terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 4: Consagração

Mito 4: "Na consagração deve-se estar em pé" 

Não.



Na Consagração os fiéis devem estar de joelhos, em sinal de adoração.Quanto a isso a lei da Santa Igreja é clara em afirmar na Instrução Geral no Missal Romano (n. 43), que determina que os fiéis estejam "de joelhos durante a consagração, exceto se razões de saúde, a estreiteza do lugar, o grande número dos presentes ou outros motivos razoáveis a isso obstarem. Aqueles, porém, que não estão de joelhos durante a consagração, fazem uma inclinação profunda enquanto o sacerdote genuflecte após a consagração." 

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Comentário sobre este Mito (30/04):

Começo relatando dois absurdos:

1. Um curso de formação (?) litúrgica, onde se ensinou que na Consagração os fiéis não devem estar de joelhos, mas de pé, em sinal de prontidão (!!!) Ora, isso atenta diretamente contra o espírito da Liturgia e as próprias determinações expressas do Missal, como vimos acima.

2. Uma livraria católica (?) onde estava sendo vendido um livro que dizia algo como: se ajoelhar é sinal de humilhação, e não devemos nos humilhar diante de nada nem de ninguém (!!!).

E partindo-se do princípio da nossa fé católica Presença Real e Sacramental de Nosso Senhor Jesus Cristo na Hóstia Consagrada, e do seu Santo Sacrifício que é renovado na Santa Missa (ver Catecismo da Igreja Católica, n. 1362-1372; 1374-1377; 1411), percebemos que esta questão é gravíssima!

Para compreendermos melhor a gravidade de tudo isso, passemos a palavra ao Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia":


"É possível que a posição de joelhos se tenha tornado estranha à cultura moderna - na medida que esta última se tenha afastado da Fé, não reconhecendo mais Aquele perante o qual o gesto correte é instrinseco é - estar de joelhos. Quem aprende a ter fé, também aprende a ajoelhar-se; uma Fé ou uma Liturgia que desconhecesse a genuflexão seria afetada num ponto central. Onde ela se perdeu, tem que ser reaprendida, para que a nossa oração permaneça na Comunidade dos Apóstolos, dos Mártires, de todo o Cosmos e em união com o próprio Jesus Cristo."

Com efeito, o Papa friza que aqui NÃO estamos falando de um elemento acessório da Sagrada Liturgia, mas a um elemento CENTRAL, pois diz respeito a ADORAÇÃO A DEUS!

Com efeito, vemos hoje, também no campo litúrgico, um movimento revolucionário igualitarista, que odeia toda a forma de superioridade, e por isso todo o tipo de hierarquia, e que em última instância quer livrar-se de Deus, ou em sua forma atenuada, da idéia de manifestar a adoração devida a Ele.

E o Papa escreve também, entrando concretamente neste problema:

"Há círculos com bastante influência que tentam dissuadir-nos de nos ajoelhar. A argumentação é a de esse ato não condinzer com a nossa cultura (aliás, com qual?) de não ser adequado para uma pessoa reta e emancipada que encara Deus, ou então não ser apropriado para uma pessoa livre, não necessitando, consequentemente, de ajoelhar-se."

Continua o Papa, mostrando a origem cristã do ato de dobrar os joelhos para adorar:


"Com efeito, a posição de joelhos dos Cristão não é nenhuma forma de inculturação de costumes existentes, mas sim a expressão da cultura cristã, capaz de transformar uma cultura existente devido a uma nova e mais profunda compreensão da experiência de Deus.

A origem da genuflexão não se encontra numa cultura qualquer - ela é provienente da Bíblia e do seu conhecimento de Deus. Na Biblia, o significado central da posição de joelhos poe observar-se pelo fato da palavra Proskynein surgir 59 vezes só no Novo Testamento, das quais 24 vezes no Apocalipse - o livro da Liturgia Celeste, que é apresentada à Igreja como padrão da Liturgia."

