segunda-feira, 21 de março de 2011

Campanha da Fraternidade - “Fraternidade e Vida no Planeta” - Por Padre Paulo Ricardo



Na luta pelo meio ambiente somos colocados diante de uma escolha: cultuar a Natureza como uma divindade e promover o neo-paganismo ou colocar-nos diante do Criador numa atitude de humilde obediência ao seu desígnio e ser verdadeiros cristãos.

É com esta atitude de servo que o homem é chamado a dominar sobre a criação (Gen 1, 28). Ao se fazer homem, Deus concedeu uma maior dignidade ao ser humano. Por isto, o Papa Bento XVI nos recorda que existe uma ecologia do homem.

“Deve-se proteger também o homem contra a destruição de si mesmo. É necessário que haja algo como uma ecologia do homem, entendida no sentido justo. [...] O homem pretende fazer-se sozinho e dispor sempre e exclusivamente sozinho o que lhe diz respeito. Mas desta forma vive contra a verdade, vive contra o Espírito criador” (Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, 22/12/2008).

“A arrogância do homem que vive como se Deus não existisse, leva a explorar e deturpar a natureza, não a reconhecendo como uma obra da Palavra criadora. [...] Acolher a Palavra de Deus atestada na Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja gera um novo modo de ver as coisas, promovendo uma ecologia autêntica, que tem a sua raiz mais profunda na obediência da fé, e desenvolvendo una renovada sensibilidade teológica sobre a bondade de todas as coisas, criadas em Cristo” (Bento XVI, Verbum Domini, 108).

Parte 01

Parte 02

Parte 03


Segue a palestra na Íntegra:

"Nós esse ano estamos, na Igreja do Brasil, vivendo a quaresma e como todos os anos a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nos propõe um tema. O tema deste ano é o meio ambiente, a ecologia. Pois bem, existe uma forma católica, cristã, de se fazer uma reflexão a respeito da ecologia e existe uma forma que é revolucionária e completamente não cristã de se pensar a ecologia. E é exatamente aqui que eu gostaria de contribuir para que você soubesse que infelizmente tem gente se aproveitando da Igreja Católica para, nesse tema da ecologia, colocar uma agenda que não é católica, fazer com que os católicos de alguma forma percam a centralidade da sua fé em Deus.


É a proposta de um neo-paganismo. Primeiro vamos entender qual é a diferença entre a religião cristã e a religião pagã. Pra você ser cristão precisa, em primeiro lugar, ser profundamente ateu dos deuses falsos. Você precisa negá-los, não acreditar que Júpiter, Zeus, Apolo, Minerva... são deuses. O cristianismo sempre fez isso. Na sua evangelização primeira, e era assim que os apóstolos agiam, propunha que as pessoas deviam renunciar aos deuses falsos. E nisso os cristãos não inventaram absolutamente nada, porque eles estavam apenas levando à frente o que era herança de Israel. Toda a ação dos profetas visa isso, o povo de Israel deixar de lado os falsos deuses e adorar o único Deus verdadeiro; o Deus de Abraão, Isaac e Jacó; o Deus que revelou seu nome a Moisés no Horeb. 

Quando Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo, como o Filho de Deus que se encarna, Ele continua nessa mesma dinâmica. São Paulo quando sai para pregar o evangelho continua nessa mesma dinâmica. Portanto nós cristãos, para sermos bons cristãos, temos que ser profundamente ateus dos deuses falsos, precisamos ter um só Deus.

E quem são esses deuses falsos? Quem são os deuses pagãos? Eles são, de uma forma geral, potências cósmicas. Então se os índios adoram Tupã como deus do raio, os escandinavos adoravam Thor, os romanos adoravam Júpiter e os gregos adoravam Zeus como deus do raio. Também se nós formos olhar para os cultos afro-brasileiros, deve haver um orixá que é responsável pelo raio. Mas esses poderes cósmicos eram adorados pelos homens como sendo deuses, e nós cristãos olhamos para esses poderes cósmicos e dizemos “são somente criaturas”. São coisas boas e bonitas. Não estamos “demonizando” as potências cósmicas, mas não devemos a elas adoração, respeito ou temor no sentido de religião. Devemos respeitar sim a criação, mas porque respeitamos o Criador, Deus verdadeiro, e o seu projeto.

