sábado, 12 de novembro de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 24: Imagens nas Igrejas?

Mito 24: "Não se deve ter imagens dos santos nas igrejas"


Deve-se ter, sim.




Diz a Instrução Geral do Missal Romano (n.318):

"De acordo com a antiqüíssima tradição da Igreja, expõem-se à veneração dos fiéis, nos edifícios sagrados, imagens do Senhor, da bem-aventurada Virgem Maria e dos Santos, as quais devem estar dispostas de tal modo no lugar sagrado, que os fiéis sejam levados aos mistérios da fé que aí se celebram."

O que é ponderado, porém, na mesma referência:

"Tenha-se, por isso, o cuidado de não aumentar exageradamente o seu número e que a sua disposição se faça na ordem devida, de tal modo que não distraiam os fiéis da celebração. Normalmente, não haja na mesma igreja mais do que uma imagem do mesmo Santo. Em geral, no ornamento e disposição da igreja, no que se refere às imagens, procure atender-se à piedade de toda a comunidade e à beleza e dignidade das imagens."


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Comentário sobre este Mito (30/10):

Há uns anos atrás, estava eu conversando com as senhoras que cuidam de um local católico, e pediram sugestões para onde colocar uma imagem do Santo Padre Pio de Pietrelcina.

Então eu sugeri, na melhor da intenções: "Na capela, quem sabe..."

Elas quase pularam no meu pescoço e começaram a discursar que já passou o tempo em que se colocava imagens dos santos na capela, e que "depois do Concílio Vaticano II não é mais assim"...


O que pensar disso?

O equívoco destas senhoras, que possívelmente por falta de formação talvez estivessem também na melhor das intenções, é evidente.

Vamos procurar nesta postagem então responder, objetivamente, 3 questões:

- Qual é a nossa fé católica a respeito disso?

- O que o Concílio Vaticano II nos fala a respeito disso?

- O que está por detrás desta tendência à retirada das imagens dos santos que vemos na crise após o Concílio Vaticano II?

Em primeiro lugar, é evidente que pode haver um "devocionismo popular" que nos coloca a mediação dos santos intercessores como se ela fosse independente da Mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Vontade Divina, ou mesmo de uma forma supersticiosa. Um exemplo disso creio que são as famosas correntes de oração à Santo Expedito que prometem uma graça a quem espalhar determinado número de folhetos e folhetos em igreja.

É evidente também que, como mostra a citação do Missal que colocamos acima ("Normalmente, não haja na mesma igreja mais do que uma imagem do mesmo Santo.", pode haver um exagero no número das imagens dos santos e anjos de uma forma que polua o ambiente litúrgico e se repitam desnecessariamente. Já vi uma igreja, por exemplo, com 8 imagens diferentes da Santíssima Virgem, o que considerei um exagero).

Mas partimos da questão central:

O que nos ensina a Santa Igreja a respeito do culto e da Intercessão da Santíssima Virgem e ds santos?


Os santos, que a Santa Igreja canoniza, foram fiéis seguidores de Nosso Senhor, e para nós modelo de virtude. Sobretudo a Santíssima Virgem, que como diz Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Igreja, é modelo de todas as virtudes.

A Santa Igreja honra a Deus com um culto de adoração, que a teologia chama de "latria"; honra normalmente aos santos com um culto de veneração, que a teologia chama de "dulia"; e honra a Virgem Maria com o culto máximo de veneração, que a teologia chama de "hiperdulia".

Embora a Virgem Maria se dê o culto máximo de veneração, é um culto que difere essencialmente do culto de adoração prestado à Deus, como explica o próprio Concílio Vaticano II, falando do culto de veneração à Virgem (Lumen Gentium, n. 66):

"Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente."

Diz o Catecismo da Igreja Católica (n. 957), citando o próprio Concílio Vaticano II (Lumen Gentium, n.49), que os santos que estão no Céu intercedem por nós que estamos na Terra:

"Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Elas não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançam na terra pelo Único Mediador de Deus e dos homens, Jesus Cristo. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio."

