segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 21: Canto Gregoriano?

Mito 21: "O canto gregoriano é algo ultrapassado"


Não é.


O Concílio Vaticano II afirma (Sacrossanctum Concilium, n.116): "A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana, o canto gregoriano; portanto, na ação litúrgica, ocupa o primeiro lugar entre seus similares. Os outros gêneros de música sacra, especialmente a polifonia, não são absolutamente excluídos da celebração dos ofícios divinos, desde que se harmonizem com o espírito da ação litúrgica..."

A Instrução Geral do Missal Romano (n. 41) afirma: "Em igualdade de circunstâncias, dê-se a primazia ao canto gregoriano, como canto próprio da Liturgia romana."

Também o Santo Padre Bento XVI incentiva o canto gregoriano na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis (n.62), como foi dito acima. É importante lembrar: mesmo em relação a canto popular, a referência é canto gregoriano. O saudoso Papa João Paulo II (Quirógrafo sobre a Música Sacra, n. 12) diz:

"No que diz respeito às composições musicais litúrgicas, faço minha a «regra geral» que são Pio X formulava com estes termos: 'Uma composição para a Igreja é tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproximar, no andamento, na inspiração e no sabor, da melodia gregoriana, e tanto menos é digna do templo, quanto mais se reconhece disforme daquele modelo supremo». Não se trata, evidentemente, de copiar o canto gregoriano, mas muito mais de considerar que as novas composições sejam absorvidas pelo mesmo espírito que suscitou e, pouco a pouco, modelou aquele canto."

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Comentário sobre este Mito (08/10):

Considero uma verdadeira luz essa citação que vimos acima, do grande Papa São Pio X, conhecido com o "Papa do Santíssimo Sacramento"; tal citação, lembrada pelo saudoso João Paulo II, em que o canto é mais litúrgico e sacro na medida em que se aproximar do canto gregoriano.

Mas podemos nos perguntar: por qual razão isso acontece?

Historicamente, o canto gregoriano nasceu NA Liturgia e PARA a Liturgia e à serviço dela (tanto que o nome é uma referência ao Papa Gregório Magno, no séc. VI), e por isso liturgicamente segue sendo inigualável.

Ele tem, assim, a propriedade de despertar, na alma dos fiéis, as disposições adequadas para participar da Sagrada Liturgia.

O fato é que estilos musicais diferentes tendem a despertar disposições diferentes no ser humana, e isso são reações fisiológicas e psicológicas: fato.

Dom Antonio Keller, Bispo de Frederico Westphalem-RS, em sua entrevista concedida ao "Salvem a Liturgia", assim falou:

"O gregoriano, por sua vez, constitui um rico patrimônio espiritual que não pode ser, simplesmente, jogado pela janela. Tanto o latim como o gregoriano nos servem como elo em relação à riquíssima Tradição Espiritual e Litúrgica da Igreja."

E o Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, da Arquidiocese de Cuiabá, também em sua entrevista

"A Liturgia só tem sentido quando ela é recebida do passado. Nós precisamos compreender que um rito litúrgico é algo recebido da tradição, recebido dos nossos pais. E é essa a importância do latim e do canto gregoriano. Ao se fazer orações em latim na Liturgia e ao se cantar cantos que foram cantados por gerações e gerações de cristãos antes de nós, nós tomando a consciência de que estamos vivendo algo que não foi inventado por nós, mas que nos une a uma multidão de santos e santas que viveram antes de nós, e que santificarem com aqueles textos e com aqueles cantos; se eles chegaram a se salvar e estar junto de Deus, também nós podemos fazer."

Quanto aos instrumentos musicais utilizado no canto litúrgico, a Constituição Sacrossanctum Concilium (n. 120) afirma:

"Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimônias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus. Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e com o consentimento da autoridade territorial competente, conforme o estabelecido..."

A mesma Constituição, porém, estabelece (n. 120) que "esses instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, não desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis".

