quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 26: Acréscimos na Liturgia?


Mito 26: "Pode-se fazer tudo o que o Missal não proíbe"

Não se pode.


O Concílio Vaticano II proíbe acréscimos na Sagrada Liturgia, como já foi dito (Sacrossanctum Concílium, n. 22). A interpretação do Missal é estrita: assim, na Santa Missa, faz-se somente o que o Missal determina e nada mais do que isso.

Esta é uma diferença entre a Santa Missa e os grupos de oração, os encontros de evangelização e outros momentos fora da Sagrada Liturgia, onde pode-se usar de uma espontaneidade que não tem lugar dentro da Missa.

O Rito, por sua própria essência, prima pela unidade. Diz a Instrução Redemptionis Sacramentum (n.11) :

"O Mistério da Eucaristia é demasiado grande «para que alguém possa permitir tratá-lo ao seu arbítrio pessoal, pois não respeitaria nem seu caráter sagrado, nem sua dimensão universal. Quem age contra isto, cedendo às suas próprias inspirações, embora seja sacerdote, atenta contra a unidade substancial do Rito romano, que se deve cuidar com decisão (...) Além disso, introduzem na mesma celebração da Eucaristia elementos de discórdia e de deformação, quando ela tem, por sua própria natureza e de forma eminente, de significar e de realizar admiravelmente a Comunhão com a vida divina e a unidade do povo de Deus."

Também o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, juntamente o Messori, no livro "A Fé em Crise?", publicado em 1985, afirma:

"A liturgia não vive de surpresas `simpáticas', de intervenções `cativantes', mas de repetições solenes (...) Também por isso ela deve ser `predeterminada', `imperturbável', porque através do rito se manifesta a santidade de Deus. Ao contrário, a revolta contra aquilo que foi chamado `a velha rigidez rubricista', (...) arrastou a liturgia ao vórtice do `faça-você-mesmo', banalizando-a, porque reduzindo-a à nossa medíocre medida"

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Comentário sobre este Mito (13/11):

Conta-se que um sacerdote, conhecido por celebrar suas Missas de um jeito que só ele celebrava, chegou para celebrar em uma Paróquia e falou ao acólito:

- Hoje vou celebrar diferente!

E o acólito, com a maior naturalidade possível, perguntou:

- Vai seguir o Missal?

É um caso fictício, mas que expressa muito do que acontece em muitas Paróquias e Comunidades: as alterações no Rito e os acréscimos que não estão previstos nele tornam, muitas vezes, a Missa em cada lugar de um jeito diferente.

Muitos hoje, embora defendam que se faça o que Missal determina, acrescentam na celebração elementos e partes que o Missal não prevê (procissões inexistentes, teatro, etc), defendem a idéia de que:

"Se não está proibido, então pode".

Esta argumentação é equivocada, pois a interpretação do Missal é estrita: assim, na Santa Missa, faz-se somente o que o Missal determina e nada mais do que isso.

Neste sentido, o próprio Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrossanctum Concilium (n.22), determina:

"Ninguém mais, absolutamente, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, ACRESCENTAR, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica."

Também o próprio Código de Direito Canônico (n. 846):

"Na celebração dos Sacramentos, sigam-se fielmente os livros litúrgicos aprovados pela autoridade competente; portanto, NINGUÉM ACRESCENTE, suprima ou altera coisa alguma neles, por própria iniciativa."

Por isso esta, como falamos anteriormente, diferença entre a Santa Missa e os grupos de oração, os encontros de evangelização e outros momentos fora da Sagrada Liturgia, onde pode-se usar de uma espontaneidade que não tem lugar dentro da Missa.

Pois Nosso Senhor Jesus Cristo está presente verdadeiramente no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números 1374-1377. 

Ele se faz presente durante a Santa Missa, que é a renovação do Seu Único e Eterno Sacrifício, consumado de uma vez por todas na cruz e tornado presente no altar, pelas mãos do sacerdote (Cat. 1362-1372; 1411). A Santa Igreja, tendo recebida a autoridade do próprio Senhor (n. 553), zela, em suas normas litúrgicas, para que a essência da Liturgia seja conservada e para que as Verdades da Fé Católica sejam evidenciadas nela.

Sobre esta questão da "criatividade litúrgica", o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", afirma:

“...a Verdadeira Liturgia pressupõe que Deus responde e expõe o modo de ser venerado. (...) Ela não pode ser fruto da nossa fantasia e criatividade – pois assim, seria apenas um grito na escuridão ou simplesmente a afirmação de nós próprios. A Liturgia pressupõe algo de concreto diante de nós, algo que se nos revela, indicando o percurso da nossa existência.”

