quinta-feira, 1 de março de 2012

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 29: O que importa é o coração?

Mito 29: "O que importa é o coração"

Não exclusivamente.


Aos que afirmam que "o que importa é o coração", vale lembrar que aqui não cabe a aplicação deste princípio, pois isso implicaria colocar-se em contraposição com grandes parte das normas litúrgicas da Santa Igreja, bem como com os diversos sinais e símbolos litúrgicos (paramentos, velas, flores, incenso, gestos do corpo, etc), que partem da necessidade de se manifestar com sinais externos a fé católica a respeito do que acontece no Santo Sacrifício da Missa, bem como manifestar externamente a honra devida a Deus. A atitude interna é fundamental, mas desprezar as atitudes externas é um erro.

A este respeito, escreveu o saudoso Papa João Paulo II:

"De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da Presença Real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo. (...) Numa palavra, é necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo." (Mane Nobiscum Domine, 18)


O ser humano é corpo e alma, e faz parte da natureza humana manifestar a disposição interior por meio de gestos (abraçar, dar presente, se vestir bem, arrumar a mesa para uma festa). E a Sagrada Liturgia é perfeitamente compatível com a natureza e as necessidades do ser humano.

É preciso haver um equilíbrio no sentido de que a disposição interna é expressa pelos gestos externos, e os gestos externos, por sua vez, reforçam a disposição interna. É um círculo vicioso.

Os gestos externos sem a disposição interior são um erro (farisaísmo); a disposição interior sem a atenção aos gestos externos também é um erro, pois se contrapõe à elementos fundamentais da Sagrada Liturgia (afinal, somos alma e corpo, não somos o "Gasparzinho").

Por exemplo: como vamos convencer o mundo que Nosso Senhor Jesus Cristo está verdadeiramente presente no Santíssimo Sacramento, se tratarmos a Hóstia Consagrada como um alimento qualquer?

É preciso frizar aqui a importância do vestir-se com solenidade na Sagrada Liturgia. O Catecismo da Igreja Católica (n. 1387) afirma, sobre o momento da Sagrada Comunhão: 


"A atitude corporal – gestos, roupa – há de se traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede."

É preciso evitar, então, primeiramente as roupas que expõe o corpo de forma escandalosa, como decotes profundos, shorts curtos ou blusas que mostrem a barriga. Mas convém que se evite também tudo o que contraria, como afirma o Catecismo, a alegria, a solenidade e o respeito – isto é, banaliza o momento sagrado.

O bom senso nos mostra, por exemplo, que partindo do princípio da solenidade, é melhor que se use uma calça do que uma bermuda. Ora, na nossa cultura, não se vai a um encontro social solene usando uma bermuda!

O bom senso nos mostra também que, partindo do princípio do respeito e da não-banalização do sagrado, é melhor que se evite roupas que chamam atenção para o corpo ou para elementos não relacionados com a Sagrada Liturgia. É melhor que uma mulher, por exemplo, utilize uma blusa com mangas do que um blusa de alcinha; é melhor que utilize uma calça discreta, saia ou vestido do que uma calça "mulher-gato" (isto é, apertadíssima); também é melhor que se utilize, por exemplo, uma camisa ou camiseta discreta do que uma camiseta do Internacional ou do Grêmio.

São Josemaria Escrivá, em um de suas fantásticas homilias, recorda seus tempos de infância, dizendo:

"Lembro-me de como as pessoas se preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor." Afirma ainda: "Quando na terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não devemos preparar-nos?" ("Homilias sobre a Eucaristia", Ed. Quadrante)

Vivemos em uma sociedade de imagens, e uma imagem fala mais do que mil palavras...

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Comentário sobre este Mito (03/12):

Temos, durante todo este ano nesta série de postagens, chamado atenção a todos, que este conjunto de sinais são símbolos que a Sagrada Liturgia nos traz (gestos, ornamentação do altar, paramentos, materiais nobres nos vasos sagrados, castiçais, flores, incenso, e assim por diante...), e que nos apontam para algo maior.

