quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Santa Igreja e a Salvação




É dogma da fé católica que fora da Santa Igreja não existe salvação. Isso não significa, de forma alguma, que a salvação só é possível para aquele que está materialmente inserido na Santa Igreja. Significa, porém, que jamais, em época alguma, existe possibilidade de salvação fora da realidade mística da Santa Igreja.


Primeiramente, precisamos compreender o que é a Santa Igreja, que, embora aqui na terra tenha uma realidade institucional dotada de hierarquia e leis disciplinarem que a regem, é, enquanto realidade espiritual, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor, quando por amor a nós foi Sacrificado na Cruz, remiu os pecados de toda a humanidade. Salva-se, assim, aquele que adere à esta salvação tornando-se membro do Corpo Místico de Cristo, ou seja, aquele que faz parte da Santa Igreja. Diz o Catecismo da Igreja Católica: "Fora da Igreja não há salvação. Como entender essa afirmação (...) Formulada de maneira positiva, ela significa que toda salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu Corpo." (Catecismo da Igreja Católica, 846)



Ordinariamente, a inserção na Santa Igreja se dá por meio do Sacramento do Batismo, pelo qual o batizado torna-se membro do Corpo Místico de Cristo, e por isso mesmo participante da filiação divina (filho adotivo de Deus Pai) e templo do Espírito Santo. Diz o Concílio Vaticano II que "são incorporados plenamente na sociedade da Igreja, todos os que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam integralmente a sua organização e todos os meios de salvação nela instituídos, e no seu organismo visível estão unidos com Cristo." (LG 14) Esta comunhão com a Santa Igreja é ferida se por ventura o membro comete um pecado mortal, e a reconciliação com ela se dá pelo Sacramento da Confissão - ou pelo arrependimento sincero, caso a Confissão seja impossível (Catecismo da Igreja Católica, 1884).

Extraordinariamente, a inserção na Santa Igreja se dá através do que a teologia chama de "batismo de desejo", ou seja, uma pessoa que não tem possibilidade de ser batizada sacramentalmente, mas procura viver de acordo com a lei natural, e neste caso, a pessoa é chamada por alguns teólogos de um "membro invisível da Santa Igreja". O impedimento de ser batizada sacramentalmente poderá ser por razões físicas (impossibilidade física de ser batizada) ou psicológicas (não conhecimento do Santo Evangelho ou certo tipo de resistência psicológica inconsciente que não lhe permite reconhecer o Santo Evangelho como verdade). 


Neste sentido, o Concílio Vaticano II nos ensina: "Aqueles que ignoram sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, mas buscam a Deus na sinceridade do coração, e se esforçam, sob a ação da graça, para cumprir na sua vida a sua vontade, conhecida através dos ditames da consciência, também estes podem alcançar a salvação eterna. Nem a divina providência nega os meios necessários àqueles que, sem culpa, ainda não chegaram ao conhecimento explícito de Deus, mas procuram com a graça divina viver retamente." (LG 16)


Diante disso, o que pensar a respeito da salvação dos cismáticos e protestantes?


Se o Batismo Sacramental deles foi realmente válido (como é o caso de muitos inseridos em igrejas cismáticas e denominações protestantes tradicionais), não há dúvida de que são membros da Santa Igreja. Diz o Concílio Vaticano II que "por diversas razões a Igreja reconhece-se unida aos batizados que se honram com o nome de cristãos, mas não professam integralmente a fé, ou não mantém a unidade da comunhão sob o sucessor de Pedro." (LG 15) Também estes poderão se salvar se não houverem chegado ao conhecimento pleno da Santa Igreja ou tiverem certo tipo de resistência psicológica inconsciente que não lhe permite este conhecimento. 


É importante observar, porém, que se salvarão por fazerem parte da Santa Igreja e não por fazerem parte de uma determina igreja cismática ou denominação protestante - mas se salvarão apesar disso!


Porém, todo aquele que tem conhecimento pleno da Santa Igreja, e de forma consciente e deliberada não adere a Nosso Senhor, comete pecado mortal de cisma ou heresia, o que torna impossível a salvação desta pessoa, caso não saia deste estado. Diz o Concílio Vaticano II que "não poderão salvar-se aqueles que, sabendo que Deus a fundou por Jesus Cristo como necessária à salvação, se recusam a entrar ou perseverar na Igreja Católica." (LG 14) O Concílio Vaticano II é, portanto, coerente com o ensinamento tradicional do Sagrado Magistério da Santa Igreja nesta questão, ao contrário do que afirmam os teólogos ditos "progressistas".


O Concílio Vaticano II, para afastar qualquer possibilidade de relativização no que diz respeito neste sentido à necessidade da evangelização, deixa claro que "os homens, muitas vezes enganados pelo demônio, entregaram-se a pensamentos vãos e trocaram a verdade de Deus pela mentira, servindo mais às criaturas antes que ao Criador, ou então morrendo sem Deus neste mundo, expõem-se ao desespero final. Por isso, para promover a glória de Deus e a salvação de todos, a Igreja, lembrada do mandamento do Senhor: "Pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15), põe todo seu cuidado em desenvolver as missões." (LG 16)


Assim, erram tanto aqueles que dizem que alguém pode se salvar fora da Santa Igreja, como aqueles que dizem que jamais alguém poderá se salvar sem estar materialmente na Santa Igreja. Em Seu Infinito Amor e Misericórdia, Nosso Senhor abre o caminho da salvação à todos.



Francisco Dockhorn, 8 de abril de 2006

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