sexta-feira, 18 de março de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 10: Participar ou assistir?

Mito 10: "Não se assiste a Missa"




Embora os documentos da Santa Igreja utilizem TAMBÉM o termo "participar", NÃO é errado utilizar o termo "assistir".O próprio Papa Pio XII, na encíclica Mediador Dei, de 1947, exorta os Bispos (n.186):

"Procurai, sobretudo, obter, com o vosso diligentíssimo zelo, que todos os fiéis assistam ao sacrifício eucarístico e dele recebam os mais abundantes frutos de salvação." Também o Catecismo de São Pio X (n.391) fala em "assistir devotamente ao Santo Sacrifício da Missa."

O que este termo frisa é a verdade de fé de que é o sacerdote que oferece o Santo Sacrifício da Missa, e não o leigo.

Por outro lado, é evidente que o fiel precisa assistir a celebração de forma participativa (Sacrossanctum Concilium, n.14), unindo sua vida ao Mistério do Santo Sacrifício que se renova no altar.

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Comentário sobre este Mito (11/06):

É comum ouvirmos pessoas dizendo, com todas as letras, que é ERRADO falar em "assistir a Missa". Tal afirmação é um equívoco, como constatamos claramente pelos documentos do Sagrado Magistério da Igreja: é correto falar tanto em os fiéis "participarem da Missa" como em os fiéis "assistirem a Missa", desde que, é claro, os termos sejam bem compreendidos:

Para aprofundarmos a questão, vamos primeiramente compreender o que significa, de acordo com a Doutrina Católica, assistir e participar da Missa.

O Prof. Carlos Ramalhete, uma das grandes mentes católicas do Brasil, escreveu um artigo chamado “Assistir ou Participar” – pode ser lido na íntegra em http://www.luisguilherme.net/HSJOnline/assistirouparticipar.html - , onde explica:


“Assistir como quem assiste passivamente a um jogo de futebol não é ao que a Igreja nos chama, mas assistir como "assistente", ou seja, somando o nosso sacrifício ao de Cristo, que é oferecido pelo sacerdote, é o "assistir" que a Igreja nos pede e recomenda.”

Ou seja, precisamos assistir como? Não de forma passiva, mas de forma ativa; ou em outras palavras, de "forma participativa"!

Porém, precisamos lembrar que a Santa Missa é a renovação do Seu Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, consumado de uma vez por todas na cruz e tornada presente no altar, pelas mãos do sacerdote (Cat. 1362-1372; 1411).

Muitos que afirmam "é errado falar em assistir a Missa" partem do falso pressuposto que "todos, sacerdotes ou leigos, celebram a Eucaristia da mesma maneira", atentando assim contra a essência do Sacerdócio Ministerial. Ora, atentar contra o Sacerdócio é atentar contra o Santo Sacrifício da Missa e a Presença Real de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada. Pois sem o sacerdote, não há Jesus Eucarístico!

Então, qual é a verdadeira "participação" dos fiéis na Santa Missa?


Deixemos que o próprio Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, nos responda no seu fabuloso livro “Introdução ao Espírito da Liturgia”:

“Em que consiste essa participação ativa? O que se faz aí? Infelizmente o sentido desta palavra facilmente leva a equívocos, pensando-se que se trata de um ato geral e apenas exterior, como se todos tivesse de – quanto mais possível tanto melhor – ver-se em ação. Contudo, a palavra, remete para uma participação principal, na qual todos devem participar.”

Ou seja: existe hoje uma idéia distorcida de que “o que participa melhor da Missa é aquele que responde mais alto, que mais forte, que abraça mais gente no “abraço da paz”... ou se apelarmos para os abusos litúrgicos, aquele que acrescenta elementos que o Rito não prevê (e que por isso mesmo são proibidos, como afirma a Constituição Sacrossanctum Concilium, n. 22), como teatro na homilia... não é isto que significa o que a Santa Igreja entende por participação ativa.

