sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Santo Ambrósio: Destemido defensor da Igreja - 07 de Dezembro



Aclamado pelo povo, admirado por Santo Agostinho, este "insigne pregador e piedoso Prelado" não receou enfrentar sequer o próprio Imperador.

De importante família romana, Ambrósio nasceu em 340, na Gália, da qual seu pai era governador. Ainda jovem, viu sua irmã, Santa Marcelina, beijar a mão de um Bispo e deu-lhe a sua a beijar, dizendo: "Também eu serei Bispo um dia".

Estudou direito e retórica em Roma, e fez brilhante carreira: Advogado Consular, Conselheiro do Imperador e Governador das províncias de Emília e Ligúria, com sede em Milão.


Uma singular eleição

No ano 374, morreu o Bispo dessa cidade. Para eleger seu sucessor, a população se dividiu em dois partidos. Os católicos queriam eleger um homem fiel ao Papa, os arianos propugnavam por um sequaz de Ario. A exaltação dos ânimos ameaçava degenerar em guerra civil.

O Governador Ambrósio viu-se obrigado a intervir para manter a ordem. Dispôs suas tropas na praça e fez cessar o tumulto. Em seguida, acompanhado de uma escolta, entrou na Catedral para garantir o bom andamento da eleição. 

Graças à sua eficaz ação, logo se acalmaram os ânimos exaltados. Então ele postou-se em lugar bem visível a todos os presentes, com olhar vigilante sobre a assembléia. Nesse momento, ouviram-se uns brados partidos do fundo do grandioso templo:

- Ambrosius episcopus! (Ambrósio seja o Bispo!)

Como surgiu essa surpreendente aclamação?

Um menino, tão novo que ainda não sabia falar, foi quem deu o primeiro brado. 

Altamente admirada de ver o filho pronunciar suas primeiras palavras - e que palavras! - a mãe fez coro com ele, e logo se lhes juntaram outras vozes. 

Em pouco tempo, todos na Catedral, inclusive os arianos, bradavam em uníssono:

- Ambrosius episcopus! Ambrosius episcopus!

- Sou um pecador! Sou um pecador! - replicava o Governador.

- Não importa, não importa! Invocamos sobre nós os teus pecados! - gritava o povo, a uma só voz.

Ante essa inesperada manifestação, aquela autoridade do maior império do mundo não encontrou outra saída senão o recurso dos indefesos: fugiu e foi esconder-se no sítio de um amigo. Os cristãos milaneses não desistiram. Enviaram uma delegação para relatar a Valentiniano I o que havia acontecido e rogar-lhe autorização para o Governador Ambrósio ser sagrado Bispo.

O Imperador consentiu, reconhecendo no eleito um verdadeiro "enviado de Deus". À vista disso, o amigo de Ambrósio indicou o lugar onde ele se encontrava.

Reconduzido a Milão, o Santo acabou por reconhecer naqueles acontecimentos a vontade de Deus.

De catecúmeno a Bispo, em oito dias

O Bispo recém-eleito tinha 34 anos de idade e pertencia a uma família cristã, mas era apenas catecúmeno. Foi batizado, recebeu a ordenação sacerdotal logo em seguida e, oito dias depois, foi sagrado Bispo, a 7 de dezembro de 374. O clero e fiéis de todo o Império acolheram com indizível júbilo a notícia dessa prodigiosa intervenção divina.

Não é difícil, sob impulso do Espírito Santo, ordenar um Bispo apenas oito dias após seu Batismo. Mas como, num curto tempo, transformar em pastor de almas um homem que, uma semana antes, era ainda catecúmeno? Pergunta interessante para se ver como a graça divina, quando bem correspondida, opera maravilhas.

Ambrósio era rico, mas não apegado à riqueza deste mundo. Doou para a Igreja as terras que herdara. Quanto aos outros bens, distribuiu parte aos pobres, dando à Igreja o restante. Altos cargos no governo imperial, posição social brilhante, vida familiar - tudo isto ele sacrificou para se ocupar somente do serviço de Deus.

Assim desembaraçado de qualquer preocupação terrena, o novo Bispo aplicou-se ao estudo das Sagradas Escrituras e dos autores eclesiásticos, sobretudo São Basílio. 