Esta mediação dos santos, portanto, é subordinada a Única Mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O Catecismo (n. 969), também citando o Concílio (Lumen Gentium, n. 61-62), destaca o papel da intercessão da Santíssima Virgem:


"De modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, ela cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por este motivo Ela se tornou para nós Mãe na Ordem da Graça (...) Esta Maternidade de Maria na economia da graça perdura inunterruptamente, a partir do consentimento que Ela prestou na anunciação que, sob a cruz resolutamente manteve, até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assunta aos céus, não abandonou este múnus salvífico, mas, por sua múltipla intercesão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna (...). Por isso, a Bem-Aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protetora e Medianeira."

Continua o Catecismo, ainda citando o Concílio (n. 60), frizando a subordinação a Unica Mediação de Cristo também a Santíssima Virgem:

"A missão materna de Maria em favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui a Mediação Única de Cristo; pelo contrário, até ostenta Sua Potência, pois todo o salutar influxo da Bem-Aventurada Virgem (...) deriva dos superabundantes méritos de Cristo, estriba-se em Sua Mediação, dela depende inteiramente e dela aufere a sua força."

O Concílio Vaticano II, por fim, exortou: "os teólogos e os pregadores da palavra divina a que, ao considerarem a singular dignidade da Mãe de Deus, se abstenham com cuidado, tanto de qualquer falso exagero, como também de demasiada pequenez de espírito." (Lumen Gentium, 67)

Portanto, por um lado, se há um falso exagero naqueles que afirmam que a Virgem Maria seria a "quarta pessoa da Santíssima Trindade" ou a "encarnação do Espírito Santo" (como já ouvi!), por outro lado não podemos falar da Virgem Maria com um espírito de pequenez, como se ela fosse simplesmente uma fiel seguidora de Nosso Senhor, e ignorar aquilo que a Ela é: Virgem Mãe de Deus, Imaculada, Assunta ao Céu em Corpo e Alma, Rainha do Céu e da Terra.

Em outros termos, poderíamos colocar o papel dos santos na nossa salvação da seguinte forma: quem salva é Cristo, Único Mediador entre Deus e os homens (ITim, 2,5). Mas quem salva é o Cristo inteiro, o Corpo de Cristo todo, que é a Igreja, Cabeça e Membros (ICor 12,27).

Neste sentido, pela nossa intercessão, todos somos chamados a colaborar na Redenção, e de alguma sermos "co-redentores" (Col 1,24), como explica o Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, no seu livro "Maria, Espelho da Igreja"; a Santíssima Virgem é "Co-Redentora" por excelência (papas usaram este termo para referir-se a Ela) pois colaborou na Redenção de uma forma toda especial.

Aliás, se nós que somos membros da Igreja e estamos na terra, podemos rezar uns pelos outros, porque não o faríamos no Céu, quando estamos mais próximos ainda de Deus?

Ainda em relação a intercessão da Virgem e dos santos, dois grantes teológos marianos da Igreja nos explicam maravilhosamente o papel da hierarquia celeste (intercessão da Virgem e dos santos) para que as graças de Deus chegem a nós e o quanto é ato de humildade para nós suplicarmos a intercessão Deles.

Pois os santos que estão no Céu estão mais próximos de Deus do que nós, e existe uma ordem hierarquica no derramamento das graças.