Como afirma o Concílio Vaticano II, no Constituição Sacrossanctum Concilium (n.116-118), o canto gregoriano NÃO é o único gênero musical que pode se adequar a Liturgia, mas temos também o canto polifônico e o canto popular (e vejo no canto popular, sim, um importante aspecto pastoral, para que em várias ocasiões os fiéis, que muitas vezes não tem grande formação litúrgica e musical, possam cantar junto).

O que pensar de tudo isso?

Se a excelência litúrgica é o canto gregoriano como gênero musical, penso que o importante NÃO é "impor" o canto gregoriano para uma assembléia que não esteja preparada para isso (reconhecendo seu significado, valor...), mas sim dar passos em direção a esta aproximação.

Talvez o primeiro seja procurar aproximar, na medida do possível, os demais gêneros musicais na Liturgia do canto gregoriano, com algumas iniciativas.

Por exemplo:

Na Santa Missa, investir nos cantos mais lentos e reflexivos, e deixar os cantos mais animados serem utilizados fora da Liturgia, como: para shows de evangelização, grupos de oração outros momentos .(Evidentemente, tais cantos lentos e reflexivos enfatizam MUITO melhor o catáter sacrifical da Santa Missa, e temos músicas lentas belíssimas, tanto nos cantos mais tradicionais - como "Coração Santo" e "Hóstia Branca" - como nos cantos mais recentes, como alguns cantos de adoração mais lentos cantados, por exemplo, na Renovação Carismática Católica).

Em tempo: reconhecemos a importância que cantos mais animados, onde se bata palmas e se dance, tenham uma importância na Nova Evangelização, principalmente dos jovens, podendo atingir a muitos que talvez não fosse atingidos de outras formas, e testemunhos a este respeito não faltam.

Mas não faltam também as possibilidades de se utilizar este cantos *** fora da Missa ***.

Precisamos compreender que: Missa é Missa, show é show e grupo de oração é grupo de oração.

E o que é a Santa Missa? É a Renovação Incruenta (sem derramanto de sangue) do Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, consumado de uma vez por todas na cruz e tornado presente no altar, pelas mãos do sacerdote (Cat. 1362-1372; 1411). Nela, Nosso Senhor se faz presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat. 1374-1377).

E como temos demonstrado ao longo de todas as postagens desta série, a Santa Igreja NÃO somente ensina o que é a Santa Missa, mas manifesta isso com SINAIS VISÍVEIS, e por isso toda a valorização dos gestos do corpo, da esplendorosa ornamentação do altar, dos paramentos litúrgicos, das velas, das flores, do incenso, e assim por diante, pois "uma imagem vale mais do que mil palavras".

É o poder das imagens, tão importante para o ser humano e que a Sagrada Liturgia, compatível com todas as necessidades humanas, tanto valoriza.

Então, a Missa não precisa apenas SER o Santo Sacrifício de Nosso Senhor (ser celebrada validamente), mas também PARECER o Santo Sacrifício de Nosso Senhor, mesmo para alguém que entre em uma igreja e desconheça aquilo que ela é!

E isso pode ser manifestado também pelo tipo de músicas que são cantadas...

Outra iniciativa possível para as equipes de canto:

Passar-se a cantar na Santa Missa (como tenho visto ótima iniciativas!), mesmo celebrada em língua vernácula (português, no caso) e mesmo que NÃO seja em melodia propriamente gregoriana, alguns cantos em latim e grego, para os fieis irem se familizariando com as partes do Rito nessas línguas (línguas que o canto gregoriano utiliza). Nesse sentido, pode-se cantar:

- o "Kyrie Eléison" ("Senhor, piedade") no Ato Penitencial (que é em grego, e neste momento é a expressão que a Sagrada Liturgia tradicionalmente utilizada -

- o "Agnus Dei" ("Cordeiro de Deus") antes da Comunhão

...e assim por diante.