E ainda, diz o Papa:

"Só o respeito pela precedência e pela definição essencial da Liturgia pode proporcionar-nos aquilo que esperamos dela: a celebração da magnitude que se aproxima de nós, que não é arquitetada por nós e que se nos oferece. Isto significa que a criatividade nunca pode ser uma categoria autêntica do litúrgico."

Continua o Papa:

"De qualquer maneira, há-de se mencionar que a palavra criatividade cresceu na visão marxista de mundo. A criatividade significa que, num mundo sem sentido, nascido de uma evolução cega, o homem constrói um mundo novo e melhor. (...) Esse gênero de força criadora não tem lugar na Liturgia, pois ela não se alimenta de idéias de indivíduos ou de grupos de planejamento. ela é simplesmente o ingresso verdadeiramente libertador de Deus no nosso mundo. Só ele pode abrir a porta para o exterior. 

Quanto mais os sacerdotes e fiéis se entregarem humildemente a esse ingresso de Deus, tanto mais nova, mais pessoa e mais verdade ela sempre será. Pois a Liturgia não se tornará nova, pessoal e verdadeira através de invenções de palavras e brincadeiras banais, mas sim pela coragem dos que se põem a caminho para lançar o Imenso; aquilo que, através do Rito, desde sempre nos precedeu e que nós nunca conseguimos apanhar."

O Papa faz ainda uma comparação tremenda dos abusos litúrgicos com a idolatria do bezerro de ouro no Antigo Testamento (Êxodo 32):

“A história do bezerro de ouro alerta para um culto autocrático e egoísta em que, no fundo, não se faz questão de Deus, mas sim em criar um pequeno mundo alternativo por conta própria. Aí, então, é que a Liturgia se torna mera brincadeira. Ou pior: ela significa o abandono do Deus verdadeiro, disfarçado debaixo de um tampo sacro. Mas, assim, o que resta no fim é a frustração, a sensação do vazio. Já não se faz sentir aquela experiência de liberdade, que acontece em todo o lado onde haja encontro com Deus vivo.”

Citamos também, complementando as sábias palavras do Papa, as palavras de duas autoridades litúrgicas que muito tem nos acompanhado: Dom Antonio Keller (Bispo de Frederico Westphalem-RS) e Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior (da Arquidiocese de Cuiabá-MT)

Dom Antonio Keller, explicou:

"As pessoas tem necessidades humanas de afeto, de encontro, de até festejar junto, ou de chorar junto. O erro não é a necessidade de fraternidade, de acolhida, de comemorações, etc.... O erro é querer fazer isto na Santa Missa, usando-a com finalidades incoerentes com os seus verdadeiros fins."

Também Pe. Paulo Ricardo, falou:

"Nós vemos que, de alguma forma, entrou dentro do processo litúrgico da Igreja Católica uma mentalidade estranha e alheia a Igreja, que nós poderíamos chamar de mentalidade revolucionária, onde as pessoas fazem a Liturgia subjetiva, a partir dos seus gostos, de suas veleidades subjetivas."

Pe. Paulo diz ainda:

"Sem duvida alguma, aquilo de negativo que nós encontramos na atual vida litúrgica do Brasil, é fruto de um processo revolucionário. Mais uma vez eu gostaria de enfatizar o que é a mentalidade revolucionária:a mente revolucionária é aquela que está muito convencida da verdade das suas idéias, e quer impor ao mundo as suas idéias. 

Os liturgos revolucionários no Brasil tem a tendência de confeccionar uma liturgia mental, o ideal daquilo que seria a Liturgia para eles. E então aplicar essa idéia de Liturgia na prática. Ora, pouco importa que a matriz revolucionária desses pensamentos seja marxista, da Teologia da Libertação, modernista ou liberal; trata-se sempre de um único e mesmo mecanismo. O liturgista se propõe como demiurgo da Liturgia. Ele faz, ele cria, nesse sentido esses liturgistas que pretendem ser tão democráticos, na verdade, não passam de déspotas porque impõem a assembléia litúrgica as suas idéias de Liturgia."

Pe. Paulo conclui:

"Nada de mais anti-democrático do que um liturgista revolucionário ou uma equipe litúrgica revolucionária, que é uma pequena elite que impõe ditatorialmente ao povo de Deus as suas concepções de Liturgia. E o Direito Canônico diz claramente que o povo de Deus tem direito de receber dos seus Sagrados Pastores a Liturgia da Igreja."

