quarta-feira, 27 de julho de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 19: Latim e Concílio Vaticano II

Mito 19: "O Concílio Vaticano II aboliu o latim"

Não aboliu.


Pelo contrário: o Concílio Vaticano II incentivou o uso do latim como língua litúrgica.

Diz o Concílio (Sacrossanctum Concilium, n.36) : "Salvo o direito particular, seja conservado o uso da língua latina nos ritos latinos."

Embora exista atualmente em muitos lugares a concessão para se celebrar em língua local, o latim segue sendo a língua oficial da Santa Igreja e mantém o seu significado de unidade e solenidade:

"O uso da língua latina vigente em grande parte da Igreja é um caro sinal da unidade e um eficaz remédio contra toda corruptela da pura doutrina." (Papa Pio XII, na Encíclica Mediator Dei, n.53, de 1947)

Por isso o Santo Padre Bento XVI escreveu (Sacramentum Caritatis, n.62):

"A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano; nem se transcure a
possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia."

E a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 112) determina:

"Excetuadas as Celebrações da Missa que, de acordo com as horas e os momentos, a autoridade eclesiástica estabelece que se façam na língua do povo, sempre e em qualquer lugar é lícito aos sacerdotes celebrar o santo Sacrifício em latim."

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI (no livro "O sal da Terra", de 1996), reconhece que a "nossa cultura mudou tão radicalmente nos últimos trinta anosque uma liturgia celebrada exclusivamente em latim envolveria um elemento deestranheza que, para muitos, não seria aceitável."

Por outro lado, "o Cardeal (Francis Arinze, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos) também sugeriu que as paróquias maiores tenham uma Missa em latim pelo menos uma vez por semana e que as paróquias rurais e menores a tivessem pelo menos uma vez ao mês." (ACI Imprensa, 16 de Novembro de 2006)

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Comentário sobre este Mito (17/09):

Muitos hoje afirmam que o Concílio Vaticano II tem dito "isso" e "aquilo", mas nunca abriram um documento do Concílio para ver o que ele realmente diz.

Como podemos perceber nas citações acima, apesar da concessão que o Concílio fez para haver algum lugar para o vernáculo na Santa Missa, o Concílio VALORIZOU o latim. Jamais o aboliu.

Repetir o Mito de que "o Concílio Vaticano II aboliu o latim" é o típico exemplo do que o Papa Bento XVI tem chamado de "hermenêutica da ruptura", que consiste em interpretar o Concílio em descontinuidade com os pronunciamentos anteriores do Sagrado Magistério da Igreja.

Com efeito, o Papa Bento XVI, mais concretamente desde o seu discurso de 22 de Dezembro de 2005 aos Cardeais, Arcebispos e Prelados da Cúria Romana, tem defendido a chamada "hermenêutica da continuidade", isto é, a compressão do Concílio Vaticano II em comunhão com os pronunciamentos anteriores do Sagrago Magistério.

O Concílio Vaticano II é um concílio autêntico, mas é o 21o Concílio da História da Santa Igreja. Antes dele, há 20 outros Concílios!

E além disso, o texto do Concílio Vaticano II é claro em afirmar expressamente o valor do latim, como citamos acima.

Feitos estes pressupostos, vamos aprofundar a questão do latim na Liturgia.

Precisamos, em primeiro lugar, lembrar que na Santa Missa somos BENEFICIÁRIOS, não DESTINÁRIOS.

Porque?

Porque somos salvos no Santa Missa, pois é a Santa Missa é a Renovação do Seu Único e Eterno Sacrifício, consumado de uma vez por todas na cruz e tornado presente no altar, oferecido a Deus Pai, pois pelas mãos do sacerdote; pois na Santa Missa, Nosso Senhor Jesus Cristo está presente verdadeiramente no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, n. Cat. 1362-1377; 1411).

O Santo Sacrifício da Missa, portanto, é essencialmente celebrado PARA DEUS. E nós nos BENEFICIAMOS dele.

Neste e em outros assuntos, é importante mergulharmos no pensamento do Papa Bento XVI para chegarmos a uma compreensão mais aprofundada, a partir da sua sensibilidade litúrgica e aguçada visão pastoral.