Nos ensina Santo Afonso de Ligório (livro "A oração", cap.1):

"A ordem estabelecida por Deus, segundo Dionísio, é que todas as coisas sejam referidas a Deus, por meio das últimas mediações. Ora, como os santos do céu estão próximos de Deus, a ordem da lei divina requer que nós, enquanto viveremos neste mundo e estivermos longe do Senhor, sejamos conduzidos a Ele pelos santos que são os medianeiros. E isso acontece quando Deus derrama por eles, sobre nós, os efeitos de sua Bondade. Nossa volta para Deus deve corresponder ao curso da distribuição de suas graças. Assim como os benefícios de Deus chegam até nós pela intercessão dos santos, do mesmo modo devemos nós chegar até Deus, a fim de recebermos novamente seu auxílio, por intermédio dos santos. Esta é a razão porque temos os santos como nossos intercessores e ao mesmo tempo como nossos medianeiros, diante de Deus, pedindo-lhes que roguem por nós. (...) Não é por defeito de seu misericórdia, senão para que seja mantida a ordem supra explicada."
Continua Santo Afonso:

"É verdade que devemos invocar só a Deus como Autor das graças. Entretanto, somos obrigados também à intercessão dos santos, para observar a ordem, que Deus estabeleceu para a nossa salvação, isto é, que os inferiores se salvem, implorando o auxílio dos superiores. E, se assim é, falando dos santos, quanto mais não devemos recorrer também à intercessão da Divina Mãe, cujas súplicas, junto de Deus, valem mais do que as de todos os santos do paraíso?"
São Luis Maria Montfort também afirma ("Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", n.83):

"É muito mais perfeito, porque é mais humildade, tomar um medianeiro para nos aproximarmos de Deus. Se nos apoiarmos sobre nossos próprios trabalhos, habilidades, e preparações, para chegar a Deus e agradar-lhe, é certo que todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas e peso insignificante terão junto de Deus, para movê-lo a unir-se a nós e nos atender, pois como acabo de demonstrar, nosso íntimo é extremamente corrupto. E não foi sem razão que Ele nos deu medianeiros junto de sua majestade. Viu nossa iniquidade e incapacidade, apiedou-se de nós, e para dar-nos acesso às suas misericórdias, proporcionou-nos intercessores poderosos junto de sua grandeza."
Também o Papa Bento XVI, quando esteve no Brasil, na homilia da canonização do Frei Galvão, disse:

"Não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora."
Medianeira de todos as Graças. Assim é a Virgem Maria, e é digna de ser venerada como tal!

Este culto à Virgem Maria e aos santos se expressa, entre outras formas, através do culto à Suas Santas Imagens. A acusação protestante de que a Santa Igreja Católica cai na idolatria ao cultuar as Santas Imagens também carece de fundamento, pois um estudo atento das Sagradas Escrituras mostra que Deus não proíbe em si mesma a confecção de imagens dos que estão no Céu, como os protestantes alegam. O que Deus proíbe é a idolatria às imagens que havia nas práticas dos povos pagãos (Ex 20, 1).

Prova disso é que Ele mesmo ordena à seguir que se faça a imagem de dois querubins (Ex 25, 18)!

A respeito das santas imagens, o Concílio Vaticano II exorta a "observar religiosamente quanto foi estabelecido no passado acerca do culto das imagens de Cristo, da bem-aventurada Virgem e dos santos." (Lumen Gentium, 67)

O Concílio se refere naturalmente ao que foi definido em Nicéia e Trento. Afirma o II Concílio de Nicéia (ano 787):

"Nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim as venerandas e sagradas imagens pintadas quer em mosaico ou em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos sagrados, nas paredes e mesas, nas casas, e ruas; sejam elas imagem do Senhor Deus e Salvador nosso Jesus Cristo, ou da Imaculada Senhora nossa, a Santa Mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e justos. (...) Com efeito, quanto mais essas imagens forem contempladas, tanto mais os que virem serão levados à recordação e ao desejo dos modelos originários e a tributar-lhes, beijando-as, respeito e veneração. (...) A honra tributada a imagem, na realidade, pertence aquele que nela é representado; e quem venera a imagem, venera a realidade daquele que nela é reproduzido."
O Concílio de Trento (séc. XVI), por sua vez, afirma:



"Quanto às Imagens de Cristo, da Santíssima Virgem e de outros Santos, se devem ter e conservar especialmente nos templos e se lhes deve tributar a devida honra e veneração, não porque se creia que há nelas alguma divindade ou virtude pelas quais devam ser honradas, nem porque se lhes deva pedir alguma coisa ou depositar nelas alguma confiança, como outrora os gentios, que punham suas esperanças nos ídolos (cfr. Sl 134, 15 ss), mas porque a veneração tributada às Imagens se refere aos protótipos que elas representam, de sorte que nas Imagens que osculamos, e diante das quais nos descobrimos e ajoelhamos, adoremos a Cristo e veneremos os Santos, representados nas Imagens.

