segunda-feira, 14 de junho de 2010

Em defesa de Bento XVI

Autor: Dom Antonio Rossi Keller, Bispo de Frederico Westphalen
Publicação original: Abril de 2010


Há algum tempo, nós católicos estamos percebendo uma verdadeira campanha, bastante orquestrada por sinal, para desacreditar a Igreja e, de forma especial, aquele Pastor que Deus lhe deu, o Santo Padre, o Papa Bento XVI.

As razões para esta campanha difamatória são bastante compreensíveis. Já antes de ser eleito Papa, Joseph Ratzinguer era conhecido como o “Panzer” alemão da Igreja Católica, ocupando o difícil e incômodo cargo de Prefeito da Congregação para a Defesa da Fé, Dicastério da Cúria romana responsável em “promover e em tutelar a doutrina da fé e dos costumes em todo o orbe católico” (Constituição Apostólica “Pastor Bonus”, do Santo Padre o Papa João Paulo II, n. 48). Assim, durante muitos anos à frente desta importante Congregação, o atual Papa, no cumprimento de seu dever, granjeou a fama de “homem duro”, insensível e implacável. Sua eleição para o Papado provocou pruridos de contestação dentro e fora da Igreja.

Já como Papa, Bento XVI provou que a fama de insensibilidade ou de possível dureza frente a problemas e situações não lhe é aplicada com justiça. É um homem afável, simples, compreensivo e muito santo.

O atual Papa é, antes de tudo, homem de Deus e homem da Igreja. Sabe separar o pecado do pecador. Sabe dizer as verdades com a suavidade da caridade. Sabe, em sua alta missão pastoral, ensinar, corrigir, admoestar e mesmo castigar quando isto se faz necessário.

Mas Bento XVI, aos olhos do mundo extremamente paganizado, tem um defeito mortal: é o homem da coerência, que não “vende” as verdades da fé, da moral, da disciplina cristãs a preço de bananas. Ou seja, não transige na questão dos princípios. É um homem de única peça, que não teme o que os outros pensam ou dizem de sua ação pastoral à frente da Igreja. Conseqüentemente, é alguém que incomoda, alguém que enfrenta os diversos “lobbys” que hoje pretendem impor suas visões relativistas e subjetivistas. Bento XVI, com sua autoridade moral de teólogo e de humanista ganhou o ódio daqueles que defendem, por exemplo, a liberalização do aborto, das uniões homossexuais, da eutanásia, etc. Estes movimentos tem suas forças mobilizadoras, que influem poderosamente na opinião pública. Para estes grupos, sempre bem organizados, a Igreja deveria mudar seu ensinamento, “adocicar” sua Doutrina, especialmente em relação à moral. Assim a questão escandalosa e vergonhosa dos casos constatados de pedofilia entre uns poucos eclesiásticos foi como servir “um prato cheio” a estes grupos de pressão. Não é a Igreja o paradigma da moralidade? E como pode permitir no seu interior tais escândalos? Melhor ainda seria encontrar um único caso em que, de alguma maneira, direta ou indiretamente, o Santo Padre pudesse estar envolvido... Sabe-se de um jornal da Alemanha que oferece milhões de euros para quem apresentar algum caso contundente, que envolva a pessoa de Bento XVI.

Nós católicos, com a nossa Igreja e com o nosso Pastor Supremo, vamos sulcando estes mares atribulados. A tempestade parece não ter fim. Possivelmente, ainda outros escândalos serão trazidos à luz.

Cabe-nos, a meu ver, algumas atitudes de fundo.

Primeiramente, o reconhecimento do mal que alguns pastores da Igreja ou membros de Institutos religiosos produziram, com estas atitudes irresponsáveis e doentias. O pan sexualismo que atingiu nosso mundo, depois dos anos sessenta, é sem dúvida, um dos responsáveis por todo este problema que hoje afeta e aflige a Igreja. Desleixou-se muito na seleção de candidatos e na formação afetiva oferecida em muitos seminários e casas de formação. Nossas crianças e nossos jovens tem o direito de encontrar na Igreja um ambiente sadio, onde se ensine a verdade sobre a sexualidade, na obediência amorosa às leis de Deus.

Em segundo lugar, é preciso olhar para o futuro, e preparar bem nossos futuros padres e religiosos, fazendo-os compreender que a vocação ao ministério ou à vida religiosa é um chamado de Deus à santidade e à coerência de vida. Não há lugar nos quadros hierárquicos da Igreja e na vida religiosa para quem não é capaz de amar de forma sadia, segundo o amor do Coração de Jesus.

Em terceiro lugar, é preciso rezar muito pela Igreja e pelo Santo Padre, o Papa, bem como pelos bispos, padres e religiosos em geral. Mas, de forma muito especial, neste momento difícil da História da Igreja, é preciso estar sempre particularmente unidos ao Papa, que sofre pressões inimagináveis. Não podemos abandoná-lo nesta hora, e assim como em relação a Pedro que “estava encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele, a Deus” (Atos, 12,5), nós também não podemos abandonar o Papa, e devemos rezar muito por ele.

Como já expressei em outra oportunidade, a Igreja vive um momento de purificação. E purificação é Graça de Deus, redunda sempre em renovação. Folhas secas e frutos apodrecidos cairão por terra. Sobrarão folhas e frutos verdejantes.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller

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