Pois está presente verdadeiramente no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números 1374-1377. Ele se faz presente durante a Santa Missa, que é a renovação do Seu Único e Eterno Sacrifício, consumado de uma vez por todas na cruz e tornado presente no altar, pelas mãos do sacerdote (Cat. 1362-1372; 1411).

O conjunto desses sinais e símbolos configuram a beleza requerida na Liturgia, como escreveu o próprio Santo Padre Bento XVI,a sua Exortação Apostólica "Sacramentum Caritatis":

"A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal. A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra. (...) Concluindo, a beleza não é um factor decorativo da acção litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza."

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", nos dá os fundamentos teológicos da participação do corpo na Liturgia, a partir do Mistério da Encarnação: Deus se faz Carne, se faz Corpo, se faz Eucaristia!

O Papa fala no "Logos", isto é, o Verbo de Deus que se fez carne. Fala o Papa:

"Neste momento, a pergunta do leitor talvez seja a seguinte: e o corpo? Não será que, com a idéia do Sacrifício da Palavra (oratio), tudo assente apenas no espírito? Isso poderia ser o caso da idéia pré-cristã da celebração segundo o Logos, mas não Liturgia da Palavra Personificada, a qual se nos oferece no Seu Corpo e no Seu Sangue, portanto, corporalmente, embora na forma do Corpo Novo do Ressuscitado, o qual, permanecendo sempre verdadeiro, se nos oferece através dos sinais materiais do pão e do vinho. Isso significa que o nosso corpo, precisamente na existência corporal do nosso coditiano, é exigido do Logos e para o Logos."

Comentando o que o Papa disse, podemos verificar na História da Igreja, nos primeiros séculos, o quanto escandalizou os "gnósticos" a fé no Mistério da Encarnação.

O que é a gnose? É uma heresia, fruto do paganismo antigo, que surgiu no primeiro século do cristianismo e considera a matéria como má em si mesma. Para a gnose, o objetivo da vida humana é libertar-se da matéria.

Tudo indica que foi como resposta à gnose que o apóstolo São João, por inspiração divina, escreveu logo no início do Seu Evangelho dizendo: "O Verbo se fez Carne." (Jo 1, 14) Carne, logo matéria, é considerado algo mau pelos gnósticos. O Mistério da Encarnação (Deus se fez fez Carne em Nosso Senhor, assumindo nossa natureza humana!) é uma aberração para eles! 


Para um gnóstico, se Deus é bom, Ele não poderia tornar-se matéria, que seria má. Os Sete Sacramentos instituídos por Nosso Senhor, pelo qual Ele usa uma realidade humana e material (pão, vinho, água, óleo) para comunicar a graça divina, outra realidade incompreensível para eles. A Eucaristia (Presença Real e substancial de Nosso Senhor em Corpo, Sangue, Alma e Divindade!), uma aberração pior ainda!

A gnose foi em grande parte extirpada pela consolidação da cristandade, mas tendências dela continuaram presente em movimentos pagãos e heréticos (como entre os cátaros).

A distorcida moral calvinista, que mencionamos acima, foi uma porta aberta para a infiltração da mentalidade gnóstica entre os protestantes, através da visão pessimista daquilo que é humano e material. É comum ouvirmos protestantes (e mesmo católicos de alguns setores católicos) afirmar coisas como: "O meu humano me afastou de Deus"... Ora, o que me afasta a Deus é o meu pecado, não a minha humanidade em si mesma! Ou então: "Senhor, eu renuncio à minha humanidade!" A pessoa é o que então? Deus? Anjo? Ou quer deixar de existir na hora que faz uma oração assim? Interpretando essas frases de forma literal, elas são um absurdo. E podem refletir uma mentalidade equivocada.

Hoje, vemos esta tendência que deseja incutir na Liturgia a idéia de que "o que importa é o coração", no sentido de dizer que os sinais e símbolos externos não são importante. Por detrás dela, muitas vezes, pode estar presente esta tendência gnóstica e puritana que falamos assim.

Ora, o próprio cristianismo é a anti-gnose!

