segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Está errado acreditar em horóscopo ou na astrologia ?


O que a Igreja diz sobre a consulta e a crença de horóscopos? E, em geral, que juízo merece a astrologia?

É evidente a extensão que este fenômeno tem em nossos dias. Não há quase jornal ou revista que não inclua, entre suas colunas, aquela dedicada ao horóscopo; em alguns países há canais de televisão dedicados exclusivamente a temas astrológicos e esotéricos, e o mesmo diga-se da rádio e das páginas de Internet. 

A literatura sobre o tema é muito ressaltada. Ainda mais, hoje em dia os horoscopeiros se apresentam como "professores", "licenciados em ciências ocultas", "especialistas em ciências parapsicológicas". A experiência nos mostra que em grande parte dos nossos contemporâneos, quando não consultam seus respectivos horóscopos convencidos de sua exatidão, ao menos o fazem concedendo-lhes o privilégio da dúvida: " Não é que eu não acredite no horóscopo, mas pelas dúvidas...". 

Alguns, guiados por um certo fatalismo supersticioso, pensam que permanecer totalmente incrédulos diante das predições horoscopais pode, inclusive, trazer-lhes má sorte. E de fato um tom de consolo permanece quando lêem ali coisas como: está por iniciar para você uma nova etapa; logo achará as respostas desejadas; uma saúde nota dez; os rosados influxos do amor não conseguiram moderar seu fogo de combate; como todo felino tem sete vidas e lutará valorosamente; aproveite o momento, sobretudo o financeiro; a relação com os sócios é muito boa; etc.


Os homens para viver, necessitam de esperança, e quando perdem a que nasce da fé verdadeira, estão dispostos a acreditar no primeiro que lhes prometa um venturoso futuro : Mundus vult decipi (o mundo quer ser enganado), diz um antigo provérbio.

O que podemos dizer, pois deste fenômeno? 

O horóscopo é um desprendimento da antiga astrologia; não da astrologia natural, que é mãe da atual astronomia, mas sim da astrologia judiciária, que se empenhava em descobrir influência dos astros sobre o destino dos homens e das coisas. Em tal sentido, se deve colocá-lo dentro do fenômeno mais amplo das "artes adivinhatórias", posto que, como seu nome mesmo indica (ouros-scopeo, examinar as horas), o horóscopo designava originalmente a observação que os astrólogos faziam do estado do céu no momento do nascimento de um homem pretendendo com isso adivinhar os sucessos futuros de sua vida. 

Para maior exatidão, o horóscopo designava o mapa com a posição dos planetas em instante de segundo sua relação ao Sol e a Terra. Por derivação, chama - se também horóscopo às predileções que pretendem tirar - se desta observação.

A astolrogia judiciária se divide, por sua vez, em várias classes. Temos a astrologia mundial, que tenta fixar a evolução da história e da política; a astrologia genetlíaca ou individual que, levantando o horóscopo do momento do nascimento, pretende predizer os eventos futuros do sujeito em questão; a astrologia horária, destinada a responder notícias concretas, para o qual se estuda o horóscopo do momento em que se formula a pergunta ao astrólogo.
 
Em todos os tempos o homem sentiu interesse por conhecer o futuro, e, nos tempos de decadência religiosa, tal interesse se transformou em obsessão. 

O homem moderno se parece muito ao "supersticioso" que descreve Teofrasto em seus Caracteres, correndo febrilmente de um augure a um adivinho, e de este a um intérprete de sonhos. 

O recurso dos homens à astrologia tem uma longa história que começa com sua origem babilônica; teve influência em alguns filósofos da Grécia (pre - socráticos, epicúreos e estócios) e no mundo islâmico (onde adquiriu um desenvolvimento singular). No mundo cristão, estas crenças se desenvolveram pouco, enquanto a fé estava mais enraizada (embora não faltaram monarcas que tinham astrólogos em sua corte) mas já no século XVI não havia soberano que não consultasse seu astrólogo particular e, sobretudo, ganhou terreno como positivismo e o racionalismo do século XIX. 

Inclusive durante a segunda guerra mundial, depois que o suíço Krafft predisse o atentado que Hitler sofreu em Munique em 8 de novembro de 1939, a guerra psicológica acrescentou um departamento a mais:o astrológico. 

É verdade, e ninguém poderá negá-lo, que os astros exercem algum tipo de influência sobre as realidades do mundo, incluído o homem: quem não nota os efeitos que produzem as mudanças de estações e condições meteorológicas, não só sobre as realidades materiais (como as marés), mas também sobre humor, os estados anímicos e a mesma e a mesma saúde humana? 
 
São Tomás admite, por esta razão, certo influxo dos astros sobre a parte corpórea do homem (enquanto que todo o universo se influi mutualmente), e consequente e indiretamente sobre seus sentidos corporais (imaginação, memória, instintos). 

Mas não aceita de nenhum modo que isto possa servir para predizer o futuro a partir de um fato concreto, sempre e quando o evento futuro se encontre neste fato ou realidade presente como o efeito em sua causa. 

