quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Verdade Sobre o Ecumenismo


Existe hoje um entendimento errado do que seja o Ecumenismo: muitos pensam que é uma espécie de "tanto faz" doutrinal, que não é mais preciso trazer as pessoas para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, que basta reconhecer o que todos temos em comum e já está bom. Alguns costumam afirmar ainda que isto foi ensinado pelo Concílio Vaticano II.


Essa visão é adotada por dois grupos de pessoas: os teólogos ditos progressistas, aqui na América Latina muitos deles ligados à chamada Teologia da Libertação; e os chamados tradicionalistas radicais, que condenam essa visão (com razão), mas a atribuem ao Vaticano II (erradamente) e assim acabam condenando também o Concílio por coisas que os padres conciliares nunca disseram.

Na realidade, Concílio Vaticano II, no documento Unitatis Redintegratio (UR) ensina que o ecumenismo são todas "as atividades e iniciativas, que são suscitadas e ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a unidade dos cristãos (UR 4)". Estas atividades e iniciativas são incentivadas pelo Concílio, desde que "prudentemente e pacientemente feito pelos fiéis da Igreja Católica sob vigilância dos pastores (UR 4)". Mas o que significa concretamente esta "unidade dos cristãos" de que o Magistério fala? Em outras palavras, falando em termos concretos, qual vem a ser a finalidade do ecumenismo segundo o Magistério?


Ecumenismo Autêntico:
O Ecumenismo autêntico é aquele que tem como base o "retorno dos irmãos separados à Igreja Católica." Um exemplo vivo e bem recente, é a união dos Anglicanos da TAC à Santa Igreja, que ocorreu depois de anos de diálogo.
Primeiramente, é necessário então diferenciarmos este ecumenismo sadio, de que fala o Sagrado Magistério no Concílio Vaticano II, do outro tipo de "ecumenismo" do qual falamos acima, que por seus princípios é contrário àquele dito pelo Concílio.

Nesse sentido, o Papa Pio XI, na Encíclica Mortalium Animos (MA), menciona um chamado "movimento ecumênico", que descreve da seguinte forma:

"Pois, tendo como certo que rarissimamente se encontram homens privados de todo sentimento religioso, por isto, parece, passaram a ter a esperança de que, sem dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença diferente sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na profissão de algumas doutrinas como que em um fundamento comum da vida espiritual. Por isto costumam realizar por si mesmos convenções, assembléias e pregações, com não medíocre frequência de ouvintes e para elas convocam, para debates, promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e pertinazmente contradizem à sua natureza divina e à sua missão." (MA 2)

Ou seja: este "movimento ecumênico" até poderia ter o objetivo de conseguir a união dos cristãos, mas por uma via torta: encontrar uma espécie de "denominador comum" entre as denominações cristãs e satisfazer-se com isso, como se todo o restante fosse acessório. Ora, isso não faz sentido, pois, para os católicos, significaria abrir mão de elementos essenciais da fé que são contestados por protestantes ou ortodoxos.

Justamente por isso o Papa afirma que católicos não podem participar dessas reuniões "ecumênicas" e afirma, com toda a razão, que quem adota este "denominador comum" se afasta da fé e acaba caindo no relativismo – tão condenado pelo nosso Santo Padre Bento XVI.

A partir do ponto 16 da Mortalium Animos, no entanto, o Papa já lança as bases para um verdadeiro projeto de união dos cristãos: o retorno dos irmãos separados (embora cause repugnância em alguns católicos, é preciso lembrar que a expressão é de um santo católico, São Pedro Canísio, contemporâneo da Reforma) à Igreja Católica.

Esse projeto foi reafirmado no Concílio Vaticano II. A partir daqui, podemos dizer que a Igreja incorporou o termo "ecumenismo", que até então tinha aquele significado relativista e torto, e deu a ele um caráter católico: diz o Vaticano II que o verdadeiro ecumenismo só se faz com a união dos cristãos sob a liderança do sucessor de Pedro, dentro da Igreja Católica, necessária para a salvação; a Igreja não deixa de reconhecer que em outras denominações cristãs e até em outras religiões há "elementos de verdade e santificação", mas logo depois acrescenta que eles "impelem à unidade católica" (Lumen Gentium, 8).

Vejamos: a Unitatis Redintegratio (o documento do Concílio sobre o ecumenismo) afirma que a Igreja Católica é "a única grei de Deus" (UR 2); é "a única Igreja de Deus" (UR 3); que no movimento ecumênico deve-se examinar "a sua fidelidade à vontade de Cristo acerca da Igreja" – ou seja, não basta se contentar com o "denominador comum" que caracterizava o ecumenismo condenado por Pio XI, o autêntico diálogo ecumênico deve levar à unidade que, segundo o Concílio, desde o início Cristo a concedeu à Sua Igreja. Nós cremos que esta unidade subsiste indefectivelmente na Igreja Católica (UR 4). Inclusive o documento fala de "restauração" da união dos cristãos. Veja que "restaurar" significa recompor o que um dia já existiu e foi perdido: a união de todos os cristãos na Igreja Católica. É algo diferente de "criar" uma nova união dos cristãos baseada em um ou dois princípios em comum. O Concílio rejeita essas tentativas de um cristianismo aguado e desprovido de todos os elementos essenciais da fé. No fim do texto, o ecumenismo é considerado como o santo propósito de reconciliar todos os cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo – ora, se o próprio Concílio afirma que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica, mentem aqueles que dizem que o Vaticano II promoveu o "tanto faz" doutrinal que caracteriza o relativismo.