Mais ainda: a "Teologia do Corpo" (assunto do momento!), desenvolvida pelo saudoso Papa João Paulo, é a anti-gnose por excelência!

Pois a partir da Criação de Deus e da Sua Revelação em Nosso Senhor Jesus Cristo, vemos a imensa dignidade do nosso corpo, criado a Imagem e Semelhança de Deus, assumido por Deus na Sua Encarnação, e chamado a Ressuscitar no Juízo Final, a exemplo de Nosso Senhor e Nossa Santíssima Mãe (Cat. n. 356-368; 456-483; 966; 998-1014; )

Por isso, o Papa Bento XVI diz, neste trecho que citamos:

"Isso significa que o nosso corpo, precisamente na existência corporal do nosso coditiano, é exigido do Logos e para o Logos."

Pois como dissemos acima, O ser humano é corpo e alma, e a Sagrada Liturgia é perfeitamente compatível com a natureza e as necessidades do ser humano.

O Papa continua, relacionando tudo isso a Sagrada Liturgia:

"Entrar na ação de Deus, afim de estarmos em cooperação com Ele, - é isso que deve começar na Liturgia e continuar a evoluir para além dela. A Encarnação, através da cruz (a transformação da nossa vontade para a comunhão da vontade comum com Deus), deve sempre conduzir à Ressusrreição - para o o domínio do amor que é o Reino de Deus. O corpo deve, por asssim dizer, ser "exercitado" para a ressurreição. (....) Tal treino deveria uma parte essencial do cotidiano, encontrando, contudo, o seu conteúdo interior dentro da Liturgia, na sua "orientação" para Cristo Ressuscitado. Para dizer mais uma vez, de outra maneira, Ele é o exercício para aceitar o outro na sua diferença, para chegar ao amor - o exercício para aceitar Aquele que é todo diferente, Deus, e admitir ser moldado e utilizado por Ele. A inclusão do corpo, que é o objetivo da Liturgia da Palavra Personificada, manifesta-se na própria Liturgia através de um certa disciplina física, em gestos que nasceram da imposição interior da Liturgia, evidenciando corporalmente a sua natureza."

Também o Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, da Arquidiocese de Cuiabá-MT foi perguntado sobre esta tendência atual em desvalorizar os sinais e símbolos externos sob a justificava de "o que importa e o coração".

Pe. Paulo respondeu da seguinte forma, desfazendo essa falsa dicotomia:

“Unum facere et alium non omittere”, Fazer uma coisa e não omitir a outra. Ou seja, observar as normas litúrgicas e obedecê-las não é algo que está divorciado com o coração. É necessário escolher as duas coisas. Obediência das normas e soprar sobre estas normas, que são letra morta, o Espírito com o qual elas foram elaboradas. O espírito que é uma verdadeira tradição espiritual da Igreja. Por isso, essa dicotomia é uma falsa alternativa. Seria como pedir a uma pessoa que escolhesse entre o corpo e a alma, dizendo a ela ou ela fica com a alma ou ela fica com o corpo. A única resposta possível é dizer: eu não escolho, eu fico com os dois. Eu fico com a norma litúrgica e fico com o coração."

Ou seja, para nós, NÃO é: OU o coração, OU os gestos exteriores. NÃO!

E SIM: é o coração E os gestos exteriores!

Esta relação entre as práticas interiores e as práticas exteriores da vida espiritual, que tanto temos falado nesta postagens, é abordada também magistralmente por São Luís Montfort, no seu maravilhoso "Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem" (livro de cabeceira do Papa João Paulo II, e um dos "livros do momento"!...).