Portato, uma equipe de Liturgia que altere a Liturgia conforme seus gostos, embora muitas vezes fale em "unidade", "pluralismo", "democratizar", comete não só um ato de desobediência as normas litúrgicas, mas também um ato de despotismo contra o povo de Deus e contra o direitos dos fiéis.

Vejamos o que diz sobre isso a Constituição Redemptionis Sacramentum (n. 12):

..."todos os fiéis cristãos gozam do DIREITO de celebrar uma liturgia verdadeira, especialmente a celebração da santa Missa, que seja tal como a Igreja tem querido e estabelecido, como está prescrito nos livros litúrgicos e nas outras leis e normas. Além disso, o povo católico tem direito a que se celebre por ele, de forma íntegra, o Santo Sacrifício da Missa, conforme toda a essência do Magistério da Igreja. Finalmente, a comunidade católica tem direito a que de tal modo se realize para ela a celebração da Santíssima Eucaristia, que apareça verdadeiramente como sacramento de unidade, excluindo absolutamente todos os defeitos e gestos que possam manifestar divisões e facções na Igreja."

Consequências desses abusos é que em muitos lugares não se tem Missas iguais. Escolhe-se qual paróquia e horário se vai pelo "jeito" que se quer a Missa. Enquanto, nessa questão do Rito, como afirmam os documentos da Santa Igreja, deveria-se primar pela UNIDADE, seja a paróquia que for, a cidade que for, ou o país que for.

É Rito Romano, é Rito Romano. Ponto.

Deseja-se algo diferente? Aí é no grupo de oração ou no encontro de evangelização.

Interessante que, conforme o Papa fala nas primeiras citaçõs que colocamos nesta postagem, o Rito da Missa se compõe de "repetições solenes" e a Liturgia deve ser "predeterminada".

Ou seja, querer inserir atitudes espontâneas no Rito da Missa atenta contra a própria natureza do Rito. A essência do Rito se dá exatamente pela sua pré-determinação! E isso é um princípio norteador da Sagrada Liturgia.

Por isso, inserir outras ações não previstas pelo Rito, dentro da Santa Missa, é algo que atenta contra a Liturgia.

Vejamos que há também algo de muito PASTORAL nisso tudo: quando se faz uma alterações ou acréscimos na Liturgia, além de desobedecer as normas litúrgicas, e mesmo quando este acréscimo é feito com a finalidade de agradar os fiéis, nunca uma mudança poderá agradar a todos. Sempre agradará alguns e desagradará a todos.

Vemos nisso a divisão que é criada, dentro daquilo que a Santa Igreja tem de mais Sagrado, onde deveria haver a unidade, que é a Sagrada Liturgia!

E da parte dos fiéis, eles tem o direito de ter a Liturgia conforme a Santa Igreja quer, como citamos acima (Redemptionis Sacramentum, n. 12).

Vejo que essa distinção que falamos, entre "Santa Missa e grupo de oração", ou "Santa Missa e encontro de evangelização", apesar de ser algo objetivamente simples, é algo que muitos tem uma dificuldade de assimilar.

Talvez a resistência para isso seja o fato de muitos quererem fugir de uma "sacralidade" ao tratar a Missa; sacralidade esta que consideram ultrapassada e sem necessidade, mas que torna-se evidente a sua importância partindo-se daquilo que é a Santa Missa: Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor (Cat. 1362-1372; 1411).

Voltemos, então, continuamente aos princípios básicos da catequese Litúrgica Católica.

E vejamos que, em nosso ato de obediência às normas litúrgicas, NÃO há um ato meramente legalista, mas sim, que temos um SENTIDO fascinante, por trás de tudo.

E mostremos, nesse processo, a necessidade da obediência à Santa Igreja como sendo a obediência ao próprio Deus. O Catecismo da Igreja Católica explica que "o poder de ligar e desligar significa a autoridade de absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja." (n. 553)

O Prof. Carlos Ramalhete, já há anos atrás lançou a campanha "Faça o vermelho, leia o preto".

Explico o sentido: os livros litúrgicos têm as rubricas (normas que precisam ser seguidas na celebração) escrita em vermelho, e o texto que deve ser lido em preto.


Nada mais, nada menos do que isso.

Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente aprovadas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que a Grande Mãe de Deus, Mãe da Eucaristia, pela Sua Poderosa Intercessão, nos conceda a graça de crer, adorar, amar e zelar pelo Santíssimo Corpo do Deus-Amor Sacramentado, pelo Santo Sacrifício da Missa e pela Sagrada Liturgia da Igreja...

Por: Francisco Dockhorn

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