domingo, 12 de fevereiro de 2012

Catequese - VI Domingo do Tempo Comum


Evangelho comentado pelo Pe Carlo Battistoni
Postado por Jorge Kontovski em 9 fevereiro 2012 às 18:26

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM
(Mc 1, 40-45)

« Chegou perto dele um leproso, implorando auxílio. Ajoelhou-se e lhe suplicou: “Se queres, tu podes me curar”. Cheio de compaixão, Jesus estendeu a mão e tocando nele disse: “Quero! Fica curado!”. E no mesmo instante a lepra desapareceu e ele recuperou a saúde. Jesus o mandou embora com palavras severas. Disse-lhe: “Cuidado! Não fales nada a ninguém. Mas vai apresentar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés determinou, para que lhes sirva do atestado”. Ele, porém, logo que partiu, começou a proclamar bem alto e espalhar o acontecido, de modo que Jesus já não podia entrar abertamente numa cidade, mas ficava fora, em lugares retirados. Contudo, iam procurá-lo pessoas de toda parte ».

Lavs Tibi Christe!


Os primeiros momentos da vida pública de Jesus, como narrados pelo Evangelho de Marcos, são caracterizados por um "segredo". Na leitura do domingo anterior Jesus proibiu aos demônios de falar qualquer coisa respeito à sua pessoa; na leitura de hoje o mesmo refrão será repetido para um homem: «não digas nada».

Se a intenção de Jesus fossa aquela de fazer propaganda de si mesmo, como fazem muitos curandeiros ou charlatães que sempre aparecem na história se aproveitando dos inúmeros medos escondidos no íntimo das pessoas para destes tirar proveito, pois bem, se assim fosse não se entenderia como Marcos desde o início de seu Evangelho até a metade, evidencie esta atitude constante de Jesus. 
Ele não quer que se diga nada. Ele quer que se faça silêncio. Somente o silêncio é respeitoso, é humilde, não antepõe opiniões mas se alimenta da espera. É disposto a ouvir.

Enquanto o homem não é capaz de fazer silêncio sempre terá uma imagem construída pela própria mente sobre o mistério do Filho de Deus feito homem. E disto temos inúmeros exemplos. Sempre se falou de tudo sobre Jesus, opiniões que mudavam com o mudar das épocas e problemas históricos e sociais da humanidade. 

Jesus foi visto como "Imperador" na época em que a cultura exigia a imagem de um símbolo de unidade; foi pintado como socialista na época em que se sentia a necessidade de uma atenção aos problemas gerados pelas diferenças de classe; foi visto como uma pessoa de altíssima sensibilidade que tentou dar valores novos ao homem quando a decepção revolucionaria havia tomado contas; alguns viram nele até um extraterrestre vindo para ensinar ao homem o progresso.... enfim, a fantasia não tem limite. 

"O homem faz de Deus uma projeção do próprio eu" dizia com muita perspicácia Feuerbach, um filosofo moderno que se proclamava não crente. De fato esta atitude corresponde perfeitamente a quanto denominamos ateísmo. Livros e revistas ainda hoje encontram um ótimo assunto ao falar Daquele que não conhecem.

No decorrer de sua vida, várias vezes Jesus proibirá aos próprios apóstolos de falar antes de ter participado plenamente e absorvido com o coração mais do que com a mente, tudo quanto Ele mesmo estava transmitindo com sua presença, gestos, palavras, derrotas impulsos de confiante amor etc... 

Conhecer não é ter uma opinião, mas fundir-se um com o outro. O conhecimento e a opinião se distinguem exatamente por isso: a experiência que eu tenho com alguém. As opiniões dividem porque partem apenas do mundo abstrato, o conhecimento leva em consideração a história real não a interpretação da história.

Nos momentos mais significativos de nossas vidas, quando se decidia para sempre o rumo da nossa história, quando estávamos sozinhos e alguém se colocou ao nosso lado discretamente, quando olhamos nos olhos da pessoa com a qual estávamos dispostos a partilhar a vida, quando nos deitamos diante do altar ou nos ajoelhamos para oferecer a nossa vida como consagrados... sempre houve um grande silêncio.