Em uma entrevista (Voici quel est notre Dieu, Plon, Paris, 2.001. Pp. 288 a 294), o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, quando foi perguntado "será preciso celebrar de novo a missa em latim?", ele respondeu:

"É evidente que a liturgia da Palavra, pelo menos, deve se fazer nas línguas vernáculas. Entretanto, na minha opinião, deveria haver uma nova abertura para o latim. Celebrar a missa em latim aparece atualmente como um pecado.

Exclui-se assim, também as possibilidades de comunicação que são tão necessárias nas regiões pluri lingüísticas. Assim, o vigário da catedral de Avignon me contou que, um domingo, se apresentaram para assistir a missa três grupos lingüísticos diferentes. Ele lhes propôs de rezar juntos o cânon da missa em latim e assim todos poderiam celebrar juntos. Os três grupos recusaram: era preciso para cada grupo um elemento particular. Pensamos também nos lugares turísticos: certamente seria uma coisa bela reconhecer-se mutuamente naquilo que se tem em comum. Seria preciso ter tais eventualidades presentes ao espírito. Quando, nas grandes celebrações litúrgicas romanas, ninguém mais sabe cantar o Kyrie ou o Sanctus, ninguém mais sabe o que significa "Glória", trata-se então de um déficit cultural e de uma perda de pontos comuns. Eis porque, na minha opinião, a liturgia da Palavra deveria se fazer, em todo caso, na língua vernácula, mas que seria preciso que subsistisse um fundo comum em latim, que nos liga a todos."

Complementando a sabedoria de Bento XVI, citamos as palavras do que duas autoridades no assunto falaram em entrevista: Dom Antonio Rossi Keller, Bispo de Frederico Whestpham-RS, e Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, Presidente do Tribunal Eclesiástico de Cuiabá-MT e muito conhecido através da programação da Canção Nova.

Dom Antonio Keller, quando perguntado na entrevista sobre a questão do latim, assim se expressou:

"O latim tem seu lugar na vida litúrgica da Igreja como garantia da integridade da fé, manifestada nas celebrações litúrgicas. Não é a toa que todos os livros litúrgicos tem como ponto de referência as edições chamadas de "typica"."


Pe. Paulo Ricardo, quando perguntado sobre o mesmo assunto na entrevista, respondeu:

"A Liturgia só tem sentido quando ela é recebida do passado. Nós precisamos compreender que um rito litúrgico é algo recebido da tradição, recebido dos nossos pais. E é essa a importância do latim e do canto gregoriano. Ao se fazer orações em latim na Liturgia e ao se cantar cantos que foram cantados por gerações e gerações de cristãos antes de nós, nós tomando a consciência de que estamos vivendo algo que não foi inventado por nós, mas que nos une a uma multidão de santos e santas que viveram antes de nós, e que santificarem com aqueles textos e com aqueles cantos; se eles chegaram a se salvar e estar junto de Deus, também nós podemos fazer. (...) Aliás, o próprio Papa Paulo VI e o Concílio Vaticano II sua constituição Sacrossanctum Concilium pediam isso: que os fiéis soubessem recitar e cantar orações em latim e usando o canto gregoriano."

Para comentar mais profundamente a respeito da posição do Papa a respeito do assunto, gostaria de citar algumas sábias palavras que Rafael Vitola Brodbeck, diretor do blog Salvem a Liturgia, escreveu em um artigo que foi publicado em 2009, chamado "alguns motivos para o latim na Missa".

Segue abaixo:

* * *

Não se quer acabar com o vernáculo. Apenas o Papa quer incentivar a que se façam mais Missas na língua oficial da Igreja. No que está coberto de razão.

Alguns vêem isso com maus olhos, como se fosse algo terrível o cultivo das mais caras tradições da Igreja. É justamente a falta de tradição que dificulta a formação dos católicos.

Durante centenas de anos, celebrou-se a Missa em latim, e o povo não deixou a Igreja por isso. Há fortes razões teológicas, pastorais e litúrgicas para que se celebre em latim (sem deixar de celebrar em português; não é uma oposição, podendo-se celebrar em ambos os idiomas).

Conheço pessoas bem simples, de pouca instrução, que assistem a Missa em latim (seja no rito tridentino, seja no rito novo). E com muito proveito espiritual! Participar da Missa é unir-se a Cristo, ao seu sacrifício, não necessariamente entender cada palavra proferida ou responder a cada oração. Mas a Missa em latim não catequizará o povo – é o que dizem alguns...

