terça-feira, 24 de maio de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 16: Vasos Sagrados de qualquer material?

Mito 16. "O cálice e o cibório podem ser de qualquer material"

Não podem.


A Santa Igreja zela pelo material do cálice, cibórios e outros vasos sagrados utilizados nas celebrações. Por exemplo: é expressamente proibido o uso de vasos sagrados de vidro, barro, argila, cristal ou outro material que quebre com facilidade.

Especifica a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 117):

"Os vasos sagrados, que estão destinados a receber o Corpo e o Sangue do Senhor, devem-se ser fabricados, estritamente, conforme as normas da tradição e dos livros litúrgicos. As Conferências de Bispos tenham capacidade de decidir, com a aprovação da Sé apostólica, se é oportuno que os vasos sagrados também sejam elaborados com outros materiais sólidos. Sem dúvida, requer-se estritamente que este material, de acordo com a comum valorização de cada região, seja verdadeiramente nobre, de maneira que, com seu uso, tribute-se honra ao Senhor e se evite absolutamente o perigo de enfraquecer, aos olhos dos fiéis, a doutrina da presença real de Cristo nas espécies eucarísticas. Portanto, reprove-se qualquer uso, para a celebração da Missa, de vasos comuns ou de escasso valor, no que se refere à qualidade, ou carentes de todo valor artístico, ou simples recipientes, ou outros vasos de cristal, argila, porcelana e outros materiais que se quebram facilmente. Isto vale também para os metais e outros materiais, que se corroem (oxidam) facilmente."

O saudoso Papa João Paulo II insiste na utilização dos melhores recursos possíveis nos objetos litúrgicos, como honra prestada ao Corpo e ao Sacrifício de Nosso Senhor. Disse João Paulo II (Ecclesia de Eucharistia, n. 47-48):

"Quando alguém lê o relato da instituição da Eucaristia nos Evangelhos Sinópticos, fica admirado ao ver a simplicidade e simultaneamente a dignidade com que Jesus, na noite da Última Ceia, institui este grande sacramento. Há um episódio que, de certo modo, lhe serve de prelúdio: é a unção de Betânia. Uma mulher, que João identifica como sendo Maria, irmã de Lázaro, derrama sobre a cabeça de Jesus um vaso de perfume precioso, suscitando nos discípulos – particularmente em Judas (Mt 26, 8; Mc 14, 4; Jo 12, 4) – uma reacção de protesto contra tal gesto que, em face das necessidades dos pobres, constituía um « desperdício » intolerável. Mas Jesus faz uma avaliação muito diferente: sem nada tirar ao dever da caridade para com os necessitados, aos quais sempre se hão-de dedicar os discípulos – « Pobres, sempre os tereis convosco » (Jo 12, 8; cf. Mt 26, 11; Mc 14, 7) –, Ele pensa no momento já próximo da sua morte e sepultura, considerando a unção que Lhe foi feita como uma antecipação daquelas honras de que continuará a ser digno o seu corpo mesmo depois da morte, porque indissoluvelmente ligado ao mistério da sua pessoa. (...) Tal como a mulher da unção de Betânia, a Igreja não temeu « desperdiçar », investindo o melhor dos seus recursos para exprimir o seu enlevo e adoração diante do dom incomensurável da Eucaristia. À semelhança dos primeiros discípulos encarregados de preparar a « grande sala », ela sentiu-se impelida, ao longo dos séculos e no alternar-se das culturas, a celebrar a Eucaristia num ambiente digno de tão grande mistério. Foi sob o impulso das palavras e gestos de Jesus, desenvolvendo a herança ritual do judaísmo, que nasceu a liturgia cristã. Porventura haverá algo que seja capaz de exprimir de forma devida o acolhimento do dom que o Esposo divino continuamente faz de Si mesmo à Igreja-Esposa, colocando ao alcance das sucessivas gerações de crentes o sacrifício que ofereceu uma vez por todas na cruz e tornando-Se alimento para todos os fiéis? Se a ideia do « banquete » inspira familiaridade, a Igreja nunca cedeu à tentação de banalizar esta « intimidade » com o seu Esposo, recordando-se que Ele é também o seu Senhor e que, embora « banquete », permanece sempre um banquete sacrificial, assinalado com o sangue derramado no Gólgota. O Banquete eucarístico é verdadeiramente banquete « sagrado », onde, na simplicidade dos sinais, se esconde o abismo da santidade de Deus: O Sacrum convivium, in quo Christus sumitur! - « Ó Sagrado Banquete, em que se recebe Cristo! »"


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Comentário sobre este Mito (20/08):

Essa questão do uso de materiais nobres na Sagrada Liturgia é vista com grande pré-conceito por parte de muitos, e considero perfeito o exemplo citado pelo saudoso Papa João Paulo II da mulher que não temeu desperdiçar diante de Nosso Senhor.

O que está por detrás de tudo é o zelo da Santa Igreja, em manifestar com sinais visíveis, a sua fé na Presença Real e Substancial de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números 1374-1377.