O silêncio é o que diz a verdade sobre quanto sentimos.

«Não diga nada», apenas tente deixar-se envolver quando Deus chega por perto, quando Ele estende a mão de algum modo para te dar uma qualidade de vida nova. A pressa de dizer algo sobre o que Deus está fazendo quando ainda não terminou o que Ele está propondo para você é o início de qualquer mal-entendido.

O silêncio é a única atitude possível diante de Deus. Desde que Moisés perguntou qual seria o "nome" de Deus (dizer "nome" para os antigos significava, com as devidas ressalvas, o que significa para nós "personalidade") a resposta que ouviu foi: «Eu sou JAHVÉ» o que, entre outros significados, quer dizer também "Eu sou" , sem adjetivo algum, isto é, sem possibilidade alguma que o homem possa restringir Deus a seus limitados conceitos. 

Nenhuma definição que damos de Deus corresponderá a o que Ele é. Porque apenas “é”, ou seja, realiza, torna concreto, “faz ser”, aquilo que acontece no momento em que se encontra contigo! Não só, dentre os mandamentos encontramos a explicita proibição de pronunciar o "nome" de Deus (ou seja criar opiniões sobre Ele ) já que é "em vão" (Ex 20,7).

A atenção de Marcos é dada a uma cura, apontada entre muitas, como sendo carregada de um importância específica. Ela se reveste de um significado especial porque é «testemunho para os sacerdotes». A cura, aqui, não é apenas um ato de bondade e misericórdia de Jesus para com um enfermo, mas aponta direto para outro objetivo: a dimensão religiosa, os sacerdotes.

Tentaremos, então ler o episódio a partir da posição dos sacerdotes, as pessoas às quais tinha sido entregue a responsabilidade do crescimento espiritual de Israel, o culto e a orientação moral.

Insignidos de tão grande e complexa missão, os sacerdotes se tornaram ponto de referência, elo de ligação entre o divino e a vida cotidiana do Israelita, inclusive pelo que dizia respeito às doenças. Isto porque, como na maioria das culturas antigas, também em Israel a doença sempre foi relacionada a um desajuste com a divindade, uma desarmonia ou até uma culpa por algum ato desalinhado com as leis que regem o cosmo. 

Doença não é sempre sinônimo de punição mas sempre manifesta uma certa ligação com o pecado. Entre todas as doenças possíveis a mais infamante era a lepra. Não se tratava de uma doença qualquer, era considerada uma maldição; era o pior dos castigos que um homem pudesse merecer pois esse experimentava, ainda em vida, a putrefação que própria da morte. 

O leproso era um cadáver ainda em vida, não pertencia mais ao reino dos vivos e nem os mortos o aceitavam. A sua única libertação poderia acontecer no momento que fosse revogada a maldição ou seja, tanto em sua cura quanto em sua morte. A cura, então, não era tão importante em si mesma, mas enquanto sinal da benevolência de Deus e o perdão de eventuais pecados que haviam originado a lepra.

Sem dúvida por questões de precaução contra uma doença contagiosa da qual não se tinham curas, mas principalmente por uma questão religiosa, o leproso era mantido fora da vida da aldeia, morava em grutas no deserto fora do alcance da população. Vivia das esmolas de alimentos, era obrigado a gritar: "Leproso, leproso" ao aproximar-se de alguém com suma vergonha e humilhação; enquanto no seu coração permanecia uma pergunta sem resposta: “o que eu fiz de tão mal para merecer a maldição de um Deus que ofereceu sua Benção a Abraão e sua descendência?”

Ao afastar um leproso do convívio humano, simbolicamente o hebreu queria-se afastar a possibilidade de uma maldição de Deus também sobre o povo ou a sua família. Era um procedimento bastante comum na antiguidade, chamado de "substituição". 