Isto foi sancionado nos decretos dos Concílios, especialmente no segundo de Nicéia contra os iconoclastas. (...) Se alguém ensinar ou pensar de modo contrário a estes decretos — seja excomungado."

Em tempo: o "iconoclasmo" é a tendência de, contrapondo-se a tudo o que estamos dizendo, querer abolir o culto referentes as Santas Imagens. Se fez presente, de forma muito concreta, na Revolução Protestante, diante da qual o Concílio de Trento se opõe, reafirmando a fé e a tradição litúrgica católica.

Também o Catecismo (n. 1159-1161) confirma tudo isso, nos colocando as Santas Imagens na Liturgia como imagem do Mistério da Encarnação:

"A imagem sagrada, o «ícone» litúrgico, representa principalmente Cristo. Não pode representar o Deus invisível e incompreensível: foi a Encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova «economia» das imagens: A iconografia cristã transpõe para a imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra esclarecem-se mutuamente."
Também sobre as Imagens da Virgem Santíssima e dos santos, o Catecismo nos confirma (n. 1161):

"Todos os sinais da celebração litúrgica fazem referência a Cristo: também as imagens sagradas da Mãe de Deus e dos santos. De facto, elas significam Cristo que nelas é glorificado; manifestam «a nuvem de testemunhas» (Heb 12, 1) que continuam a participar na salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Através dos seus ícones, é o homem «à imagem de Deus», finalmente transfigurado «à sua semelhança», que se revela à nossa fé – como ainda os anjos, também eles recapitulados em Cristo."

Também o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", também nos fala desta questão, também relacionando ao Mistério da Encarnação:

"A isenção das imagens não é compatível com a Encarnação de Deus. Mediante os seus atos históricos, Deus entrou no mundo dos nossos sentidos, a fim de se tornar transparente em relação a ele. A imagens do belo, que tornam visível o mistério de Deus invisível, fazem parte do culto cristão."
E conclui, com a sua característica clareza:

"O iconoclasmo não é uma opção cristã."
O Papa ainda nos explica a respeito do sentido espiritual das Santas Imagens:



"As imagens de Cristo e dos santos não são fotografias. A sua natureza é conduzir para além daquilo que se consegue comprovar somente ao nível material, despertar os sentidos interiores tal com ensinar um novo olhar, capaz de distinguir o invisível dentro do visivel. A sacralidade da imagem baseia-se presisamente na sua proveniência do olhar interior, o qual gera uma visão interior. Ela deve ser fruto de uma contemplação interior, de um encontro da fé com a nova realidade do Ressucitado que gera o olhar interior e leva ao encontro da oração com o Senhor. As imagens são assistentes da Liturgia; consequentemente, a oração e a contemplação, em que elas se formam, devem participar na oração e na visão contempladora da Igreja; tanto a dimensão eclesiástica como a ligação interior à História da fé, inclusive escritos e tradição, que são componentes essenciais da arte sacra."

E São João Damasceno testemunha, em citação que aparece também no Catecismo (n. 1162):

"A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para os meus olhos, e, tal como o espectáculo do campo, impele o meu coração a dar glória a Deus."

Portanto, as imagens dos santos, na Liturgia, nos recordam deles como nossos modelos e intercessores, a quem honramos com culto de veneração. E como modelos que são, nos apontam para o Mistério Eucarístico que se compre no altar.