E o próprio Papa, mais adiante, no mesmo texto, nos explica qual é essa “participação principal” na Santa Missa, da qual “todos devem participar”. Fala o Papa:

“A verdadeira ação litúrgica, na qual todos queremos participar, e ação do próprio Deus. A novidade e a particularidade da Liturgia Cristã é o fato de ser o próprio Deus quem age e concretiza o essencial, elevando a Criação nova, fazendo-se acessível, de modo a que seja possível comunicar com Ele pessoalmente – através das coisas terrestres e dos nossos dons. (...) A singularidade da Liturgia Eucarística consiste em ser o próprio Deus a agir, envolvendo-nos nos seus atos. Todo o resto é, comparativamente com isso, secundário.”

Ou seja, eis a maravilha da Liturgia Cristã: NÃO é nós que fazemos, mas é Deus quem faz! E o faz através do Sacerdócio Ministerial (Cat., 1411).

E como nós podemos participar desta “participação principal”, deste Santo Sacrifício da que se renova no altar? O próprio Papa responde, mais adiante:

“Mas, como podemos participar dessa ação? Não são, Deus e homem, totalmente incomensuráveis? Pode o homem, finito e pecador, cooperar com Deus, infinito e Santo? Ora, ele pode, precisamente através da Encarnação de Deus que se tornou Corpo, aproximando-se aqui, sempre de novo, de nós que em corpos vivemos.”

E quanto a nós, ainda, fala o Papa (o Papa se refere ao “Sacrifício de Cristo” como “Sacrifício do Logos”, isto é, o “Sacrifício do Verbo”, segundo Cristo o Verbo de Deus):

“Certamente, o Sacrifício do Logos já foi aceito para sempre. Mas nós temos de orar, a fim de que ele se torne o nosso sacrifício, a fim de nós próprios nos tornarmos, como dissemos, e, por conseguinte, verdadeiro Corpo de Cristo; é este o objetivo.”

E conclui:

“O objetivo é que no fim seja abolida a diferença entre a Actio de Cristo e a nossa. Para que haja uma única Actio, que seja simultaneamente a sua e a nossa – a nossa por termos nos tornado com Ele.”

Pois a Santa Igreja é o Corpo Místico de Cristo: Cristo é a Cabeça, e nós somos os membros (ICor 12,27; Col 1,18). Não existe Sacrifício da Cabeça sem o Sacrifício dos membros. Na Santa Missa, nós oferecemos o nosso sacrifício espiritual (pois adorar implica em oferecer sacrifício, mesmo nas culturas mais primitivas ao reconhecer nossa pequenez diante de Deus...); e unimos o nosso sacrifício espiritual ao  Santo Sacrifício de Nosso Senhor, oferecido ao Pai no altar.

Ou seja: essa “assistência” dos fiéis de forma alguma é uma “assistência passiva”, mas sim, uma “assistência participava.”

O próprio Papa Pio XII, que na encíclica Mediador Dei (n. 186) usou o termo “assistir”, como citamos no início desta postagem, fala da participação ativa dos fiéis na Santa Missa, evidenciando, uma vez mais, que NÃO são realidades contrapostas.

Fala o Papa Pio XII a este respeito (Mediador Dei, n. 73):

“É necessário, pois, veneráveis irmãos, que todos os fiéis tenham por seu principal dever e suma dignidade participar do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote, como diz o Apóstolo: "Tende em vós os mesmos sentimentos que Jesus Cristo experimentou", oferecendo com ele e por ele, santificando-se com ele.”