Ocorre que Missa não é catequese. Missa em latim. Catequese em português. Nunca se deu catequese em latim (salvo para os que o entendem). Somos catequizados pelos meios de catequese: livros, aulas, a homilia na Missa, tudo isso em português. O único modo pelo qual podemos entender a Missa como catequese é considerando-a em suas cerimônias como algo que nos ensina, passo a passo, os mistérios da fé. Se é assim, há mais um argumento a favor do latim: o uso de uma outra língua, distinta da comum, demonstra que estamos diante de algo sagrado. E isso é catequese. A melhor de todas: a que mostra que a Missa não é show, é sacrifício,e diante do sacrifício não importa que entendamos as palavras, mas o que elas,em seu conjunto, significam.

O latim, por ser língua morta, está protegido das constantes mudanças de significado dos idiomas vivos e, por isso, preserva de modo muito mais eficaz ocorreto entendimento da doutrina. As línguas modernas assumem significados cadavez mais diversos para seus vocábulos. Hoje, uma palavra tem um sentido, amanhã a mesma terá outro. Como o latim é uma língua morta, isso não ocorre. As palavras terão sempre o mesmo sentido, e assim a doutrina é corretamente transmitida, diminuindo a possibilidade de maus entendidos.

"O uso da Língua Latina é um claro e nobre indício de unidade e um eficazantídoto contra todas as corruptelas da pura doutrina." (Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei)

Além disso, o uso de um idioma diferente do que estamos acostumados mostra que a liturgia é algo sacro. O latim demonstraria que estamos em outro clima, em outra atmosfera. Mostraria a solenidade do momento. E isso é importante para bemcompreendermos a liturgia. Imagina, estás falando em português o todo tempo. De repente, chegas na igreja, e começa o culto: "In nomine Patris et Filio et Spiritus Sanctus". Já estás em outro local. É o céu na terra. Até a língua muda!

O latim, portanto, fala muito à alma. Na Missa não precisamos entender as palavras, precisamos entender é o que está acontecendo.

De outra sorte, pergunto: é preciso que o povo entenda as PALAVRAS da Missa? Não! O que é preciso é entender a PRÓPRIA Missa! Todos entendemos todas as palavras da Missa? Claro que não. Há muitas passagens de altíssima teologia, que quase ninguém entende.

Mas isso não nos impede de colher frutos da Missa. Se o entendimento daspalavras da Missa fosse necessário para cresceres espiritualmente e para apreenderes os frutos da liturgia, então só doutores em teologia iriam à Missa, só eles se beneficiariam.

Muitos analfabetos, que nem sequer sabiam seu idioma direito, iam à Missa em latim e se santificavam na Idade Média, e até poucos anos. Por acaso, eles se afastaram da Igreja por não entenderem latim? Pelo contrário, se santificaram!

Importa entender que a Missa é o Sacrifício da Cruz e nos unirmos a esse ato sublime. Não importa entender o que as palavras da Missa dizem. Ajuda? Sim, pode ajudar, mas importar não importa. E quem quiser acompanhar as palavras pode decorar a Missa em latim, como decora o português, e ainda acompanhar pelos missais e folhetinhos.

O latim, ademais, nos mostra a pertença a uma Igreja maior, universal, que fala a mesma língua. Se tivermos Missa em latim em todas as igrejas (ao lado da Missa em vernáculo), então sempre que estivermos em qualquer lugar do mundo, poderemos ir numa Missa que entenderemos, pois estaremos acostumados.

O motivo de muitos não gostarem do latim é por não terem entendido o que é a Missa, ainda. A Missa é PARA DEUS, não para os homens. Não somos nós que temos de entender as palavras, mas Deus.

Não valorizar a tradição representada pelo latim, por outro lado, é não entender nada da fé católica. Uma Missa em latim evoca a universalidade da Igreja, e mostra que a Igreja tem dois mil anos. Nossa fé não nasceu ontem. Estar em umaMissa em latim mostra-nos que estamos juntos naquilo que os santos viveram.

"O Latim exprime de maneira palmar e sensível a unidade e a universalidade da Igreja." (Sua Santidade, o Papa João Paulo I, Discurso ao Clero Romano)

E quem não gostar do latim ou não entender sua importância, não compreender seu significado no rito?

