sábado, 26 de maio de 2012

Catequese - Solenidade de Pentecostes



 Homilia de D. Henrique Soares da Costa 


Domingo de Pentecostes
Jo 20,19-23



« Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos» Laus Tibi Christe!



Caríssimos, estamos no sagrado Pentecostes. Freqüentemente, o sentido profundo da hodierna solenidade é passado por alto. Diz-se simplesmente: hoje o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no Cenáculo e a Igreja iniciou sua missão pública. Eis: é tudo! E, no entanto, isso é dizer tão pouco! É muito mais rico e profundo o Mistério que hoje celebramos! Eis alguns dos seus principais aspectos:

Primeiramente, com esta Solenidade encerramos o Tempo Pascal, aqueles cinqüenta dias que a Igreja celebra como se fosse um só dia, santo e glorioso, o Dia da Ressurreição. Pois bem: é o Senhor ressuscitado, pleno do Espírito Santo que o Pai derramou sobre ele, que hoje nos doa o seu Espírito. Nunca esqueçamos: o dom do Espírito é o fruto excelente e principal da Páscoa de Cristo: é no Espírito que nossos pecados são perdoados, é no Espírito que o fruto da paixão e morte de Cristo nos é dado, é no Espírito que somos transfigurados à imagem de Cristo Jesus.

Sem o Espírito, de nada valeria para nós tudo quando Jesus por nós disse e fez! 

Se hoje, na primeira leitura, o Espírito aparece agindo de modo tão vistoso e barulhento no Cenáculo de Jerusalém (como a tempestade, o terremoto e a erupção vulcânica descritos no Sinai – cf. Ex 19,3-20), é para que nós compreendamos que ele age em nós constantemente, discreto e suave, como a brisa que passou diante de Moisés e Elias, fazendo-os encontrar a Deus! 

Eis, portanto: o Espírito é dado pelo Cristo ressuscitado, que o soprou sobre a Igreja no próprio Dia da Ressurreição – como escutamos no Evangelho de hoje -, e continua a soprá-lo sobre nós, no sinal visível da água no sacramento do Batismo e do óleo, na santa Crisma. 

No Cenáculo, no dia mesmo da Páscoa, os Apóstolos foram batizados no Espírito e tornaram-se cristãos; do mesmo modo, no nosso Batismo, banhados pela água, símbolo do Espírito, nós também recebemos em nós o Espírito de Cristo e nos tornamos cristãos, templos do Santo Espírito, chamados a viver uma vida segundo o Espírito de Cristo. 

Por isso, o conselho de São Paulo: “Procedei segundo o Espírito e não satisfareis os desejos da carne”. O cristão, caríssimos, vivendo no Espírito desde o Batismo, já não vive mais segundo a carne, isto é, segundo a mentalidade deste mundo, segundo o pecado. 

Agora, ele é impulsionado pelo Espírito de Cristo, crescendo cada vez mais nos sentimentos do Senhor Jesus. Isto é a obra do Espírito, que nos vai cristificando, dando testemunho de Cristo em nós (cf. Jo 15,26), conduzindo cada um de nós e a Igreja inteira à plena verdade de Cristo (cf. Jo 16,13). Portanto, é somente porque somos sustentados pelo Espírito, que podemos crer com toda certeza que Jesus está vivo e é Senhor e que Deus, o Pai de Jesus, é também nosso Pai, porque nos deu o Espírito do Filho, que nos faz filhos (cf. Rm 8,16).

Foi este Espírito Santíssimo, que Jesus, glorificado pelo Pai, fez descer de modo portentoso em Pentecostes, a festa judaica da Lei. O Espírito de amor é a nova lei, a Lei do cristão, pois O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito quem os foi dado” (Rm 5,5)! 

Observai, caríssimos, o sentido profundo daquele acontecimento, cinqüenta dias após a Páscoa, em Jerusalém! 

