terça-feira, 27 de julho de 2010

Série: Grandeza Cristã na Idade Média III - Por Rafael Vitola Brodbeck

A Europa, vemos, é uma realização temporal do primado cristão sobre a matéria social. Digamos mais, é a Europa medieval a verdadeira guardiã da divina religião, pois foi dela que partiram, intrépidos, os valorosos conquistadores da América, território dado pela Providência justamente no momento em que os ventos terríveis da Reforma Protestante varriam cantões outrora católicos – princípio de uma nova onda gnóstica que inauguraria, junto com o pagão Renascimento e com o humanismo sem Deus, o pensamento moderno, que explodiria, mais tarde, com o absolutismo, com a Revolução Francesa, com o marxismo e todas as formas de socialo-comunismo, com os nazismos e fascismos dos anos 30-40, e com os fundamentalismos e liberalismos de matriz revolucionária que caracterizariam os anos 70 e a década de 80. De uma Espanha banhada de glória pelos séculos da Reconquista cristã aos mouros islâmicos, emerge a expedição de Colombo.


Se olharmos, aliás, para o mapa, veremos que as fronteiras que delimitam a Europa com a Ásia são, geograficamente, de um artificialismo bastante visível. O território é contínuo. Não está separada a Europa da Ásia como está, por exemplo, da Oceania ou da América. Europa e Ásia formam uma só unidade no plano geográfico natural: a Eurásia. Não são os Urais, na Rússia, que separam os europeus dos asiáticos, porém a cultura que com os primeiros se formou. A Europa é o resultado de anos de experiência de um unificado Império Romano, com as valiosas contribuições gregas, recebendo, outrossim, os costumes germânicos dos bárbaros que, unidos aos povos celtas já submetidos às legiões de César, souberam construir um mundo todo próprio.

Pela influência da religião cristã e da Igreja Católica dela depositária, todos esses elementos se mesclaram e formaram a Europa medieval – prova inequívoca da capacidade católica de abstrair, dentre as culturas, os elementos bons e maus, e valorizar os primeiros mesmo quando não diretamente cristãos. Convertidos os bárbaros invasores, os reinos germânicos foram tomando o lugar das antigas nações celtas e províncias romanas, e aqueles, por sua vez, pela fragmentação hereditária, favoreceram o aparecimento de um modelo de harmônica e justa desigualdade, o regime feudal. Tudo isso é básico para entendermos a vocação da Europa, tão esquecida pelos dirigentes da hodierna Comunidade Européia.


“A conversão dos povos ocidentais não foi um fenômeno de superfície. O gérmen da vida sobrenatural penetrou no próprio âmago da sua alma, e foi paulatinamente configurando à semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo o espírito outrora rude, lascivo e supersticioso das tribos bárbaras. A sociedade sobrenatural - a Igreja - a estendeu assim sobre toda a Europa a sua contextura hierárquica, e desde as brumas da Escócia até às encostas do Vesúvio foram florindo as dioceses, os mosteiros, as igrejas catedrais, conventuais ou paroquiais, e, em torno delas, os rebanhos de Cristo. (...) Nasceram por essas energias humanas vitalizadas pela graça, os reinos e as estirpes fidalgas, os costumes corteses e as leis justas, as corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestréis.” (OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. A grande experiência de 10 anos de luta).

Pois essa ordem sacral que refletia a realidade celeste e, guardadas as devidas proporções, manifestava, na terra o Reinado de Cristo, se foi deteriorando, pela introdução do orgulho, da vaidade humana, da tentação de Satanás que se traduziu numa nova visão do homem sem Deus – pseudo-humanismo italiano, aspectos renascentistas etc. Quando decaiu a Alta Idade Média, as universidades católicas iniciaram a cultuar o pensamento clássico sem o tempero filtrador das lições de Santo Tomás de Aquino; junto com as artes gregas e romanas do período áureo, introduziram-se, até mesmo no Vaticano, costumes que as acompanhavam – bebedeiras, orgias, assassinatos por interesse. Desse declínio, acompanhado da releitura social de que o homem pode e deve se libertar de tudo – até de Deus! –, vai-se repetindo o lema “Cristo sim, a Igreja não” (Reforma Protestante), mais tarde mudado em “Deus sim, Cristo não” (Revolução Francesa), que finalmente culminará em “Nem Cristo, nem Deus” (Revolução Russa).


O pensamento moderno é o caos pela tentativa, radical em Nietzsche, de matar Deus e de celebrar o homem – no positivismo de Augusto Comte, “a religião da humanidade”, percebemos quão ridícula foi tal tentativa. Toda a desordem moral, liberalismo de costumes, ecumenismos desviados, ódio ao catolicismo, críticas infundadas à Idade Média, preguiça mental, e modo de pensar notadamente protestante, romanticamente doentio e filosoficamente cripto-socialista, provém dessa estrutura que resolveu expulsar Deus e Sua Igreja da influência que exercia, sadiamente, sobre o Estado e as sociedades. A Europa, com a filosofia defendida por seus atuais líderes políticos, ameaça romper com seu passado e fazer triunfar esse modernismo social e cultural.







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