domingo, 5 de fevereiro de 2012

Catequese - V Domingo do Tempo Comum


Evangelho comentado pelo Pe Carlo Battistoni 
Postado por Jorge Kontovski em 2 fevereiro 2012 às 13:15

V DOMINGO
(Mc. 1,29-39)

« Jesus saiu da sinagoga e foi com Tiago e João para a casa de Simão e de André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. Ele aproximou-se, segurou sua mão e a ajudou a levantar-se. Então a febre desapareceu; e ela começou a servi-los. À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. Toda a cidade estava reunida à porta. E ele curou muitos doentes de toda sorte de enfermidades; também expeliu muitos demônios, não lhes permitindo que falassem, porque sabiam quem ele era.

Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava. Procuravam-no diligentemente Simão e os que com ele estavam. Tendo-o encontrado, lhe disseram: “Todos te buscam”. Jesus, porém, lhes disse: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim”. Então, foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios »

Lavs Tibi Christe!



A narração que hoje o Evangelho de Marcos nos traz se enquadra num esquema bastante simples e significativo como já vimos no domingo passado.

Os primeiros passos da atividade pública de Jesus têm início com o chamado dos Doze, seguidos imediatamente por um ato litúrgico: Jesus e seus discípulos começam tudo “a partir da Sinagoga”, em dia de sábado, ou seja bem no interior da dimensão religiosa que é um meio humano de poder entrar em contato com o divino. 

Como já vimos em outras circunstâncias, “religião” e “fé” são duas coisas bem diferentes. Jesus precisa entrar na dimensão da fé da qual o homem é capaz para poder realizar um verdadeiro encontro salvífico. 
A “religião” nem sempre consegue isso. É para poder entrar como “amigo” no mundo dos homens que Jesus oferece, sem cobranças, gratuitamente, a possibilidade de uma nova relação com Deus. Jesus respeita o que já existe no homem quanto à sua condição, à sua maneira de existir, às suas decisões existenciais etc.; simplesmente entra na dimensão que o homem escolheu para si e, nesta, a partir dessa, oferece uma oportunidade nova de conceber a existência, o seu significado e a sua teleologia. 

Jesus nunca pediu de sermos outra coisa diferente daquilo que já somos, mas sim de canalizar o que somos numa direção nova, que trilha um caminho diferente, o caminho que Jesus nos apresenta, um percurso capaz de realizar a felicidade que tanto buscamos.

A ação autentica de Deus sempre foi, e continua sendo, caracterizada por uma continuidade, que é paciente e humilde e, no entanto, nos renova a partir do próprio interior da situação que vivemos. Deus nunca faz violência, Ele sabe respeitar os passos que cada um de nós pode ou sabe dar. Quantas situações seriam menos carregadas de tensão e conflito se soubéssemos aprender de Jesus o seu estilo! Como são falsas as imagens que foram forjadas quanto a Jesus como "revolucionário" (palavra que, etimologicamente, significa: “por em baixo o que está em cima”, subverter uma situação; usada quase sempre com sentido sociopolítico) desde a época dos seus contemporâneos até hoje! 

Este mal entendido que houve desde quando Ele começou o seu ministério, foi causa de muito sofrimento por Jesus, como nos dirá o Evangelista Marcos ao longo de seu escrito; será esse mesmo um dos motivos pelos quais Jesus sempre pedia às pessoas de manterem-se caladas, de não lançarem-se em definições apressadas principalmente diante dos milagres e curas. Querer dar definições parciais e prematuras é próprio de quem quer confundir a identidade e a missão de Jesus; é por isso que também em nosso Evangelho a “pressa” de falar é atribuída sempre ao demônio, como vimos no domingo passado. 

É por isso que Jesus evitava as multidões que o exaltavam, mas eram incapazes de penetrar um pouco mais a fundo o mistério da Sua presença no mundo. O caso de hoje é típico: as pessoas iam em busca de Jesus apenas para “receber”, receber curas para si e para os seus. 

Isso não é errado, mas Jesus queria dar outra coisa, algo que superava o interesse imediato. Sim, pois quando pedimos milagres a Deus, não pedimos nada mais do que a “normalidade”; pedimos que as situações que nos afligem voltem ao normal, exatamente àquilo que Deus fez, que é “natural”. 

Uma doença, por exemplo, é uma alteração daquilo que é “normal” e muda o nosso modo de existir, de agir, como no caso da sogra de Pedro. A doença interrompe e modifica o curso natural da nossa vida. Diante dela cada um de nós pode pedir a Deus duas coisas: ser curado ou saber viver bem a situação independentemente da cura. Isso depende muito da qualidade do nosso relacionamento com Deus, da maturidade e da fé construída lado a lado com o Senhor.

No final da narração do nosso Evangelho, na resposta que Jesus deu aos seus discípulos, vê-se claramente a diferença entre aquilo que as pessoas buscavam em Jesus (a cura) e aquilo que Jesus desejava oferecer: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim». 

O que traduzimos com “pregar”, estritamente falando, no sentido usado pelo Evangelista significa “tornar conhecido”. Então, o que Jesus deseja é que as “aldeias” (o que era sinônimo de “mais afastados” do mundo religioso) conhecessem o verdadeiro rosto do Pai e não apenas se contentassem com um Deus que “resolve os meus problemas privados”.

A nossa leitura começa assim: « Jesus saiu da sinagoga e foi com Tiago e João para a casa de Simão e de André ». Mais que uma informação descritiva, Marcos nos introduz para a segunda parte de seu esquema que descreve como a fé entra no coração do homem. Para os hebreus, o Sábado era o dia de Jahvé, dia em que tudo o que não fosse ligado ao culto a Jahvé era terminantemente proibido. 

