Sacramento é algo que nos é doado, e sacrifício é algo que oferecemos a Deus. Na Eucaristia como sacrifício, Jesus oferece mais uma vez ao Pai seu holocausto pela nossa Salvação; enquanto como sacramento o Senhor doa-se a nós para nossa santificação.
Como sacrifício a Eucaristia é uma realidade transitória, que se realiza durante a celebração da Santa Missa, e seu fim primário é glorificação de Deus. Como sacramento é uma realidade permanente, o Santíssimo Sacramento, e tem como desígnio a nossa santificação.
O Sacramento
A Eucaristia distingue-se dos demais sacramentos pela sua sublimidade, de modo que se pode dizer que a Eucaristia é a plenitude dos demais sacramentos, posto que os são os canais da graça de Deus, que comunicam à alma de quem os recebe o mistério salvífico de Cristo. Porém, de forma mais perfeita, na Eucaristia não recebemos só os méritos do mistério pascal, mas o próprio Cordeiro de Deus.
Todos os sacramentos confluem para o Santíssimo Sacramento: os batizados fazem-se filhos da Igreja, e a Igreja reúne os seus da mesma forma que Jesus reuniu-se com seus apóstolos, no partir do Pão. Os crismados são confirmados a fim de se fazerem perfeitos cristãos e dar testemunho de vida verdadeiramente cristã, e como soldados fiéis que deverão ser, têm a necessidade de receber o Pão dos Céus. A Penitência por sua vez, é o sacramento que capacita as almas que fraquejaram a receber a Sagrada Comunhão. E o sacramento da Ordem, para que fim mais belo foram instituídos pelo próprio Jesus os sacerdotes da Nova Lei, senão para que tivessem o poder de fazer presente sobre os altares o próprio Mestre, em obediência as suas palavras “fazei isto em memória de mim”?
O sacramento do matrimônio, instituído primariamente para gerar aqueles que pelo Batismo far-se-ão filhos de Deus, e este Deus Pai misericordioso é o Bom Pelicano que alimenta os filhotes com a sua própria carne. Por fim, o sacramento da Unção dos Enfermos, é dado para unir os filhos da Igreja aos supremos tormentos da Paixão do Redentor, a fim de que quando abandonarem este mundo, possam gozar da visão Eucarística, só que agora já não mais ocultada pelos véus das aparências de pão e vinho.
Na Sagrada Escritura, Jesus deixa singularmente clara sua realidade eucarística, Ele intitula-se o Pão Vivo descido do Céu, e depois na última ceia, tomando o pão diz: “Este é o meu corpo”.
Também é indispensável lembrar àqueles que negam o Santíssimo Sacramento, aquela passagem em que Nosso Senhor depois de ter feito o milagre de multiplicar os pães e os peixes, é seguido pela multidão. Jesus então os repreende por que eles O Seguiam não por Ele ter feito milagres, mas por tê-los saciado a fome. Jesus vai mandar que trabalhem não pela comida que perece, mas pela comida que dura para vida Eterna e que Ele dará; o povo logo pede a Jesus deste pão, e Jesus responde: “Eu sou o Pão da Vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede” (São João 6, 35). Jesus vai ser ainda mais enfático dizendo: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (São João 6, 53 - 56). Então muitos de seus discípulos murmuraram e foram embora.
Jesus não foi correndo até eles e disse: “acalmem-se vocês não me entenderam bem, é claro que minha carne não é uma verdadeira comida.” Ao contrário, Jesus mantém o que acabara de dizer, e ainda, aproximando de seus doze apóstolos diz: “Quereis vós também retirar-vos?” (São João 6, 67). Jesus não retificou o que acabara de dizer mesmo tendo visto que muitos se afastaram, porque aquilo o que disse não era uma figura, não era um simbolismo, mas era simplesmente verdade. Como Jesus está presente na Sangrada Hóstia? Tanto nas aparências de pão quanto de vinho, é Jesus todo inteiro e vivo como está no Céu; pois Jesus ressuscitado não morre mais, por isto seu sangue já não mais separa de seu corpo, logo onde está o corpo está concomitantemente o sangue, assim também onde está o sangue está por concomitância o corpo; e onde está o corpo e o sangue está a alma e a divindade.
O Sacrifício
Eucaristia enquanto sacrifício, a Santa Missa, é a renovação do sacrifício da Cruz. O Papa Pio XII proferiu esta admirável sentença: “O altar de nossas igrejas não é diferente do altar do Gólgota, pois ele também é um monte encimado por uma Cruz e por um Crucificado, e é nele que se realiza a reconciliação entre Deus e o homem”. Também asseverou o Doutor Angélico “Tanto vale a celebração da Santa Missa, quanto vale a Morte de Jesus na cruz”.
Importante compreender que a Santa Missa, o sacrifício Eucarístico que nela acontece, não é o outro, mas o mesmo sacrifício da Cruz; separados apenas na ordem cronológica, mas o que existe sobre o altar, é mesma Vítima, o mesmo oferecimento e o mesmo sacerdote da Cruz. A única diferença está no modo em que Jesus se oferece: o Sacrifício da Cruz foi oferecido com derramamento de Sangue (cruento), e o Sacrifício da Missa é incruento (sem derramamento de sangue). Poderiam dizer os hereges: “que sacrifício pode dar-se sem derramamento de sangue?” Ora, Abraão voltando da guerra encontrou um rei chamado Melquisedec; aquele rei ofereceu a Deus pão e vinho, este era um sacrifício em que não havia derramamento de sangue, portanto incruento.