Mas tenhamos em mente:

Isso é algo que NÃO mudará ser uma reeducação litúrgica, tanto dos fiéis em geral quanto dos nossos músicos...e reeducação litúrgica leva tempo.

Outra questão, ligada ao canto litúrgico, que tem aparecido com mais frequência e que precisamos responder é a respeito de "equipes de dança" dentro da Sagrada Liturgia.

Reconhecemos, também, a importância do serviço destas equipes de dança para a "Nova Evangelização", que como convocou o saudoso Papa João Paulo II, precisa trazer "novo ardor, novos métodos e novas expressões"; porém, a pergunta é: é a Sagrada Liturgia o meio apropriado para manifestar isso?

Podem haver interpretações equivocadas dos documentos litúrgicos sobre inculturação, a respeito do que significa "dança".

Deixemos, então, que duas grandes autoridades litúrgicas da Igreja respondam: o Papa Bento XVI e o Cardeal Francis Arinze, na época Prefeito da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramento, respondem esta questão.

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, escreve no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", a respeito da dança (ele está falando, evidentemente, da dança em um contexto litúrgico):

"A dança não é uma forma de expressão cristã."

A seguir, ele explica historicamente que a idéia de "dança litúrgica" teve uma origem pagã:

"Já no século III, os círculos gnósticos-docéticos tentaram introduzí-la na Liturgia. Eles consideravam a crucificação apenas uma aparência; segundo eles, Cristo nunca abandonou o corpo, porque nunca chegou a encarnar antes da paixão; consequentemente, a dança podia ocupar o lugar da Liturgia da Cruz, tendo a cruz sido apenas uma aparência. As danças cultuais de diversas religiões são orientadas de maneiras variadas - invocação, magia analógica, êxtase místico; porém, nenhuma dessas formas corresponde à orientação interior da Liturgia do Sacrifício da Palavra."

E prossegue o Papa:

"É totalmente absurdo - na tentativa a Liturgia mais atraente - recorrer a espetáculos de pantomimas de dança - possivelmente com grupos profissionais - que, muitas vezes (e do ponto de vista do seu designio com razão), terminam em aplauso. Sempre que haja aplauso pelo atos humanos na Liturgia, é sinal de que a sua natureza se perdeu inteiramente, tendo sido substituída por diversão de gênero religioso. Tal atração não pode ser duradoura, porque num mercado de diversão em que as formas religiosas tem uma função meramente animadora, elas não consegue afirmar-se contra a oferta da concorrência. (...) A Liturgia só pode atrair pessoas olhando para Deus e não para ela próprio, deixando-O ingreessar e agir. Aí então acontece aquilo que é mesmo singular, isento de concorrência em que as pessoas podem sentir que acontece algo mais do que apenas diversão de tempos livres."

O Papa afirma ainda, fazendo as devidas distinções:

"Até agora, nenhum rito cristão conheceu a dança. O que é designado como dança na Liturgia Etíope ou na forma Zairense da Liturgia Romana é um caminhar rítmico e ordenado, em conformidade com a dignidade do acontecimento, o qual ordena, com uma austeridade interior, os vários caminhos da Liturgia, conferindo-lhe beleza e, acima de tudo, dignidade ao culto a Deus."

E o Papa reconhece:

"Outra situação que deve ser vista de um modo diferente é o convívio das pessoas na ***sequência da celebração litúrgica*** e da alegria nela vivida; tal festa manifesta-se tanto numa refeição comum como na dança, sem perder de vista a causa dessa alegria, a qual lhe confere a sua orientação e a sua norma. Essa correção entre Liturgia e o convívio popular (igreja e taberna) desde sempre foi e continua sendo tipicamente católica."

Também o Cardeal Francis Arinze, na época Prefeito da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramento, responde esta questão, e com ela encerramos esta postagem.

