sábado, 7 de abril de 2012

A Ressurreição de Jesus: Ficção ou realidade?


D. ESTÊVÃO BETTENCOURT  DOM , 12 DE DEZEMBRO DE 2010

A Ressurreição Corporal é a pedra de toque da missão de Jesus ou o sinete colocado pelo Pai sobre a pessoa e a pregação de Jesus; é o sinal que comprova a autenticidade de Jesus como Deus feito homem para nos salvar. Daí dizer São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé…Se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé” (1Cor 15,13.17).

Nenhuma outra confissão religiosa atribui ao seu fundador o privilégio da ressurreição dentre os mortos. O Cristianismo, porém, o faz e chega a afirmar que, sem a Ressurreição de Jesus, não há Cristianismo.

Ora, a ressurreição de um morto é milagre de primeira grandeza. Por isto a crítica pergunta se não se trata de mito ou ficção; em conseqüência, tem formulado explicações meramente racionais para a notícia da “ressurreição”. Dada a importância capital de tal matéria desenvolveremos a questão, abordando: 

1) as teorias racionalistas; 

2) os textos do Novo Testamento que atestam a fé da Igreja nascente, e os seus sinais comprovantes.


I - TEORIAS RACIONALISTAS
 
Pode-se dizer que até o século XVIII não havia, entre os cristãos, quem duvidasse da historicidade da ressurreição de Jesus.

Especialmente importante é o testemunho da Igreja nascente: em Corinto, por exemplo, no ano de 56, os fiéis não aceitavam a perspectiva da ressurreição dos cristãos, mas não punham em xeque a ressurreição de Jesus, de modo que, a partir desta, São Paulo deduzia a ressurreição de todos os mortos.

“Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou… Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou…Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram” ( 1 Cor 15, 12.13.16.20).

Examinemos, porém, as proposições dos racionalistas:

1) No século XVIII, Hermann Samuel Reimarus (1694-1768) retomou a alegação, dos judeus, de que o corpo de Jesus fora roubado pelos discípulos para que pudessem proclamar a sua ressurreição. (Mt 28, 11-15). 

Hermann Samuel Reimarus
Segundo Reimarus, Jesus foi um Messias político, que queria libertar Israel do jugo romano. 

Fracassou, porém. Todavia os discípulos retiraram do túmulo o seu cadáver para poder apregoar a sua ressurreição e apresentar Jesus como o Messias apocalíptico de Daniel 7,13s.

A própria crítica racionalista rejeitou a teoria de Reimarus como sendo simplória demais e infundada. 

Os apóstolos não tinham ânimo para admitir a ressurreição do Mestre; muito menos o tinham para tentar impô-la mediante fraude e embuste. 

Ademais qualquer tentativa de mentira e falsidade da parte dos Apóstolos cedo ou tarde teria sido descoberta pelos judeus hostis, que haveriam conseqüentemente,  desprestigiado toda a pregação dos discípulos de Cristo – o que na realidade não se deu.

2) Mais recentemente Karl Friedrich Bahrdt (1741-1792) e Eberhardt Gottlob Paulus (1761- 1851) propuseram a tese de que Jesus não morreu realmente na Cruz e foi sepultado vivo. 

Karl Friedrich Bahrdt
O sedativo que Ele tomou quando crucificado e os aromas que as mulheres levaram ao sepulcro para ungi-lo, teriam contribuído para reanimá-lo, comunicando-lhe consciência e vigor necessários para sair do túmulo, não ao terceiro dia, mas em data posterior. – O estudioso alemão Holger Kersten, em nossos dias, retomou esta hipótese, acrescentando-lhe um complemento: Jesus, deixando o sepulcro, foi à Índia, onde terminou os seus dias.

Tal hipótese também não goza de autoridade, pois é fantasiosa; além do que, contradiz a arqueologia, que mostra o local do sepulcro de Jesus em Jerusalém, com sua história através dos séculos. Levemos em conta outrossim o duro desenrolar da Paixão de Cristo ( flagelação, coração de espinhos, porte de Cruz, crucificação…) e principalmente o golpe de lança infligido a Jesus, “porque os soldados o encontraram já morto” ( Jo19,33). Estas ocorrências não podem deixar dúvida sobre a realidade da morte de Jesus na Cruz.