E mais adiante, na mesma Encíclica (n. 88-89):

“Para que, pois, a oblação, com a qual neste sacrifício os fiéis oferecem a vítima divina ao Pai celeste, tenha o seu efeito pleno, requer-se ainda outra coisa: é necessário que eles se imolem a si mesmos como vítimas. Essa imolação não se limita somente ao sacrifício litúrgico. Quer, com efeito, o príncipe dos apóstolos que pelo fato mesmo de sermos edifïcados como pedras vivas sobre Cristo, possamos como "sacerdócio santo, oferecer vítimas espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo"; e Paulo apóstolo, sem nenhuma distinção de tempo, exorta os cristãos com as seguintes palavras: "Eu vos conjuro, ó irmãos, que ofereçais os vossos corpos como vítima viva, santa, agradável a Deus, como vosso culto racional." Mas quando, sobretudo, os féis participam da ação litúrgica com tanta piedade e atenção que se pode verdadeiramente dizer deles: "dos quais te é conhecida a fé e a devoção" não é possível que a fé de cada um deles não se torne mais alegremente operante por meio da caridade, nem se revigore e brilhe a piedade e não se consagrem todos à conquista da glória divina, desejando com ardor tornarem-se intimamente semelhantes a Jesus Cristo que sofreu acerbas dores, oferecendo-se ao sumo Sacerdote e por meio dele como hóstia espiritual.”

Concluímos, retomando a luz desta verdade maravilhosa, o que já dissemos em uma postagem anterior:

Como filhos e filhas da Santa Igreja, precisamos nos entregar com Nosso Senhor no altar. Isso é VIDA EUCARÍSTICA.

Por isso, diz o Sacerdote aos fiéis no Rito da Santa Missa: "Orate, fraters: ut meum ac vestrum sacrifícum acceptábile fiat apud Deum Patrem omnipoténtem", que literalmente significa "Orai, irmãos, para que o MEU e o VOSSO sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso", expressando assim a diferença entre o Sacrifício do Sacerdote - que é "Persona Christi", "Pessoa de Cristo" - e o sacrifício dos fiéis.

Nesse sentido, São Paulo escreve aos Romanos: "Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrificio vivo, santo, agradável a Deus; é este o vosso culto espiritual." (Rm 12,1)

Também Tomás de Kempis, no seu maravilhoso livro "Imitação de Cristo" (chamado analogicamente a 'a segunda Bíblia", dada a sua profundidade espiritual), coloca essas palavras na boca de Nosso Senhor (livro 4, capítulo 8, n.1-2):

"Assim como Eu a Mim mesmo ofereci espotaneamente ao Pai Eterno, com os braços estendidos e o Corpo Nu, de modo que nada restasse em Mim que não fosse oferecido em Sacrifício de Reconciliação Divina; assim também deves tu de coração oferecer-se voluntariamente a Mim." 

E ainda: "Que outra coisa exigo de ti senão que te entregues inteiramente a Mim? De tudo que me deres fora de ti, não faço caso; porque não busco teus dons, mas a ti mesmo. Assim como não te bastariam todas as coisas sem Mim, assim me não pode agradar o que sem ti me ofereces. Oferece-te a Mim, dá-te todo a Deus, e será aceita a tua oblação. Olha como me ofereci todo ao Pai por ti, e dei-te todo o Meu Corpo e Sangue em alimento, para ser todo teu e para que tu te tornasses todo Meu. Se, porém, te apegares a ti mesmo, e não te ofereceres expontaneamente a Minha Vontade, não será completa a tua oblação, nem perfeita a união entre nós. Portanto, a todas as tuas obras deve preceder o voluntário oferecimento de ti mesmo nas Mãos de Deus, se desejas alcançar a liberdade e a graça." 

O saudoso Papa João Paulo II chamou a Santíssima Virgem de Mulher Eucarística (Ecclesia de Eucharistia, n. 53-56), e o Papa Paulo VI afirma que "Maria é modelo, sobretudo, daquele culto que consiste em fazer da própria vida uma oferenda a Deus." (Marialis Cultus, n. 21)

Esta é a verdadeira "participação" dos fiéis no Santo Sacrifício da Missa!


Por Francisco Dockhorn

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