quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Santo Alberto Magno, Bispo e Doutor da Igreja - 15 de Novembro


Santo Alberto Magno, mestre de Santo Tomás de Aquino. Santo dominicano, cognominado Doutor Universal, grande sábio, teólogo e filósofo, pregador de cruzada, foi exímio professor na Sorbonne, o mais famoso centro universitário da época

Quando o Papa Pio XI, no dia 16 de dezembro de 1931, proclamou Santo Alberto Magno Santo e Doutor da Igreja, declarou: “O presente momento parece ser o tempo em que a glorificação de Alberto Magno é mais adequada para conquistar almas à submissão do doce jugo de Cristo. Alberto é exatamente o Santo cujo exemplo deveria inspirar esta idade moderna, que tão ardentemente procura a paz e é tão cheia de esperança em suas descobertas científicas” (1). Veremos por quê.

Santo Alberto Magno nasceu no ano de 1193 em Lauingen, cidade da Suábia bávara, filho de um conde da Casa de Bollstaedt, das mais ilustres do país.

Desde cedo foi tomado pela sede de saber, de modo que nem pensou em seguir a carreira das armas, na qual seus ancestrais se haviam gloriosamente notabilizado. É nobre e rico, mas deseja ser sábio. Foi por isso que, depois dos primeiros estudos na terra natal, vemo-lo na universidade de Pádua. 

Na época, para as ciências, ela era o que a de Paris era para a filosofia e teologia. Com aplicação e entusiasmo, cursou gramática, dialética, retórica, música, geometria, aritmética e astronomia, sob a direção de sábios mestres. 

Observador atento, buscava explicação para tudo o que via. Tinha “o olho incessantemente aberto sobre o grande livro do mundo exterior, e aplicava-se a ler suas páginas maravilhosas. Fazia numerosas excursões, com seus amigos, às vilas e províncias vizinhas, observando com olhar penetrante todos os fenômenos e procurando explicá-los” (2).

Entretanto, nada disso prejudicava sua profunda piedade e o interesse que tinha pelas verdades eternas.

Definição da vocação religiosa

Quando chegou para ele o momento de decidir sobre sua vocação, apresentou-se-lhe o estudo de Direito, que lhe abriria grandes possibilidades no mundo, ou a carreira eclesiástica, que não lhe oferecia menores chances de sucesso. 

Mas ele considerava também a vida religiosa, na pobreza e na humildade. 

Não optou imediatamente por tal vida porque, supunha, ela o impediria de prosseguir seus estudos e aprofundamento nas ciências.

Certo dia em que, perturbado por esses pensamentos, rezava diante de uma imagem de Nossa Senhora na igreja dos dominicanos, pareceu-lhe ouvir estas palavras: 

“Alberto, meu filho! Deixa o mundo e entra na Ordem dos Pregadores, da qual eu obtive de meu Filho a fundação para a salvação do mundo. 

Tu te aplicarás corajosamente às ciências, segundo as prescrições da Regra, e Deus cumular-te-á de uma tal sabedoria, que a Igreja toda inteira será iluminada pelos livros de tua erudição” (3).

Entretanto, a oposição da família a esse projeto segurou ainda Alberto no mundo. Mas a Providência velava por ele. Certo dia apareceu para pregar na igreja dos dominicanos seu Geral, o Beato Jordão de Saxe. E o fez com o carisma próprio a atrair as almas, que lhe era peculiar, de tal modo que Alberto, apenas terminada a pregação, foi lançar-se a seus pés suplicando-lhe que o recebesse como filho.

O olhar penetrante do Beato percebeu logo o tesouro que ali se encerrava, e o recebeu de braços abertos. Alberto tinha então 30 anos de idade.

Professor do Doutor Angélico

Ele foi enviado a Bolonha, onde estavam situados o segundo convento da Ordem, o de São Nicolau, e a universidade, que passava por ser o segundo centro do mundo científico de então. 

Lá estudou filosofia e teologia com tanto êxito, que foi enviado a Colônia para ensinar essas matérias, com o aplauso de toda a cidade. “O que mais se admirava nele é que juntava a essa profunda erudição, que atraía todo mundo à sua escola, uma simplicidade, uma modéstia e uma humildade prodigiosa” (4).

Tendo falecido o Beato Jordão de Saxe no ano de 1237, Frei Alberto ocupou seu lugar até a eleição de um sucessor, o que se deu no dia seguinte ao de Pentecostes de 1238, quando São Raimundo de Penhaforte foi eleito.

Santo Alberto foi enviado depois a ensinar sucessivamente em várias casas de sua Ordem, especialmente nas cidades de Hildesheim, Friburgo, Regensburgo e Estrasburgo. 

Voltando a Colônia, teve por discípulo o futuro Doutor Angélico, Santo Tomás de Aquino, na ocasião um jovem apenas saído da adolescência, tímido e reservado, o que lhe valeu da parte de seus colegas a alcunha de boi mudo. 

Mas o mestre, tendo descoberto a sutileza de seu espírito, a profundidade de pensamento e sua grande e fiel memória, afirmou que um dia esse boi mudo mugiria tão alto, que seria ouvido em toda a Terra.

Fulgor do Doutor Universal

Em 1245, o Mestre Geral da Ordem enviou Alberto a Paris, onde estava localizado o Colégio Santiago, o mais importante dos dominicanos, incorporado à Universidade de Paris, o mais afamado centro de estudos da Idade Média. 