Ora, os menos esclarecidos estão saindo da Igreja por falta de formação. Por não entenderem o simbolismo litúrgico. E por causa disso, então, vamos acabar com o simbolismo, só porque eles não entendem? Então, se muitos não entendem as letras, vamos fazer o que? Acabar com o alfabeto? Pelo contrário, vamos alfabetizá-los! Aos que não entendem a doutrina, vamos explicá-la.

Aos que não entendem os símbolos, vamos ensinar a lê-los. Em vez de acabar com o latim, vamos mostrar a importância!

Enfim, o maior uso do latim desperta nas pessoas mais reverência, mais entendimento do que realmente seja a Santa Missa, mais respeito e amor pela Eucaristia.

Cabe lembrar que quando falamos "Missa em latim" não estamos nos referindo necessariamente à chamada "Missa tridentina", o rito tradicional, forma extraordinária do rito romano, que utiliza o Missal de São Pio V. Não. Também a "Missa nova", o rito moderno, forma ordinária do rito romano, segundo o Missal de Paulo VI, a mesma que utilizamos na maioria de nossas igrejas, pode ser feita em latim. Na verdade, o normal é que tivéssemos uma Missa em latim no rito moderno ao menos semanalmente em todas as paróquias.

* * *

Sábias as palavras de Rafael Vitola Brodbeck!

Acrescendo ainda que muitos tem buscado o latim por, além dos significados de universalidade católica, solenidade e beleza litúrgica, procurar a pureza do Rito Romano, devido aos trechos da atual tradução brasileira em vigor que poderão ser revisados.

Evidentemente, esses trechos NÃO tiram a validade ou a licitude da Santa Missa.

Mas estas imprecisões poderão ser revisadas à seu tempo, e uma delas (na Consagração) Roma já determinou que esteja corrigida na próxima versão brasileira do Missal (documento da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Prot. N. 467/05/L, 17 de outubro de 2006); este documento se encontra mais abaixo, na íntegra.

Exemplos desses trechos da tradução ainda em vigor:

- Na Consagração, foi traduzido o Sangue derramado "pro vobis et pro MULTIS" ("por vós e por MUITOS") para "por vós e por TODOS";

- Nas respostas dos fiéis em partes dialogadas, "Et cum spíritu tuo" ("E com teu espírito") por "Ele está no meio de nós";

- Após o Ofertório, "Orate, fraters: ut ***meum ac vestrum sacrifícum*** (***o meu e o vosso sacrifício***) acceptábile fiat apud Deum Patrem omnipoténtem", para "Orai, irmãos, para que o ***nosso*** sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso" (no latim, distingue-se então o sacríficio do sacerdote - que é "Persona Christi", "Pessoa de Cristo" - do sacrifício dos fiéis; ver Catecismo da Igreja Católica. n. n. 1322-1498;1536-1600; 1667-1673).

- Na Oração Eucarística I (o "Cânon Romano"), na frase que alude Nosso Senhor na instituição do Santíssimo Sacramento, ele traduz "Santas e Veneráveis Mãos" (literal do latim: "Sanctas Ac Venerabilis Manus Suas") para simplesmente por "Mãos”.

Como mostramos nas postagens anteriores, muitos liturgistas adeptos da teologia modernista, ou influenciados por ela, e que com as suas novas interpretações litúrgicas pretendem negar ou ofuscar os Mistérios da Presença Real e Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, da Santa Missa como Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor e do Sacerdócio Ministerial.

Tais modernistas, para compreender bem o valor dos símbolos para o ser humano, e para que suas novas concepções litúrgicas sejam aos poucos assimiladas, fazem questão de desprezar os sinais externos da Liturgia que apontam para sua verdadeira essência e para a adoração de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada:

- o dobrar os joelhos para adorar

- as paramentações completas do sacerdote que celebra

- o altar esplendoroso, ornamentado com castiçais e arranjos de flores

- o uso frequente do incenso- o valor do latim como língua sagrada

- a Santa Missa celebrada "Versus Deum" ("Voltado para Deus", com sacerdote e povo voltados para a mesma direção, como o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, recomenda que se faça no seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia")

- o uso do latim como Língua Sagrada na celebração da Santa Missa (E AQUI NOS INTERESSA MAIS NESTA POSTAGEM!)