O Espírito encheu de coragem e vigor os apóstolos, de modo que eles abriram as portas e, ao lado de Pedro, o Chefe da Igreja, deram publicamente testemunho de Cristo. 

A Igreja abriu as portas para nunca mais fechar; falou por Pedro para nunca mais se calar! 

É, portanto, na força do Espírito, que a Mãe católica iniciou publicamente sua missão de levar o Evangelho a todos os povos. Mais ainda: vede como o Espírito atrai e reúne línguas e pessoas tão diversas. 

Estavam em Jerusalém judeus vindos de várias partes do Império romano, judeus que não falavam mais o hebraico nem conheciam o aramaico; e, no entanto, compreendiam o que os apóstolos falavam, como se fosse na sua própria língua! 

É o Espírito quem reúne o que está disperso, é o Espírito quem conserva a unidade, é o Espírito quem, na unidade, faz permanecer a rica diversidade das línguas, culturas e mentalidades, sempre para a glorificação do Senhor Jesus! É o Espírito quem embriaga de alegria, como um vinho bom, o vinho do Reino, o vinho novo de Caná da Galiléia, que tomou o lugar da velha água da Lei de Moisés! 

É o Espírito quem impele a Igreja para a missão, testemunhando Jesus pela proclamação da Palavra, pela celebração dos santos sacramentos e pelo testemunho santo da vida dos cristãos que, sustentados por este Santo Paráclito, são capazes de dar a vida por Jesus e com Jesus.

Eis, caríssimos, o sentido da Festa de hoje! É a solenidade que nos faz retomar a consciência do papel e da missão do Santo Espírito na vida da Igreja e na nossa vida. 

Sem o Espírito, a Igreja seria somente a Fundação Jesus de Nazaré, que recordaria alguém distante e ficado no passado. Sem o Espírito, a vida dos cristãos seria apenas um moralismo opressor, tentativa inútil de colocar em prática mandamentos exigentes que o Senhor nos deu. 

Sem o Espírito, a evangelização seria apenas uma propaganda, um exercício de marketing… 

Sem o Espírito, a nossa esperança seria em vão, porque o que nasce da carne é apenas carne, e nossa alma e nosso corpo jamais alcançariam a Deus, que é Espírito! 

Mas, caríssimos meus, no Espírito, tudo tem sentido, tudo se enche de profunda significação: com o Espírito, a Igreja é o Corpo vivo de Cristo, no qual os membros recebem a vida que vem da Cabeça, a seiva que vem do Tronco, que é Cristo; com o Espírito, Jesus está vivo entre nós e nós o recebemos de verdade em cada sacramento que celebramos; com o Espírito, os mandamentos podem ser cumpridos na alegria, porque o Espírito nos convence que eles são verdadeiros e libertadores e nos dá, no amor de Cristo, a força para tentar cumpri-los na generosa alegria; com o Espírito, a obra da evangelização é testemunho vivo do Senhor Jesus, dado com a convicção de quem experimentou Jesus; com o Espírito, já temos a garantia, o penhor da ressurreição, pois comungamos a Eucaristia, alimento espiritual, que nos dá a semente da vida eterna.

Que nos resta dizer? Só nos resta, admirados, suplicar: Vem, ó Santo Espírito! Enche o nosso coração, cristifica a nossa pobre existência mortal! És consolo que acalma, és hóspede da alma, és alívio dulcíssimo, és descanso no labor, refrigério no calor, és consolo na aflição! 

Ó Santo Espírito, lava nossa sujeira, refrigera nossa secura, cura nosso coração doente! Dobra nossa dureza, ilumina nossa treva, dá-nos o gosto pelas coisas de Deus e o aborrecimento pelo pecado; aquece nossa frieza! Tu, Espírito de Cristo, sê alento, força e vida divina, doce penhor do mundo que há de vir e que durará na eterna alegria do Pai e do Filho em vós, pelos séculos dos séculos.

Amém.

D. Henrique Soares

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