3) Certos seguidores da Escola da História das Formas deram à ressurreição de Cristo uma interpretação nova. Entre eles, destaca-se Willi Marxsen, discípulo de Rudolf Bultmann: Marxsen afirma que o que ressuscitou não foi Jesus, mas a mensagem de Jesus; esta parecia fadada a emudecer por causa da hostilidade dos judeus, mas conseguiu vencer os obstáculos e assim “ressuscitou”, impondo-se aos ouvintes. 

O que importa, dizem, não é o mensageiro (Jesus), mas a mensagem (a Boa-Nova); as aparições de Jesus aos Apóstolos narradas pelos evangelistas nada teriam de objetivo; seriam apenas a maneira como os antigos cristãos formularam a experiência íntima de que a mensagem de Jesus superara os obstáculos e continuava a viver…

O milagre não seria a ressurreição de Jesus, mas a fé dos discípulos.

A tese de Marxsen parte de um preconceito dogmaticamente afirmado, mas não demonstrado, a saber: não pode ser real o que escapa às categorias da razão humana. Ora, a ressurreição de um morto é algo que a razão não explica; daí ser tida como impossível ou como mito… mito que está sujeito à interpretação ou hermenêutica atrás proposta. - Tal preconceito é falho, pois a razão humana não é a medida ou o critério da verdade; a verdade tem amplidão maior do que o alcance da razão. 

Por conseguinte, pode haver fatos reais que a razão não explica; só não se pode aceitar que concepções ilógicas ou absurdas (um círculo quadrado, por exemplo) sejam verdadeiras. Ora a ressurreição de um morto não é algo de ilógico ou irracional, absurdo.

4) E os mitos orientais?

Certos historiadores afirmam que as “religiões de mistérios” do Oriente próximo conheciam, no limiar da era cristã, mitos de deuses que voltaram à vida depois de haver morrido: assim na Ásia Menor, Adonis, Astarté, Átis, Cibele; no Egito, Ísis e Osíris… 

Tais mitos se inspiravam no fato de que a natureza morre no outono e renasce na primavera seguinte. Ora, as narrativas evangélicas não seriam senão uma nova edição de tais lendas. A propósito observamos que os deuses da mitologia estavam longe de “ressuscitar” propriamente; a ressurreição ou volta da alma ao corpo nunca foi um ideal, mas, sim, um espantalho para gregos e orientais (estes tinham o corpo na conta de cárcere da alma). Ademais a ressurreição de Jesus nada tem que ver com os mitos da vegetação que morre e renasce.

Por último, consideremos também que a fé se manifestou desde os primeiros dias da Igreja. Ora, a Palestina não era terreno favorável ao sincretismo religioso; os Judeus, mesmo convertidos ao Cristianismo, eram ferrenhamente avessos aos mitos pagãos. Para que a infiltração de lendas pagãs se desse no Cristianismo, teria sido necessário que este tivesse tido origem num ambiente geográfico e numa população tais como a Síria, a Ásia Menor ou o Egito; além do que, exigir-se-ia notável espaço de tempo entre a morte de Jesus e a pregação de sua ressurreição.

Uma vez examinadas as teorias que negam a ressurreição corporal de Jesus, vejamos qual seja:
 
II - O TESTEMUNHO DO NOVO TESTAMENTO

2.1 - I Cor 15,3-8

O texto mais significativo é a profissão de fé consignada por São Paulo em 1 Cor 15, 3-8. Ei-la em tradução literal: "Faço-vos conhecer, irmãos, o Evangelho que Vos preguei, o mesmo que vós recebestes e no qual permaneceis firmes. Por ele também sereis salvos, se o conservardes tal como vô-lo preguei…a menos que não tenha fundamento a vossa fé. 

