domingo, 18 de setembro de 2011

Catequese - XXV Domingo do Tempo Comum



Evangelho comentado pelo Pe Carlo Battistoni
Postado por Jorge Kontovski em 16 setembro 2011 às 9:58

XXV Domingo do Tempo Comum 
Mt 20,1-16

« O reino dos céus é comparável a um proprietário que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Depois que combinou a quantia de uma diária com os trabalhadores, eles os mandou para a sua vinha. Saindo por volta das nove, viu outros, que estavam na praça desocupados. Disse-lhes: “Ide também vós para minha vinha, e vos darei o que for justo”. E eles foram. Saiu ainda por volta das doze e das três da tarde, e fez a mesma coisa. Ao sair por volta das cinco da tarde, encontrou ainda outros que lá estavam, e lhes disse: “Por que ficais o dia inteiro sem trabalhar”. Responderam-lhe: “Porque ninguém nos contratou!”. Ele lhes disse:”Ide também vós para a minha vinha”.Quando chegou a tarde, o proprietário da vinha disse ao seu administrador: “Chama os trabalhadores e paga-lhes a quantia combinada para a diária, começando dos últimos e acabando nos primeiro”. Então chegaram os que tinham ido pelas cinco, e recebeu cada qual a quantia de uma diária inteira! Quando chegaram os primeiros, eles pensaram que iam receber mais. No entanto, também receberam só a quantia combinada. Recebendo-a, resmungavam contra o proprietário. E diziam: ‘Estes últimos só trabalharam uma hora, e os igualaste a nós que suportamos o cansaço de um dia inteiro de trabalho debaixo de um sol quente”. Mas o proprietário disse a um deles: “Meu amigo, não te faço injustiça. Não é verdade que combinaste comigo receber só a quantia de uma diária? Toma a tua quantia e vai embora. Mas quero dar a este último tanto quanto a ti, acaso não posso fazer o que quero com as minhas coisas? Ou são maus teus olhos porque eu sou bom?”. Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos».

PALAVRA DA SALVAÇÃO - Glória a Vós, Senhor!


Grande parte da pregação de Jesus é caracterizada do esforço de fazer compreender aos judeus uma imagem de Deus bem mais humana daquela pressuposta pela mentalidade legalista. Assim, quando a o homem se deixa envolver por uma lógica que não mede, calcula e avalia em base a metas alcançadas ou a serem alcançadas, nasce a possibilidade de uma qualidade nova de relações tanto com os outros quanto com o próprio Deus. O resultado não fica mais no centro de tudo, a este ponto no coração não reina mais o princípio do resultado, do “certo e errado”; reinam outros valores. 

Pois bem, esta situação nova dentro do coração do homem é chamada: “reino dos céus”. Ou seja, nele reinam os mesmos valores que reinam no “Céus”, em Deus. É uma realidade tão complexa que Jesus nunca a define, ele só encontra analogias possíveis para que as pessoas entendam “grosso modo” do que ele está falando. Também a imagem do Reino que hoje nos é proposta é introduzida pela expressão : “O reino dos Céus é como...”; talvez para compreende-lo melhor (na nossa linguagem), permito-me modificar a frase de Jesus em: “O Reino dos Céus é como quando...”. Com este modo de falar, parece que Jesus esteja sugerindo uma pergunta implícita que deveria surgir espontaneamente no final da narração da historia, ou seja: “Qual é o sentimento que se tem dentro, quando....? Pois é, o Reino é análogo a isto”. Veremos como as “metas” não representam o essencial da parábola, nem os resultados, mas sim, o que é gerado ao longo de uma história é quanto pode fazer a diferença. Vamos nos colocar nesta posição para que a palavra de Jesus possa penetrar e ter em nós os efeitos esperados.

A imagem - historia de hoje é construída num dia qualquer, num dos tantos becos da cidade quando, ao amanhecer, os homens começavam a sua faina diária com a pergunta que ninguém pronuncia por medo da resposta, mas que está enraizada no coração: “O que eu vou trazer para casa esta noite ?”. Os pequenos artesãos carregavam suas caixas de ferramentas: um serrote, um martelo, alguns pregos.... fios, agulhas para consertar as lonas que cobrem as portas das casas.... Tinha quem não carregava nada mais que suas mãos: o dom que Deus lhes havia dado para sustentar suas famílias. Sentados nas calçadas, envolvidos em seus longos trajes esperavam de serem chamados para o trabalho. É uma imagem muito comum ainda hoje naquelas terras.

O quadro se nos apresenta como numa das tantas madrugadas do período em que a safra precisava urgentemente de operários, como bem o sabem todos os agricultores que correm o risco de perder sua colheita de uva se, por acaso, começar a chover uma vez começada a safra. Era a época da colheita, como as circunstancias nos sugerem. Jesus sabia que, ao falar em “vinha”, qualquer judeu recordaria o belíssimo simbolismo que nas antigas Escrituras (Is. 5) comparava Israel a uma “vinha” que Deus havia plantado com atenção e carinho, cuidando dela e protegendo-a dos animais selvagens. 