Seria injusto julgá-lo agora com a nossa mentalidade; mas esta era a praxe comum pela qual se sacrificava alguém para que o “tudo” não ficasse afetado pela maldição que a pessoa trazia consigo. É a antiga história da “maçã podre”, uma maneira de ver as coisas bem discutível, que tem seu valor sim, mas não parece ter sido a lógica que Jesus usava.

Israel afastava qualquer pecador, principalmente os amaldiçoados, porque se considerava um povo “Puro”, “consagrado a Deus” e por isso privilegiado. A visão que eles tinham era que, mantendo-se povo “puro” realizassem o desejo de Deus e a Sua vontade. Claro, isso tem lógica, mas será que é a única lógica? Era isso que Jesus parecia dizer aos sacerdotes com o seu comportamento e suas escolhas.

A beleza do gesto de Jesus, como dissemos antes, ultrapassa os sentimentos de bondade e a pena para com o doente, rejeitado e privado de sua dignidade. Jesus quis dar um «testemunho» aos sacerdotes. Em primeiro lugar Jesus estava dizendo que é Ele a Benção de Jahvé nunca revogada ao homem, sua criatura amada; não existe maldição para o homem somente para o "inimigo" existe maldição. 

Em segundo, que todas as precauções, os ritos, o esforço que os sacerdotes faziam para cumprir a missão que Jahvé tinha dado a Aarão e aos sacerdotes, podiam perfeitamente serem amadurecidos e completamente absorvidos pela nova "Lei" que vinha ao mundo. Uma "Lei" não escrita em ritos e normas humanas mas num coração que ama, apenas ama, acima de tudo. Esta "Lei" se chama “compaixão”. 

É a Lei que está no coração de Deus. A Lei que significa: "sentir os mesmos sentimentos do outro", colocar-se do ponto de vista do outro. É o grande passo que Deus fez em direção ao homem quando enviou seu Filho, quando ouviu o homem sozinho, distante de sua finalidade, à mercê de instrumentos, ainda que religiosos, incapazes de estabelecer uma autentica comunhão com o Criador.

Quanto grande devia ser o gemido do homem de todos os tempos que chegou ao ouvido de Deus ! ...E Ele decidiu tornar-se homem, colocar-se do ponto de vista do homem!

A compaixão que nos coloca em silêncio aprendendo a ouvir o sentimento do outro, sentir o que ele sente, isto nos assemelha ao coração de Deus, nos garante que estamos no caminho seguro para a benção, a comunhão, a paz. Como mudariam nossos relacionamentos se por um momento esquecêssemos de dar explicações, razões, motivações e nos colocássemos “do ponto de vista do outro”! Quantas tensões a menos!

Sentir-se objeto de compaixão enriquece e liberta. Como é bonita a imagem do homem que não pôde sustentar a sua felicidade e....... correu, livre de dizer a todos: "fui amado de modo especial, Ele sentiu o que eu sentia". 

E, alguém e capaz de refrear um sentimento assim? A missão, o anúncio de Jesus, do verdadeiro rosto de Jesus nascem de um encontro profundo de compaixão, de simbiose, de fraternidade essencial. O amor é como a força de uma grande água, pode ser segurada apenas por alguns momentos, depois a sua força prorrompe, quebra os limites impostos. É a imagem também do amor de Deus para conosco!

A imagem do leproso curado que vai, solto, recorda o simbolismo do rito dos sacerdotes que, ao reconhecerem a cura de um leproso, soltavam um pássaro no ar após ter sido abençoado com água e sangue (Lev 14,1-7; aconselho a ler, apenas por curiosidade). Com esse milagre o Evangelista nos antecipa que não apenas um pássaro, mas o homem será declarado “livre” pelo sangue que Jesus dará e a água do batismo que Ele entregará à Igreja.

...E se, porventura, tivéssemos também a coragem de colocar-nos “no lugar do Outro”, quando este Outro é Jesus? Não seria mais fácil dizer a Ele “sim” quando Ele deseja estreitar a si mesmo a nossa vida de um modo tudo especial?

Deus te abençoe.
Pe. Carlo

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