Transmiti-vos, antes de tudo, aquilo que eu mesmo recebi, a saber, que Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras, e que foi sepultado e que ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras e que apareceu a Céfas, depois aos doze. Posteriormente apareceu, de uma vez, a mais de quinhentos irmãos, dos quais a maior parte vive até hoje, alguns, porém, já morreram. Depois apareceu a Tiago e, em seguida, a todos os Apóstolos. Por fim, depois de todos, apareceu também a mim, como a um abortivo”.

São Paulo escreveu tal passagem no ano de 56, ou seja pouco mais de 20 anos após a Ascensão de Jesus. Eis, porém, que nesse texto o Apóstolo quer apenas lembrar aos fiéis o que ele lhes transmitiu de viva voz quando fundou a comunidade de Corinto em 51-52: nessa época Paulo entregou aos fiéis a doutrina que lhe foi fora entregue (“Transmiti-vos…aquilo que eu mesmo recebi…”). E quando o Apóstolo recebeu a mensagem?

- Ou por ocasião da sua conversão, que se deu aproximadamente no ano de 35, ou no ensejo de sua visita a Jerusalém, que teve lugar em 38, ou, ao mais tardar, por volta do ano de 40.

Observemos agora o estilo do texto de 1 Cor 15,3-8: as frases são curtas, incisivas, dispostas segundo um paralelismo que lhes comunica um ritmo notável. Abstração feita dos vv. 6 e 8, dir-se-ia que se trata de formulas estereotípicas, forjadas pelo ensinamento oral e destinadas a ser freqüentemente repetidas. Nesses versículos encontram-se várias expressões que não ocorrem em outras cartas de São Paulo: assim “conforme as Escrituras”, “no terceiro dia”, “aos doze”, “apareceu” (expressão que só ocorre sob a pena de São Paulo num hino citado pelo Apóstolo em 1Tm 3,16).

Estas indicações dão a ver que São Paulo em 1Cor 15,3-8 reproduz uma fórmula de fé que ele mesmo recebeu já definitivamente redigida poucos anos (dois, cinco, oito anos?) após a Ascensão do Senhor Jesus. O v.6, quebrando o ritmo do conjunto, talvez tenha sido introduzido posteriormente; quanto ao v.8, é por certo uma notícia pessoal que São Paulo acrescenta ao bloco.

Vê-se, pois, que desde os primeiros anos da pregação do Evangelho já existia entre os fiéis uma profissão de fé na ressurreição de Cristo formulada em frases breves e pregnantes; tais frases eram transmitidas como expressões exatas da mensagem dos Apóstolos.


Ora essa fórmula de fé antiqüíssima professa a ressurreição corpórea de Cristo como realidade histórica. Para a comprovar, havia testemunhas oculares, das quais, diz São Paulo, muitas ainda viviam vinte e poucos anos após a ressurreição do Senhor.


Tal depoimento de primeira hora é um texto pré-paulino, concebido e transmitido pelos discípulos imediatos do Senhor como expressão da fé comum da Igreja nascente. – É de notar que São Paulo insiste no peso das testemunhas oculares; muitas ainda viviam e podiam ser interpeladas pessoalmente; não diz que “creram”, mas que “viram” (Jesus apareceu-lhes ressuscitado).

O texto de 1Cor 15,1-8 é por Bultman e sua escola reconhecido como obstáculo sério à sua teoria racionalista (obstáculo fatal, segundo a expressão usada pelo próprio Bultman em Kerygma und Mythos I). Paulo terá sido incoerente consigo mesmo:

“Só posso compreender o texto de 1Cor 15,1-8 como tentativa de apresentar a ressurreição como um fato objetivo, merecedor de fé. Apenas posso dizer que Paulo, levado por sua apologética, caiu em contradição consigo mesmo” ( Glauben und Verstehen I. Tübingen 1964, 54s).

