sábado, 12 de março de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 9: Para quem é a Missa?

Mito 9: "A Missa é para os fiéis"


A Santa Missa, essencialmente, é para Deus e não para os fiéis, pois ela é a Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor, oferecido a Deus Pai pelas mãos do sacerdote. Por isso, o saudoso Papa João Paulo II lamenta na sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia (n. 10):

"As vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesma. Além disso, a necessidade do sacerdócio ministerial, que se fundamenta na sucessão apostólica, fica às vezes obscurecida, e a sacramentalidade da Eucaristia é reduzida à simples eficácia do anúncio. (...) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um Dom demasiadamente grande para suportar ambigüidades e reduções."

Embora, como foi dito, os fiéis que participam da Santa Missa se beneficiam. Pois na Missa, Nosso Senhor "se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os frutos da sua Paixão e Morte." (Catecismo de São Pio X, n. 254)

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Comentário sobre este Mito (04/06):

Nós somos BENEFICIÁRIOS da Santa Missa, e NÃO os seus DESTINATÁRIOS.

Pois a Missa é renovação do Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, consumado de uma vez por todas na cruz, tornado presente no altar e oferecido ao Pai Eterno, pelas mãos do sacerdote (Cat. 1362-1372; 1411); e é onde Nosso Senhor se faz presente verdadeiramente e substancialmente no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat. n. 1374-1377)

Deus é o DESTINATÁRIO, pois Ele recebe a nossa adoração; e nós somos BENEFICIÁRIOS, pois colhemos os frutos da participação no Santo Sacrifício da Missa, principalmente quando comungamos o Corpo de Deus.

Nesse sentido, a Missa é, ESSENCIALMENTE, NÃO para nós, mas PARA DEUS.

Muitos pensam que a Missa é "para o povo", ou seja, "tem o objetivo essencial de fazer com que o povo tenha um encontro com Deus".

Confunde-se, então, Missa com Grupo de Oração, ou um simples momento de evangelização. Isso abre portas para muitos abusos litúrgicos, pois motiva a se procurar de todas as formas atrair a atenção do povo com "invencionices" no Rito, exagero nos ritmos musicais, teatros, etc.

Ora, a Santa Igreja proíbe acréscimos na Sagrada Liturgia, como foi dito acima (Sacrossanctum Concílium, n.22). A interpretação do Missal é estrita: assim, na Santa Missa, faz-se somente o que o Missal determina e nada mais do que isso.

É claro que no nosso contexto, onde muita gente só lembra de Deus na Missa Dominical (nos dias que não falta!), ela tem uma função pastoral importante (e penso que isso justifica que se celebre em português, se utilize canto popular, etc). Porém, há o limite da obediência as normas litúrgicas e do bom senso (no caso, "senso litúrgico") em não ferir o espírito da Liturgia - no caso, a essência da Santa Missa: a Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor.

Essa distorção a respeito da verdadeira essência da Santa Missa faz com que muitos vezes o próprio Santo Padre Bento XVI seja incompreendido em suas posições litúrgicas.


Por exemplo: no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", ele incentiva que a Santa Missa seja celebrada em "Versus Deum" ("Voltado pra Deus", isto é, com sacerdote e povo na mesma direção) - aliás, a linda imagem acima, é do Papa celebrando em "Versus Deum" em Roma, na Capela Sistina.

Muitos estranham o Versus Deum porque partem do pressuposto equivocado de que a Santa Missa é para os fiéis. 


Ora, partindo-se do pressuposto de que a Santa Missa NÃO é para os fiéis e sim pra Deus, nada mais natural do que o sacerdote voltar-se pra Deus nos momentos que se dirige à Deus, e voltar-se para o povo nos momentos que se dirigir ao povo (isso acontece na saudação inicial, ao dizer "Oremos", na Liturgia da Palavra, nas partes dialogadas como "Dominus Vobiscum" - "O Senhor esteja convosco" -, na apresentação do Corpo de Deus antes da Comunhão, na Benção Final e Despedida.

Nesse sentido, um fenômeno interessante que acontece é muitas vezes em novenas de Paróquias, em que o sacerdote celebra em "Versus Populum" ("Voltado para o povo"), e na hora da oração da Novena após a Comunhão, o sacerdote se volta para uma imagem da Virgem Maria (no caso de uma novena mariana), não se importando nesse caso de "dar as costas ao povo". 

Porque? Porque a novena no caso não é para o povo, e sim para a Virgem.

E a Santa Missa, é para quem?


Postado por Francisco Dockhorn.

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