Ora, os fatos futuros dos homens não são efeito dos movimentos ou posições astrais. No máximo, como indica agudamente o mesmo São Tomás, poderia conjeturar - se aquilo que com maior probabilidade farão alguns homens nos apoiando na experiência que nos diz que a maioria dos mortais se deixa levar por seus estados anímicos e por suas disposições corporais; em tal sentido, se conhecêssemos a influência que algum astro ou estação climática exercerá sobre os corpos em tal data, poderíamos também cogitar como obrariam aqueles que se deixem levar pois tais estados.
 
Afirmar outro tipo de influênicia e, pior ainda, pretender determinar os fatos futuros a partor dos astros, expõe necessariamente a negação da liberdade humana, da Providência divina, e afirma pelo contrário, o fatalismo e o predestinacionismo absoluto. 

Por isso a astrologia pode contruir heresia (se pré - supõe a negação da liberdade e da Providência), superstição e idolatria (se leva consigo a adoração dos astros) ou simplesmente vã observância se limita a recorrer aos meios desproporcionados para obter um efeito entre si mesmo natural (como no caso das consultas aos modernos horóscopos).
 
Quanto aos horoscopeiros, adivinhos e astrólogos (licenciados ou não em ciências ocultas e parapsicológicas), se deve dizer que a maioria são espertos que se aproveitam da credulidade de muita gente (Não diz o livro do Eclesiático 1,15: o número de néscios é infinito ?)

Outros são parte da massa seduzida pelo ocultismo, fascinada pelo misterioso e agitada pela busca do assombro como alternativa à sua fé superficial ou vazia. 

Tampouco faltam os que praticam a astrologia como parte do culto aos demônios, e é pela intervenção destes que alguns "astrólogos" são capazes de às vezes de "predizer" alguns feiros futuros, já que os demônios a quem recorrem, sendo anjos caídos, conhecem melhor que os homens a relação entre as causas e os efeitos naturais, assim como têm uma grande experiência do obrar humano, com suas debilidades e misérias. Ainda assim, suas "predições" sobre os atos futuros livres dos homens não são mais hipóteses.
 
Por isso dizia já o Profeta Jeremias (10,2): "Não vos espanteis com sinais do céu ainda que as nações se espantem com eles"; e Isaías (47,13): "Estás cansada de tuas inúmeras consultas; apresentem - se, pois, e te salvem aqueles que praticam a astrologia, que observam as estrelas, que te dão a conhecer de mês em mês o que há de sobrevir-te" , e Levítico (19,31) : "Não vos voltarei para os necromantes nem consultarei os adivinhos, pois eles vos contaminariam" .
 
A Igreja se manifestou sobre este tema desde antigamente condenando a crença na astrologia. Assim por exemplo, o Concílio de Toledo no ano 400, ou o Concílio de Braga de 561. 

O juízo do Magistério da Igreja pode-se resumir no que diz o Catecismo da Igreja Católica: 

"Todas formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras páticas que erroneamentese supõe 'descobrir' o futuro. 

A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os fenômenos da visão, o reurso a 'mediuns' escondem a vontade de poder sobre o tempo , sobre história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus".

Todo gênero de adivinhação, em definitivo, nasce da falta de fé no Deus verdadeiro; e é o castigo do abandono da autêntica fé. Chesterton em um de seus contos escrevia: "As pessoas não duvidam em tragar qualquer opinião não comprovada sobre qualquer coisa... E isto leva o nome de supertição... É o primeiro passo com que se tropeça quando não acredita em Deus: perde - se o sentido comum e deixam - se de ver as coisas como são na realidade. Qualquer coisa que opine a pessoa menos autorizada afirmando que se trata de algo profundo, basta que se propague indefinidamente como um pesadelo. Um cão resulta então numa predileção; um gato preto em um mistério, um suíno uma cábala, um inseto um símbolo, ressussitando com isso o politeísmo do Velho Egito e da antiga Índia... e tudo isso por temor a três palavras: Se fez Homem" .



Em conclusão, se alguém pecorre às práticas astrológicas ou consulta os horóscopos, acreditando seriamente nisso, comete um pecado de supertição propriamente dito (podendo inclusive, chegar a idolatria); se o fizer só por curiosidade e diversão, não faz outra coisa que recorrer a um passatempo fútil, que vai pouco a pouco desgastando perigosamente sua fé verdadeira. Se o faz para obter "proteção" dos demônios, comete um pecado de Idolatria Diabólica, e talvez deva dizer alguma vem com o poeta Goëthe: " Não posso me livrar dos espíritos que invoquei".

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Notas:

Retirado do Livro: O Teólogo Responde - Crenças, seitas e supertições
Padre Doutor Miguel Ángel Fuentes

Cf. Santo Tomás, Suma Contra Gentilles, III, 84-85;

Cf. Santo Tomás, Suma Teológica, II-II, 95, 5 ad 2;

Catecismo da Igreja Católica, nº 2116

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