Uma vinha na qual Ele por primeiro havia trabalhado longamente. Aquela vinha da qual Jesus falava com a parábola, era o símbolo daquilo que é sentido por Deus como sua propriedade. No símbolo da vinha estava presente não somente Israel mas todo homem, o homem realizado. É para esse homem que convergiam o esforço e as esperanças do Senhor.

Era a época da colheita, a época da alegria, a época em que qualquer pessoa sensível fica admirada com a imutável e constante generosidade da natureza. Na parábola, transparece a urgência do proprietário da vinha para que a sua colheita seja encerrada, a urgência de que todos possam ver a beleza de sua vinha. Hoje, infelizmente, perdemos grande parte dos valores ligados à colheita, pois a dimensão econômica sufocou coisas bem mais valiosas. 

Contudo, ainda alguns tempos atrás, a colheita era celebrada também em nossas terras como uma festa; o “quanto” tivesse rendido era muito relativo; a festa era a parte mais bonita do evento da colheita. Também na época de Jesus a festa era bem mais importante do que aquele ídolo que chamamos “quanto” e com o qual medimos tudo. A festa era dada para todos os que haviam trabalhado os quais, junto com o dono, eram os protagonistas da festa; para ela também outras pessoas, vizinhos, parentes etc. podiam ser convidados, mas os protagonistas eram o dono e os trabalhadores, os quais sentavam junto à mesa tomando do mesmo vinho, o do ano anterior. Entende-se assim como a parábola quer superar a simples relação trabalho-resultado, sugerindo-nos que o Reino de Deus não se limita numa relação pela qual o homem faz algumas coisas e Deus dá algo em troca. Esta é uma barganha mesquinha, mesmo que mascarada por alguma forma religiosa. 

O que Deus quer é algo bem maior, é ver sentados à mesa, junto de si, na dignidade de protagonistas, pessoas que pouco antes estavam sentadas nas calçadas, esperando a possibilidade de terem o mínimo suficiente para o sustento.

Algumas expressões dos Evangelhos, nos sugerem que a idéia de “vinha”, para Jesus, superava a imagem do Israel do Antigo Testamento para se abrir à humanidade inteira, ao mundo. A vinha é então o nosso mundo, e neste mundo Deus trabalha sempre, Deus age de inúmeras formas para que o homem possa ser existencialmente o que essencialmente é. A parábola é endereçada então àqueles que são chamados a colaborar com Deus para que aconteça a “festa do reino”. Que se trate da Igreja inteira? De algumas pessoas dentro dela? Ou talvez as duas coisas juntas? O certo é que Deus convida alguém para partilhar a alegria de colher os resultados daquilo que Ele faz em todos os homens. Deus confia esta tarefa à comunidade cristã a qual, hoje como sempre, tem a missão de recolher, de receber todas as pessoas que, depois de tantas vicissitudes através das quais Deus moldou seus corações, chegam a procurar buscar um novo sentido para as suas vidas. São pessoas que alcançam a maturidade própria daqueles que aprenderam a reconhecer para onde vale a pena orientar a própria existência.

Jesus, como o patrão da parábola, não convida apenas para o trabalho, mas para participar da festa. Contudo, é o trabalho que antecede a festa. E este determinará se o Reino está presente ou não no coração de pessoas que desenvolvem o mesmo trabalho. Veremos duas maneiras de reagir.

Se levarmos em consideração que, conforme a crença da época, algumas horas do dia correspondiam às idades das pessoas, a parábola indica que Deus chama o homem a qualquer idade, tanto que esteja se abrindo ao dia quanto que esteja perto da última hora, ninguém está excluído da possibilidade de participar da festa da colheita. Em cada um o Senhor vê apenas se ele está em atitude de espera, sentado na praça esperando, mesmo que até a última hora o operário não tenha encontrado quem o chamasse. Tanto o jovem, rico de perspectivas, quanto aquele que viu passar sua vida sem conseguir dar para alguém o que possui, quanto aquele que vê aproximar-se inexoravelmente o fim das esperanças de dar um sentido à sua espera, para todos o Senhor se faz presente.

Decorrente disso, a parábola apresenta algumas circunstâncias que provocam três relações diferentes entre os operários e o proprietário. Com os primeiros, que se sentiam privilegiados, pois era costume que se escolhessem os operários mais fortes e saudáveis, o proprietário estabeleceu um contrato, prometeu o que os operários esperavam como sendo o seu direito: uma moeda de prata. Aos segundos, o proprietário chama prometendo «o que for justo» sem definir do que se trata; este modo de fazer deixava espaço a qualquer expectativa, a única certeza dos operários era a palavra dada e a certeza da lealdade do senhor, mesmo que ninguém deles esperasse uma diária completa. 

