quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um “Plebiscito” para dividir fazendas?

Uma campanha de embolar o campo com Plebiscito Popular.


Diante da pobreza de milhões de brasileiros nesta terra tão rica em recursos naturais, até pessoas bem intencionadas se deixam instrumentalizar por adeptos de uma ideologia anticapitalista e antineoliberal que ainda têm a ilusão de construir uma sociedade mais justa pelo atalho da luta de classes.


No último dia da Reunião dos Bispos em Brasília tivemos um tempinho para sugerir emendas para um texto de 55 páginas sobre a Questão Agrária. O Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, FNRA, quer envolver a Igreja na luta por uma lei arbitrária para diminuir as fazendas.


Faz muito tempo que tal projeto é tramado nos bastidores de setores que desejam radicalizar a reforma agrária. Falei que seria melhor insistir na exigência da função social de toda propriedade, em vez de perturbar o trabalho de pessoas que fazem a terra produzir. Tentei oferecer um texto crítico que fiz às pressas com argumentos razoáveis contra tentativas de atacar e atrasar o desenvolvimento de uma agricultura moderna num país com a vocação de ser o celeiro do mundo neste século de perspectivas ameaçadoras de conflitos crescentes por alimento, por energia e por água.


Não conseguindo distribuir a todos o meu texto sobre o tal plebiscito, o mandei aos colegas pela internet, junto com outro mais elaborado sobre a Questão Agrária para Bispos, que ainda está guardado no meu Blog, porque se refere à primeira versão do texto da CNBB, do qual ainda não vi a versão final.


Quando questionei o envolvimento oficial da CNBB numa campanha contra grandes propriedades rurais que só servirá para agitar ainda mais o ambiente rural, recebi a resposta que não seria publicado um documento oficial da CNBB, mas apenas um texto para estudo. No entanto, agora já começou a campanha com coleta de assinaturas e mobilização para o grito dos excluídos. Quem não participar, será acusado de estar do lado dos ricos contra os pobres.


Quando um bispo ou uma pastoral da CNBB assume posições muito definidas, colegas não gostam de apresentar opiniões divergentes. Foi assim quando alguns queriam mobilizar a Igreja contra projetos de transposição do São Francisco e contra hidroelétricas na Amazônia. O mesmo acontece agora com a Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra.


Não vejo por que todos os bispos devam marchar unidos contra projetos complicados que dividem as opiniões dos envolvidos e dos entendidos. Muitos deles fabricam argumentos para justificar suas posições, em vez de escolher seus objetivos de acordo com a verdade objetiva da razão.


Precisamos cuidar da unidade na fé. Em questões de política econômica, não cabe à CNBB impor seus pontos de vista a ninguém. As opiniões de cada bispo valem de acordo com o peso dos seus conhecimentos manifestados nos seus argumentos. Viva a liberdade!


A situação fica mais complicada quando uma proposta já assumida por pastorais foi apresentada por uma comissão nomeada pela presidência e passou pela maioria. No entanto, mesmo assim, o povo tem o direito de ouvir também o outro lado.


Não quero impor as minhas opiniões. Quero apenas oferecer meus argumentos aos interessados no assunto, e deixar claro que nenhum católico é obrigado a participar de uma campanha promovida por uma entidade qualquer, mesmo que conte com o apoio da CNBB. A Igreja não pode exigir que todos tenham a mesma opinião sobre problemas de política econômica, nem que todo católico venha embarcar na canoa furada desse “plebiscito”.


Na proposta que surgiu na nossa Assembléia faltou definir coisas importantes:


            *   Qual deve ser o tamanho limite das propriedades?
            *   A desapropriação será com indenização ou por confisco sumário?
            *   Quem receberá a terra pronta e as benfeitorias de presente? O invasor que chegar primeiro? Os amigos dos donos do poder?


Agora, a cartilha do FNRA já diz qual deve ser o Limite da Propriedade: 35 módulos fiscais. A cartilha explica que um módulo tem entre cinco e 110 hectares. O INCRA diz que regiões boas para culturas permanentes em São Paulo têm um módulo de dez hectares. Assim, propriedades acima de 350 hectares serão divididas. Você quer um pedaço?


Com leis que protegem fazendas produtivas já surgem invasões de áreas plantadas. Na Bahia, invasores de terras alheias cortaram pés de eucalipto com o argumento que pobre não come madeira. Alguém imagina que grandes plantações de laranja, café, cana, soja, eucalipto, seriam entregues sem resistência ao primeiro invasor que chegar? Ou será que ainda existem movimentos que sonham com revoluções?


No sertão difícil, os módulos são bem maiores, mas o pessoal não dorme no ponto. Vão procurar as regiões melhores. Já existem assentamentos que produzem pouco, mas que receberam casas perto de cidades. Outros querem lugares de futuro turístico. Assentamentos distantes só sobrevivem enquanto continuam recebendo ajuda dos pagadores de imposto.


Acho que a lei para limitar o tamanho das fazendas não vai vingar. Vingando ou não, a campanha vai provocar confusão e aumentar os conflitos.




Resumindo, a proposta do FNRA é esta: Confiscar as grandes fazendas:


Áreas acima de 35 módulos seriam automaticamente incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária. Em vez de dividir fazendas, por que não dividir os milhões dos milionários? Para começar, seria bom tirar o ICM da Cesta Básica e diminuir os juros. Só com juros da sua dívida o Governo transfere aos ricos dez vezes mais do que dá aos pobres pelo Bolsa Família.


Dom Cristiano Krapf - Bispo de Jequié - BA

terça-feira, 27 de julho de 2010

Série: Grandeza Cristã na Idade Média I - Por Rafael Vitola Brodbeck

Uma série para desfazer mitos, mentiras e calúnias sobre a Idade Média.


É preciso que as civilizações também se curvem a Jesus, Rei do Universo, que as cidades se conformem à Cidade de Deus, eis que a “compenetração da cidade terrena com a cidade celestial, só pela fé pode ser percebida; porém, é um permanente mistério da história humana.” (Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, de 7 de dezembro de 1965, nº 40). Nós, cristãos, somos uma legítima família através da graça que de Cristo, pela Igreja, recebemos.

E como vivemos em sociedade e não isoladamente – salvo vocações específicas –, é a ela que devemos transformar. Não temos que abandonar e satanizar a cultura, mas evangelizá-la, dialogar com ela para que seja meio de propagação da verdade, da beleza, da unidade.

O Papa Paulo VI já ensinava que evangelizar significa precisamente “levar a Boa Nova a todos os ambientes da humanidade” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, nº 18).

 Nosso dever é primar por uma autêntica civilização, e, no ensino do Papa São Pio X, “a civilização do mundo é a Civilização Cristã, tanto mais verdadeira, mais duradoura, mais fecunda em frutos preciosos, quanto é mais autenticamente cristã.” (Sua Santidade, o Papa São Pio X. Encíclica Il Fermo Proposito, de 11 de junho de 1905, in “ASS”, vol. 37, p. 745) É obrigação dos crentes, sobretudo dos leigos católicos, “penetrar de espírito cristão as mentalidades e os costumes, as leis e as estruturas da comunidade em que vivem.” (Concílio Ecumênico Vaticano II. Decreto Apostolicam Actuositatem, de 18 de novembro de 1965, nº 13)

Série: Grandeza Cristã na Idade Média II - Por Rafael Vitola Brodbeck

E qual é o conceito de civilização, sobre o que falávamos, senão a reunião da cultura própria de um povo, das mentalidades, dos costumes, das leis e das demais estruturas? São estes os ambientes os quais devemos cristianizar, ou melhor, recristianizar, vez que, como veremos, antes do advento deste pensamento moderno, a cultura católica imperou em determinado momento da História – ainda que com seus defeitos e abusos, naturais no percurso da peregrinação terrestre pela qual o homem passa; lembremos que o Reino temporal deve ser reflexo do Reino celestial, porém só este último é perfeito e livre de todo pecado!



