sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um Bispo incomoda muita gente... Dois Bispos incomodam muito mais..."

Por Pedro Ravazzano


O brasileiro tem total liberdade para exercer a cidadania na forma que mais convém, entretanto, essas eleições têm mostrado o maniqueísmo caricatural da política nacional e se faz necessária uma breve reflexão. As polêmicas acerca do aborto e das posições religiosas da Sra. Dilma foram formadas no âmago da Igreja, preocupada, isto sim, com a crescente ascensão do espírito da cultura de morte no nosso país. Essa observação é crucial para o correto entendimento de todo o cenário.


Entretanto, é fato que o forte discurso ideológico, polarizado das eleições quer acusar a Igreja de ser um simples instrumento de manipulação que, no caso, estaria ligado às lideranças tucanas.

Por muitas décadas a Igreja Católica no Brasil esteve amordaçada pelas alas progressistas da Teologia da Libertação que, numa perspectiva totalmente horizontal da fé, embebida na concepção materialista do marxismo, boicotavam qualquer ação que não fosse as diretrizes “sociais”. Infelizmente, a comprovação da ineficiência de tal modelo é perceptível na incapacidade dessa visão de movimentar a juventude rumo à vocação religiosa. Com a inversão das prioridades da fé e a adesão a uma ótica extremamente distante da experiência pessoal e interior com Cristo obstrui-se a via do sagrado.

A preocupação da Igreja é no tocante à ascensão da cultura de morte claramente presente nos programas do PT. A omissão também configura uma ofensa grave, portanto os católicos têm a obrigação de anunciar os ensinamentos do Evangelho, ainda que seja motivo de revolta e contenda. Ademais, a leitura de que exista alguma relação partidária da ação clerical é muito impertinente e temerária. Durante anos Bispos defenderam o Partido dos Trabalhadores e respaldaram as ações intransigentes de células esquerdistas. Agora que o progressismo "libertador" vive o seu crepúsculo querem taxar de “politicagem” a movimentação da Igreja em defesa não do partido A ou B, mas da vida e da moralidade. Muito irônico! A Igreja, como Mãe e Mestra, tem o dever de se levantar quando a verdade é alvo de ataques pelos arautos da cultura de morte. Vale frisar que "cultura de morte" é um termo cunhado por S.S João Paulo II – muito citado, mas pouco seguido - representando todos os anti-valores da modernidade encarnados no aborto, eutanásia, "casamento" homossexual etc. Sem dúvida alguma o aborto é o tema fundamental, pois a sua defesa representa uma deformação em toda a consciência e quem o defende já coloca a premissa que sanciona, indiretamente, todas as aberrações morais.

Não podemos incidir numa visão maniqueísta da política. Serra não representa o bem e nem Dilma o mal em si. Ademais, é leviano afirmar e acreditar que ao se posicionar contra as objetivas relações do PT com a cultura de morte a Igreja esteja aliando-se aos tucanos. Recomendar aos católicos a não votarem em partidos contra a vida faz parte da missão de educadora da Igreja. Se faz mister pontuar que tal posicionamento se baseia na realidade concreta e factual de que o PT legitima em seu programa oficial posições abertamente opostas aos princípios e valores cristãos. Resumidamente, a Igreja Católica, diferente de certas seitas protestantes, não declara apoio a políticos - ainda que outrora, não tão outrora assim, as alas libertadoras defendessem publicamente o PT sem qualquer receio e agora acusam, temerariamente, irmãos no episcopado de uma aliança com o PSDB - mas tem o dever de combater as ideologias que carregam um projeto na clara oposição aos valores e virtudes.

Enquanto os petistas pedem “Por um Brasil de mulheres e homens livres e iguais”, que inclui a “defesa da autodeterminação das mulheres, da descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no serviço público", como definido pelo último Congresso do PT, a Igreja ensina que: 


"§ 2270 A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida." e que: 

"Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae" "pelo próprio fato de cometer o delito" e nas condições previstas pelo Direito. Com isso, a Igreja não quer restringir o campo da misericórdia. Manifesta, sim, a gravidade do crime cometido, o prejuízo irreparável causado ao "inocente morto, a seus pais e a toda a sociedade."

Os católicos não negociam a vida! Como acreditar em políticos que ostentam bandeiras de programas sociais enquanto buscam sorrateiramente legitimar leis que autorizam o aborto? Quais os princípios que norteiam uma consciência tão relaxada? Quem luta pela vida luta em todas as esferas e em todos os campos, tendo apenas em vista a construção de uma sociedade onde o ser humano é respeitado desde a sua concepção até a morte natural. A vida no sertão da Bahia que o programa social “do PT” salva é a vida no útero da mãe que o mesmo PT quer assassinar.

Ademais, por mais que a Sra. Dilma se esforce para não parecer aliada da cultura de morte – e de forma totalmente caricatural – o fato é que o seu partido não apenas se engaja nessa bandeira como nutre uma concepção totalmente totalitária no que se refere a tais temas. Além disso, o PT não criou a corrupção, de fato, mas vivendo plenamente as diretrizes definidas por Antonio Gramsci, utilizou-a como instrumento para a consolidação do seu projeto de poder, vide o mensalão. Vale frisar, outrossim, que em Dilma nada é original; seu discurso, sua defesa da “vida” e da “família”, nem sua aparência é original.

Acusam a Igreja de estar aliada ao PSDB, de que a gráfica na qual a Diocese de Garulhos encomendou os polêmicos panfletos seja de um tucano – ainda que o mesmo estabelecimento tenha imprimido material de campanha de candidatos petistas e de revistas de organizações trabalhistas pró-PT -, de que o posicionamento do Regional Sul 1 da CNBB foi intransigente – apenas os sindicatos podem fazer apologia à candidatura da Sra. Dilma, usando verba do Estado, sem qualquer crítica por parte dos petistas – e de que o nosso país é uma nação laica – todos podem se pronunciar; do MST até a CUT, menos a Igreja, por mais que a religião seja fator determinante em um dos sistemas que sustenta a sociedade; ético-moral-cultural – e por isso a moralidade deveria estar fora da agenda das eleições.


De fato, a Boa Nova sempre será motivo de escândalo! A Igreja não mudou seu posicionamento em 2000 anos e não mudará. É preferível morrer sendo taxado de alienado e discriminatório do que abdicar de uma vírgula dos ensinamentos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo como anunciado pela Sua Esposa. Vivemos o que o Papa Bento XVI anunciou em sua visita à Inglaterra: "Em nosso tempo, o preço a ser pago pela fidelidade ao Evangelho pode não ser o enforcamento, afogamento ou esquartejamento, mas muitas vezes implica ser considerado irrelevante, ridículo ou ridicularizado. No entanto, a Igreja não pode se esquivar do dever de proclamar Cristo e o seu Evangelho como a verdade salvífica, fonte de nossa felicidade definitiva como indivíduos e base para uma sociedade justa e humana".

A caridade jamais deve tolher a verdade! O contrário, deformar a verdade tendo em vista a caridade, é contra-testemunhar a Misericórdia!

Postado por Pedro Ravazzano

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