segunda-feira, 26 de julho de 2010

Série: Grandeza Cristã na Idade Média V - Por Rafael Vitola Brodbeck

A reforma das estruturas temporais – as quais, na Idade Média e em certos ambientes da modernidade, estavam submetidas a Cristo Rei – identifica-se com a expansão do Reinado de Jesus sobre a sociedade civil, e é, na prática, um projeto que visa “chegar a atingir e modificar, pela força do Evangelho, os critérios de juízo, os valores que decidem, os centros de interesse, as linhas pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e os desígnios de salvação.” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, de 8 de dezembro de 1975, nº 19) Causa dos problemas contemporâneos é a Revolução cultural anticristã, de caráter gnóstico, laicista, liberal, antropocêntrico e igualitário, que desvincula fé e razão, sociedade religiosa e sociedade civil, Igreja e Estado, esfera espiritual e temporal, culto privado e culto público. “Duas potências vivem e se acham em luta no mundo moderno: a Revelação e a Revolução. Esses dois poderes negam-se reciprocamente, e aqui está o problema fundamental.” (VEUILLOT, Louis. A ilusão liberal, XXIII) Negando-se à benéfica submissão a Jesus Cristo, Rei do Universo, o mundo afunda na loucura em que tudo passa a ser permitido e a natureza é violentada, com leis abortistas e pró-gay, v.g.. “A ruptura entre a ordem espiritual e a ordem racional é o maior problema que o mundo moderno tem a enfrentar.” (DAWSON, C. Religione e Cristianesimo nella Storia della Civiltà, Roma: Paoline, 1984, p. 152)

Somos levados pelos inimigos da Igreja a criticar o período em que a doutrina de Cristo inspirava toda a sociedade. A falsificação da História é das manobras aquela que mais ajudou a que tantos “torçam o nariz” quando se fala na Idade Média. “Na Idade Média os Papas haviam realizado a unidade da Europa sob o regime da Cristandade. No final do século XVIII, a França reúne os homens em torno de um novo tripé fantástico: liberdade, igualdade e fraternidade. É o triunfo da burguesia. A declaração dos direitos do homem, emanada aos 26 de agosto de 1789, condena os velhos abusos e institui o catecismo filosófico da nova ordem. A sociedade se declara oficialmente não-cristã. Começa-se, a partir deste momento, a falar em época pós-cristã.” (GRINGS, D. Dadeus)

A Cristandade foi progressivamente sendo atacada desde o fim da Idade Média. Com o Renascimento, pagão, gnóstico, caracterizado pelo humanismo autônomo – tão condenado pelos Papas e pela Gaudium et Spes –, e a Reforma Protestante, a primeira etapa de um mesmo processo revolucionário.

Segunda etapa será a Revolução Francesa, com todas as funestas teorias iluministas sendo aplicadas e um novo passo igualitário inaugurado. Este estado de coisas conduz ao liberalismo do século XIX e às grandes perseguições do início do século XX.

Por fim, terceira etapa inaugura-se na Revolução Russa de 1917, quando o comunismo – transposição das idéias igualitárias da Reforma e da Revolução Francesa ao campo social e econômico – saiu-se vitorioso. A mesma e única Revolução prepara sua quarta etapa, com a total dessacralização da sociedade e a exclusão completa do Reino de Deus – vide a União Européia sem referência a suas raízes cristãs, o movimento homossexual, a terceira via do socialismo, a Nova Era, o progressismo teológico, o relativismo moral (condenado por João Paulo II na Veritatis Splendor, em reiteração de condenações anteriores), certas tendências panteístas e igualitárias na idéia ecológica, o aborto, o feminismo etc.

Essa idéia de Revolução como uma doutrina, um sistema, já foi demonstrada por Joseph De Maistre, para quem ela era não um acontecimento, mas uma época. Outros pensadores, todos muito católicos e autorizados, sustentam o mesmo. “A Revolução foi um vasto empreendimento premeditado de descristianização e de hostilidade ao Reinado Social de Cristo Rei e de sua Igreja. E os dois séculos que se seguiram continuaram esta obra nefasta: revolta contra Deus e contra os verdadeiros direitos do homem.” (RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 113) “Ela é uma doutrina, ou, se se preferir, um conjunto de doutrinas, em matéria religiosa, filosófica, política, social.” (FREPPEL, Mons. Apud RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 113). “A Revolução é o ódio de toda ordem social que o homem não estabeleceu e na qual ele não é rei e deus ao mesmo tempo. Ela é a proclamação dos direitos do homem sem preocupação com os direitos de Deus. É a fundação do estado religioso e social sobre a vontade do homem no lugar da vontade de Deus. Ela é a Revolução, quer dizer, destruição, desordem.” (GAUME, Mons. Apud RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, pp. 113-114)

“Em outros termos, a Revolução é uma revolta contra Deus e contra Jesus Cristo. Em conseqüência, é revolta contra a Igreja, contra seus ministros, contra o Rei. Como disse o Cardeal Pie, ela tende ‘para uma completa secularização, isto é, para uma ruptura absoluta entre a sociedade leiga e o princípio cristão.’ (...) E porque ela não foi apenas um acontecimento do passado mas um certo estado de espírito, uma doutrina ainda presente nos espíritos e instituições, o combate continua ainda entre a verdadeira Igreja e a Revolução.” (RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 114) “Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da Ordem. E por Ordem entendemos a paz de Cristo no Reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal.” (OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Revolução e Contra-Revolução, 2ª ed., São Paulo: Diário das Leis, 1982, p. 42)

Com a vitória dos satânicos pressupostos da Revolução Francesa, o liberalismo triunfou contra a sadia norma da Cristandade. Já estavam sendo demolidos os pilares da gloriosa Idade Média com o nefasto absolutismo dos monarcas, que, destruindo as elites nobiliárquicas e aristocráticas, pecou contra a subsidiariedade e a liberdade genuína. Em nome de uma falsa liberdade, propugnaram os revolucionários a destruição da ordem estabelecida. Confundiram os abusos absolutistas – que eles mesmos ajudaram a criar com a recuperação dos contra-valores pagãos no Renascimento – com o justo sistema feudal, e assim, para acabar com os primeiros, destruíram o que restava do segundo.

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