Com efeito, diz o Salmo 94: "Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos diante do Senhor que nos criou." (v.6) Na Sagrada Liturgia, esse gesto passou a simbolizar a adoração a Nosso Senhor, presente no Santíssimo Sacramento, como o próprio São Paulo escreve: "Ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, no céu, na terra e nos infernos." (Fl 2,10)

Nessas tristes situações que citamos, vejo algo como se fosse uma "joelhofobia", e isto está em desacordo com o espírito da liturgia e em desobediência explícita à lei da Santa Igreja. Escuto para isso argumentações como: "Deve-se estar não de joelhos,mas em pé como sinal de prontidão"; ou "A Eucaristia é banquete e ninguém come ajoelhado"; ou ainda "A Eucaristia é para ser comida, não para ser adorada". Ora, todas estas argumentações estão equivocadas (como o próprio artigo dos Mitos demonstra, nas contra-argumentações dos mitos 1, 2, 3 e 4)!

Para compreendermos bem as consequências desse processo que tem acontecido ao noso redor, retomamos alguns pontos que comentamos a respeito do Mito 2:

Dizem alguns teólogos modernistas que a Liturgia, durante séculos, teve "erroneamente", como centro, a Presença Eucarística de Nosso Senhor (!). Tais modernistas compreender bem o valor dos símbolos para o ser humano, e para que suas novas concepções litúrgicas sejam aos poucos assimiladas, fazem questão de desprezar os sinais externos da Liturgia que apontam para sua verdadeira essência e para a adoração de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada:

- o dobrar os joelhos para adorar

- as paramentações completas do sacerdote que celebra

- o altar esplendoroso, ornamentado com castiçais e arranjos de flores

- o uso frequente do incenso

- o valor do latim como língua sagrada

- a Santa Missa celebrada em "Versus Deum" ("Voltado para Deus", com sacerdote e povo voltados para a mesma direção, como o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, recomenda que se faça no seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia")

...e assim por diante.

Muitas dessas atitudes destes liturgistas modernistas são sustentadas por muitos dos demais Mitos Litúrgicos que estamos estudando no artigo citado. Estes e outros aspectos serão estudados com maior profundida durante esta sequência de postagens, quando estudarmos os demais Mitos.

Ignorar o valor desses sinais sagrados é ignorar a própria alma humana, a influência do meio externo e a importância dos elementos simbólicos. A Liturgia católica é extremamente humana: compatível com todas as necessidades do ser humano.

Nesse sentido, se eu estou ajoelhado, estou recordando a mim mesmo e a quem me vê que NÃO estou diante de algo qualquer, mas DIANTE DE DEUS. E isso me incentiva a Adorá-lo!

É interessante perceber que os modernistas podem militar pela abolição de outros elementos litúrgicos também para propagar suas idéias litúrgicas revolucionárias, como por exemplo:

- Abolir o ato da genuflexão, no sentido de dobrar um dos joelhos, quando se entra ou sai de um local sagrado em que haja Sacrário, e dizendo: "Basta uma inclinação". Não basta! Além de isso atentar contra o próprio espírito da Liturgia Católica, como mostramos acima, atenta expressamente contra as normas litúrgicas, que dizem. Diz a Instrução Geral do Missa Romano (n.274): 

"A genuflexão, que se faz dobrando o joelho direito até o chão, significa adoração; por isso, se reserva ao Santíssimo Sacramento, e à santa Cruz, desde a solene adoração na Ação litúrgica da Sexta-feira na Paixão do Senhor até o início da Vigília pascal. (...) Também fazem genuflexão todos os que passam diante do SantíssimoSacramento, a não ser que caminhem processionalmente." 

A inclinação se faz é para o altar, como afirma a mesma Instrução no n. 275. Para o Santíssima Sacramento, se faz genuflexão, como demonstramos acima. 

