressuscitado?

Mito 6: "É mais expressivo no altar a imagem de Jesus Ressuscitado do que de Jesus Crucificado"

Não é.

A Instrução Geral do Missal Romano determina (n.308):

"Sobre o altar ou junto dele coloca-se também uma cruz, com a imagem de Cristo crucificado, que a assembléia possa ver bem. Convém que, mesmo fora das ações litúrgicas, permaneça junto do altar uma tal cruz, para recordar aos fiéis a paixão salvadora do Senhor."

Essa cruz alude ao Santo Sacrifício de Nosso Senhor, que se renova no altar. Nosso Senhor está vivo e ressuscitado, mas a Santa Missa renova o Sacrifício.

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Comentário sobre este Mito (14/05):

"A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é Força Divina . (...) Nós pregamos CRISTO CRUCIFICADO, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus, quer gregos -, Força de Deus e Sabedoria de Deus." (I Cor 1, 18-24)

A Cruz, que para a antiguidade era um dos sinais mais repulsivos existentes, para nós se tornou Sinal da Salvação. Da mesma forma que São Paulo, o Apóstolo São João expressa isso de forma maravilhosa. Como dissemos na postagem anterior deste estudo, o Apóstolo define o momento do Sacrifício de Nosso Senhor como o momento em que "o Filho do Homem é Glorificado". (Jo 13,31) No Calvário se esconde a Glória.

A Santa Igreja Católica Apostólica Romana, em suas legítimas tradições litúrgicas Ocidental (Latina) e Oriental, enfatizou elementos distintos ao se deparar com o Mistério Pascal - o Mistério de Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor. Enquanto o Oriente enfatizou mais o aspecto da divinização do homem (ou seja, o homem participa da Natureza Divina pela graça santificante) e da Ressurreição, o Ocidente, principalmente a partir do século XIII, enfatizou mais o aspecto da remissão dos nossos pecados e do Santo Sacrifício do Calvário, que nos salva.

Sobre essa legítima distinção, nos fala o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia":

"A separação do Ocidente e do Oriente no âmbito das imagens , que ocorreu a partir do século XIII, abre caminhos espirituais com motivos totalmente diferentes."

E falando a respeito do desenvolvimento da Liturgia no Ocidente, explica:

"A orientação para Oriens, para o Ressuscitado que caminha diante nós, é substituída pela devoção à cruz, baseada mais no histórico. Mesmo assim, essa diferença que se gerou não deveria ser excessivamente valorizada. A representação da dolorosa morte de Cristo na cruz é, sem dúvida, uma novidade, contudo, ela não deixa de representar aquele que sustentou as nossas dores, aquele, cujos vergões foram a nossa Salvação. Mesmo na extrema dor, ela representa o Amor Redentor de Deus."

E mais adiante:

"As imagens são consoladoras, porque os nossos tormentos parecem superados mediante a Compaixão de Deus Encarnado, contendo ao mesmo tempo a mensagem da Ressurreição. Também essas imagens tem a sua origem na oração, na meditação interior sobre o caminho de Cristo; elas sao identificações com Cristo, tendo por base o pensamento de que Deus se identificou conosco através Dele. Elas abrem o realismo do Mistério, mas não o abandonam."

Ícone Oriental (Bizantino) do "Pantokrator",
mostrando Cristo Glorificado
É claro que NÃO nos opomos a que sejam utilizados elementos artísticos da Liturgia Oriental em nossas igrejas, capelas e oratórios, pois estas diferenças entre as tradições legítimas, verdadeiramente católicas, são riqueza para todos nós. Conheço igrejas e capelas, por exemplo, com ícones orientais belíssimos, que ligam o nosso coração ao Céu!

Mas vamos ao problema:

A questão é que alguns liturgistas, adeptos da teologia modernista, ou influenciados pela mesma, com a justificativa de inserir em nosso meio elementos da Liturgia Oriental, muitos deles que nos ligam a Igreja dos primeiros séculos, estão fazendo isso com o intuito de abolir a tradição da Arte Litúrgica Ocidental, que como o Papa nos explica nas citações expostas acima, também é legítima, gerou muitos santos no segundo milênio e faz parte da nossa tradição cultural.

Arte Litúrgica Oriental sim; ABOLIR a Arte Litúrgica ocidental, NÃO!

Tais liturgistas utilizam esse justificativa como estratégia, por exemplo, para abolir que se coloque a imagem de Jesus Crucificado sobre o próximo ao altar, e se utilize no lugar a imagem de Jesus Ressuscitado. Ora, isso é contrário não só ao autêntico espírito da Liturgia Católica, mas também as próprias normas litúrgicas, como foi exposto acima.

Estes mencionados liturgistas, também, rechaçam que haja a figura de Jesus Crucificado na abside (=parede do fundo) das igrejas. Por exemplo, um conhecido artista sacro brasileiro, que já realizou coisas que admiro, afirmou em uma entrevista que representa Nosso Senhor vivo, porque quem preside a Missa é Jesus vivo e não morto. Respeitosamente, discordo da aplicação desta idéia aqui.

Explico: é Nosso Senhor Vivo e Ressuscitado que está presente na Santa Missa, claro, mas a Missa renova o Santo Sacrifício de Nosso Senhor, que se dá em Sua Presença Real e Substancial nas aparências do pão e do vinho (Catecismo, n. 1362-1372; 1374-1377), e por isso a tradição liturgica do ocidente, legimitamente católica, sempre valorizou a figura de Jesus Crucificado na abside das igrejas. Esse rechaço a imagem do Crucificado é reforçado ainda por uma mentalidade protestante que nos rodeia, que abomina Jesus Crucificado, dizendo: "Jesus não está na Cruz, mas Jesus está Vivo!"

Papa Bento XVI celebrando na forma Versus Deum, com a imagem de Cristo
Crucificado no centro altar, voltada para ele e para os fiéis. Observação: Há pinturas, mas nunca omite-se a Cruz no centro.

Ora, evidente que nós católicos cremos que Nosso Senhor Ressuscitou e está Vivo! Mas só Ressuscita quem morre.

Na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, DEUS MORREU (Catecismo, n. 601) !

É uma verdade teológica chocante, mas isto é cristianismo: NÃO é um "meio-termo" entre duas idéias em tensão, mas o mergulhar profundamente nas duas para encontrar a Verdade da Maravilha do Amor de Deus, da Sua Infinita Misericórdia, do seu Poder Redentor e mesmo do caráter redentor do sofrimento humano e do Céu maravilhoso que nos espera!

Olhamos para a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e não vemos a morte, mas a vida. Olhamos Crucificado para o Crucificado e não vemos algo repulsivo, mas o Amor, o Puro-Amor feito Carne, que se aniquilou até a última gota de Sangue para pagar pelos nossos pecados. 

NÃO nos opomos, claro, que hajam figuras de Jesus Ressuscitado nas absides. Conheço belas igrejas que são assim. E mais ainda, para mim há um efeito espiritual maravilhoso olhar a imagem de Jesus Crucificado, colocada sobre ou próxima ao altar, vendo conjuntamente, ao fundo, a figura de Jesus Ressucitado. Veja aí um retrato místico da teologia do Evangelho de São João: na Cruz, se esconde a Glória.

Por outro lado, também considero belíssimas as igrejas que se focam em retratar Jesus Crucificado na abside, nos levando visualmente a contemplar mais diretamente este elemento durante o Santo Sacrfício da Missa; como também considero belíssima as igrejas consagradas de forma especial a Santíssima Virgem e A retratam na abside, nos auxiliando, neste caso, a contemplar a Presença e a Participação da Virgem junto ao Sacrifício do Seu Divino Filho. São as legítimas diferenças católicas!

O problema aqui é quando se utiliza, a tradição oriental, com o objetivo de abolir arte ocidental, e utilizar isso para negar ou ofuscar a idéia do caráter sacrifical da Santa Missa, que é a Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor.

Retomamos o que disse o saudoso Papa João Paulo II, na sua maravilhosa encíclica Ecclesia de Eucharistia (n.10):

"As vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesma. (...) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um Dom demasiadamente grande para suportar ambigüidades e reduções."

Frizo novamente:

Arte Litúrgica Oriental sim; ABOLIR a Arte Litúrgica Ocidental, NÃO!

Uma última pergunta a ser respondida: qual é local adequado para se colocar o Cruficixo durante a Santa Missa?

A Instrução Geral da Missa Romano (n.308) fala em "sobre o altar ou junto dele".
Papa Bento XVI celebrando  na forma Versus Populum, com a imagem de Cristo Crucificado no centro do altar voltado para ele, sem se importar em "atrapalhar a visão dos fiéis"

Na celebração em "Versus Deum" ("Voltado para Deus", com sacerdote e fiéis voltados para a mesma direção), que é a forma tradicional de celebrar e a forma como o Papa recomendou no seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", o costume é colocar o crucifixo no centro, acima do altar, em cima do Sacrário ou na parede, fazendo com que seja ponto de referência. Se a celebração for "Versus Populum" (com o sacerdote voltado para o povo), o Papa, no mesmo livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", expõe dá a seguinte orientação a respeito da cruz:

"Ela deveria se encontrar-se no meio do altar, sendo o ponto de vista comum para o sacerdote e para a comunidade orante."

E completa, expondo o problema de se colocar a cruz na parte lateral do altar ou ao lado dele, ao invés de colocar no centro, nas Missas em Versus Populum:

"Considero as inovações mais absurdas das últimas décadas aquelas que põe de lado a cruz, a fim de libertar a vista dos fiéis para o sacerdote, Será que a cruz incomoda a Eucaristia? Será que o sacerdote é mais importante que o Senhor? Este erro deveria ser corrigido o mais depressa possível , não sendo precisoas para isso nenhumas reconstruções. O Senhor é o ponto de referência."

Este modelo de ornamentação de altar para as Missas celebradas em Versus Populum, com a cruz no centro e os castiçais dos lados dela, quem é a forma como o Papa normalmente celebra em Roma, se convencionou chamar de "arranjo beneditino". A cruz, evidentemente, é voltada para o sacerdote, que é quem celebra o Santo Sacrifício da Missa.

Um problema pastoral que ainda se cria é: nesse caso, com a cruz voltada para o sacerdote, o povo não terá a sua disposição um crucifixo para voltar o seu olhar durante a Missa? Penso que a solução para Missas em Versus Populum seja haver dois crucifixos: um no altar ou junto dele, voltado para o sacerdote, e outro voltado para os fiéis (seja ou lado do altar ou na abside, neste caso, na parede do fundo ou mesmo em cima do Sacrário, se este estiver no centro). A desvantagem é que neste caso haverá dois Crucifixos, o que é desnecessário perante as normas litúrgicas, e penso que enfraquece o simbolismo de Nosso Senhor ser um só. Mas são os prejuízos do Versus Populum. 

Que a Santíssima Virgem, a Grande Mãe do Deus Crucificado e Ressuscitado, que de uma forma tão especial participou do Santo Sacrifício de Seu Divino Filho, nos auxilie, por Sua Poderosa Intercessão, a reconhecê-lo no Santo Sacrifício da Missa, contemplá-lo, defendê-lo...e nos entregar no altar junto com Nosso Senhor.

"A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é Força Divina . (...) Nós pregamos CRISTO CRUCIFICADO, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus, quer gregos -, Força de Deus e Sabedoria de Deus." (I Cor 1, 18-24)




Postado por: Francisco Dockhorn
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