Passemos agora a

2.2 - A PREGAÇÃO DA IGREJA NASCENTE

2.2.1 - O DESTEMOR DOS APÓSTOLOS

Seriam incompreensíveis o êxito e a força persuasiva da pregação dos Apóstolos, se, depois de haverem feito a dolorosa experiência da Paixão Mestre, não O Tivesse visto realmente ressuscitado.
Sem o encontro com Cristo vencedor, também não se explicaria a Cristologia pascal (ou seja, a doutrina concernente a Cristo morto e redivivo) da Igreja antiga. Com efeito, os Apóstolos e os primeiros cristãos não somente se reconciliaram com a idéia de um Messias padecente, mas também com a de um Messias ausente, que voltará no fim dos tempos. 

Levemos em conta outrossim que, apesar do seu estrito monoteísmo, os Apóstolos no culto sagrado associaram Jesus a Deus Pai, reconhecendo-lhe grandeza e dignidade divinas. Nada disto teria podido ocorrer, se os discípulos não tivessem visto o Senhor ressuscitado e se Ele não vivesse de fato na Igreja nascente mediante o Espírito Santo prometido aos Apóstolos.

A conversão de São Paulo, que de perseguidor se tornou incansável arauto de Cristo ressuscitado, desenvolvendo atividade admirável e fecunda, é outro fato que dificilmente se poderia entender sem a realidade da ressurreição de Cristo.

2.2.2 - O conteúdo da Pregação dos Apóstolos

Em termos mais precisos, perguntamos: que é que os discípulos anunciaram quando começaram a pregar?

O livro dos Atos dos Apóstolos responde a esta pergunta, apresentando-nos textos muito significativos:

At 2,4-40: Pedro, no dia de Pentecostes, explica à multidão o fenômeno das línguas;

At 3,12-26: Pedro, apelando para a obra salvífica de Cristo, esclarece como e por que um paralítico foi curado à porta do Templo de Jerusalém;

At 4,8-12: diante do Sinédrio (tribunal judaico) Pedro explica as ocorrências da última Páscoa.

At. 5,30-32: idem

At 10,34-43: Pedro, em casa do centurião romano Cornélio, faz uma síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus como ponto central;

At 13,17-41: Paulo em Antioquia da Pisídia faz o mesmo.

A propósito obervamos:

É possível averiguar o caráter arcaico de tais trechos: neles se encontram, por exemplo, o eco de locuções bíblicas (At 2,22-24; 10,38…) e hebraísmos (At 2,23; 2,3; 3,20; 10,40…)…Isto significa que estamos diante das camadas mais antigas e das linhas mestras da pregação dos Apóstolos, dirigida aos judeus, que constituíram o núcleo inicial da Igreja.

O tema desse anúncio, como se compreende, é Jesus de Nazaré:


- Anunciado pelos Profetas: At 2,23; 2,27; 3,18; 4,11; 5,30s; 10,40; 13,35…


- Figura histórica, pois há referências ao seu nascimento na casa de Davi (At 13,23; 10,37), ao seu ministério público precedido pela pregação de João Batista (At 2,22; 10,37s; 13,24-31);

- Ressuscitado dentre os mortos, ponto alto de toda a pregação. A ressurreição revela o significado da existência de Jesus, de tal modo que o Evangelho (a Boa Nova) é essencialmente o anúncio da ressurreição. Diz São Paulo em Antioquia:“E nós vos anunciamos a Boa-Nova: Deus cumpriu para nós, os filhos, a promessa feita a nossos pais, ressuscitando a Jesus”(At 13,22). Procurando resumir numa palavra a missão dos Apóstolos, Pedro diz que a sua tarefa principal é a de ser “testemunhas da ressurreição”(At1,22).


2.3 - O CONCEITO DE MESSIAS

Notemos que os judeus do Antigo Testamento não tinham o conceito de um Messias que morreria e ressuscitaria. 

Esperavam, antes, a vinda do seu reino em poder e glória. Se, não obstante, a idéia da ressurreição do Messias logo após a sua morte foi apregoada por Pedro e seus companheiros, parece lógico admitir que os Apóstolos tiveram a experiência de um encontro pessoal com Cristo redivivo após a morte na cruz. 

Sem esta experiência, jamais teriam chegado a proclamar que Jesus ressuscitara dentre os mortos.