Fala São Luís (n. 226), mostrando que as práticas exteriores são importantes para agradar a Deus e para lembrar a nós mesmos, e aos nossos irmãos, de uma verdade espiritual:

"As práticas exteriores bem feitas ajudam nas interiores, como porque relembram aos homens, que se conduz sempre pelos sentidos, o que se fez ou deve fazer; também porque são próprias para edificar o próximo que as vê, o que já não acontece com as práticas puramente interiores. Nenhum mundano, portanto, critique, nem meta aqui o nariz, dizendo que a verdadeira devoção está no coração, que é preciso evitar exterioridades, que nisto pode haver vaidade, que é preferível ocultar cada um sua devoção, etc. Respondo-lhes com meu Mestre: "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus." (Mt 5,16)"

É interessante observar essa propriedade que um gesto do corpo (por ex: dobrar os joelhos para adorar o Santíssimo Sacramento) possui para lembrar, primeiro a própria pessoa que ajoelha (e também a quem vê!) que ela não está diante de algo qualquer, mas diante de Deus!

Temos alguns tremendos testemunhos a este respeito, como de Scott Hahn, autor do maravilhoso livro “O Banquete do Cordeiro – a Missa segundo um convertido”.

Ele é um ex-protestante calvinista, estudioso do Apocalipse, do Apóstolo São João. Tendo ido a Santa Missa como um curioso (como ele mesmo testemunha no livro), enxergou no esplendor do Rito da Missa o que relata o Apocalipse. Palavras dele:

“Ora, onde na terra encontramos uma Igreja universal que adora de uma forma fiel à visão de João? Onde encontramos sacerdotes paramentados de pé diante de um altar? Onde encontramos homens consagrados ao celibato? Onde ouvimos os anjos serem invocados? Onde encontramos uma Igreja que guarda as relíquias dos santos dentro dos altares? Onde a arte exalta a mulher coroada de estrelas, com a lua debaixo dos pés, que esmaga a cabeça da serpente? Onde os fiéis suplicam a proteção do arcanjo são Miguel? Onde mais, a não ser na Igreja Católica, e mais especificamente, na Missa?”

Vejamos o seu belo testemunho:

“...talvez você responda que sua experiência semanal da missa é qualquer coisa, menos celestial. De fato, é uma hora desconfortável interrompida por choro de bebês, cantos monótonos entoados de forma dissonante, divagações, homilias sem pés nem cabeça e vizinhos vestidos como se fossem a um jogo de futebol, à praia ou a um piquenique. Mesmo assim, insisto que vamos realmene ao céu quando vamos à missa. (...) Trata-se de algo que é objetivamente verdade, algo tão real quanto o coração que bate dentro de você. A Missa – e quero dizer toda missa – é o céu na terra. (...) Muitos de nós queremos “obter mais” da missa. Bem, não podemos obter mais que o próprio céu.”

Ele viu o Apocalipse na Missa (Liturgia Celeste), e se converteu, porque viu o Esplendor Litúrgico da Santa Igreja (Liturgia Celeste). Ele inclusive, em seu livro, nos traz as referências no Apocalipse, dos diversos sinais e símbolos da Liturgia. Vejamos alguns deles:



- Altar (Ap 8,3-4; 11, 1. 14,18)

- Paramentos (Ap 1,13; 4,4; 6,11; 7,9; 15,6; 19, 13-14)


- Candelabros (Ap 1,12 ; 2,5)

- Incenso (Ap 5,8; 8, 3-5)

- Taças / Cálices (Ap 15,7 ; 16; 21, 9)

- Leitura das Escritutas (Ap 2-3; 5, 8, 2-11)

- Contemplação silenciosa (Ap 8,1)

- Banquete das Núpcias do Cordeiro (Ap 19, 9.17)

E São Luis Montfort, no "Tratado" (n.226), responde uma objeção comum, afirmando:

"Não quer isso dizer, como observa S. Gregório, que devamos fazer nossas ações e devoções exteriores para agradar aos homens e daí tirar louvores, o que seria vaidade; mas fazê-lo às vezes diante dos homens, com o fito de agradar a Deus e glorificá-lo, sem preocupar-nos com o desprezo ou os louvores dos homens."

Pois como temos falado, as práticas exteriores devem ser feitas pelos MOTIVOS CERTOS.

Uma objeção que muitas vezes se coloca na prática dos gestos externos é a questão da humildade. Por exemplo: "não vou ajoelhar, porque preciso ser humilde."