Suas aulas tiveram um êxito estrondoso, e em pouco tempo a sala de aula era insuficiente para conter a multidão que ia ouvi-lo. A praça, em Paris, onde ele ensinava então, até hoje conserva seu nome, se bem que de modo deturpado: Place Maubert, de Maître Albert (5).

O fulgor dessa luz foi tal, que dele se dizia na Idade Média: “Mundo luxisti, quia totum scibile scisti” (iluminaste o mundo, porque soubeste tudo o que se pode saber); e “onde quer que assente sua cátedra, parece monopolizar todos os amantes da verdade” (6). 

Ele foi chamado pelos seus contemporâneos de Doutor Universal, tal a amplidão de seus conhecimentos.

“Não contente com estabelecer as leis da investigação, Alberto esforçou-se por recolher todos os frutos da experiência antiga, entesourados em Aristóteles, Avicenas e Nicolau de Damasco, maturando-os e aumentando-os com sua própria experiência” (7).

No capítulo provincial da Ordem no ano de 1254, em Worms, Frei Alberto foi eleito provincial da província alemã dos dominicanos. Além da Alemanha, abarcava esta também a Holanda, Flandres e Áustria. 

Viajando sempre a pé e mendigando o alimento e a pousada, ele visitou todos os conventos sob sua jurisdição. Dois anos mais tarde, chamado pelo Papa Alexandre IV, foi a Agnani, na Itália, onde refutou Guilherme do Santo-Amor, professor da Universidade de Paris, que pregava contra as Ordens mendicantes.

Em Colônia, fundou o Convento do Paraíso, para as filhas da nobreza. Enquanto isso, rezava, estudava e ensinava.

Bispo de Regensburgo e pregador de cruzada

Entretanto, por mais que amasse seus livros e a ciência, teve que se curvar por obediência e aceitar o bispado de Regensburgo. Com a mesma seriedade com que se dedicava aos estudos, exerceu sua dignidade episcopal, aplicando-se inteiramente aos deveres de seu cargo, visitando sua diocese, pregando, reformando, santificando.

Mas isso foi só um parêntese de dois anos em sua longa vida, pois, à força de insistência, obteve do Papa dispensa do cargo e voltou para seus livros, suas aulas e as ciências. 

Se o Papa lhe concedeu essa dispensa, deu-lhe no entanto outra tarefa bastante difícil: pregar a Cruzada na Alemanha. Com o mesmo zelo, o Magno Alberto dedicou-se a tal empresa e obteve grande sucesso, levando considerável número de senhores a receber no peito a Cruz e a partir para a Palestina.

“Nos 10 anos que se seguiram, empreendeu freqüentes viagens de Brenner a Ambers, de Colônia a Lião, e, condescendente com o desejo dos bispos ou de seus irmãos, pregava, consagrava altares e igrejas, conferia ordens sacras e semeava a seu passo bênçãos, indulgências e o suave perfume de suas virtudes” (8).

Defesa do discípulo amado

Já estava Santo Alberto avançado em anos quando soube que, em Paris, alguns professores seculares da Universidade convenceram o reitor a condenar algumas proposições de Tomás de Aquino, que se encontrava ausente. Disso sabendo seu antigo mestre, apesar dos achaques da idade e da distância, correu de Colônia para Paris, a fim de defender seu discípulo predileto. E o fez com sucesso.

Santo Alberto Magno pode ser considerado o primeiro que separou com precisão os campos da filosofia e da teologia. 

A modernidade de Santo Alberto está “em seu amor à verdade, por suas ardentes aspirações de toda a alma, por sua intuição profunda da interdependência de todas as ordens do conhecimento, por sua doutrina da harmonia preestabelecida entre os descobrimentos da razão e a fé, entre a ciência e a revelação, entre a vontade e a graça, entre a Igreja e o Estado. [...] 

Seu mérito principal está em ter visto, antes que ninguém, o enorme valor que a filosofia de Aristóteles podia ter no dogma cristão. 

Ao apoderar-se dele para levantar sobre seus princípios fundamentais uma construção teológica, originava uma verdadeira revolução nas escolas de seu tempo. Santo Tomás aperfeiçoará sua ideia mas ele é o iniciador; ele reúne os materiais e planeja a construção, que levantará o gênio sintético do discípulo. Sem o formidável e fecundo labor de Alberto Magno, apenas podemos conceber a Suma Teológica” (9).

Certo dia, o mais que octogenário Mestre Alberto estava dando uma de suas luminosas aulas, quando de repente fez-se um branco em sua mente. Sabia ele que era o sinal concedido por Nossa Senhora, de que toda sua ciência lhe fora dada por Deus para serviço do próximo, e lhe seria tirada; e de que seus dias estavam contados.

Numa espécie de semilucidez, viveu ele os últimos três anos de sua vida, vindo a falecer em Colônia a 15 de novembro de 1280. Seu discípulo amado já havia ido, seis anos antes, receber o prêmio demasiadamente grande que Deus destina àqueles que fielmente o servem.


Plinio Maria Solimeo
Revista Catolicismo


Notas:

(1) Albert the Great, by M. Albert Hughes, O.P., Spirituality Today, Autumn 1987, Vol. 39 Supplement, online edition.

(2) Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, vol. XIII, p. 419.

(3) Id., p. 420.

(4) Id., p. 421.

(5) Id., p. 422.

(6) Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, vol. IV, p. 349.

(7) Id. ib.

(8) Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1949, vol. VI, p. 157.

(9) Fr. Justo Perez de Urbel, op. cit., p. 351.

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