Com outras palavras: a idéia de um Messias não glorioso, mas crucificado, era “escândalo para os judeus” (cf. 1Cor 1,23). O fato de que os Apóstolos a aceitaram, seria um enigma se não tivessem visto Jesus ressuscitado.

Observa-se mesmo que os Apóstolos, longe de imaginar que Jesus morto voltaria à vida, perderam o ânimo ao vê-lo presa de seus inimigos, e fugiram. 

Quando lhes foi dada a notícia da ressurreição, relutaram para aceitá-la; não estavam subjetivamente predispostos a conceber a vitória de Cristo sobre a morte. Fizeram-no, porém vencidos pela evidência objetiva do fato; cf. Jo 20,9. 19-29 (episódio de Tomé); Lc 24,13-35 (os discípulos de Emaús); Lc 24,36-43 (Jesus nega ser mero espírito, dá a palpar mãos e pés).

Em outros termos: quem lê os Evangelhos, observa que as aparições de Jesus não se dão após uma expectativa ansiosa dos Apóstolos ou discípulos. Ao contrário, Jesus aparecia de maneira totalmente imprevista, quando os discípulos menos os esperavam.

Nas aparições, é Ele, e somente Ele, quem tem a iniciativa ou quem vai ao encontro… Jesus também desaparece imprevistamente, quando os Apóstolos desejariam tê-lo por mais tempo consigo. Estes dados tornam inaceitável a tese segundo a qual as aparições de Jesus não teriam sido senão subjetivas – visões que, após madura reflexão haveriam sugerido a interpretação; "Jesus ressuscitou”. Segundo os Evangelhos, os discípulos tiveram experiência imediata do Senhor Ressuscitado, que eles puderam identificar com o Crucificado.

2.4  - O SEPULCRO VAZIO

O Texto de Mc 16,1-8 fala das mulheres que encontraram vazio o sepulcro de Jesus na manhã de domingo. A mesma descoberta foi feita por Maria Madalena, segundo Jo 20,1s, e por Pedro, conforme Lc 24,12.

Perguntamos: qual o valor histórico destas narrações?

Admite-se a realidade do sepulcro vazio na base das seguintes razões:

1) Os Evangelhos dão a entender que Jesus foi sepultado por José de Arimatéia, homem rico, que se serviu de uma rocha ainda não utilizada para tal fim. Por conseguinte, o sepulcro de Jesus devia estar em lugar conhecido; a visita das mulheres ao túmulo correspondia bem aos costumes da época.

2) A notícia de que as mulheres encontraram vazio o sepulcro de Jesus, não pode ter sido forjada pela Igreja antiga; quem a inventasse, não teria apelado para dizeres de mulheres, já que as mulheres outrora eram tidas como testemunhas pouco fidedignas. Refere São Lucas que as mulheres, tendo encontrado o sepulcro vazio, “disseram isto aos Apóstolos, mas suas palavras pareceram-lhes um desvario e eles não acreditaram. Pedro, no entanto, pôs-se a caminho, e correu ao sepulcro. Debruçando-se, apenas viu as ligaduras e voltou para casa, admirado com o que sucedera” (Lc 24,10-12).

3) Os inimigos de Jesus não negaram que o túmulo estivesse vazio, mas unicamente trataram de explicar o fato por vias diversas. Eis, por exemplo, o que se lê em Mt 28,11-15): 

“Enquanto as mulheres iam a caminho, alguns dos guardas foram a cidade participar aos príncipes dos sacerdotes tudo o que havia sucedido. Estes reuniram-se com os anciãos e, depois de terem deliberado, deram muito dinheiro aos soldados com esta recomendação: Dizei isto: os seus discípulos vieram de noite e roubaram-no enquanto dormíamos. 

E, se o caso chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que os deixe tranquilos. Recebendo o dinheiro, eles fizeram como lhes tinham ensinado. E esta mentira divulgou-se entre os judeus até o dia de hoje”.