Pois bem, Jesus "sai da Sinagoga" já que o culto que Ele prestará a Jahvé - não menosprezando o primeiro - será realizado passando através do mundo dos homens, pela condição na qual se encontra a criatura amada do Pai. O culto que Jesus oferece é a sua presença de esperança, de consolo para o homem que sofre.

A caridade, o amor atento desde as necessidades mais simples como uma febre até maiores, tudo isto é o que realmente agrada a Deus e toca o Seu coração, que é um coração de amor. Assim a ação de Jesus não é somente atenção ao homem mas contemporaneamente é atenção ao Pai. É a imagem da qualidade do agir cristão no mundo: caridade e louvor a Deus andam de mãos dadas. É um sábado fora dos esquemas religiosos das sinagogas!

É essa atitude que santifica, não apenas qualquer gesto de atenção aos outros, nesse caso se trata apenas de um simples ato de filantropia ou solidariedade. Nada mal, com certeza, mas também nada que santifique, pois aprendemos bem de Jesus que não é tanto o que se faz que salva ou aproxima de Deus, mas sim a motivação última e a referência definitiva. Se estas forem as mesmas de Jesus, com certeza aqueles atos se encontrarão com os atos de Jesus, que são contemporaneamente atos de santificação e culto.

A cura da sogra de Pedro, a cura dos vários doentes, dos aflitos, a expulsão de demônios, acontecem no sábado. Qual é o motivo pelo qual Jesus age preferencialmente no sábado mesmo que em conflito com os costumes judaicos. A questão é simples: o homem que se encontra com Deus realiza plenamente o sentido do Sábado, do culto. Realiza também a finalidade da oração, que conduz ao coração de Deus. 

O de Jesus, o dos cristãos é um sábado fora do tempo, um sábado que são todos os dias do homem até o "último dia". Estes são os primeiros passos de Jesus e, por consequência, estes deverão ser sempre os primeiros passos do cristão. Estamos acostumados a ouvir a narração de grandes milagres realizados por Jesus e, obviamente, nos deixa um pouco perplexos o fato de Marcos ter narrado um episódio aparentemente tão simplório.

Vejamos com um pouco de atenção. O Sábado é feito para o descanso do homem e para o seu encontro com Deus; o descanso é essencial porque reconduz o homem à sua dignidade que supera as leis impostas do sistema econômico que exige trabalho a todo custo como regra das regras. 

O trabalho é um mito quando o homem não consegue colocá-lo em seu devido lugar. Ele ocupa a nossa mente, os afetos que deveríamos propiciar para a esposa, o filho, o vizinho... O trabalho gruda na nossa alma a tal ponto que o trazemos em nossa casa sem conseguir fechar a porta... nunca. Penetra tão dentro de nós que sentimos vergonha do trabalho que fazemos ou que não conseguimos fazer. 

Saber aprender a ser livres do vínculo que o trabalho gera era um pressuposto fundamental para recordar ao homem a sua transcendência. Assim entendia Israel, assim entende a Igreja (como nos recordou João Paulo II na sua carta apostólica “Dies Domini”).

Por causa do descanso do sábado, as mulheres preparavam no dia anterior tudo quanto fosse necessário nas casas. Pois bem, era questão de honra para uma mulher, já que não tinha vida pública, mostrar que sabia receber bem, a qualquer momento, os convidados; nisto a mulher gostava de mostrar sua habilidade e receber os cumprimentos. 

A hospitalidade também era sagrada. De repente, chegavam em casa de Pedro três hospedes de prestígio... e a mulher da casa estava de cama, com febre. Uma situação embaraçosa e humilhante para ela. A febre lhe havia impedido de ir à sinagoga e agora lhe impedia de receber, como é preciso, os três convidados. O texto não usa a palavra “cura”, simplesmente diz que Jesus a tomou pela mão e a ajudou a se levantar. 

Ora, podemos perfeitamente compreender a riqueza deste texto como antecipação da Páscoa, já que a palavra usada (åãåßñù) para indicar o ato de se levantar é a mesma que o Evangelista usa para indicar Jesus que ressuscita, que “se levanta” sobre o poder do mal e da morte. A mulher se “levanta” para servir e isso rompendo as rígidas regras do sábado! Não é este o verdadeiro desejo de Deus? Que o homem seja livre e livre para servir, além das rígidas regras que não permitem ao amor de transparecer e agir.

Jesus, com o gesto de uma simples febre curada triunfa sobre o poder que o mal tem de rebaixar a dignidade da pessoa humana e aprisioná-la até a regras religiosas...

Assim sendo, toda a missão de Jesus pode ser resumida com este delicado gesto com o qual Jesus não cura, mas “toma pela mão” aquela senhora, a ajuda a erguer-se. É isto que Jesus faz, não impõe sequer a cura, não faz nada sem que o homem decida de fazer. Ele ajuda a levar a cumprimento a tensão do homem que quer mas não consegue. É uma mão amiga que não arranca ninguém da sua condição, mas oferece um apoio, uma saída. 

A sogra de Pedro teria gostado de louvar a Deus na sinagoga, de louvar a Deus com a sua hospitalidade (receber bem um hospede era sinônimo de saber receber a Deus, conforme ensinavam dos Rabinos que comentavam o texto de Abrão em Mamré - Gen 18)... Mas não podia por causa de uma estúpida febre. O seu bom e piedoso coração encontrou Jesus e com Ele o próprio Deus que se deixa louvar, ouvir, sentir no lugar onde estamos, na condição em que estamos.

Tamanha alegria se transformou nela em atitude de serviço, disposição a retribuir com outra tanta intensidade aquilo que havia recebido e que a havia libertado da humilhação de não poder dar a Deus o que a Ele agradaria. 

Um bom domingo a todos
Pe. Carlo


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