Os homens precisam de Cristo, mesmo para a reforma da sociedade. O campo temporal não escapa da influência do Espírito Santo, de Deus que se manifesta ordinariamente pela Sua Igreja. Somos cidadãos do céu, mas vivemos na terra, e nela devemos nos santificar e construir estruturas que auxiliem os outros a fazerem o mesmo. Inegável, insistimos, que os bens presentes e seculares, profanos, também podem e devem nos convidar a Deus, mediante a contemplação da ordem, da natureza, da beleza, da verdade, da unidade, do bem. Vivendo numa sociedade sacralizada torna-se mais fácil atrair os homens a Cristo e, mais, realizar aquilo que é a própria vontade de Deus: atrair tudo a Si, “desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra.” (Ef 1,10) Auxilia-nos o compêndio da doutrina católica: “O dever social dos cristãos é respeitar e despertar em cada homem o amor da verdade e do bem. Exige que levem a conhecer o culto da única religião verdadeira, que subsiste na Igreja católica e apostólica. Os cristãos são chamados a ser a luz do mundo. Assim, a Igreja manifesta a realeza de Cristo sobre toda a criação e particularmente sobre as sociedades humanas.” (Catecismo da Igreja Católica, 2105)
 
Que civilização é essa que devemos construir? “Não se deve inventar a Civilização, nem se deve construir nas nuvens a nova sociedade. Ela existiu e existe: é a Civilização Cristã, é a sociedade católica. Não se trata senão de a instaurar e restaurar incessantemente nas suas bases naturais e divinas, contra os ataques sempre remanescentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: instaurar todas as coisas em Cristo.” (Sua Santidade, o Papa São Pio X. Carta Notre Charge Apostolique, de 25 de agosto de 1910)


O Reino de Deus é nos céus. Achar que é na terra seria cair na utopia e injustiça comunistas, ou no milenarismo gnóstico – raiz cultural daquele, e inspirador de movimentos comunais semelhantes, como a revolta dos anabatistas alemães, dos cátaros albigenses, dos espirituais que deturparam a regra de São Francisco de Assis, dos montanistas que desdenhavam da autoridade episcopal, dos iluministas favorecedores de uma burguesia atéia etc. Todavia, na terra, os homens refletem seu Deus, e as sociedades devem refletir o Reino. Das civilizações, deve-se procurar instaurar uma que seja cristã, católica, i.e., governada pelo espírito do Evangelho. E ela já teve uma expressão histórica concreta, mesmo com seus defeitos: foi o período medievo.

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda a parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.” (Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Immortale Dei, de 1 de novembro de 1885, in “AAS”, vol. XVIII, p. 169)



O Papa João Paulo II reitera esse ensino tradicional da Santa Igreja de Cristo: “Nós somos ainda os herdeiros de longos séculos nos quais se formou na Europa uma Civilização inspirada pelo cristianismo. (...) Na Idade Média, com certa coesão do continente inteiro, a Europa constrói uma Civilização luminosa da qual permanecem muitos testemunhos.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Discurso à CEE, em Bruxelas, 21 de maio de 1985, in “L´Osservatore Romano”, 22 de maio de 1985)

Série: Grandeza Cristã na Idade Média III - Por Rafael Vitola Brodbeck

A Europa, vemos, é uma realização temporal do primado cristão sobre a matéria social. Digamos mais, é a Europa medieval a verdadeira guardiã da divina religião, pois foi dela que partiram, intrépidos, os valorosos conquistadores da América, território dado pela Providência justamente no momento em que os ventos terríveis da Reforma Protestante varriam cantões outrora católicos – princípio de uma nova onda gnóstica que inauguraria, junto com o pagão Renascimento e com o humanismo sem Deus, o pensamento moderno, que explodiria, mais tarde, com o absolutismo, com a Revolução Francesa, com o marxismo e todas as formas de socialo-comunismo, com os nazismos e fascismos dos anos 30-40, e com os fundamentalismos e liberalismos de matriz revolucionária que caracterizariam os anos 70 e a década de 80. De uma Espanha banhada de glória pelos séculos da Reconquista cristã aos mouros islâmicos, emerge a expedição de Colombo.


Se olharmos, aliás, para o mapa, veremos que as fronteiras que delimitam a Europa com a Ásia são, geograficamente, de um artificialismo bastante visível. O território é contínuo. Não está separada a Europa da Ásia como está, por exemplo, da Oceania ou da América. Europa e Ásia formam uma só unidade no plano geográfico natural: a Eurásia. Não são os Urais, na Rússia, que separam os europeus dos asiáticos, porém a cultura que com os primeiros se formou. A Europa é o resultado de anos de experiência de um unificado Império Romano, com as valiosas contribuições gregas, recebendo, outrossim, os costumes germânicos dos bárbaros que, unidos aos povos celtas já submetidos às legiões de César, souberam construir um mundo todo próprio.

Pela influência da religião cristã e da Igreja Católica dela depositária, todos esses elementos se mesclaram e formaram a Europa medieval – prova inequívoca da capacidade católica de abstrair, dentre as culturas, os elementos bons e maus, e valorizar os primeiros mesmo quando não diretamente cristãos. Convertidos os bárbaros invasores, os reinos germânicos foram tomando o lugar das antigas nações celtas e províncias romanas, e aqueles, por sua vez, pela fragmentação hereditária, favoreceram o aparecimento de um modelo de harmônica e justa desigualdade, o regime feudal. Tudo isso é básico para entendermos a vocação da Europa, tão esquecida pelos dirigentes da hodierna Comunidade Européia.


“A conversão dos povos ocidentais não foi um fenômeno de superfície. O gérmen da vida sobrenatural penetrou no próprio âmago da sua alma, e foi paulatinamente configurando à semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo o espírito outrora rude, lascivo e supersticioso das tribos bárbaras. A sociedade sobrenatural - a Igreja - a estendeu assim sobre toda a Europa a sua contextura hierárquica, e desde as brumas da Escócia até às encostas do Vesúvio foram florindo as dioceses, os mosteiros, as igrejas catedrais, conventuais ou paroquiais, e, em torno delas, os rebanhos de Cristo. (...) Nasceram por essas energias humanas vitalizadas pela graça, os reinos e as estirpes fidalgas, os costumes corteses e as leis justas, as corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestréis.” (OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. A grande experiência de 10 anos de luta).

Pois essa ordem sacral que refletia a realidade celeste e, guardadas as devidas proporções, manifestava, na terra o Reinado de Cristo, se foi deteriorando, pela introdução do orgulho, da vaidade humana, da tentação de Satanás que se traduziu numa nova visão do homem sem Deus – pseudo-humanismo italiano, aspectos renascentistas etc. Quando decaiu a Alta Idade Média, as universidades católicas iniciaram a cultuar o pensamento clássico sem o tempero filtrador das lições de Santo Tomás de Aquino; junto com as artes gregas e romanas do período áureo, introduziram-se, até mesmo no Vaticano, costumes que as acompanhavam – bebedeiras, orgias, assassinatos por interesse. Desse declínio, acompanhado da releitura social de que o homem pode e deve se libertar de tudo – até de Deus! –, vai-se repetindo o lema “Cristo sim, a Igreja não” (Reforma Protestante), mais tarde mudado em “Deus sim, Cristo não” (Revolução Francesa), que finalmente culminará em “Nem Cristo, nem Deus” (Revolução Russa).


O pensamento moderno é o caos pela tentativa, radical em Nietzsche, de matar Deus e de celebrar o homem – no positivismo de Augusto Comte, “a religião da humanidade”, percebemos quão ridícula foi tal tentativa. Toda a desordem moral, liberalismo de costumes, ecumenismos desviados, ódio ao catolicismo, críticas infundadas à Idade Média, preguiça mental, e modo de pensar notadamente protestante, romanticamente doentio e filosoficamente cripto-socialista, provém dessa estrutura que resolveu expulsar Deus e Sua Igreja da influência que exercia, sadiamente, sobre o Estado e as sociedades. A Europa, com a filosofia defendida por seus atuais líderes políticos, ameaça romper com seu passado e fazer triunfar esse modernismo social e cultural.







segunda-feira, 26 de julho de 2010

Série: Grandeza Cristã na Idade Média IV - Por Rafael Vitola Brodbeck

“Nos nossos dias, percebe-se uma crise cultural de proporções insuspeitáveis. Certamente o substrato cultural de hoje apresenta bom número de valores positivos, muitos dos quais fruto da evangelização; mas ao mesmo tempo, eliminou valores religiosos fundamentais e introduziu concepções enganosas, que não são aceitáveis do ponto de vista cristão.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Discurso Nueva Evangelización, Promoción Humana, Cultura Cristiana. Jesucristo ayer, hoy y siempre, em Santo Domingo, a 12 de outubro de 1992, in “suppl. a L´Osservarore Romano”, nº 238, de 14 de outubro de 1992, IV, pp. 21-22)

Não se quer, com isso, pregar que a sociedade medieval foi perfeita. Abusos houve –mesmo que tenhamos a defesa do brocardo jurídico abusum non tollit usum. Se essa sociedade terminou, somos chamados a estar atentos agora, quando o mundo moderno e o conceito de Estados-Nação estão desaparecendo. Dialogando com a modernidade, queremos sua conversão. E mais do que isso, vigiemos e denunciemos as explosões típicas do término de um determinado período histórico – e é exatamente o que estamos vivendo. Precisamos construir uma nova sociedade, uma nova cultura, aproveitando tudo de bom que na atual existe, mas filtrando-a com o bom senso católico. Ao passado não se volta, tradição não é isso: é passar adiante o que há de bom. Da Idade Média, ainda guardamos aquilo que nem mesmo é exclusivo dela, a Fé católica e apostólica e aspectos de sua influência nas comunidades humanas. O Reino não terminou com sua máxima expressão terrena! Aliás, foi máxima até agora, pois nossa vocação é construir uma nova, em que o amor volte a reinar!


Cristo, Rei do Universo não quis só reinar na terra na Idade Média, e sim hoje o quer. E quer se nos utilizar, Seus membros, Seus instrumentos, através do apostolado, de nosso desempenho dos deveres de estado, do cultivo da oração, em suma, da gana por fazer a Solenidade de Cristo Rei perpetuar-se no campo secular.

“Se bem que a Idade Média tenha sido uma época de Cristandade, e o foi por excelência, é preciso deixar bem claro que a Cristandade não se identifica com a Idade Média. A Cristandade é uma vocação permanente da Igreja e dos políticos cristãos. Nem sempre se poderá realizar hic et nunc, por exemplo nos países comunistas, ou inclusive nos países liberais, enquanto sigam sendo tais. Todavia, nem por isso a Igreja e os cristãos que atuam na ordem temporal renunciarão definitivamente a dito ideal. (...) Também hoje, a Igreja, se bem que viva em um regime não-cristão ou, como queria Péguy, pós-cristão, não pode renunciar para sempre ao ideal da Cristandade, que não é outra coisa que a impregnação social dos princípios do Evangelho. E se, porventura, aparecesse uma nova Cristandade, seria substancialmente igual à da Idade Média, ainda que acidentalmente diferente, atendendo à diversidade de condições que caracteriza a época atual em comparação com aquela, tanto no campo econômico como no social. Todo o resgatável deverá ser salvo. Porém, o ideal segue de pé.” (SÁENZ, Pe. Alfredo, SJ. La Cristiandad. Una realidad histórica. Pamplona: Gratis Date, 2005, p. 16)


A Europa é um sinal de onde estamos. Cristã na sua origem, como demonstramos, está contaminada de paganismo e gnose – ecologismo radical, feminismo, e todos os tipos de igualitarismos religiosos, sociais e políticos, todos violadores do culto à justiça, à vida (vide o aborto e a eutanásia na legislação da União Européia). É o aviso de um Cardeal da Santa Igreja: “Deus está a ser obstinadamente afastado da nova constituição da Europa. Assim se quereria que, do fundamento jurídico da nova Europa unida, Deus estivesse ausente, o que a reconduziria ao abismo do qual a Europa sem Deus se libertou em 1989 e 1990. Com certeza, isto não vai passar de um bumerangue, que não trará qualquer progresso para o caminho de uma Europa unida.” (Sua Eminência, D. Joaquim Cardeal Meisner, Arcebispo de Colônia, Alemanha. Homilia na Santa Missa, Santuário de Nossa Senhora de Fátima, Portugal, em 13 de maio de 2002)

Série: Grandeza Cristã na Idade Média V - Por Rafael Vitola Brodbeck

A reforma das estruturas temporais – as quais, na Idade Média e em certos ambientes da modernidade, estavam submetidas a Cristo Rei – identifica-se com a expansão do Reinado de Jesus sobre a sociedade civil, e é, na prática, um projeto que visa “chegar a atingir e modificar, pela força do Evangelho, os critérios de juízo, os valores que decidem, os centros de interesse, as linhas pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e os desígnios de salvação.” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, de 8 de dezembro de 1975, nº 19) Causa dos problemas contemporâneos é a Revolução cultural anticristã, de caráter gnóstico, laicista, liberal, antropocêntrico e igualitário, que desvincula fé e razão, sociedade religiosa e sociedade civil, Igreja e Estado, esfera espiritual e temporal, culto privado e culto público. “Duas potências vivem e se acham em luta no mundo moderno: a Revelação e a Revolução. Esses dois poderes negam-se reciprocamente, e aqui está o problema fundamental.” (VEUILLOT, Louis. A ilusão liberal, XXIII) Negando-se à benéfica submissão a Jesus Cristo, Rei do Universo, o mundo afunda na loucura em que tudo passa a ser permitido e a natureza é violentada, com leis abortistas e pró-gay, v.g.. “A ruptura entre a ordem espiritual e a ordem racional é o maior problema que o mundo moderno tem a enfrentar.” (DAWSON, C. Religione e Cristianesimo nella Storia della Civiltà, Roma: Paoline, 1984, p. 152)

Somos levados pelos inimigos da Igreja a criticar o período em que a doutrina de Cristo inspirava toda a sociedade. A falsificação da História é das manobras aquela que mais ajudou a que tantos “torçam o nariz” quando se fala na Idade Média. “Na Idade Média os Papas haviam realizado a unidade da Europa sob o regime da Cristandade. No final do século XVIII, a França reúne os homens em torno de um novo tripé fantástico: liberdade, igualdade e fraternidade. É o triunfo da burguesia. A declaração dos direitos do homem, emanada aos 26 de agosto de 1789, condena os velhos abusos e institui o catecismo filosófico da nova ordem. A sociedade se declara oficialmente não-cristã. Começa-se, a partir deste momento, a falar em época pós-cristã.” (GRINGS, D. Dadeus)

A Cristandade foi progressivamente sendo atacada desde o fim da Idade Média. Com o Renascimento, pagão, gnóstico, caracterizado pelo humanismo autônomo – tão condenado pelos Papas e pela Gaudium et Spes –, e a Reforma Protestante, a primeira etapa de um mesmo processo revolucionário.

Segunda etapa será a Revolução Francesa, com todas as funestas teorias iluministas sendo aplicadas e um novo passo igualitário inaugurado. Este estado de coisas conduz ao liberalismo do século XIX e às grandes perseguições do início do século XX.

Por fim, terceira etapa inaugura-se na Revolução Russa de 1917, quando o comunismo – transposição das idéias igualitárias da Reforma e da Revolução Francesa ao campo social e econômico – saiu-se vitorioso. A mesma e única Revolução prepara sua quarta etapa, com a total dessacralização da sociedade e a exclusão completa do Reino de Deus – vide a União Européia sem referência a suas raízes cristãs, o movimento homossexual, a terceira via do socialismo, a Nova Era, o progressismo teológico, o relativismo moral (condenado por João Paulo II na Veritatis Splendor, em reiteração de condenações anteriores), certas tendências panteístas e igualitárias na idéia ecológica, o aborto, o feminismo etc.

Essa idéia de Revolução como uma doutrina, um sistema, já foi demonstrada por Joseph De Maistre, para quem ela era não um acontecimento, mas uma época. Outros pensadores, todos muito católicos e autorizados, sustentam o mesmo. “A Revolução foi um vasto empreendimento premeditado de descristianização e de hostilidade ao Reinado Social de Cristo Rei e de sua Igreja. E os dois séculos que se seguiram continuaram esta obra nefasta: revolta contra Deus e contra os verdadeiros direitos do homem.” (RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 113) “Ela é uma doutrina, ou, se se preferir, um conjunto de doutrinas, em matéria religiosa, filosófica, política, social.” (FREPPEL, Mons. Apud RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 113). “A Revolução é o ódio de toda ordem social que o homem não estabeleceu e na qual ele não é rei e deus ao mesmo tempo. Ela é a proclamação dos direitos do homem sem preocupação com os direitos de Deus. É a fundação do estado religioso e social sobre a vontade do homem no lugar da vontade de Deus. Ela é a Revolução, quer dizer, destruição, desordem.” (GAUME, Mons. Apud RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, pp. 113-114)

“Em outros termos, a Revolução é uma revolta contra Deus e contra Jesus Cristo. Em conseqüência, é revolta contra a Igreja, contra seus ministros, contra o Rei. Como disse o Cardeal Pie, ela tende ‘para uma completa secularização, isto é, para uma ruptura absoluta entre a sociedade leiga e o princípio cristão.’ (...) E porque ela não foi apenas um acontecimento do passado mas um certo estado de espírito, uma doutrina ainda presente nos espíritos e instituições, o combate continua ainda entre a verdadeira Igreja e a Revolução.” (RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 114) “Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da Ordem. E por Ordem entendemos a paz de Cristo no Reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal.” (OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Revolução e Contra-Revolução, 2ª ed., São Paulo: Diário das Leis, 1982, p. 42)

Com a vitória dos satânicos pressupostos da Revolução Francesa, o liberalismo triunfou contra a sadia norma da Cristandade. Já estavam sendo demolidos os pilares da gloriosa Idade Média com o nefasto absolutismo dos monarcas, que, destruindo as elites nobiliárquicas e aristocráticas, pecou contra a subsidiariedade e a liberdade genuína. Em nome de uma falsa liberdade, propugnaram os revolucionários a destruição da ordem estabelecida. Confundiram os abusos absolutistas – que eles mesmos ajudaram a criar com a recuperação dos contra-valores pagãos no Renascimento – com o justo sistema feudal, e assim, para acabar com os primeiros, destruíram o que restava do segundo.

domingo, 25 de julho de 2010

Série: Grandeza Cristã na Idade Média VI - Por Rafael Vitola Brodbeck



Para destruir o Cristianismo medieval, os humanistas agnósticos fizeram o Renascimento, com o fascínio pelo paganismo greco-romano. Desculpavam-se alegando que estavam apenas reinstalando os valores culturais e artísticos do mundo clássico. Mentira! Tais valores não precisavam de resgate, pois foram sempre preservados pela Igreja – a mesma que acusavam de obscurantismo. O movimento renascentista quis trazer, isso sim, tudo aquilo que a evangelização do Império e a queda deste pela invasão dos bárbaros germânicos – com sua posterior organização em reinos próprios, e, na unificação destes em Império por Carlos Magno, rei dos francos, com o estabelecimento da vassalagem – tinha sepultado com a luz do Evangelho: sexualidade desordenada, culto do corpo, dissociação entre fé e vida privada, absolutismo monárquico, utilização do poder religioso para fins profanos, arte como manifestação de vaidade e não mais de serviço ou de propagação do belo, métodos científicos alienados da crença em Deus, mercantilismo, escravidão. Tudo o que não existia na Idade Média pelo primado da Igreja foi recuperado por esses neopagãos.



Com efeito, apresentou-se como pretexto para o Renascimento a revalorização da cultura clássica. Note-se que o motivo é descaradamente mentiroso. Muitos de boa-fé, concedemos, estavam realmente interessados na promoção das artes. Todavia, a cultura clássica nunca esteve morta na Idade Média, como falsamente alardeavam os renascentistas. Pelo contrário, a filosofia, a arte, a literatura, o Direito, a estética do Medievo foram moldadas no classicismo – iluminado pela fé cristã. De Roma e da Grécia mantiveram os bárbaros invasores costumes e instituições, e os medievais não cessaram de promovê-los. O Pe. Alfred Sáenz, SJ, com muita propriedade, explica que não foram “os chamados ‘renascentistas’ os que voltaram a descobrir a Antigüidade. A Idade Média já conhecia e admirava os tempos clássicos. A diferença é que aqueles iniciaram um movimento de retorno à Antigüidade ‘pagã’, enquanto os medievais a assumiram relendo-a à luz do cristianismo.” (SÁENZ, Pe. Alfredo, SJ. La Cristiandad. Una realidad histórica. Pamplona: Gratis Date, 2005, p. 12)

O que, realmente, da Hélade e da România, não permaneceu foram certos institutos e hábitos incoerentes em face do Cristianismo que triunfou e sabiamente governou a Idade Média. Podemos dizer que os valores positivos greco-romanos permaneceram, ao passo em que os negativos foram logicamente postos de lado, por sua evidente incompatibilidade com a doutrina de Cristo.




Em nome da ressurreição da cultura clássica – que, vimos, não morreu na Idade Média, o que torna absurdo qualquer “renascimento” (só renasce quem morreu) –, a Renascença fez voltar, isso, os contra-valores. O que era bom no classicismo não pereceu no Medievo, ao contrário do que alegam os renascentistas. Tal perecimento inexistente foi criado por mentes perversas para, sob esta mentirosa alegação, revitalizar o que de ruim há tinha sido morto pelo Cristianismo. Percebe-se, nisso, a “coincidência” histórica: no Renascimento apareceram idéias típicas da Antigüidade, como o despotismo dos monarcas, o centralismo estatal, a escravidão, o racismo, o nacionalismo exagerado, o mercantilismo. Todos esses pontos da cultura clássica, tremendamente imorais, negativos, não existiam na Idade Média, justamente pela ação da Igreja, que soube separar o bem do mau dentre as manifestações da Antigüidade.Assim, em vez de despotismo, havia, em geral, a consciência da monarquia como serviço; ao centralismo opôs-se a subsidiariedade no seu modelo máximo: o feudalismo; à escravidão a sociedade hierárquica mas harmônica; ao racismo a fraternidade cristã em sua igualdade essencial (embora desigual nos acidentes, no que se baseia a hierarquia); ao nacionalismo o universalismo europeu; ao mercantilismo a idéia de solidariedade. Claro que isso tudo num plano ideal, eis que, como em qualquer agrupamento humano, houve abusos – em número muito menor, diga-se de passagem, do que os propalados pelos detratores da Idade Média.No período medieval, os valores clássicos positivos foram preservados. A partir da Renascença somam-se a estes os negativos, trazidos pelo antropocentrismo e pelo nascente racionalismo.





Da Renascença ao absolutismo monárquico foi um passo. Idéia clássica, ausente na Idade Média – essencialmente descentralizadora e fiel à subsidiariedade, haja vista o sistema o feudal –, o poder absoluto dos reis é um pensamento que obviamente foi gerado pela intelectualidade renascentista. E quando, descontentes com essa imoralidade que fazia do rei uma espécie de dono da sociedade, e do Estado uma extensão da propriedade privada, alguns iniciaram suas justas críticas a esse status quo, não permitiram os liberais que se voltasse ao regime da Cristandade , que tantos benefícios patrocinara. A contrário senso, conduziram tudo para que a sociedade desse outro passo em direção ao abismo: e venceu a Revolução Francesa, a qual não apenas removeu o nefasto absolutismo. Senão, com ele, muitos traços da ordem social católica que ainda persistiam, teimosamente, a despeito de todos os malefícios renascentistas que se lhe infligiam. “Laicizar o Evangelho e conservar as aspirações humanas do cristianismo suprimindo a Cristo: tal é o essencial da Revolução. Rousseau consumou a operação inaudita, começada por Lutero, de inventar um cristianismo separado da Igreja de Cristo; ele é quem acabou de naturalizar o Evangelho; é a ele a quem devemos esse cadáver de idéias cristãs cuja imensa putrefação envenena hoje o universo.” (MARITAIN, Jacques. Tres reformadores, Buenos Aires: Ed. Santa Catalina, 1945, pp. 171-172) Por isso é que a Joseph de Maistre denomina a Revolução de essencialmente satânica (cf. DE MAISTRE, Joseph. Du Pope, in “Oeuvres choisies”, Paris: A. Roger et F. Chernoviz Éditeurs, 1909, pp. 41). E Mons. Freppel, ao explicar a Revolução Francesa, demonstra como, mais do que uma ação política, “é uma doutrina e uma doutrina radical, uma doutrina que é a antítese absoluta do cristianismo.” (FREPPEL, D. Charles Emile. La Révolution Française, Paris: Editions du Trident, réédition, 1997, p. 21)



Por meio de sucessivos atos, foram se desenvolvendo os tentáculos da Revolução. Da queda dos valores medievais pelo Renascimento foi-se ao estabelecimento de um igualitarismo racionalista, que odiava a fé, e que, por sua vez, favoreceu a terrível descristianização que vemos hoje. O “Cristo sim, Igreja não” de Lutero mudou-se em “Deus sim, Cristo não” dos iluministas, e este, por sua vez, em “Nem Igreja, nem Cristo, nem Deus” dos marxistas. “Sabeis que tal impiedade não amadureceu num único dia, mas há muito tempo estava incubada nas vísceras da sociedade. Na verdade, começou-se por negar o império de Cristo sobre todos os povos: negou-se à Igreja o direito – que emana do direito de Jesus Cristo – de ensinar os povos, de fazer leis, de governar os povos para os conduzir à eterna felicidade. E pouco a pouco a religião cristã foi igualada a outras religiões falsas e indecorosamente rebaixada ao nível destas; em conseqüência, foi submetida ao poder civil e foi deixada quase ao arbítrio dos príncipes e magistrados; indo mais além, houve quem pensasse substituir por certo sentimento religioso natural a religião de Cristo. Não faltavam Estados os quais julgaram poder dispensar-se de Deus, pondo a sua religião na irreligião e no desprezo do próprio Deus.” (Sua Santidade, o Papa Leão XIII, Encíclica Annum Sacrum, de 15 de maio de 1889)

O grande pensador espanhol Ortega y Gasset faz lúcida análise da crise que se abateu sobre a Cristandade, a qual se estende até os dias de hoje com a imoralidade e o ateísmo prático. No seu “Em Torno a Galileu” demonstra a referida crise como situada concretamente no Renascimento, a partir do qual “à figura do mundo vigente em uma geração, sucede uma outra figura do mundo algo diferente. Ao sistema de convicções para agir, sucede um outro.” (ORTEGA Y GASSET, J. Obras Completas, tomo V, Madri: Revista de Occidente, 1962, p. 69)
 

Série: Grandeza Cristã na Idade Média VII - Por Rafael Vitola Brodbeck



“Com a modernidade começa a gastar-se no mundo ocidental a cosmovisão antropocêntrica que, há mais de dois séculos, vem configurando uma cultura de tipo prometeico, cujo objeto é a autolibertação absoluta do homem frente à natureza e Deus. A cosmovisão antropocêntrica absolutiza a totalidade do homem enquanto realidade criadora do mundo e se apóia na primazia do progresso técnico-científico, que, por sua vez, se impõe como único critério do processo cultural.” (CHEUICHE, D. Fr. Antônio do Carmo, OCD. Cultura e Evangelização, Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995, p. 122)

Para a Igreja, a Idade Moderna, caracterizada sobretudo pelo Renascimento e pela Reforma Protestante, foi uma época de crise, pela qual, à semelhança de uma ponte, o mundo caminhou ao Iluminismo e à vitória dos liberais na Revolução de 1789. É bem verdade que a Idade Moderna ainda conservaria traços de cristianismo bem vivos, como se nota na evangelização da América, nas grandes espiritualidades que se desenvolveram no período – os jesuítas de Santo Inácio de Loyola, a reforma do Carmelo por Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, a popularização da devoção ao Coração de Jesus por São Cláudio de la Colombière, as famílias espirituais fundadas por São Francisco de Sales, por Santa Joana de Chantal, por São Vicente de Paulo e por Santa Luísa de Marillac etc –, na arquitetura eclesiástica. A Renascença não tinha perdido, de todo, o ethos católico. “Poder-se-ia dizer que a Idade Média”, pontifica Berdiaeff, “havia preservado as forças criadoras do homem e preparado o florescer esplêndido do Renascimento. O homem penetrou no Renascimento com a experiência e a preparação medievais. E tudo o que houve de autêntica grandeza no Renascimento, estava vinculado com a Idade Média cristã.” (BERDIAEFF, NICOLAS. Una nueva Edad Media, Barcelona: Apolo, 1934, p. 25)

Todavia, tais traços de fé cristã iam pouco a pouco se apagando nos ambientes temporais, ao mesmo tempo em que os verdadeiros católicos a eles se apegavam para explicitar sua adesão plena à Igreja, em um combate que será travado amplamente no século XIX. “O novo espírito que inicia a descristianização moderna da Europa traz também consigo uma admiração nova pela Antigüidade pagã greco-romana. A Idade Média, evidentemente, conhecia e apreciava a Antigüidade, porém, ainda que a assumisse em boa parte, considerava-a superada pelas grandes sínteses da Cristandade posterior. O Renascimento, pelo contrário, estima a Antigüidade como uma era de ouro, ao mesmo em que desvaloriza a Idade Média.” (IRABURU, Pe. José Maria. Hechos de los Apóstoles de América, 3ª ed., Pamplona: Fundación Gratis Date, 2003, p. 101) Daí surge a lenda negra, tentativa anticatólica de falsificação da Idade Média, e de considerar eventuais abusos em tal período cometidos como normais e corriqueiros – e mesmo como aceitos. Tempo tão pleno do Evangelho, que, segundo os Papas, governava os Estados , precisava ser alvo de campanhas difamatórias e mentirosas por parte dos que odiavam a Igreja, se quisessem estes ver seus planos vitoriosos.



Fonte: http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=55975&tid=2560771280547206494&kw=idade+m%C3%A9dia&na=1&nst=1

sábado, 24 de julho de 2010

Bispo de Guarulhos diz que não recuará em mobilização contra Dilma


Pivô da polêmica mobilização contra Dilma Rousseff, o bispo de Guarulhos (SP), Dom Luiz Gonzaga Bergonzini afirma que não recuará e levará sua manifestação de veto à presidenciável às missas e celebrações das 37 paróquias da cidade. 
Ele considera o PT favorável à descriminalização do aborto e divulgou artigo recomendando aos católicos que boicotem a petista. 
Governado desde 2001 pelo PT, o município é o segundo colégio eleitoral do Estado, com 788 mil votantes. A campanha informal alicerçada na diocese desagradou o prefeito Sebastião Almeida.
"Sou católico e respeito a posição do religioso. Mas não posso concordar com a transformação de uma posição doutrinária da Igreja Católica em apoio ou rejeição a qualquer candidato." 
Em entrevista à Folha, Dom Luiz Gonzaga, 74 anos, diz não ter nada pessoal contra a candidata, mas é irredutível, mesmo após as recorrentes negativas da ex-ministra da Casa Civil.
"Ela [Dilma] segue o partido, ela é a candidata. Então eu vou matar a cobra na cabeça. Pessoalmente não tenho nada contra ela. Mas o direito à vida é o maior direito humano. O aborto é atitude covarde e criminosa. Eu não arredo o pé, não." 
Leia os principais trechos da entrevista concedida pelo bispo. 
Folha - Mesmo com a recomendação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pela neutralidade na campanha, o senhor decidiu explicitar sua posição contrária à candidata Dilma Rousseff. Por quê?
 
D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Em primeiro lugar, que recomendação é essa? A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre os bispos. Eu segui a voz da minha consciência. Sou cristão de verdade e defendo o mandamento "não matarás". Não tem esse negócio de "meio termo". 
Folha - A candidata afirma que não defende a descriminalização do aborto. Mesmo assim, o senhor cita o nome dela no artigo.
 
Dom Luiz - Ela [Dilma] segue o partido, ela é a candidata. Então eu vou matar a cobra na cabeça. Pessoalmente não tenho nada contra ela. Mas o direito à vida é o maior direito humano. O aborto é atitude covarde e criminosa. Eu não arredo o pé, não. 

Folha - Como o senhor concluiu que ela tem essa posição? Isso nunca ficou claro e ela nega.
 
Dom Luiz - É o terceiro plano de governo que ela adota. Como percebeu que havia reação, foi mudando. Não vou recuar. 

Folha - O senhor pretende levar ao conhecimento dos fiéis da diocese essa recomendação de não votar na candidata Dilma?
 
Dom Luiz - Os padres devem notificar ao povo a orientação do bispo. Eu não vou arredar o pé, não importa as consequências que eu venha sofrer, mas o que importa é minha consciência e seguir o Evangelho. Eu não tenho medo. O que pode acontecer? Deus saberá. 
Folha - Inclusive nas missas, os padres vão tratar do tema? Vão citar o nome da candidata?
 
Dom Luiz - Tratar do tema, não. Podem citar o nome dela, porque vou mandar uma carta para os padres notificarem as pessoas da minha recomendação nas missas. Como cidadão, tenho direito de expressar minha opinião e, como bispo, tenho a obrigação de orientar os fiéis.

 
Folha - O senhor teme algum tipo de retaliação ou reação negativa, seja por parte da CNBB ou de partidários da candidata Dilma?
 
Dom Luiz - Sempre tem alguma coisa. Tenho recebido muitos e-mails. Não sei se são ameaças, mas contestando. Mas posso te dizer que muitos de apoio. As pessoas dizem: "finalmente alguém que usa calça comprida resolveu reagir" 

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus

Por: D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Bispo de Guarulhos



Com esta frase Jesus definiu bem a autonomia e o respeito, que deve haver entre a política (César) e a religião (Deus). Por isto a Igreja não se posiciona nem faz campanha a favor de nenhum partido ou candidato, mas faz parte da sua missão zelar para que o que é de “Deus” não seja manipulado ou usurpado por “César” e vice-versa.



Quando acontece essa usurpação ou manipulação é dever da Igreja intervir convidando a não votar em partido ou candidato que torne perigosa a liberdade religiosa e de consciência ou desrespeito à vida humana e aos valores da família, pois tudo isso é de Deus e não de César. Vice-versa extrapola da missão da Igreja querer dominar ou substituir- se ao estado, pois neste caso ela estaria usurpando o que é de César e não de Deus.


Já na campanha eleitoral de 1996, denunciei um candidato que ofendeu pública e comprovadamente a Igreja, pois esta atitude foi uma usurpação por parte de César daquilo que é de Deus, ou seja o respeito à liberdade religiosa.


Na atual conjuntura política o Partido dos Trabalhadores (PT) através de seu IIIº e IVº Congressos Nacionais (2007 e 2010 respectivamente), ratificando o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) através da punição dos deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, por serem defensores da vida, se posicionou pública e abertamente a favor da legalização do aborto, contra os valores da família e contra a liberdade de consciência.


Na condição de Bispo Diocesano, como r e s p o n s á v e l pela defesa da fé, da moral e dos princípios fundamentais da lei natural que - por serem naturais procedem do próprio Deus e por isso atingem a todos os homens -, denunciamos e condenamos como contrárias às leis de Deus todas as formas de atentado contra a vida, dom de Deus,como o suicídio, o homicídio assim como o aborto pelo qual, criminosa e covardemente, tira-se a vida de um ser humano, completamente incapaz de se defender. A liberação do aborto que vem sendo discutida e aprovada por alguns políticos não pode ser aceita por quem se diz cristão ou católico. Já afirmamos muitas vezes e agora repetimos: não temos partido político, mas não podemos deixar de condenar a legalização do aborto. (confira-se Ex. 20,13; MT 5,21).


Isto posto, recomendamos a todos verdadeiros cristãos e verdadeiros católicos a que não dêem seu voto à Senhora Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam tais “liberações”, independentemente do partido a que pertençam.


Evangelizar é nossa responsabilidade, o que implica anunciar a verdade e denunciar o erro, procurando, dentro desses princípios, o melhor para o Brasil e nossos irmãos brasileiros e não é contrariando o Evangelho que podemos contar com as bênçãos de Deus e proteção de nossa Mãe e Padroeira, a Imaculada Conceição.




D. Luiz Gonzaga Bergonzini
Bispo de Guarulhos

sexta-feira, 16 de julho de 2010

LISTA DOS PAPAS MARTIRIZADOS

VEJA QUE ENTRE OS SANTOS E TESTEMUNHAS DE JESUS QUE TIVERAM SEU SANGUE DERRAMADO, ESTAVAM OS PAPAS QUE ERAM MORTOS PELOS IMPERADORES, QUANDO ROMA NÃO ERA AINDA CRISTÃ

Século I

1º Papa – S. Pedro – bispo de Roma no período de 37 a 67 morto por Nero – imperador no período de 41 a 68


2º Papa – S. Lino – de 69 a 79 morto por Vespasiano – de 69 a 79


3º Papa – S. Cleto – de 79 a 92 morto por Domiciano – de 81 a 96

Século II

4º Papa – S. Celemente – de 92 a 101 morto por Trajano – de 98 a 117


5º Papa – St. Evaristo – de 101 a 107 morto por Trajano


6º Papa – St. Alexandro – de 107 a 116 morto por Trajano


7º Papa – S. Xisto – de 116 a 125 morto por Adriano – de 117 a 138


8º Papa – S. Telésforo – de 125 a 138 morto por Adriano


9º Papa – St. Higino – de 138 a 142 morto por Antonino – de 138 a 161


10º Papa – S. Pio I – de 142 a 155 morto por Antonino


11º Papa – St. Aniceto – de 155 a 166 morto por M. Aurélio de – 161 a 180


12º Papa – S. Sotero – de 166 a 174 morto pro M. Aurélio


13º Papa – St. Eleotério – de 174 a 189 morto por Comodo de 180 a 193


14º Papa – S.Vitor I – de 189 a 199 morto por S. Severo – de 193 a 211


Século III

15º Papa – S. Zeferino – de 199 a 217 morto por Caracala – de 211 a 217


16º Papa – S. Calixto I – de 217 a 222 morto por Heliogabalo de 218 a 222


17º Papa – St.Urbano I – de 222 a 230 morto por A. Severo de 222 a 235


18º Papa – S. Ponciano – de 230 a 235 morto por Alexandre Severo


19º Papa – St. Antero – de 235 a 236 morto por Maximino de 235 a 238


20º Papa – S. Fabiano de 236 a 250 morto por Décio de 249 a 251


21º Papa – S. Cornélio – de 251 a 253 morto por Treboniano – de 251 a 253


22º Papa – S. Lúcio – de 253 a 254 morto por Valeriano – de 253 a 260


23º Papa – St. Estêvão – de 254 a 257 morto por Valeriano


24º Papa – S. Xisto II – de 257 a 258 – Morto por Valeriano


25º Papa – S. Dionísio – de 259 a 268 – Não sofreu o martírio


26º Papa – S. Félix – de 269 a 274 – morto por Aureliano – de 270 a 275


27º Papa – S. Eutiquiano – de 275 a 283 – não sofreu o martírio


28º Papa – S. Caio – de 283 a 293 – Não sofreu o martírio

Século IV


29º Papa – S. Marcelino – de 296 a 304 – Não sofreu o martírio


30º Papa – S. Marcelo I – de 308 a 309 – morto por Constâncio de 305 a 311


31º Papa – St. Euzébio – de 309 a 310 – desterrado por Maxêncio


32º Papa – S. Melquíades – de 311 a 314 – Este não foi morto – Já reinava Constantino I, o Grande – O primeiro imperador cristão.Logo, “os Santos e Testemunhas de Jesus” de que fala a bíblia eram principalmente os Papas, líderes dos cristãos.

Isso elimina definitivamente a calúnia protestante, que malandramente coloca os Papas como “matadores”.

O Poder do Santo Rosário



1. Introdução - O poder do Santo Rosário na vida do Papa João Paulo II

O pontificado do saudoso Papa João Paulo II, gloriosamente reinante de 1978 a 2005, foi muito marcado pela ênfase que deu à dois elementos fundamentais da fé católica: a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento da Eucaristia e a devoção à Santíssima Virgem.

Foi nesta linha que proclamou, nos seus últimos anos de pontificado, o Ano do Rosário (de Outubro de 2002 à Outubro de 2003) e o Ano da Eucaristia (de Outubro de 2004 a Outubro de 2005), acrescentando no Santo Rosário a contemplação dos Mistérios da Luz, onde se acompanha Nosso Senhor Jesus Cristo desde o seu batismo no Rio Jordão até a instituição do Santíssimo Sacramento.

São belíssimas as palavras do Papa João Paulo II sobre o Rosário: "O Rosário da Virgem Maria, que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando gradualmente no segundo Milênio, é oração amada por numerosos Santos e estimulada pelo Magistério. Na sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no terceiro Milênio recém iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade. (...) O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. Muitos dos meus Predecessores atribuíram grande importância a esta oração. (...) Eu mesmo não descurei ocasião para exortar à frequente recitação do Rosário. Desde a minha juventude, esta oração teve um lugar importante na minha vida espiritual. Trouxe-mo à memória a minha recente viagem à Polônia, sobretudo a visita ao Santuário de Kalwaria. O Rosário acompanhou-me nos momentos de alegria e nas provações. A ele confiei tantas preocupações; nele encontrei sempre conforto. Vinte e quatro anos atrás, no dia 29 de Outubro de 1978, apenas duas semanas depois da minha eleição para a Sé de Pedro, quase numa confidência, assim me exprimia: <> (...) Quantas graças recebi nestes anos da Virgem Santa através do Rosário: Magnificat anima mea Dominum! Desejo elevar ao Senhor o meu agradecimento com as palavras da sua Mãe Santíssima, sob cuja proteção coloquei o meu ministério petrino: Totus tuus!" (Rosarium Virginis Mariae, 1-2) O lema "Totus Tuus", do latim, significa "todo teu".

2. O poder do Santo Rosário nos escritos dos santos

O poder do Santo Rosário, fundamentado na contemplação dos Mistérios de Nosso Senhor e na intercessão da Santíssima Virgem, nos é precisado, entre os santos canonizados pela Santa Igreja, sobretudo por dois grandes devotos da Mãe de Deus, que são Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Santa Igreja, e São Luiz Maria Montfort, autor do famoso "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem".

Escreve Santo Afonso de Ligório; a respeito da intecercessão da Virgem Maria: "É impossível a tão benigna Rainha ver a necessidade de uma alma, sem ir em seu auxílio. Esta grande compaixão de Maria para com nossas misérias a leva a nos socorrer e consolar, mesmo quando não a invocamos. É o que mostrou durante sua vida, nas bodas de Caná. (...) Se Maria é tão pronta em ajudar, mesmo sem ser rogada, quanto mais o será para consolar que a invoca e a chama em seu auxílio?" ("Glórias de Maria", cap. IV) E acrescenta: "Que seja Jesus Cristo o único Mediador de justiça, a reconciliar-nos com Deus, pelos seus merecimentos, quem o nega? Não obstante isto, compraz-se Deus em conceder-nos suas graças pela intercessão dos santos e especialmente de Maria, sua Mãe, a quem tanto deseja Jesus ver amada e honrada. (...) O que, porém, temos em vistas provar é que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na própria Vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa. (...) Querendo exaltá-la de um modo extraordinário, determinou por isso o Senhor que por suas mãos hajam de passar e sejam concedidas todas as mercês dispensadas às almas remidas. (...) Não há dúvida, confessamos que Jesus Cristo é o único medianeiro de justiça, porque por seus méritos nos obtém a graça e a salvação. Mas ajuntamos que Maria é medianeira de graças, e como tal pede por nós em nome de Jesus Cristo e tudo nos alcança pelos méritos dele. Assim, pois, a intercessão de Maria, devemos de fato, todas as graças que solicitamos. (...) Assim o demônio envida todos os esforços para acabar com a devoção a Mãe de Deus nas almas. Pois, cortado esse canal de graças, muito fácil lhe torna a conquista.” (Glórias de Maria, cap. V)

Sobre a oração da Ave-Maria e do Santo Rosário, Santo Afonso escreve: "Muito agrada à Santíssima Virgem a saudação angélica. Por ela lhe renovamos a alegria que sentiu quando São Gabriel anunciou que fora eleita para Mãe de Deus. Nessa intensão devemos saudá-la muitas vezes com a Ave-Maria. Saudai-a com a Ave-Maria, diz Tomás de Kempis, porque ela gosta muita dessa saudação. Que não lhe podemos dirigir saudação mais agradável, do que a Ave-Maria, disse-o a Virgem a Santa Matilde. Por ela será também saudado todo aquele que a saúde. São Bernardo, certa ocasião, ouviu de uma estátua da Senhora as palavras: Eu te saúdo, Bernardo! Ora, a saudação de Maria consiste sempre em alguma nova graça, diz Conrado de Saxônia. Pergunta Ricardo: É possível que Maria recuse mais uma graça a quem dela se aproxima e lhe diz: Ave, Maria? A Santa Gertrudes a Mãe de Deus prometeu a Mãe de Deus tantos auxílios na hora de morte, quantas Ave-Maria lhe houvesse recitado em vida. Alano de Rupe afirma que, ao ouvir essa saudação angélica, alegra-se o céu, treme o inferno e foge o demônio. Com efeito, atesta-o Tomás de Kempis, pois com uma Ave-Maria pôs em fuga o demônio que lhe aparecera." (...) "Atualmente, não há devoção mais praticada pelos fiéis de toda classe, do que esta do Santo Rosário. (...) É assaz notório o bem que trouxe ao mundo esta augusta devoção. Quantos, por meio dela, têm sido livres dos pecados! Quantos conduzidos a uma vida santa! Quantos, depois de uma boa morte, foram por ela salvos! (...) É preciso recitar o terço com devoção, sem esquecer o que a Santíssima Virgem disse a Santa Eulália. Cinco dezenas, disse-lhe a Senhora, recitadas com pausa e devoção, me são mais agradáveis do que quinze, ditas às pressas e com menor devoção. Por isso, é bom recitá-lo de joelhos, diante de uma imagem da Virgem, e fazer no princípio de cada dezena um ato de amor a Jesus e Maria, pedindo-lhe alguma graça. Note-se também que é melhor recitar o Rosário em comum do que só." (Glórias de Maria, Tratado VI)

Já São Luis Montfort escreve: "Foi preciso que a Santíssima Virgem aparecesse várias vezes a grandes santos muito doutos, para demonstrar-lhes o mérito desta pequena oração, como sucedeu a S. Domingos, a S. João Capistrano, ao bem-aventurado Alano de la Roche. E eles compuseram livros inteiros sobre as maravilhas e a eficácia da Ave-Maria, para conversão das almas. Altamente publicaram e pregaram que a salvação do mundo começou pela Ave-Maria, e a salvação de cada um em particular está ligada a esta prece; que foi esta prece que trouxe à terra seca e árida o fruto da vida, e que é esta mesma prece que deve fazer germinar em nossa alma a palavra de Deus e produzir o fruto de vida, Jesus Cristo (...) Aprendei que a Ave-Maria é a mais bela de todas as orações, depois do Pai-Nosso. É a saudação mais perfeita que podeis fazer a Maria, pois é a saudação que o Altíssimo indicou a um arcanjo, para ganhar o coração da Virgem de Nazaré. E tão poderosas foram aquelas palavras, pelo encanto secreto que contêm, que Maria deu seu pleno consentimento para a Encarnação do Verbo, embora relutasse em sua profunda humildade. É por esta saudação que também vós ganhareis infalivelmente seu coração, contanto que a digais como deveis. A Ave-Maria, rezada com devoção, atenção e modéstia, é, como dizem os santos, o inimigo do demônio, pondo-o logo em fuga, e o martelo que o esmaga; a santificação da alma, a alegria dos anjos, a melodia dos predestinados, o cântico do Novo Testamento, o prazer de Maria e a glória da Santíssima Trindade. A Ave-Maria é um orvalho celeste que torna a alma fecunda; é um beijo casto e amoroso que se dá em Maria, é uma rosa vermelha que se lhe apresenta, é uma pérola preciosa que se lhe oferece, é uma taça de ambrosia e de néctar divino que se lhe dá. Todas estas comparações são de santos ilustres. Rogo-vos instantemente, pelo amor que vos consagro em Jesus e Maria, que não vos contenteis de recitar a coroinha da Santíssima Virgem, mas também o vosso terço, e até, se houver tempo, o vosso rosário, todos os dias, e abençoareis, na hora da morte, o dia e a hora em que me acreditastes; e, depois de ter semeado sob as bênçãos de Jesus e de Maria, colhereis bênçãos eternas no céu." (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 252-254)

3. O poder do Santo Rosário nas revelações particulares

Em Lourdes (França), onde em 1854 a Santíssima Virgem apareceu à Santa Bernadete, ela trazia nas mãos um Rosário com as contas cor de ouro, e pedia: "Reza pelos pecadores, pelo mundo tão revolto." Estas aparições foram oficialmente aprovadas pela Santa Igreja.

Em suas aparições de Fátima (Portugal, 1917), também oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, a Santíssima Virgem pediu: "Rezai o terço todos os dias, para alcançar a paz para o Mundo e o fim da guerra."

Também em suas manifestações em Akita (Japão, 1973), também oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, revelou: "As únicas armas que nos restarão então serão o Rosário e o Sinal deixado pelo Meu Filho. Rezem cada dia as orações do Rosário. Com o Rosário, rezem pelo Papa, pelos Bispos e pelos sacerdotes. (...) Reze muito as orações do Rosário. Eu sozinha ainda sou capaz de salvar vocês das calamidades que se aproximam. Aqueles que colocarem sua confiança em mim serão salvos." (13/10/1973)

Também no Brasil falou à Santíssima Virgem em suas aparições em Congonhol-MG (1987-1988), em mensagens com aprovação expressa para divulgação por parte do Bispo Local (o saudoso Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho): "O Rosário que você reza com a comunidade é milagroso. Avisa para colocarem seus pedidos sobre o altar." (03/08/1987) "Coloque o Terço na mão. Tudo se consegue com o Terço na mão." (07/09/1987) "Estou inquieta em ver tantos filhos meus que caminham para a perdição. (...) Rezem todos os dias o Rosário para que Jesus tenha compaixão deles e que possam se salvar também." (23/09/1987)