E quando ao Mito de que o Concílio Vaticano II se contrapôs ao culto referente as Santas Imagens do Santos, o que pensar?
Muitos hoje afirmam que o Concílio Vaticano II tem dito "isso" e "aquilo", mas nunca abriram um documento do Concílio para ver o que ele realmente diz.

Como podemos perceber em tudo que falamos acima, ao contrário de se comtrapor ao culto das Santas Imanges dos santos, o Concílio VALORIZOU tal culto. Retomemos o que diz a Lumen Gentium (n; 67), do Concílio Vaticano II, que exorta a "observar religiosamente quanto foi estabelecido no passado acerca do culto das imagens de Cristo, da bem-aventurada Virgem e dos santos." (Lumen Gentium, 67).



Repetir o Mito de que o Concílio Vaticano II se contrapôs a este culto referentes as Santas Imagens é o típico exemplo do que o Papa Bento XVI tem chamado de "hermenêutica da ruptura", que consiste em interpretar o Concílio em descontinuidade com os pronunciamentos anteriores do Sagrado Magistério da Igreja.

Com efeito, o Papa Bento XVI, mais concretamente desde o seu discurso de 22 de Dezembro de 2005 aos Cardeais, Arcebispos e Prelados da Cúria Romana, tem defendido a chamada "hermenêutica da continuidade", isto é, a compressão do Concílio Vaticano II em comunhão com os pronunciamentos anteriores do Sagrado Magistério.

O Concílio Vaticano II é um concílio autêntico, mas é o 21º Concílio da História da Santa Igreja. Antes dele, há 20 outros Concílios!

E além disso, o texto do Concílio Vaticano II é claro em confirmar, efetivamente, o culto relacionado as Santas Imagens.

Vamos agora a ultima questão:

O que está por detrás desta tendência à retirada das imagens dos santos que vemos na crise após o Concílio Vaticano II?

Com efeito, houve após o Concílio um "novo iconoclasmo", como o Papa reconhece no seu mavilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia":

"...o Iluminismo baniu a fé para uma espécie de gueto intelectual e social; a cultura atual afastou-se dela e tomou um outro curso, de maneira que a fé ou se refugiou no historicismo, imitando o passado, ou se perdeu na resignação e na abstinência cultural, o que posteriormente conduziu a um novo iconoclasmo, que por muitos foi visto praticamente como o encargo do Concílio Vaticano II. O iconoclasmo, cujos primeiros sinais na Alemanha retomam com certeza aos anos vinte, eliminou muito de indigno e de Kitsh, mas também deixou um vazio, cuja pobreza estamos hoje a sentir fortemente. Como é que as coisas hão-de continuar? Vive-se atualmente uma crise numa dimensão jamais vista não só na arte sacra, mas também na arte em geral."
O Papa relaciona, portanto, este "novo iconoclasmo" do século XX a crise cultural, que mais profundamente é uma crise de fé.

Essa crise traz para a Liturgia uma espécie de mentalidade "funcional", que é uma mentalidade do "não-precisa", em que quer-se abolir justamente aquilo que nos aponta para o Mistério, para o Céu, para aquilo que "não é possível abarcar" dentro da nossa cabeça; quer-se abolir também os "intermedários" entre nós e Deus, abolindo as imagens dos santos e anjos, partindo de uma mentalidade que no fundo, pensa: "eu, por mim mesmo, posso chegar até Deus".

O Papa prossegue, explicando da seguinte forma:

"A crise de arte reflete, por sua vez, a crise da existência humana que, precisamente em tempos de extremo aumento de domínio mundial ao nível material, atingiu - face as questões transcendentes de orientação humana a nível material - um estado de cegueira que quae pode ser desdignado por uma cegueira de espírito. Deixou de haver respostas comuns a vários tipos de perguntas: como havemos de viver, como podemos lidar com o problema da morte, se nossa existência tem um porquê e qual (...) Assim, o nosso mundo visual já não trancende as aparições dos sentidos, sendo a torrente de imagens que nos rodeiam o fim da imagem em si: além do fotografato, já não há nada para ver. Sendo assim, nem a Arte dos Ícones nem a Arte Sacra podem existir, pois elas baseiam-se num olhar mais extenso."

