Postado por Jorge Kontovski
VI Domingo de Páscoa
Jo 14,15-21
Jo 14,15-21
« Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não o percebe nem o reconhece. Vós o conheceis, porque ele vive convosco e estará dentro de vós. Não vos deixarei desamparados. Eu virei a vós. Pouco tempo ainda, e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia fareis experiência de que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós. Quem faz seus os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.»
PALAVRA DA SALVAÇÃO – Glória a Vós, Senhor!
Estamos vivendo no eco da Ressurreição, que a liturgia prolonga até à festa de Pentecostes. É o tempo em que refletimos e sentimos a estranha situação de “presença e ausência” do Senhor. Ao longo destes dias que estamos celebrando revivemos os sentimentos dos Apóstolos: Ele ressuscitou, se mostrou vivo, mas ainda não assumiu a sua posição definitiva ao lado do Pai, como Rei do Universo e da história. É um Jesus que está presente ainda com os seus, mas não permite a Madalena de “segurá-lo” nesta condição, porque Ele irá ao Pai. É neste contexto espiritual e psicológico que se tornam sempre mais claras as palavras que Jesus havia deixado como herança aos seus discípulos durante a última ceia e que, aqui, são recordadas pelo Evangelista João. Palavras que preparavam os discípulos a viver a nova condição que hoje nós vivemos: a condição da Igreja profunda e eternamente unida ao seu Senhor, mas não do mesmo modo como qual estava a comunidade primitiva.
Paulo chamará “mistério” a nova condição com a qual Jesus e a sua comunidade permanecem unidos. Evidentemente a palavra não significa “arcano”, “escondido”, “oculto”; a etimologia indica o gesto de fechar os olhos pela intensidade da luz.
Neste trecho que acabamos de ler e que reflete o último diálogo de Jesus com os seus, recebemos do Senhor a mais evidente revelação quanto ao Espírito Santo dando assim cumprimento a toda a revelação de Deus. Se no Antigo Testamento o Espírito era percebido apenas como uma força desconhecida que provinha de Jahvé e que irrompia subitamente no homem para que este realizasse uma missão, aqui a revelação do Espírito de Jahvé alcança o seu auge: não é uma “força”, é uma “pessoa”. Podemos imaginar perfeitamente o espanto gerado e a força de afirmação de tudo isto: dizer que o Espírito é uma pessoa é bem diferente que dizer que é uma “força”, uma “energia” que vem de Deus, ou identificá-Lo com fenômenos estranhos.
O que mais escandalizava não era apenas o fato de que Jesus havia demonstrado a sua origem divina e, logo, de ser Ele Deus, mas aqui, ao apresentar o Espírito como uma pessoa colocava em crise toda a religiosidade dos judeus: afinal, como é possível que exista uma mesma divindade em três pessoas? No entanto as palavras de Jesus não deixavam dúvidas: «eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor ».