terça-feira, 27 de julho de 2010

Série: Grandeza Cristã na Idade Média II - Por Rafael Vitola Brodbeck

E qual é o conceito de civilização, sobre o que falávamos, senão a reunião da cultura própria de um povo, das mentalidades, dos costumes, das leis e das demais estruturas? São estes os ambientes os quais devemos cristianizar, ou melhor, recristianizar, vez que, como veremos, antes do advento deste pensamento moderno, a cultura católica imperou em determinado momento da História – ainda que com seus defeitos e abusos, naturais no percurso da peregrinação terrestre pela qual o homem passa; lembremos que o Reino temporal deve ser reflexo do Reino celestial, porém só este último é perfeito e livre de todo pecado!



Os homens precisam de Cristo, mesmo para a reforma da sociedade. O campo temporal não escapa da influência do Espírito Santo, de Deus que se manifesta ordinariamente pela Sua Igreja. Somos cidadãos do céu, mas vivemos na terra, e nela devemos nos santificar e construir estruturas que auxiliem os outros a fazerem o mesmo. Inegável, insistimos, que os bens presentes e seculares, profanos, também podem e devem nos convidar a Deus, mediante a contemplação da ordem, da natureza, da beleza, da verdade, da unidade, do bem. Vivendo numa sociedade sacralizada torna-se mais fácil atrair os homens a Cristo e, mais, realizar aquilo que é a própria vontade de Deus: atrair tudo a Si, “desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra.” (Ef 1,10) Auxilia-nos o compêndio da doutrina católica: “O dever social dos cristãos é respeitar e despertar em cada homem o amor da verdade e do bem. Exige que levem a conhecer o culto da única religião verdadeira, que subsiste na Igreja católica e apostólica. Os cristãos são chamados a ser a luz do mundo. Assim, a Igreja manifesta a realeza de Cristo sobre toda a criação e particularmente sobre as sociedades humanas.” (Catecismo da Igreja Católica, 2105)
 
Que civilização é essa que devemos construir? “Não se deve inventar a Civilização, nem se deve construir nas nuvens a nova sociedade. Ela existiu e existe: é a Civilização Cristã, é a sociedade católica. Não se trata senão de a instaurar e restaurar incessantemente nas suas bases naturais e divinas, contra os ataques sempre remanescentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: instaurar todas as coisas em Cristo.” (Sua Santidade, o Papa São Pio X. Carta Notre Charge Apostolique, de 25 de agosto de 1910)


O Reino de Deus é nos céus. Achar que é na terra seria cair na utopia e injustiça comunistas, ou no milenarismo gnóstico – raiz cultural daquele, e inspirador de movimentos comunais semelhantes, como a revolta dos anabatistas alemães, dos cátaros albigenses, dos espirituais que deturparam a regra de São Francisco de Assis, dos montanistas que desdenhavam da autoridade episcopal, dos iluministas favorecedores de uma burguesia atéia etc. Todavia, na terra, os homens refletem seu Deus, e as sociedades devem refletir o Reino. Das civilizações, deve-se procurar instaurar uma que seja cristã, católica, i.e., governada pelo espírito do Evangelho. E ela já teve uma expressão histórica concreta, mesmo com seus defeitos: foi o período medievo.

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda a parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.” (Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Immortale Dei, de 1 de novembro de 1885, in “AAS”, vol. XVIII, p. 169)



O Papa João Paulo II reitera esse ensino tradicional da Santa Igreja de Cristo: “Nós somos ainda os herdeiros de longos séculos nos quais se formou na Europa uma Civilização inspirada pelo cristianismo. (...) Na Idade Média, com certa coesão do continente inteiro, a Europa constrói uma Civilização luminosa da qual permanecem muitos testemunhos.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Discurso à CEE, em Bruxelas, 21 de maio de 1985, in “L´Osservatore Romano”, 22 de maio de 1985)

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