A Santa Missa é um verdadeiro sacrifício em que o sacerdote é o próprio Jesus; no Salmo 110, o profeta Davi profetiza a respeito do Messias: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec”. Estas palavras do salmista, não se referem ao sacerdócio que Jesus exerceu na Cruz, porque nele houve derramamento de sangue; mas esta profecia anuncia o Sacerdócio de Jesus na Santa Missa, onde a oblação é incruenta.
Neste verdadeiro sacrifício que é a Missa, Jesus é não só sacerdote, mas como na Cruz, é também a Vítima oferecida ao Pai. A Missa é um memorial do Sacrifício da Cruz, porque é uma lembrança da paixão e morte de Nosso Senhor; a morte é simbolizada na separação das aparências do pão e vinho, como na Cruz separaram-se o corpo e o sangue, é portanto uma morte mística, isto é que se dá nos gestos e nas palavras, posto que após a sua ressurreição Jesus já não pode morrer. Porém a Missa não é uma simples lembrança, pois nela Jesus oferece-se verdadeiramente ao Pai tornando novamente presente a oferta feita por Ele na Cruz.
Qual a finalidade de renovar esta oblação? Primeiro para que nos ofereçamos com Ele, já que não pudemos estar presentes na sua Cruz do Gólgota, agora devemos estar presentes com Ele na patena do celebrante, e em união com os merecimentos de sua Paixão e Morte darmos glórias a Deus. Ainda, para que possam ser aplicados a nós os frutos deste Santo Sacrifício, e assim conseguirmos de Deus o perdão pelas nossas faltas e alcançarmos graças que nos forem necessárias. Também por meio da Santa Missa que Jesus fazendo-se presente sobre o altar pode vir sacramentalmente as nossas almas na Santa Comunhão.
Eucaristia: Mistério da Fé, Prodígio do Amor
A Eucaristia é um mistério da fé, e uma recordação constante e imperecível do amor de Deus pelas suas pobres criaturas. Certa vez um árabe, o emir Abd-el-ksder, estava andando pela cidade de Marselha com um oficial francês, quando encontraram com um sacerdote levando o Santo Viático à um enfermo; no mesmo instante o oficial francês parou, descobriu a cabeça e se ajoelhou. O árabe logo perguntou a razão de tal saudação, e ouviu do justo francês: “estou saudando o meu Deus, que o Sacerdote vai levando a um doente.” O emir reagiu dizendo: “como acreditar que Deus, sendo tão grande, faça-se tão pequeno, a ponto de ir até aos barracos dos pobres? Nós maometanos fazemos uma idéia bem mais alta de Deus.” O oficial então responde-lhe seguro: “É porque vós, tendes só uma idéia da imensa grandeza de Deus, mas não conheceis o seu amor”.
A Eucaristia é o amor de Deus, no milagre eucarístico de Lanciano, o fragmento de carne em que se transformou a Hóstia Consagrada, é cientificamente atestado ser um fragmento do músculo cardíaco humano e vivo. Como é misericordiosa a providência de Deus, sendo o coração o símbolo do amor, Deus nos quis mostrar esta doce verdade: Jesus na Divina Eucaristia é só amor. “A Eucaristia é o amor que supera todos os outros amores no Céu e na Terra” (São Bernardo).
Só o amor pode confinar um Deus a uma pequena partícula. Só o amor pode fazer um Deus querer nosso coração como Sua morada. Só o amor pode fazer um Deus suportar o abandono em tantos sacrários onde permanece esquecido. Só o amor pode fazer um Deus obediente às palavras do sacerdote, e por meio delas vir fazer-se presente sobre o altar. Enquanto os homens querem conquistar os pólos mais altos do mundo, na ilusão de serem grandes homens; só o amor pode fazer um Deus querer ser tão pequeno. Só o amor pode fazer um Deus querer tudo isto, e só um Deus pode amar assim.
Ao aproximarmo-nos da Diviníssima Eucaristia, é essencial compreender bem a quem iremos receber, e por assim sabermos, fazermos todo o possível para recebê-lo dignamente. A Santa Missa e a Comunhão são os centros da nossa fé, nestas horas não cabem quaisquer irreverências, mas todo o respeito, solenidade e reverência que pode merecer um Deus. Quando se inicia a Santa Missa, o católico deve esquecer-se de tudo mais que exista para ver somente o Cristo e oferecer-se com Ele; deve colocar-se no Calvário ao lado da Santíssima Mãe do Redentor; deve morrer misticamente com Jesus, para ressuscitar com Ele para uma vida de mais perfeição cristã; por isso o católico deve sair de cada Santa Missa melhor do que chegou a ela.
Uma vez quando perguntado se sofria por estar apoiado sobre as chagas sangrentas dos pés durante a Santa Missa , São Pio de Pietrelcina respondeu: “Durante a Missa, não estou de pé, estou suspenso”; isto é participar verdadeiramente da Santa Missa; São Pio não sentia-se apenas no Calvário, assistindo a Santa Missa, mas ele se pregava a Cruz. Conta-se também na vida de São Bento, que um dia celebrando a Santa Missa, após ter pronunciado as palavras “Isto é o meu Corpo”, ouviu uma resposta vinda da Hóstia a pouco consagrada: “É o seu também, Bento!”. Porque a verdadeira participação na Santa Missa, deve nos fazer não só expectadores do Sacrifício de Cristo, mas vítimas com a Vítima.
Para encerrar , não nos esqueçamos nem um só momento, que a Eucaristia é nosso grande tesouro de valor infinito, pois contém o próprio Deus; Santo Agostinho dizia sobre a Eucaristia: “Sendo Deus onipotente, não pôde dar mais; sendo sapientíssimo, não soube dar mais; e sendo riquíssimo, não teve mais o que dar”.
Fernanda Carminati Azevedo
Fernanda Carminati Azevedo