Já Nosso Senhor, falando à Irmã Amália, religiosa estigmatizada brasileira (Campinas-SP, à partir de 1930), revelou em mensagens com aprovação expressa para divulgação por parte do Bispo local (o saudoso Dom Francisco de Campos Barreto): “Amados filhos que todos os dias repetis com amor a Ave Maria, a saudação à Virgem. (...) Amados filhos, se pudésseis ver como os anjos saúdam Maria no céu; com amor, reverentes e em santa alegria aos seus pés se colocam para cumprir as ordens da Mãe amável. Maria quando recebe veneração e homenagem, imediatamente olha para vós que ainda estais na terra, e diz: “Se todos os meus filhos me louvassem com a Ave-Maria, nenhum deles se perderia!” Porque quem saúda Maria com a Ave-Maria, predispõe o seu coração para receber o derramamento de minhas graças. Maria é cheia de graça, porque foi escolhida para ser minha Mãe, portanto tem nas suas mãos os tesouros do Paraíso, dos quais pode dispor em vosso benefício. Mas se recebeis pouco, quando dizeis a Ave-Maria, é porque rezais sem atenção. Não é a quantidade que agrada a Maria, mas sim a qualidade. (...) Filhos, se pudésseis compreender o valor desta saudação bem rezada! Aproveitai! Não desperdiceis vosso tempo e rezai bem! Se assim fizerdes, na hora da vossa morte estareis repletos de graças, para poderdes entrar na vossa pátria, que é o Paraíso. (...) Na verdade, Ela tudo pode, porque tem nas suas mãos os tesouros de meu Coração, e é a distribuidora de meus dons divinos. Se alguém desejar receber prontamente, peça-me por Maria, porque é por meio dela que dou em abundância meus tesouros. Foi por meio de Maria, que desci ao mundo e vos abri as portas do Paraíso. É por Maria que dou às almas de boa vontade o que me pedem. Vinde, porque Ela vos conduzirá a Mim! Amados filhos, animo-vos a rezar bem a oração angélica, que poderia se chamar saudação divina, porque toda ela foi ditada pelo nosso amor. Vinde a Ela com confiança e amor, por meio desta belíssima oração, composta pela Trindade, para saudar a nossa amada, Maria. Rezai com amor, alegria e com confiança filial a oração angélica. Tereis o meu Amor nos vossos corações." (19/08/1931)

4. Como rezar o Santo Rosário

Expomos, abaixo, a forma como o Rosário é tradicionalmente rezado.

No início, reza-se:
Sinal da Cruz


"Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos, Deus Nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém."

Creio
"Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra, em Jesus Cristo, Seu único Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém."

Pai Nosso
"Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o Vosso Nome; venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal. Amém."

Ave Maria (três vezes, em honra a cada uma das Pessoas da Santíssima Trindade)
"Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso Ventre Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém."

Glória ao Pai
"Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém."

Oração ensinada pela Santíssima Virgem em Fátima
"Oh meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno, levai todas as almas para o Céu; e socorrei principalmente as que mais precisarem."

Em cada dezena, contempla-se o mistério correspondente e reza-se um Pai-Nosso, dez Ave-Maria, um Glória e a oração de Fátima.

Os mistérios a serem contemplados são os Mistérios Gozosos, Gloriosos, Luminosos e Gloriosos. Se é rezado apenas um "terço" do Rosário, reza-se os Mistérios correspondentes ao dia (após serem recentemente acrescentados os Mistérios Luminosos, o "terço" tornou-se a Quarta parte do Rosário).

Primeiro terço: Mistérios Gozosos
(Segundas e Sábados)


1o. Mistério: Anunciação do Arcanjo Gabriel à Santíssima Virgem e o Mistério da Encarnação


2o. Mistério: Visita da Santíssima Virgem a sua prima Santa Isabel


3o. Mistério: Nascimento do Menino Jesus na pobre gruta de Belém


4o. Mistério: Apresentação do Menino Jesus no Templo


5o. Mistério: Jesus é perdido e encontrado no Templo

Segundo terço: Mistérios Dolorosos
(Terças e Sextas)


1o. Mistério: Sofrimento de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras


2o. Mistério: Flagelação de Nosso Senhor


3o. Mistério: Nosso Senhor coroado de espinhos


4o. Mistério: Nosso Senhor carregando a Cruz 5o. Mistério: Crucificação de Nosso Senhor


5o Mistério: Crucificação de Jesus - Pai Nosso, dez Ave Maria, Glória ao Pai, jaculatória de Fátima

Terceiro terço: Mistérios Luminosos
(Quintas)


1o Mistério: Batismo de Nosso Senhor no Rio Jordão


2o Mistério: Nosso Senhor realiza seu primeiro milagre pela intercessão da Santíssima Virgem


3o Mistério: Nosso Senhor anuncia o Reino de Deus e chama à conversão


4o Mistério: Transfiguração de Nosso Senhor no Monte Tabor


5o Mistério: Nosso Senhor institui o Santíssima Sacramento

Quarto Terço: Mistérios Gloriosos
(Quartas e Domingos)


1o. Mistério: Gloriosa Ressurreição de Nosso Senhor


2o Mistério: Gloriosa Ascensão de Nosso Senhor


3o Mistério: Vinda do Espírito Santo sobre a Santíssima Virgem e os Santos Apóstolos em Pentecostes


4o Mistério: Gloriosa Assunção da Santíssima Virgem

5o Mistério: Gloriosa Coroação da Santíssima Virgem como Rainha do Céu e da Terra

Ao final do Rosário, reza-se:

Salve Rainha
"Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, Vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre virgem Maria! Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo."

5. Conclusão

Diante de tudo isso, fica claro que o Santo Rosário, sendo uma oração essencialmente cristológica, como afirma o saudoso Papa João Paulo II, é ao mesmo tempo uma das mais tradicionais formas de devoção à Santíssima Virgem que a Santa Igreja conhece.

São Luis Montfort assim recomenda que ofereçamos a oração do Rosário: "Uno-me a vós, meu Jesus, para louvar dignamente vossa Santa Mãe, e louvar-vos a vós, Nela e por Ela." Se rezarmos o Rosário nesta intenção, ao mesmo tempo que entregamos em oração os nossos pedidos particulares, não resta dúvidas de que estaremos agradando o céu, e recebendo muitas e muitas graças, para nós e para aqueles por quem nós orarmos!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dalits indianos à Igreja: “vocês são nossos salvadores”

Maioria é composta de não cristãos

ROMA, domingo, 4 de julho de 2010 (ZENIT.org) - O arcebispo William D'Souza, de Patna, no norte da Índia, destacou a atuação dos grupos ligados à Igreja no fornecimento de auxílio de emergência a centenas de milhares de “dalits” (os “intocáveis” ou impuros no sistema de castas do hinduísmo, que estão abaixo das últimas quatro castas), que vivem na mais extrema pobreza e cuja maioria é composta de não cristãos.

O prelado falou com a associação humanitária católica Ajuda à Igreja que Sofre após uma onda de manifestações anti-cristãs em algumas regiões da Índia, promovida por grupos nacionalistas hindus.

A violência anti-cristã registrada nos anos de 2007 e 2008 no estado de Orissa, na Índia oriental, levou o país a tomar consciência do ódio religioso presente em algumas regiões, e sensibilizou a opinião pública para as leis anti-conversão impostas ao longo das últimas décadas no estados de Gujarat, Madhya Pradesh, Chhattisgarh, Himachal Pradesh e Orissa.

O arcebispo sublinhou que a coligação que atualmente controla o governo do estado tem apoiado a obra da Igreja junto aos dalits.

Descrevendo sua diocese como “uma Igreja principalmente de dalits”, o prelado afirmou que “o governo valoriza os esforços eclesiais”.

O objetivo principal da Igreja, comentou, é possibilitar que a população supere as condições de miséria, conscientizando-a de seus direitos e favorecendo uma formação voltada à criação de oportunidades de trabalho.

“As pessoas que ajudamos são muito pobres, e não dispomos de recursos para oferecer-lhes tudo aquilo de que necessitam”, disse o prelado, sublinhando que os dalits representam 45 mil dos cerca de 65 mil católicos da diocese.“

Tudo o que tentamos fazer é oferecer-lhes um raio de esperança para o futuro, através da assistência de saúde e educação”.

Ainda que a discriminação tenha diminuído, os dalits – especialmente nas áreas rurais – ainda são vistos como impuros, e por vezes têm acesso proibido a templos hindus, escolas e fontes de água.

Na arquidiocese de Patna, a Igreja tem respondido a esta situação organizando uma vasta rede de auxílio. Há mais de 3 mil grupos de apoio, cada qual composto por até 15 integrantes, com programas voltados para a promoção dos direitos humanos, economia doméstica e o desenvolvimento de capacidades organizativas.

“A maior parte das pessoas com as quais trabalhamos não são católicas”, disse o arcebispo.

“Dizem-nos que somos seus salvadores. Permanecem em contato conosco, mas, dadas as necessidades tão mutáveis das pessoas, não conseguimos acompanhá-los continuamente”, concluiu.
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