segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Catequese - XIX Domingo do Tempo Comum

 
Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

XIX Domingo do Tempo Comum
(Jo 6,41-51)

«Os judeus começaram a murmurar a respeito de Jesus, porque havia dito: “Eu sou o pão que desceu do céu”. Eles comentavam: “Não é este Jesus o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como pode então dizer que desceu do céu?”. Jesus respondeu: “Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: ‘Todos serão ensinados por Deus’. Ora, todo aquele que escutou o Pai, e aprendeu Dele, vem a mim. Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo, quem crê, possui a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para que o mundo viva”»
 
Laus Tibi Christe!


A Liturgia da Palavra deste Domingo ainda está ligada ao evangelho da multiplicação dos pães. Jesus reclama porque os judeus não quiseram compreender o sinal da multiplicação. Claramente, ele afirma: “Eu sou o pão que desceu do céu! Quem dele comer, nunca morrerá!”

Eis aqui a grande revelação do Senhor! Os judeus só conseguem ver a superfície, somente compreendem que ele é o filho de José; não percebem, não crêem que ele vem do Pai, como alimento de nossa existência: ele é o sustento, o alimento da nossa vida. Afinal, que é viver? Será simplesmente existir, respirar, sobreviver, de qualquer modo, sem rumo, sem sentido, sem uma finalidade para a existência? Que vida seria essa? Não uma existência assim, miserável, que vemos tantos e tanto hoje vivendo? 
 
Pois bem, Jesus afirma que ele dá o sustento verdadeiro à nossa vida; com ele, a vida tem sentido, tem rumo, tem razão de ser; com ele, descobriremos porque vivemos, descobrimos de onde vimos e para onde vamos, descobrimos que somos amados e somos fruto de um sonho de amor; com ele, finalmente, temos a paz! “Eu sou o pão da vossa vida! Precisais mais de mim que vosso corpo do pão de cada dia. Quem come desse pão que sou eu, isto é, quem se alimenta de meu amor, de minhas palavras, de meu caminho, nunca viverá uma vida de mentira, de ilusão, de morte; antes, viverá de verdade!

Para ilustrar isso, basta pensarmos na situação de Elias, na primeira leitura de hoje. 
 
Ele tinha matado os profetas de Baal no monte Carmelo. Jezabel, a rainha idólatra, tinha prometido vingança e queria matá-lo. 
 
O profeta sentiu medo e fugiu, procurando esconder-se no deserto do Sinai para encontrar inspiração e consolo no monte Horeb (outro nome para o monte Sinai), o Monte de Deus. E lá vai Elias… 

Mas, o caminho longo, os dias quentes do deserto, a solidão, a tensão da fuga, tudo isso traz desânimo e depressão ao profeta. A vida lhe parece dura, amarga, sem sentido. Cansado, ele se rende e pede a morte: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida,pois não sou melhor que meus pais… Sou igual a todo mundo, não sou a palmatória do mundo… Cansei! Quero morrer!” Quantas vezes somos como Elias, quantas vezes a existência nos pesa, o sentido da vida parece se nos esconder, quantas vezes parece que apenas sobrevivemos, mas não temos idéia para onde vai o caminho… 

O desengano do profeta é tão profundo que ele, deprimido, cai no sono. E o Senhor envia-lhe um anjo: “’Levanta-te e come!’ E ele viu junto à sua cabeça um pão assado… ‘Ainda tens um longo caminho a percorrer’. Elias levantou-se, comeu e bebeu e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus”. Caríssimos, também nós estamos a caminho, também nós precisamos de um pão como o de Elias. Esse pão o Senhor nos dá, esse pão é o próprio Cristo, que hoje nos diz: “Eu sou o pão da vossa vida!” 

Infelizmente para nós, caríssimos, nos iludimos, procurando saciar nossa fome de vida com coisas que não alimentam o coração. É aquela antiga queixa de Deus, pela boca do profeta Isaías: “Ah! Todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite. Por que gastais dinheiro com aquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho com aquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me com toda atenção e comei o que é bom. Escutai e vinde a mim, ouvi-me e havereis de viver!” (Is 55,1-3)

Mas, o Senhor é bondoso e sua misericórdia é sem limites! 

Quem pode pôr medida à sua bondade? Ele não somente é pão e sustento de nossa vida de modo figurado. Para surpresa nossa, para escândalo do mundo – e até de tantos cristãos que estão separados da Igreja de Cristo – o Senhor revela: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo!” 

É demais, caríssimos! É surpreendente, é inesperado! Aqui, o Senhor está falando claramente da Eucaristia: “Eu sou o pão da vossa vida, eu vos alimento de vida e de sentido de viver; e eu fico entre vós, fico convosco, alimento-vos de um modo que não esperáveis: minha união convosco é total, absoluta: eu vos dou verdadeiramente minha carne, meu corpo morto e ressuscitado, como vida da vossa vida!” 

Meus irmãos, não pode haver maior dom, maior intimidade, mais revigorante alimento! Os judeus murmuravam, os protestantes murmuram, mas Cristo nosso Deus, que tem palavras de vida eterna e para quem nada é impossível, nos garante: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo!” Caríssimos, estejamos atentos para nos aproximar freqüentemente desse alimento de vida eterna; com freqüência e com dignidade. 

Privar-se da comunhão eucarística quando se poderia comungar é fazer pouco caso do dom do Senhor, é ser auto-suficiente, é não reconhecer que somente Jesus nos alimenta e nos sustém com a sua graça. Não cuidar de comungar é um orgulho que nos coloca debaixo da terrível sentença do nosso Salvador: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes do seu sangue, não tereis a vida em vós!” (Jo 6,53). Por outro lado, aproximar-se do Corpo do Senhor sem se examinar; comungar sem estar em comunhão com o Senhor e com os irmãos é mentir contra a Eucaristia, é comer e beber a própria condenação! 

Comunguemos sempre, caríssimos; mas, comunguemos estando preparados, conforme a santa Palavra de Deus nos exorta! Recordemos a grave palavra do Apóstolo: “Que cada um se examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo come e bebe a própria condenação” (1Cor 11,28s).

Meus caros, a Eucaristia, comunhão no santíssimo Corpo do Senhor, não somente é alimento para o nosso caminho, não somente á sustento da nossa vida, não somente é penhor de vida eterna, como também nos dá a graça do Santo Espírito, que nos faz ser um só corpo em Cristo. 

Eis, que mistério tão profundo: comungando do Corpo do Senhor na Eucaristia, nós nos tornamos cada vez mais unidos no corpo do Senhor, que é a Igreja! 

Comunguemos, pois, e teremos força para viver o belo caminho que a segunda leitura deste hoje nos aponta: “Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor”. 

Eis aqui: a nossa participação no sacrifício eucarístico de Cristo, a nossa comunhão no seu corpo sacrificado e entregue amorosamente, devem nos levar a um novo modo de viver, um modo que consiste na docilidade ao Espírito do Senhor morto e ressuscitado, que significa comunhão com Deus e com os irmãos: “Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo”.

Portanto, seja Cristo, que se oferece por nós em sacrifício e se dá a nós em comunhão, o pão, o sustento, o sentido da nossa vida, para podermos caminhar, entre as lutas, desafios e cansaços desta vida, até o monte de Deus, que é a Pátria celeste. Amém.

Dele alimentar-se é iniciar uma nova vida, vivendo sua dinâmica de entrega: vivei em amor como ele nos amou e se entregou por nós em sacrifício.

Dom Henrique Soares da Costa

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