À medida que estudava, fazia pregações. Apenas três anos haviam decorrido, e já ele inaugurava - com a publicação dos livros "As Virgens" e "As viúvas" - a prodigiosa atividade de escritor que lhe valeu os títulos de Doutor e Padre da Igreja. 

Em breve tempo, ele brilhava no mundo cristão como o campeão da luta contra o arianismo, muito forte naquela época, e os restos do antigo paganismo. Triunfou sobre ambos, impondo silêncio à heresia e conquistando a Itália inteira para a Fé Católica.

Tinha sempre presente sua alta responsabilidade na escolha dos candidatos ao sacerdócio. Por seu espírito de vigilância nesta matéria, adquiriu uma aguda capacidade de discernir quem estava apto ou não a ser admitido à recepção da sagrada Ordem. Por exemplo, pelo simples modo de andar, ele podia recusar um pretendente, pois dizia estar persuadido de que os movimentos desregrados do corpo são efeito do desregramento da alma.

Confronto com o Imperador

Teodósio I, o Grande, ascendeu ao trono imperial em 379.

No ano seguinte, declarou o Cristianismo religião do Estado e proibiu os cultos pagãos. Entretanto, embora muito amigos, não deixou de haver certas divergências entre o Bispo e o Imperador, um propugnando pela inteira independência da Igreja, outro, pela do Estado.

Durante uma rebelião no ano 390, foi assassinado em Tessalônica o comandante militar local.

Por excitação de um camareiro intrigante, Teodósio decretou terrível vingança contra os habitantes dessa cidade. Sem distinguir inocentes de culpados, sem mesmo tomar em consideração idade e sexo, as tropas imperiais massacraram sete mil pessoas.

Um clamor de indignação ressoou por todo o Império. Não podendo calar-se ante essa atrocidade criminosa, o Bispo - com solicitude de amigo e respeito de súdito, mas também com firmeza de representante de Deus - admoestou o Soberano de que nenhum sacerdote de sua Diocese lhe daria a absolvição. E, recordando-lhe o exemplo do Rei Davi, o exortou a fazer sincera penitência.

Como para mostrar que ninguém tinha direito de vituperar-lhe o procedimento, o Imperador se dirigiu à igreja com grande aparato, segundo o costume. À porta do recinto sagrado, Ambrósio barrou-lhe a entrada:


"Vejo que por desgraça, ó Imperador, não medes a gravidade do fato sanguinário ordenado por ti (...) Não acrescentes um novo crime ao que já te pesa. Retira-te e submete-te à penitência que Deus te impõe. Já que imitaste David no crime, imitao também na penitência!"

Com lágrimas nos olhos, o Imperador retirou-se. Oito meses se passaram sem ele se apresentar na igreja, nem o Bispo no palácio.

Por fim, porém, a Fé triunfou sobre o orgulho. Na manhã do dia de Natal, banhado em lágrimas, o Imperador disse a seu camareiro: "Não sentes minha desdita? A Igreja de Deus está aberta até para os escravos e mendigos; porém, para o Imperador está fechada e com ela a porta do Céu, pois Cristo disse: ‘O que atares na terra será atado no Céu'".

Decidido a obter o perdão de Deus, dirigiu-se à igreja, onde o esperava Santo Ambrósio, de pé no alto da escadaria.

- Aqui estou, livra-me do meu pecado - rogou.

- Onde está tua penitência? - perguntou o Santo.

- Suplico-te que me livres desta pena, em consideração da clemência de nossa Mãe a Igreja. Não me feches a porta, dize-me o que hei de fazer.

A decisão de Ambrósio mostra o incansável esforço da Santa Igreja para abrandar os costumes pagãos. Exigiu de Teodósio a promulgação de uma lei determinando que as sentenças de morte e de confisco não seriam executadas antes de 30 dias, e deveriam ser reapresentadas ao Imperador para sua confirmação.

Teodósio fez escrever e assinou imediatamente o decreto. Ato contínuo, recebeu a absolvição.

"Agradavam-lhe mais as repreensões que as adulações"

Despojando-se dos ornamentos imperiais, Teodósio entrou na igreja e, prostrado no chão, recitou o salmo de Davi:

"Minha alma está atada à terra; dai-me, Senhor, a vida, segundo a vossa palavra!" Assim orando, arrancava os cabelos, inundava de lágrimas o pavimento e implorava, cheio de dor: "Misericórdia, ó Senhor, misericórdia!"

A cena não podia ser mais grandiosa. Diante de tanta humildade, o povo suplicava e chorava com o Imperador.

Cinco anos depois, chegado o momento de comparecer perante o Tribunal de Deus, Teodósio clamou pela presença de seu amigo Ambrósio, de cujas mãos recebeu os últimos Sacramentos antes de falecer. Em sua célebre oração fúnebre, testemunhou o santo Bispo a respeito dele: "Eu amava este varão, porque lhe agradavam mais as repreensões que as adulações. Como Imperador, não se envergonhou da penitência pública, e depois chorou seu pecado todos os dias que lhe restaram".

A conversão de Santo Agostinho

Era tal o poder de irradiação do Bispo Ambrósio, que a rainha dos marcomanos (povo antigo da Germânia), chamada Fretigila, apenas por ter ouvido um cristão falar a respeito de sua ciência e santidade, acreditou em Jesus Cristo e enviou embaixadores a Milão, rogando ao Santo que lhe informasse por escrito o que devia crer.

Uma dama de alta estirpe insistiu com o Santo para ir celebrar Missa em sua casa. 

Uma mulher paralítica fez-se transportar até lá, tocou na veste episcopal e, instantaneamente curada, levantou-se e se pôs a andar, na presença de todos.

Outros milagres operou nosso Santo, ainda em vida. 

Porém, a mais preciosa pedra de sua coroa de glória é a conversão de Santo Agostinho, um dos homens mais inteligentes e cultos de todos os tempos, coluna da Santa Igreja.

Com cerca de 30 anos, o futuro Bispo de Hipona foi levado por Santa Mônica a relacionar-se com Santo Ambrósio. 

De início hostil à Fé Católica, por causa de más influências dos maniqueus, Agostinho era, entretanto, admirador da cultura e da suave eloqüência do Bispo de Milão. 

Gostava não somente de ouvir seus sermões, mas também de passar horas inteiras em seu gabinete, em silêncio, vendo esse homem de Deus trabalhar ou estudar.

Não sem grande dose de sagacidade, Ambrósio desfez na mente de seu ouvinte os maléficos sofismas da seita maniqueísta. Quem lê as Confissões, é levado a conjeturar que o grande pregador adaptava suas palavras às dúvidas de Agostinho, quando notava sua presença na igreja. Este narra, inclusive, que ele "muitas vezes, vendo-me quando pregava, prorrompia em louvores a ela [Santa Mônica] e me chamava ditoso por ser filho de tal mãe".

Convertido, Santo Agostinho não esconde seu entusiasmo por Santo Ambrósio. "Insigne pregador e piedoso Prelado", homem cujas palavras eram "fonte de água que corria para a vida eterna", "santo Bispo" - são expressões usadas por ele ao referir-se àquele que o batizou na vigília da Páscoa de 387.

Em resumo, ele considerava Santo Ambrósio o arquétipo do Bispo católico. Opinião confirmada pelo Missal Romano, onde se lê que ele "representa a figura ideal do Bispo". Onde encontrar testemunho mais elogioso, mais credenciado e mais insuspeito?

A recompensa

Em 4 de abril de 397, o Divino Redentor chamou seu servo para receber no Céu a recompensa por sua vida de fidelidade e combates em defesa da Fé. 

No início desse ano, antes de ser atingido pela mortal doença, predisse que tinha pouco tempo de permanência neste mundo, pois viveria só até a Páscoa.

Estando já prostrado no leito de morte, alguns diáconos conversavam no fundo do aposento, levantando hipóteses sobre quem seria seu sucessor. Um deles mencionou o nome de Simpliciano. Não se sabe como, o Santo ouviu e aprovou: "É muito velho, mas é ótimo!"

Pouco depois disto, enquanto ele rezava em voz baixa, apareceu-lhe Jesus Cristo com o rosto belíssimo. Após cinco horas de oração com os braços em forma de cruz, Santo Honorato, Bispo de Arles, foi chamado para dar-lhe o viático. Logo que o recebeu, entregou sua alma a Deus.




Luiz Francisco Beccari
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2004, n. 36, p. 34 à 37)

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