Ignorar o valor desses sinais sagrados é ignorar a própria alma humana, a influência do meio externo e a importância dos elementos simbólicos. A Liturgia católica é extremamente humana: compatível com todas as necessidades do ser humano.

Ora, se alguém parte do princípio Santa Missa NÃO é a Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor, mas somente uma "ceia entre os irmãos", porque haver tanto zelo pela Missa, a ponto de valorizarmos uma Língua Sagrada especialmente para celebrá-la?

E aqui, compreendemos o falso princípio do qual partem muitos, o que os leva, fatalmente, a desvalorizar o latim.

Mas a pergunta que naturalmente fazemos é: como dar passos concretos no sentido de aproximar o latim dos fiéis?

Para sugerir alguns caminhos, voltemos as respostas de Dom Antonio Keller e Pe. Paulo Ricardo, nas citadas entrevistas.

Quando perguntado "é possível resgatar um uso mais regular do idioma latino mesmo na forma ordinária do rito romano, no chamado "rito moderno” esse que usamos em nossas paróquias? Como dar os passos para isso?", Dom Antonio Keller respondeu:

"Penso que sim, dêsde que se fuja da pura visão folclórica, ou de um saudosismo, a meu ver tão prejudicial como são os abusos cometidos na liturgia. O latim expressa a universalidade da Igreja, sua catolicidade, que é mais do que uma simples questão geográfica: a Igreja é a Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja de Cristo, aberta a todas as geografias, a todas as culturas, a todas as épocas. Ora, isso exige, da parte de quem integra a Igreja, uma visão universal, aberta, não "paroquial". O latim abre esta perspectiva de universalidade. O grande problema será sempre não uma simples questão de pronunciar bem, corretamente o latim, mas de abrir-se à catolicidade da igreja, sentir-se cidadão universal dela, pronto a aceitar em seu seio todas as realidades espirituais e humanas dignas. O uso do latim faz-nos compreender como nós, católicos, onde quer que estejamos, temos a mesma fé e celebramos os mesmos sacramentos.Praticamente, penso que, antes de se começar a celebrar em latim, nas Paróquias, seria preciso deixar bem claro, para o povo, a razão disso... Senão, tudo não passa de uma simples questão de estética linguística, de uma busca de um "purismo" litúrgico que cria a mentalidade se fazer parte de uma casta especial na igreja (os que entendem latim...), que seriam aqueles que participam da Santa Missa em latim...: o restante dos comuns católicos continuariam na ignorância e na mediocridade litúrgicas..."

E Pe. Paulo Ricardo, sobre o mesmo assunto:

"É evidente que tudo isso pode e deve ser feito dentro um processo, de um movimento gradual. Eu costumo sempre dizer que eu odeio tanto revoluções que as rejeito até quando elas são a meu favor. Uma revolução que de repente coloque tudo em latim e em gregoriano seria tão detestável quando a revolução da qual nós estamos querendo nos livrar. O povo de Deus não se move por decreto. O povo de Deus deve ser respeitado e educado lenta e gradualmente, trazido para a plenitude da fé católica e da beleza da Liturgia Católica, porque do contrario seria violentar o povo."

Como podemos perceber, Dom Antonio Keller e Pe. Paulo Ricardo sugerem caminho equilibrados, sem radicalismos, mais fiéis a aquilo que o Papa espera da Igreja como um Corpo.

Abaixo, segue citado documento citado a respeito da expressão "por muitos" ou "por todos", na íntegra....

* * *

CONGR. CULTO DIVINO SOBRE A TRADUÇÃO DA EXPRESSÃO "PRO MULTIS" Por Cardeal Francis Cardeal Arinze

Carta da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dosSacramentos sobre a tradução da expressão "pro multis"

Congregatio de Cultu Divino et Disciplina SacramentorumProt. N. 467/05/L

Roma, 17 de outubro de 2006

Sua Eminência/Excelência,

Em julho de 2005, esta Congregação para o Culto Divino e a Disciplinados Sacramentos, por acordo com a Congregação para a Doutrina da Fé,escreveu a todos os Presidentes das Conferências Episcopais para requisitar sua opinião ponderada acerca da tradução, para os diversos vernáculos, da expressão pro multis na fórmula para a consagração doPreciosissimo Sangue durante a celebração da Santa Missa (ref.Prot.N. 467/05/L de 9 de julho de 2005).