- Abolir o uso de genuflexórios dentro das igrejas, capelas e oratórios; o genuflexório, além de por si só já ser um incentivo a dobrarmos nossos joelhos, é algo que surgiu exatamente para servir, nesse sentido, a autêntica Liturgia Católica 

- Abolir o uso da campainha durante a Elevação do Santíssimo Corpo e do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor durante a Consagração, dizendo que "o uso da campanhia é algo ultrapassado". Ora, não é! Além de isso atentar também contra o espírito da Liturgia Católica, o próprio Missal menciona a campanhia:

"Um pouco antes da consagração, o ministro, se for oportuno, adverte os fiéis com um sinal da campainha. Faz o mesmo em cada elevação, conforme o costume da
região." (Instrução Geral do Missal Romano, n.150)

Se ao contrário de antigamente, hoje a Oração Eucarística é feita em voz alta e com o uso do microfone, e já não há a necessidade que originou o uso da campanhia (que era indicar o momento da Consagração), precisamos sair de uma perspectiva racionalista e compreender que os elementos que compõe a Sagrada Liturgia NÃO são algo meramente funcional, e que neste sentido, a campanhia tornou-se um ato de enaltecimento à Presença Real e Substancial de Nosso Senhor, exatamente no momento em que acontece a transubstanciação: "Dominus Est! É o Senhor!" (Jo 21,7)

Diante de tudo isso, em nossa luta pela defesa da Fé Eucarística da Santa Igreja e da restauração da Sagrada Liturgia, creio que estamos diante de um ponto chave, central, que no nosso apostolado precisamos nos esforçar o máximo para nunca ceder.

Talvez em alguma paróquia ou grupo que participamos em que a crise litúrgica esteja muito grande, podemos optar em "tolerar" este grave abuso (e "tolerar" NÃO significa "aprovar", mas fazer "vistas grossas" em prol de um bem maior...), mas exatamente com o objetivo de não perder campo, para assim que for possível, podermos auxiliar a consertar estes e outros abusos.

Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que pela intercessão da Santíssima Virgem e dos santos anjos que rodeiam os altares de Deus, nós possamos crer por aqueles que não crêem, adorar por aqueles que não adoram, esperar por aqueles que não esperam em Deus e amar por aqueles que não amam o Deus-Amor Sacramentado...

"Ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, no céu, na terra e nos infernos." (Fl 2,10)


Para finalizar, veja o que diz Padre Paulo Ricardo:






Postado por: Francisco Dockhorn

Um comentário:

  1. Na atual situaçao litúrgica que vivemos, preocupa saber que aspectos essenciais da nossa Doutrina tem se perdido ou não tem sido passados adiante. Preocupa porque não se trata de simples convenções, mas de ensinamentos da Igreja Cristã primitiva transmitidos com grande zelo ao longo de mais de 2 mil anos. E agora, na verdade não bem agora, mas há já um certo tempo, trata-se a questão do ajoelhar-se diante da Sagrada Eucaristia como uma mera formalidade, de forma que o cristão não se incomode com isso, ajoelhar-se ou não durante a Consagração Eucarística é igualmente bom e digno. Ora, estar diante de Jesus Sacramentado não é como assistir a uma cena qualquer, ou não se está diante do maior tesouro de nossas vidas? Se Cristo é Nosso Senhor e Rei, porque não o reverenciaríamos? Adorar teria ficado ultrapassado como dizem da campainha que enobrece o momento da consagração?
    À parte as concessões para aqueles que não podem se ajoelhar, todo joelho se dobre, sim, ao nome de Jesus! Além das tradicionais explicações para não o fazer, como a "prontidão" ou a "dignidade humana" que de nenhuma forma condizem com a sã Doutrina, estariam ainda afastando o fiel de uma justa adoração a preguiça, a vergonha, e até mesmo a vaidade de não sujar os joelhos? Pior ainda o argumento da uniformidade, quer na assembleia, quer no presbitério!!! É, também lá!
    Fato é que a Igreja Católica não obriga ninguém a nada, e nisso é extremamente sábia, porque conta com a Sabedoria Divina, mas ela nos ensina o que de mais apropriado fazer para piedosamente nos colocar diante de Santíssimo Sacramento.
    "Meu Deus: eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam." Amém.

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