Além deste exemplo Bíblico da mulher, que João Paulo II cita, temos o exemplo dos Reis Magos, que se alegraram diante do Menino Jesus (Mateus 2,10), adoraram o Menino Jesus e se ajoelharam diante Dele (Mateus 10,11) e ofereceram nobres presentes: ouro, incenso e mirra (Mateus 2,11).

Ouro e incenso que até hoje a Santa Igreja utiliza na Sagrada Liturgia; na mirra, que é um vegetal, talvez possamos ver uma figura das flores que a Santa Igreja tradicionalmente utiliza para ornamentar o altar.

Vejo que muitos trazem questões sociais, e se colocam em um dilema:

"Usar materiais nobres OU ajudar os pobres?"

Quando, na realidade, o princípio que guia a Santa Igreja neste aspecto é:

"Usar materiais nobres E ajudar os pobres!"

A história da Santa Igreja está aí para nos mostrar o o seu maravilhoso serviço em matéria de humanização, amor aos pobres, hospitais, escolas, obras de caridade, e assim por diante. A Igreja é a instituição que mais fez e faz caridade na história!

Aliás, historicamente falando, a Santa Igreja foi responsável por trazer para a sociedade a idéia da dignidade intrínseca da vida humana, idéia esta que inexistia na antiquidade.

Em relação a aquilo que a Santa Igreja possui de bens materiais e não aplica nas obras de caridade, ela utiliza para:

- auxiliar a cumprir a sua própria missão (por exemplo, os seus territórios)

- manter um patrimônio cultural, que em última instância, pertence a toda humanidade (por exemplo, quadros de Michelangelo que há no museu do Vaticano

- utilizar no Culto Divino, isto é, na Sagrada Liturgia

Este Esplendor Litúrgico manifesta, com SINAIS VISÍVEIS, que A SAGRADA LITURGIA NÃO É ALGO QUALQUER.

Ignorar o valor desses sinais sagrados é ignorar a própria alma humana, a influência do meio externo e a importância dos elementos simbólicos. A Liturgia católica é extremamente humana: compatível com todas as necessidades do ser humano.

Como vamos convencer o mundo que A HÓSTIA CONSAGRADA É DEUS, se A tratamos de uma forma qualquer?

Há modernistas que, desejando propagar sua teologia litúrgica revolucionária e incompatível com a Doutrina Católica, e conhecendo bem o valor dos símbolos para o ser humano, fazem questão de desprezar os sinais externos da Liturgia que apontam para sua verdadeira essência e para a adoração de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada.

Portanto, NÃO é "Usar materiais nobres OU ajudar os pobres?"

E sim:

"Usar materiais E ajudar os pobres!"

Algumas realidades da Santa Igreja, como a Fraternidade Toca de Assis e a Missão Eucarística Voz dos Pobres manifestam, de forma muito concreta, uma conjugação equilibrada destes dois elementos: vivem o amor aos mais pobres, e o Esplendor Litúrgico. Sabem que o mesmo Deus que adoram, na Hóstia Consagrada, de alguma forma também está presente no pobre. Querem viver entre o Altar de Deus e o Altar dos Pobres.

Reprovável
Infelizmente, em muitos lugares que se usa ainda cálices e cibórios de vidro ou de barro, que são materiais que os documentos da Santa Igreja citados acima expressamente o proíbem.

Pata de Vaca???  Pão de forma??? Para o Corpo e Sangue de Cristo????
Utilizam para isso um conceito equivocado de "inculturação", que podemos chamar na verdade "banalização", ou, termo que utilizou o saudoso Papa João Paulo II, na sua fabulosa carta Domicae Cenae, "dessacralização" - isto é, tratar o Sagrado como se não fosse Sagrado.





Por exemplo: eu JÁ VI ser utilizado, dentro da Santa Missa, COPINHO DE PLÁSTICO (sim, desses que se toma suco em bar!), para depositar as Hóstias Consagradas...

Santa Terezinha do Menino Jesus, doutora da Santa Igreja, diz:

"Não é para ficar (somente) no cibório de ouro que Jesus desce todos os dias do céu, mas para encontrar outro céu que lhe é intimamente mais caro que o primeiro: o céu da nossa alma, feita à imagem dele, o templo vivo da adorável Trindade."

Isto NÃO significa, evidentemente, que ela se oponha ou que nós devemos nos opor ao ouro nos cibórios, como já demonstramos acima, com os documentos oficiais da Santa Igreja.

Porém, significa uma coisa:

Que não podemos ser hipócritas, e que o ouro dos cibórios precisa expressar o "ouro" de um coração que adora a Deus!

Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que a Grande Mãe de Deus, Mãe da Eucaristia, pela Sua Poderosa Intercessão, nos conceda a graça de crer, adorar, amar e zelar pelo Santíssimo Corpo do Deus-Amor Sacramentado, em todos os altares e tabernáculos...


Francisco Dockhorn

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