As respostas recebidas das Conferências Episcopais foram estudadas pelas duas Congregações e um relato foi feito para o Santo Padre. Soba direção dele, esta Congregação agora escreve a Sua Eminência/Excelência nos seguintes termos:

1. Um texto correspondente às palavras pro multis, transmitido pela Igreja, constitui a fórmula em uso pelo Rito Romano em Latim desde osprimeiros séculos. Nos últimos 30 anos aproximadamente, alguns textos em vernáculo aprovados contiveram a tradução interpretativa "portodos", "per tutti", ou equivalentes.

2. Não há absolutamente qualquer dúvida sobre a validade das Missas celebradas com o uso de uma fórmula devidamente aprovada contendo a fórmula equivalente a "por todos", conforme a Congregação para a Doutrina da Fé já declarou (cf. Sacra Congregatiopro Doctrina Fidei, Declaratio de sensu tribuendo ad probationi versionum formularumsacramentalium, 25 Ianuarii 1974, AAS 66 [1974], 661). Com efeito, a fórmula "por todos" indubitavelmente corresponderia a umainterpretação correta da intenção do Senhor expressada no texto. É um dogma de fé que Cristo morreu na Cruz por todos os homens e mulheres(cf. João 11:52; 2 Coríntios 5,14-15; Tito 2,11; 1 João 2,2).

3. Há, contudo, muitos argumentos em favor de uma tradução mais precisa da fórmula tradicional pro multis :

a. Os Evangelhos Sinóticos(Mateus 26,28; Marcos 14,24) fazem referência específica a "muitos" pelos quais o Senhor oferece o Sacrifício, e essa formulação foi enfatizada poralguns estudiosos bíblicos em conexão com as palavras do profeta Isaías (53, 11-12). Teria sido perfeitamente possível aos textosevangélicos terem dito "por todos" (por exemplo, cf. Lucas 12,41);todavia, a fórmula apresentada na narrativa da instituição é "por muitos", e as palavras foram fielmente traduzidas assim na maioriadas versões modernas da Bíblia.

b. O Rito Romano em Latim sempre disse pro multis e nunca pro omnibusna consagração do cálice.

c. As anáforas dos diversos Ritos Orientais, sejam em grego, siríaco,armênio, línguas eslavas, etc.,contêm o equivalente verbal do latim pro multis em suas respectivas línguas.

d. "Por muitos" é uma tradução fiel de pro multis, ao passo que "portodos" é, ao invés, uma explicação do tipo que pertence propriamenteà catequese.

e. A expressão "por muitos", embora permaneça aberta à inclusão decada pessoa humana, reflete também o fato de que essa salvação não é efetuada de um modo automático, sem o concurso da vontade ou a participação de cada um; pelo contrário, o fiel é convidado a aceitarna fé o dom oferecido e a receber a vida sobrenatural que é dada àqueles que participam neste mistério, pondo também isso em práticana vida, para ser contado no número daqueles "muitos" aos quais o texto faz referência.

f. De acordo com a Instrução Liturgiam Authenticam, deve haver o esforço para uma maior fidelidade aos textos latinos contidos nas edições típicas.As Conferências dos Bispos daqueles países onde a fórmula "por todos"ou sua equivalente está atualmente em vigor são, portanto,requisitadas a realizar a catequese necessária aos fiéis sobre essaquestão nos próximos um ou dois anos, para prepará-los para aintrodução de uma tradução vernacular precisa da fórmula pro multis (ou seja, "por muitos", "per molti", etc.) na próxima tradução do Missal Romano que os Bispos e a Santa Sé aprovarem para uso em seu país.

Com a expressão de minha alta estima e respeito, permaneço,

Sua Eminência/Excelência,

Devotamente Seu em Cristo, Francis Cardeal Arinze, Prefeito

* * *
Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que a Grande Mãe de Deus, Mãe da Eucaristia, pela Sua Poderosa Intercessão, nos conceda a graça de crer, adorar, amar e zelar pelo Santíssimo Corpo do Deus-Amor Sacramentado e pelo Santo Sacrifício da Missa...




Francisco Dockhorn

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