Vê-se, pois, que a tradição do sepulcro vazio é historicamente bem fundada. Ela tem sentido profundo para os cristãos. Sim; ela quer dizer que a mensagem da ressurreição de Jesus implica algo mais que o fato de que “a causa de Jesus continua” (Marxsen). Ela incute que existe continuidade entre o Crucificado e o Ressuscitado; a vida terrestre de Jesus não foi uma fase ultrapassada da existência de Cristo, mas continua presente no corpo do Senhor. O Cristo que ressuscitou, é o mesmo que morreu na cruz; possui o mesmo corpo, embora de maneira diversa.

Deve-se dizer também que a ressurreição de Jesus, à qual ninguém assistiu, deixou de si um sinal impressionante na história humana: o sepulcro vazio. Eis por que a questão do sepulcro vazio não é secundária ou pouco importante.

2.5 - FATO HISTÓRICO


Há aqueles que, embora aceitem o que acaba de ser exposto, afirmam que a ressurreição de Jesus não foi um fato histórico. E por quê?

- Porque ninguém a viu ou a presenciou.

- Respondemos que, na verdade, ninguém viu Jesus ressuscitar na manhã do domingo de Páscoa; os Apóstolos encontraram o sepulcro já vazio. 

Todavia não se vê por que restringir o conceito de histórico aos fatos atestados por testemunhas oculares. 

Mais exato é definir como histórico todo evento que ocorre no tempo e no espaço. Ora, a ressurreição de Jesus aconteceu no tempo e no espaço; por isto deve ser tida como fato histórico. ¹ 

A ressurreição de Cristo, embora se tenha dado sem testemunhas e no plano dos acontecimentos milagrosos, deixou na história os seus sinais ou os seus rastros a partir dos quais se cria a certeza – certeza moral, a certeza própria da historiografia – de que Jesus ressuscitou.


A insistência da Igreja antiga sobre a ressurreição no terceiro dia parece revelar a clara intenção de afirmar que a ressurreição foi um fato realmente histórico, a ponto de se poder indicar a respectiva data Tal intenção é muito clara no discurso de São Pedro proferido em casa do centurião Cornélio:

“Sabeis o que ocorreu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo que João pregou: como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem… 

E nós somos testemunhas do que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém. 

A Ele que mataram, suspendendo-O de madeiro, Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas anteriormente designadas por Deus, a nós que comemos com Ele, depois da Sua ressurreição dentre os mortos. E mandou-nos pregar ao povo…” (At 10,37-42).

Como se vê, a ressurreição ao terceiro dia é inserida entre os fatos históricos de que os Apóstolos e seus ouvintes são testemunhas.

É verdade que a certeza moral – a certeza da historiografia – ainda não é a certeza da fé. A fé pertence a outro plano; tem a sua origem e a sua motivação decisiva na atração interior que Deus exerce sobre a pessoa que Ele chama à fé. Todavia a certeza moral fornece a justificativa à razão do homem, fazendo que a adesão à fé na ressurreição seja um ato razoável, inteligente, digno, e não cego ou infantil, imaturo.

III - CONCLUSÃO

O Homem do século XXI pode crer na ressurreição corporal de Cristo sem recear cair no infantilismo ou na mitologia. Quem nega a ressurreição, fá-lo não porque ela seja em si um absurdo ou porque não haja argumentos que a incutam, mas talvez por não ter refletido suficientemente sobre tais argumentos ou quiçá por nunca ter sido esclarecido a respeito dos mesmos.


Quem, ao contrário, sem preconceitos, sem negar de antemão a possibilidade do milagre, estudar o assunto, perceberá que crer na ressurreição de Cristo é atitude correspondente às exigências da razão, para não se dizer “altamente razoável”

De resto, quem professa as verdades da fé, aos poucos encontra nessa própria fé a demonstração de que não se enganou; a fé se comprova através da experiência ou da vivência respectiva.

Nota:

¹Imaginemos o caso de alguém que morre a sós durante a noite, sem a presença de um acompanhamento, ou de um suicida que se esconde para pôr fim à sua vida…Pode-se dizer que não são fatos históricos? Parece absurdo afirmar tal coisa, visto que são fatos ocorridos no tempo e no espaço.




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