Depois do Concílio Vaticano II, esta tendência iconoclasta foi reforçada pelas idéias modernistas de um indiferentismo religioso, em que "tanto faz ser católico ou protestante".

Há liturgistas modernistas, que aderem a este indiferentismo religioso, que compreendem bem o valor dos símbolos para o ser humano, e para que suas novas concepções teológicas litúrgicas sejam aos poucos assimiladas, desejam abolir os sinais externos que apontam para aquilo que a Santa Igreja sempre acreditou; e nesta questão das imagens, para minimizar as diferenças entre católicos e protestantes, desejam que as imagens da Santíssima Virgem e dos santos vão deixando de ser utilizadas.

Muitos até, talvez até bem intencionados, aderem a este processo, na tentativa de agradar os protestantes.

A consequência é a fé católica é que sai ferida, pois os próprios fiéis católicos ficam confusos com isso, e a Santa Igreja nunca quis que a verdade deixasse de ser evidenciada. A catequese e a aplogética (arte de defender a fé) da Santa Igreja sempre se deu, em sua tradição litúrgica, também pelos SINAIS EXTERNOS.

É preciso perceber esta movimentação modernista e revolucionária que existe hoje, para nos posicionarmos.

Com efeito, essa tendência de se retirar das igrejas e capelas as imagens dos santos é modernista e tende ao protestantismo, no sentido de negarmos elementos que nos fazem católicos.

Penso que a imagem da Santíssima Virgem próxima ao altar é algo que NÃO deve faltar, e que é muito importante uma imagem do Castíssimo São José (que na teologia católica, abaixo da Virgem, está acima de todos os demais anjos e santos) e, se for o caso, do santo padroeiro da igreja ou capela.
Em relação a Virgem Maria, com efeito, Ela é Mulher Eucarística, como afirma o saudoso Papa João Paulo II na Ecclesia de Eucharistia (n. 53), a critura que está mais intimamente ligada ao Santo Sacrifício do Seu Diviníssimo Filho; adorando-O no Céu e no Santíssimo Sacramento, Ela oferenceu o Seu Filho ao Pai no Calvário para a nossa salvação, de alguma se ofereceu junto com Ele em Sacrifício.

O Cardel Agostinho Bea, confessor do Papa São Pio X (conhecido como "Papa do Santíssimo Sacramento"), afirmou que a Virgem, desde o momento de Sua Gloriosa Assunção em Corpo e Alma ao Céu, "pode encontrar-se corporalmente onde quer que se implore Sua Intercessão Maternal e Poderoso Auxílio". E o Papa João Paulo nos fala em uma de suas catequeses (26/07/1997): "A Assunção favorece a plena comunhão de Maria não só com Cristo, mas também com cada um de nós; Ela está ao nosso lado, porque o Seu estado Glorioso lhe permite acompanhar-nos no nosso ininerário diário".

Em vista desta presença da Virgem junto a Eucaristia, São Pedro Julião Eymard lhe dá o título de "Senhora do Santíssimo Sacramento".

Existe, portanto, uma PRESENÇA MARIANA misteriosa junto aos altares de Deus, e a imagem da Virgem próxima ao altar aponta pra isso!
Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que a Grande Mãe de Deus, Mulher Eucarística, Virgem da Eucaristia e Mãe do Santíssimo Sacramento, pela sua Poderosa Intercessão, junto com todos os Anjos e Santos de Deus, nos concedam a graça de, também pelas suas santas imagens, amar, adorar e defender o nosso Deus Amor-Sacramento, bem como todos os Mistérios da Fé Católica...
Por Francisco Dockhorn

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