Aos terceiros o senhor não prometeu nada. Chamou também aqueles que ninguém havia contratado, talvez porque já suas mãos não pudessem suster o peso de um barril de uva. A esses restava uma outra, ultima, perspectiva, a de confiar na bondade do senhor que daria “algo” em troca do pouco que podiam oferecer... mas sem terem alguma certeza nem a possibilidade de arrogar direitos.

Temos assim três comportamentos do proprietário e três relações diferentes possíveis nos corações daqueles que trabalham para o Senhor: agir movidos pelo direito adquirido, já sabendo o que se vai receber, agir movidos pela confiança na fidelidade do Senhor, ou agir entregues à sua bondade. 

Embora estivesse pronta para todos, somente alguns participaram da festa! Os que endureceram seu coração, preocupados somente com o próprio direito, receberam somente o próprio direito, pois isto lhes havia impedido de partilhar da alegria daqueles que não estavam esperando muito e receberam mais do que esperavam. Aos que «resmungavam» o senhor convidou para pegar o que queriam e ir embora: «pegue o que é teu e vai para a tua casa» … ricos somente do próprio “direito” sem alegria. Aquele tipo de “casa”, feita de “direitos” era a “Casa deles” não do Senhor, onde não haveria espaço, clima, para aquela mentalidade numa festa onde todos se alegram uns pelos outros; numa festa onde o “quanto” não existe, numa festa onde a dignidade de poder ser protagonista não é negada sequer a quem jamais o esperaria. 

A todos os outros foi entregue a riqueza que vale mais do que a diária: todos descobriram quem é, de fato, Deus. Nisto consiste o Reino, na paixão amorosa entre Quem dá largamente e quem se sente, gratuitamente, objeto daquela bondade que supera o direito. O Reino é alegria de ver feliz o outro, que Deus ama. É amar o que Deus ama.

Quando se encontra a gratidão ali está também o Reino, quando se “resmunga”, ou se “reivindica” algo perante Deus, ali está o nosso “eu” que senta no trono de Deus. Trabalhar para o Senhor, logo, não é sinônimo de possuir o Reino ou dele participar; alegrar-se com a bondade do patrão que «faz chover sobre justos e injustos» (Mt 5,45) isto sim.

O dono da vinha passou, passou de madrugada contratando pelo preço com o qual normalmente se pagava uma diária: uma moeda de prata. Alguns foram contratados, outros não. Evidentemente os primeiros a serem contratados são os que têm braços mais fortes. Com estes primeiros o dono estabelece um “contrato”, ou seja, estabelece um relacionamento baseado sobre uma norma, uma lei; cada um sabe o que deve dar e o que deve receber.

Mas na vinha do dono há muito para fazer, e ele sai de novo, uma, duas, três vezes, sai até quando ninguém, com a mentalidade comum, de “bom senso”, sairia para buscar trabalhadores, às 17:00 horas, isto é, uma hora antes que acabe o dia de trabalho. Só que há um detalhe: à diferença dos primeiros, o dono contrata todos os outros com esta expressão: «Te darei o que é justo».

Vem o final do dia, o momento em que deverá ser evidenciado o que é o Reino. Tentemos nos deixar envolver.

Os primeiros a serem pagos são surpreendidos pela grandeza de coração do dono, eles recebem o que não esperavam mais; o dono não se prende a um contrato: a justiça do dono supera a lei, não se limita a um comum acordo. O “certo” e “errado” na maioria das vezes não fazem justiça; como nesta situação. O dono leva em consideração todos os dramas que passavam nos corações dos homens na medida em que o dia corria: o sol levantava e se punha e ninguém os tinha contratado; o desespero e a frustração de quem tem algo para dar e ninguém quer, parecem tomar conta; o dia parece perdido, sem significado (como nos acontece freqüentemente; como percebemos nos olhares das pessoas de idade não valorizadas por uma sociedade com o mito da eficiência; como sentimos quando nos encontramos em situações que parecem não ter retorno...). 

“O que levarei hoje para casa? Com que olhar de vergonha abrirei minha porta?" deviam ser as perguntas que cada um, em seu silêncio estava fazendo. Esta é Justiça. Esta é a justiça de Deus. Ela leva em consideração o que não imaginamos, é capaz de surpreender e fascinar quem está aberto, quem se alegra com quem a alegria do outro. Quão triste e mesquinho é o outro sentimento, baseado sobre uma justiça “medida”, calculada ! Não há alegria, também a paga do dia parece triste.

O nosso Deus é capaz de vir ao nosso encontro a qualquer momento, principalmente quando menos o esperamos, mas o que teria acontecido se os trabalhadores não contratados de manhã tivessem desistido de esperar? Tivessem renunciado em confiar em algo que parecia tão impossível? 

Deus te abençoe !
Pe. Carlo


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