segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Adão e Eva existiram de verdade?


Entendendo os primeiros capítulos da Bíblia

Esta é uma pergunta que muitos Católicos fazem. O Gênesis, em seus três primeiros capítulos, usa de linguagem figurada para revelar verdades religiosas, não científicas ou históricas. 

Os relatos bíblicos da origem do mundo (Gn 1-3) não pretendem ser narrações científicas, mas querem ensinar, em estilo primitivo, que tudo o que existe é criatura de um só Deus (não há astros nem animais nem bosques divinos!). 

Tal mensagem se compatibiliza bem com a tese da evolução; Deus pode ter criado a matéria inicial dando-lhe as leis de sua evolução até o nível do primata superior. Quando este se achava suficientemente organizado, Deus terá infundido a alma (princípio vital intelectivo, que não é material, mas espiritual) a esse organismo. 

Assim terá tido origem a criatura humana. Esta hipótese (que realmente não passa de hipótese) já foi aceita pelo S. Padre Pio XII em sua Encíclica Humani Generis (1950).


Quando a Bíblia diz que Deus criou o homem a partir do barro e nele soprou o princípio de vida, está recorrendo a uma imagem literária freqüente entre os antigos.

Ela quer dizer o seguinte: como o oleiro está para o barro, assim Deus para o homem; donde se segue que a sabedoria, o carinho, o domínio, a providência... que todo oleiro exerce para com o seu barro, Deus os exerce, de maneira infinitamente perfeita, para com o homem. 

Tal modo de falar não exclui o evolucionismo indicado nos termos acima; ao contrário, criação e evolução se conciliam muito bem na concepção cristã da origem do mundo e do homem.

À luz destas verdades, vemos que não se pode dizer que Adão e Eva nunca existiram ou são mito e lenda. Existiram de modo tão real quanto é real a existência do gênero humano, cuja origem é abordada em Gn 1-3. 

A Bíblia quer precisamente narrar o que se deu com o homem nos primórdios da sua história: logo depois de criado por Deus, foi elevado à dignidade de filho de Deus (com os dons da chamada "justiça original"); submetido a uma prova para que se confirmasse na filiação divina, o homem disse Não a Deus num ato de soberba e desobediência, cujo teor é descrito figuradamente pela Bíblia ("fruta proibida").

A elevação inicial e a queda (o pecado original) do homem são proposições essenciais da fé cristã. S. Paulo desenvolve sobre elas a doutrina do segundo Adão, Jesus Cristo, novo Cabeça do gênero humano: como por Adão entrou no mundo o pecado e, pelo pecado, a morte, por Jesus Cristo (novo Adão; cf. Rm 5, 12-14) nos foram devolvidas a graça e a vida. Por conseguinte, não é lícito a um cristão volatizar os primeiros capítulos do Gênesis como se fossem histórias fictícias. Ao contrário, a Bíblia, já no séc. IX a.C., professava a verdade da criação do mundo e do homem (sem excluir a evolução), ultrapassando todas as concepções filosóficas e religiosas da época pré-cristã!


Em resumo, a Bíblia quer nos ensinar apenas o seguinte:

1) Deus criou o ser humano, homem e mulher, podendo ter utilizado a evolução da matéria preexistente até chegar ao grau de complexidade do corpo humano;

2) O Senhor concedeu aos primeiros pais graças espirituais especiais: "justiça original" (harmonia consigo, com a mulher, com a natureza e com Deus), e "estado de santidade" (comunhão profunda com Deus, participação da vida divina), dons preter naturais (não sofrer, morrer, ciência infusa, etc).

3) O Criador indicou aos primeiros pais um modelo de vida, figurado pela proibição de comer a fruta da árvore da ciência do bem e do mal. Isso significava que o homem não deveria ser "o árbitro do bem e do mal", e já que foi elevado à especial comunhão com Deus, devia comportar-se não simplesmente de acordo com seu bom senso ou suas intuições racionais, mas segundo às normas correspondentes de sua dignidade de filho de Deus;


4) O homem, por soberba e desobediência, disse não a esse modelo de vida e ao convite do Criador, perdendo assim o "estado de santidade" e de "justiça original". Desta forma, o sofrimento e morte entraram no mundo por causa do pecado original; isto levou São Paulo a dizer que "o salário do pecado é a morte" (Rom 6, 23).

Não é preciso exagerar a perfeição do estado primitivo da humanidade por causa dos dons preter naturais, e da "justiça original". 

Foi um estado belo, mas do ponto de vista religioso e moral apenas, não sob o aspecto da civilização ou da cultura.

Os primeiros homens de que fala o Gênesis, podem muito bem ter sido rudimentares como mostram os indícios dos fósseis da pré-história. 

As idéias religiosas de Adão poderão ter sido puras, mas sob a forma de intuições concretas como dos povos primitivos e das crianças; não se tratava de altos conhecimentos teológicos.

Adão (=Adam, homem) e Eva (=Mãe dos viventes) representam o ser humano criado por Deus. São tão reais quanto é real o gênero humano. Deus se apresentou ao homem nas suas origens, ao homem real e não a um ser fictício. Eles existiram de fato; foram os primeiros seres humanos que receberam de Deus uma alma imortal.

Por outro lado, Adão e Eva não são nomes próprios como João, Pedro, Maria o são. Então, não necessariamente representam apenas o primeiro casal de humanos, mas os primeiros humanos. São nomes de origem hebraica que significam apenas "homem" e "mulher". 


Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com
www.cleofas.com.br

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