Existe uma diferença muito grande quando nós cristãos respeitamos a criação e quando os pagãos idolatram a natureza. Começa pela linguagem: nós cristãos temos uma tendência a falar “criação” porque existe um Criador que é Deus; já os pagãos que não querem se lembrar do Criador falam de natureza, e começam a tratá-la como se fosse uma potência superior a nós, ou seja, é “mãe”. A “mãe” natureza, a “mãe” Terra, que é uma divindade pagã, é Gaia, uma deusa. E aí se começa a dar personalidade para isso que é uma criatura. 

E São Francisco de Assis? Ele não personalizou a natureza? Não, não foi exatamente isso que ele fez. Primeiro que ele não falava de natureza, mas de criação (o hino das criaturas), então já é algo referido a Deus. Ele louvava a Deus pelas criaturas. Ele tratava as criaturas como irmãs, mas irmãos claramente inferiores a nós, porque Deus nos deu o domínio sobre toda a criação. Então, para São Francisco de Assis, a Terra era a “irmã” Terra, e não a “mãe” Terra. Jamais ele pensou em tratar a Terra como mãe.

Numa visão cristã do mundo, o homem está no centro do universo. Não tem sentido nenhum nós cristãos ficarmos repetindo que a Terra é a criatura mais perfeita, isso simplesmente não é verdade. No relato da criação, no primeiro capítulo do Gênesis, diz que Deus fez uma coisa no primeiro dia e viu que era bom, outra coisa e viu que era bom... quando no sexto dia Deus fez o homem e a mulher, como ápice da criação, viu que era muito bom. Portanto é na criatura humana que está a dignidade maior, e não na “mãe” Terra, como se ela estivesse acima de nós e nós abaixo dela. Como se precisássemos obedecê-la. Não. Nós precisamos obedecer por Deus, ou seja, porque vemos um projeto de Deus. A verdadeira ecologia cristã parte de uma obediência ao Criador, tem sempre o Criador diante dos olhos, vê que as criaturas nos são inferiores. Porque Deus disse “Crescei e multiplicai-vos, e dominai a Terra”. Nós exercemos um domínio sobre a Terra, mas esse domínio não é absoluto. Não é de um déspota, um ditador, mas um domínio de quem é dominado. Domínio vem de DOMINUS, de Senhor. Deus é nosso Senhor. Uma vez que Ele é meu Senhor e Criador de tudo isso, eu posso dominar, mas estarei sempre dominando em sintonia com o projeto de Deus. Foi isso que o Papa Bento XVI tentou explicar quando uma vez num discurso à Cúria Romana, na sua tradicional alocução de Natal, falou de uma ecologia baseada no homem. Não tem sentido querermos fazer a ecologia para preservarmos as nossas florestas, o mico-leão-dourado, as baleias, e não fazermos uma ecologia para preservar o ser humano. Que sentido tem esses movimentos político-ecológicos estarem todos associados com abortismo, por exemplo? Porque de fato estão. Isso não é uma conjectura minha. Enquanto nós assistimos a certos agentes de pastoral fazendo discursos inflamados para salvar a “mãe” Terra, não se via esses mesmos discursos inflamados quando na Campanha da Fraternidade sobre a vida se passava quase despercebido o tema do aborto. Ninguém falava de aborto. Como é possível fazer uma Campanha da Fraternidade sobre a vida e alguém não tratar o assunto do aborto com verdadeira garra? E, no entanto, acanhadamente se falava sobre a vida, mas ninguém tratava do aborto. Por quê? Porque as pessoas que têm mentalidade revolucionária, e as há dentro da Igreja, querem pôr em prática a agenda do movimento revolucionário, que quer destruir o Cristianismo e implantar o neo-paganismo. Implantar uma religião mundial que seja uma espécie de caldeirão de mistura, onde todas as religiões são boas, e temos aí um panteão de deuses, ou seja, o velho paganismo. É o que havia no império romano, deuses pagãos e cada um convive com o seu deus, e Jesus Cristo seria um desses deuses. Mas aí você já está compreendendo que isso não é Cristianismo, isso é a destruição do Cristianismo. Porque se o Cristianismo nasceu no seu berço judaico exatamente como um monoteísmo, com um profundo ateísmo que rejeita os outros deuses, como é possível agora defendermos deuses pagãos? Nós queremos agora nos dizer cristãos e venerarmos a “mãe” Terra, as forças cósmicas, a força da água que é Iemanjá, Netuno, Posseidon... não, não podemos fazer isso. Temos que venerar e adorar a Deus verdadeiro.