O texto foi extraído do blog do Pe. Demétrio Gomes -
http://www.padredemetrio.com.br/2010/09/danca-liturgica/ - , membro do apostolado Salvem a Liturgia.

Cardeal Francis Arinze responde: "Seu dicastério aprovou a dança litúrgica?"

***Nunca houve*** documento da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos dizendo que a dança é permitida na missa.

O assunto da dança é difícil e delicado. De qualquer modo, é bom saber que a tradição da Igreja latina não conhece a dança. É algo que as pessoas introduziram nos últimos 10 ou 20 anos. Nem sempre foi assim. E agora isso está se espalhando como fogo em todos os continentes - uns mais, outros menos. No meu continente, a África, está se espalhando, bem como na Ásia.

Agora, alguns padres e leigos acham que a missa fica incompleta sem dança. O problema é: nós vamos à missa, em primeiro lugar, para adorar a Deus - é o que chamamos dimensão vertical. Não vamos à missa para entreter uns aos outros. Não é o objetivo da missa. Pra isso existe o salão paroquial.

Então, para os que querem nos entreter - depois da Missa, vamos ao salão paroquial e vocês podem dançar. E nós vamos aplaudir. Mas quando vamos à missa não vamos para aplaudir. Não vamos para observar ou admirar as pessoas. Queremos adorar a Deus, agradecer a Ele, pedir perdão pelos nossos pecados e pedir as coisas de que precisamos.

Não me interpretem mal, mas é que quando eu disse isso em outro lugar retrucaram "você é um bispo africano. Vocês, africanos, estão sempre dançando. Como é que você nos diz para não dançar?"

Um momento - nós, africanos, não ficamos dançando o tempo todo!

Além disso, existe uma diferença em relação aos que participam da procissão do ofertório. Eles trazem os dons, com alegria. Há um movimento do corpo para os lados. Eles trazem os dons para Deus. Isso é bom, de verdade. E o coro canta. Eles se movimentam um pouco, ninguém vai condenar isso. E quando você sai, se movimenta mais um pouco, e está tudo bem.

Mas quando você coloca, digamos, uma dançarina, eu preciso perguntar o que isso tem a ver. O que exatamente você pretende? E quando as pessoas acabam de dançar, na Missa, o resto aplaude - o que isso significa? Que nós gostamos. Que viemos pelo entretenimento. Façam de novo que gostamos. Mas então tem algo errado. Quando as pessoas aplaudem, tem algo errado - imediatamente. Uma dança terminou e eles aplaudem.

É possível que haja uma dança tão interessante que eleve as mentes para Deus, e assim eles estão rezando e adorando a Deus. Quando a dança termina, as pessoas ainda estão envolvidas na oração. Mas é esse o tipo de dança que temos visto? Perceba que não é fácil.

A maioria das danças feitas durante a Missa deviam ser feitas no salão paroquial - e algumas delas, nem mesmo no salão paroquial!


Em um lugar, não vou dizer qual, eu vi uma dança durante a missa que era ofensiva, quebrava as regras da teologia moral e da modéstia. Quem quer que tenha montado isso devia ter a cabeça lavada com um balde de água benta.

Por que fazer o povo de Deus sofrer tanto? Nós já não temos problemas suficientes? Só aos domingos, por uma hora, as pessoas vêm adorar a Deus. E vocês me vêm com uma dança! Vocês são tão pobres que não tenham nada mais para trazer? Que vergonha! É como eu penso.

Alguém pode dizer "ah, mas o Papa foi ao país tal e teve dança". Espera um pouco: foi o Papa que planejou isso? Pobre Papa: ele vem, os outros planejam. E ele não sabe o que planejaram. Se alguém faz algo engraçado - o Papa é responsável por isso? Isso significa que a partir de agora está valendo? Eles mostraram isso pra nós na Congregação? ***Teríamos rejeitado!*** Se as pessoas querem dançar, elas sabem aonde ir!




Postado por: Francisco Dockhorn

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