Ecumenismo "pirata":





O Ecumenismo "pirata" é reconhecido pelas frustradas tentativas de alcançar um "denominador comum". Ou seja,  "colocar tudo e bater no liquidificador", incluindo também heresias, paganismo e relativismo, como se isso fosse levar a algo. Como se isso convertesse ou edificasse a vida de alguém. Exemplos clássicos existem, e são muitos, como as inculturações na liturgia, sincretismos, celebrações que nada tem de ecumênicas, relativismos em programas de TV... Resultado de inúmeras deturpações dos documentos conciliares. ( Eu sei que certos leitores assíduos deste blog não irão concordar com alguns desses exemplos que eu citei, dizendo aquelas velhas frases da Turma do Violino: "Não julguem", "o que importa é o amor", "nossa, vocês são tão radicais" " ah, não concordo com o que a Igreja diz" ... ) Não adianta. A posição da Igreja é essa. Essas fotos acima estão muito longe de ser o ecumenismo autêntico, que a nossa Igreja quer. Esse "tanto faz doutrinal" vai completamente contra o que Igreja prega, e deve ser evitado e combatido. Palavras de Pio XI e Bento XVI. E Estamos com eles.
E aqui chegamos a um ponto importantíssimo. Alguns afirmam: "o Vaticano II promoveu o ecumenismo, mas Pio XI condenou o ecumenismo". No entanto, isso é uma grande mentira. Basta ler com atenção tanto a Mortalium Animos quanto os documentos do Vaticano II para perceber que, embora usem as mesmas palavras, estão falando de realidades completamente diferentes! Aqui podemos falar de um "ecumenismo autêntico" e de um "ecumenismo pirata". O ecumenismo autêntico nasceu há séculos, o esforço para trazer de volta à Igreja Católica os que se haviam separado dela. Foi assim, por exemplo, que se conseguiu uma reunificação com os gregos, que infelizmente durou pouco, no século XV. A diferença é que esses esforços nunca haviam recebido o nome de "ecumenismo".

Então, quando surgiu o "ecumenismo pirata", Pio XI tomou providências contra ele na Mortalium Animos. E o Vaticano II, percebendo que a Igreja já tinha um "ecumenismo autêntico", finalmente lhe dá o nome e "endireita" o ecumenismo. A partir daí, sempre que a Igreja se referir a "ecumenismo" ou a "diálogo ecumênico", sempre vai abordar o esforço de diálogo para trazer de volta os cristãos de outras igrejas ou comunidades eclesiais. Vejamos alguns exemplos:

De fato, esta unidade dada pelo Espírito Santo não consiste simplesmente na confluência unitária de pessoas que se aglomeram umas às outras. Mas trata-se de uma unidade constituída pelos vínculos da profissão de fé, dos sacramentos e da comunhão hierárquica. (João Paulo II: Ut Unum Sint, 9)

Não se trata, neste contexto, de modificar o depósito da fé, de mudar o significado dos dogmas, de banir deles palavras essenciais, de adaptar a verdade aos gostos de uma época, de eliminar certos artigos do Credo com o falso pretexto de que hoje já não se compreendem. A unidade querida por Deus só se pode realizar na adesão comum ao conteúdo integral da fé revelada. Em matéria de fé, a cedência está em contradição com Deus, que é a Verdade. No Corpo de Cristo — Ele que é "Caminho, Verdade e Vida" (Jo 14, 6), quem poderia considerar legítima uma reconciliação levada a cabo às custas da verdade? A Declaração conciliar sobre a liberdade religiosa atribui à dignidade humana a procura da verdade, "sobretudo no que diz respeito a Deus e à sua Igreja", e a adesão às suas exigências. Portanto um "estar juntos" que traísse a verdade, estaria em oposição com a natureza de Deus, que oferece a sua comunhão, e com a exigência de verdade que vive no mais profundo de todo o coração humano. (UUS, 18)

Importa, pois, nos unirmos ao Sagrado Magistério da Igreja na pessoa do Santo Padre Bento XVI, e na obediência, colaborarmos dentro do campo que nos compete, para que aconteça, o quanto antes, a união de todos os cristãos na única Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus. Dialogando sim, mas jamais deixando de anunciar a fé católica.

Autores: Márcio Antônio Campos e Francisco Dockhorn

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