Então, meus irmãos, vejam como existe ali uma armadilha. Os bons católicos vão ver a Campanha da Fraternidade com uma visão católica, claro, vamos lutar para fazer uma ecologia justa para obedecer as leis de Deus, para obedecer a ordem que Deus implantou na criação e ao obedecê-la, existe uma ecologia do homem, lembra Bento XVI. O aborto vai contra a ecologia do homem. A cultura gay e os direitos homossexuais são contra a ecologia do homem, porque Deus fez homem e mulher, um para o outro. Se você se revolta dizendo não, mas eu quero homem com homem, mulher com mulher, você está indo contra a ecologia do homem. Esses são exemplos do Papa Bento XVI. Pois bem, só é possível fazer uma ecologia cristã se nós tivermos firme a idéia de Deus Criador e das criaturas, e que na pirâmide dessa criação está lá o ser humano, que tem uma dignidade especial, porque Deus se fez homem. Deus não se fez baleia, não se fez mico-leão-dourado. Claro que o corpo e alma de Jesus foram criados. Ele é Deus, eterno, filho de Deus que se fez homem. Mas não dá pra usar a palavra criatura pra Jesus, porque Ele é Deus Criador, Nele nós fomos criados. Pois bem, se formos usar a palavra “criatura”, a criatura mais perfeita de todas chama-se Maria Santíssima, a Virgem Maria. Não é a “mãe” Terra. A criatura mais perfeita é uma mãe, mas não é a “mãe” Terra e sim a mãe de Deus.

Então como é possível fazer uma ecologia, defender o meio ambiente, sem me lembrar desta soberania do homem? E não somente do homem, mas da soberania do cristão? Porque pelo batismo, somos sacerdotes, profetas e reis. Existe um reinado do cristão sobre a criação, exatamente porque o cristão é servo de Deus. Ele deixa que Deus o domine, e por isso ele pode exercer esse domínio de Deus. Essa é a ecologia correta.

Agora, de repente, nós vemos em músicas, panfletos, sermões, mensagens, pessoas equivocadamente adotando quase que sem perceber uma mensagem pagã. Eu não estou aqui condenando ninguém, eu estou condenando essa linguagem, essas idéias, e não pessoas. Porque às vezes as pessoas são inocentes úteis que vão repetindo essas mensagens como se fossem a coisa mais sensata do mundo e, no entanto, não são. Trata-se de uma coisa absurda. Nós temos diante dessa Campanha da Fraternidade que receber esse tema, que é oportuno. Portanto, eu não estou condenando a iniciativa dos nossos bispos, da CNBB, mas nós temos que aplicar o tema de forma adequada, numa verdadeira ecologia cristã. Nada de abrirmos as portas para uma linguagem que quer reduzir o Cristianismo a uma das tantas religiões possíveis num panteão de uma religião mundial, relativista. Nós não podemos voltar ao sonho do império romano. Ao sonho de um governo mundial com uma religião mundial. Infelizmente, existem cristãos católicos, padres, bispos até, que estão iludidos com isso. Trabalhando às vezes conscientemente, às vezes inconscientemente, para um governo mundial. Para se fazer um governo onde todos os povos viverão em paz, harmonicamente, e a ecologia é um instrumento ideológico poderoso para a implantação de um governo mundial.

Toda essa ideia de que existe um aquecimento global no planeta se diz que está sendo causado por seres humanos. Eu não sou meteorologista e nem estudioso, portanto não cabe a mim provar nada. Mas primeiro, há que se provar que realmente está acontecendo um aquecimento global e que tem origem humana. Existem inúmeros cientistas debatendo isso e contestando essa afirmação. Independente do fato de que esteja ou não acontecendo esse aquecimento e que seja antropogênico, essa ideia está sendo usada como navio quebra-gelo para implantar um governo mundial. Por quê? Porque se está acontecendo um aquecimento global, esse é um assunto mundial. Ora, um problema mundial só pode ser resolvido por um governo mundial. De repente, aparece ai o governo mundial como salvador da pátria. E então o que nós estamos vendo concretamente na geopolítica planetária? Os governos locais se transformando cada vez mais em governos regulatórios. Eles entram na sua vida. Você não pode fumar, não pode usar desodorante, não pode ligar o ar condicionado, não pode fazer tal coisa... e se passa a ter tanta regulamentação, tantas leis, que as pessoas vão perdendo a liberdade. E na proporção que esses governos locais vão ficando cada vez mais controladores e opressivos, quanto mais poder eles têm sobre a sua população, inversamente eles vão perdendo a autonomia. E esses governos nacionais vão obedecendo a deliberações que vêm das Nações Unidas, desses encontros mundiais, etc. Então vamos perdendo a soberania. O Brasil não é então um governo soberano. Quem vai dizer se nós vamos ou não gastar petróleo não é o povo brasileiro em votação, que elege seus deputados e senadores para no Congresso passar leis que decidem o que iremos fazer do nosso petróleo, mas deliberações da ONU, de encontros internacionais, de governos mundiais virtuais que já se auto-arrogam esse direito de governar as nações. Ditam aos governos que há um índice de emissão de gases, e que se não obedecido terão sanções. E então o governo local, o governo brasileiro diz “sim senhor, pois não!”. E aí, subservientes a esses chefões mundiais eles vêm com uma bota de ferro no pescoço do brasileiro e dizem “obedeça!”. É esse o mecanismo, e a ecologia é o navio quebra-gelo que está implantando esse governo mundial.

Então se pergunta: Pe. Paulo Ricardo é contra a ecologia? Não! Eu sou contra que se faça uma reflexão a respeito do meio ambiente? Também não! Mas eu sou contra duas coisas e acho que estou seguindo, por seus pronunciamentos, o pensamento do Papa Bento XVI. Primeiro, o nosso discurso ecológico deve ser cristão e não pagão. Segundo, o nosso discurso ecológico não deve tirar a soberania dos países e oprimir os povos com um governo mundial. O Apocalipse chama essas duas coisas de as duas bestas. Quais são as duas bestas do Apocalipse? A primeira besta é um império mundial, um governo político que quer governar e oprimir a todos. A segunda besta é uma religião mundial que serve a esse poder político para implantação do seu poder. O ressurgimento do neo-paganismo com matizes e colorações ecológicas, do relativismo que coloca todos os deuses num caldeirão e aí nós podemos adorá-los a todos, é a besta que serve ao governo mundial. Não estou querendo ser apocalíptico e dizer “cuidado... o fim do mundo!”. Todas as gerações cristãs precisam aplicar o Apocalipse à sua geração. Já faz dois mil anos que nós estamos vivendo os últimos tempos e a palavra do Apocalipse vale para todas as gerações cristãs. Quando Jesus vai voltar? Ele não marcou data, e seria herético e revolucionário marcar uma data para o retorno de Jesus. O que eu posso dizer é que tem gente marcando data para outras coisas. Tem gente marcando data para a implantação de um governo mundial e isso depende da destruição do Cristianismo. Nós cristãos temos que nos cuidar para não estarmos num zelo por fazer algo de bom para a criação e as criaturas, e fazendo algo de ruim contra o Criador, contra a sua religião verdadeira que adora o Deus encarnado, Jesus Cristo.

Deus abençoe você e as pessoas que você ama, e que Ele, na sua bondade, venha na sua vida e faça de você um propagador da verdadeira ecologia, onde o ser humano que é o ápice da criação obedece ao Criador e ao seu projeto para si e para as outras criaturas."

Créditos e adaptação: Ana Carla Porto
www.padrepauloricardo.org

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...