Ora, essa objeção não se sustenta. Se há uma vaidade no "estou ajoelhando", também há uma vaidade no "estou me despojando e não ajoelhando".

Como colocamos acima, com as citações dos gigantes Bento XVI e João Paulo II, toda a gestualidade e toda a beleza litúrgica precisa apontar para Deus, e não para nós. É uma questão de mudança de percepção. E como filhos e filhas da Santa Igreja, é ato de humildade agirmos como nossa Santa Mãe Igreja deseja e a tem em sua tradição litúrgica.

Aliás, esse pensamento de "não ajoelhar para se despojar" parece ser o mesmo tipo da tentação de: "Vou deixar de rezar o Rosário para não me envaidecer" ou "Deus me deu o dom de pregar, mas não vou pregar para não me envaidecer".

Ora, se há uma vaidade no rezar o Rosário ou no pregar a Palavra de Deus, também há vaidade no "estou me despojando e não fazendo isso".

Somos homens e não anjos, temos concupiscência (a tendência ao pecado que é consequência do pecado original), e há algo de vaidade ou outro tipo de desordem em absolutamente tudo o que fazemos, mesmo que tenhamos as melhores intensões, como afirmam os santos autores espirituais. São Luis Maria Montfort (Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, n.78), por exemplo, diz que "nossa melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós." 


O que precisamos é não deixar que essa maldade, sempre presente, domine o que fazemos; e sim, que nosso Amor a Deus domine.

Tais tentações são um artifício em que o Mal usa dos nossos escrúpulos para impedir que façamos a Vontade de Deus: rezando o Santo Rosário, talvez pregando a Palavra de Deus, valorizando o esplendor da Sagrada Liturgia...

Uma última palavra, sobre este assunto, é em procurarmos encontrar a profunda humanidade, muitas vezes escondida, atrás de cada desses gestos, sinais e símbolos litúrgicos. Pois como falamos acima que faz parte da natureza humana manifestar a disposição interior por meio de gestos (abraçar, dar presente, se vestir bem, arrumar a mesa para uma festa).

A Bíblia compara muito, por analogia, o relacionamento do homem com Deus com os diversos tipos de relacionamentos humanos, comparando o amor de Deus, conforme o trecho Bíblico, e o Catecismo da Igreja Católica (n. 219) nos lembra isso, comparando o Amor de Deus ao Amor de pai, de mãe, de esposo...

Creio que nos gestos e sinais na Sagrada Liturgia, essa analogia com o amor humano também deve aparecer, e de certa forma, é até necessário que apareça para o seu entendimento mais profundo.

Assim, como diz São Josemaria Escrivá na citação que fizemos, "colocamos as melhores roupas", ornamentamos o altar com belas toalhas e flores (e que a nossa arrumação comece DENTRO DE NÓS, na nossa alma, na Confissão...), como recebendo alguém importante para nós; na Adoração Eucarística; silenciamos, e o silêncio expressa intimidade com Quem amamos; dobramos os nossos joelhos não só diante do Deus Todo-Poderoso, mas também diante do Deus que nos ama, deu a Sua Vida por nós (Gl 2,20), e que por isso é digno de nosso amor, e nós o adoramos amando...

Acredito que essa perspectiva acaba com uma Liturgia "robótica" que muitos infelizmente ainda vivem a Liturgia e por isso não a compreedem em profundidade, e precisa nos motivar a acabar com todo o farisaísmo dentro de nós em não haver coerência, talvez, entre nossos gestos externos e nossa disposição interior.

Alguns aspectos de toda esta relação entre um pouco a Liturgia, a "Teologia do Corpo" e o amor humano, eu procuro trabalhar em minha formação "Teologia do Corpo e Liturgia" . 


Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente aprovadas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que a Grande Mãe de Deus, Mãe da Eucaristia, pela Sua Poderosa Intercessão, nos conceda a graça de crer, adorar, amar e zelar pelo Santíssimo Corpo do Deus-Amor Sacramentado, pelo Santo Sacrifício da Missa e por toda a Sagrada Liturgia da Igreja...

Francisco Dockhorn



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