quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Duas formas litúrgicas, mas a mesma Fé


Por Cleiton Robson
Agência ZENIT

Em todos os domingos, às 9 horas da manhã, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, na cidade do Rio de Janeiro, celebra-se a Santa Missa Prelatícia na Forma Extraordinária do Rito Romano. 

Mas, o que é a Forma Extraordinária do Rito Romano? Tem aprovação do Papa? É de difícil compreensão e participação? 

Para responder a essa questão, ZENIT conversou com o Pe. José Edilson de Lima, sacerdote da Administração Apostólica e Juiz auditor do Tribunal arquidiocesano do Rio de Janeiro.

ZENIT: Qual é a diferença entra a Missa na forma Extraordinária do rito romano e a Missa na forma Ordinária? Desde quando ela existe?

PE. JOSÉ: A Missa na Forma Extraordinária é fruto de uma antiga tradição recolhida por São Gregório Magno (596-604) para uso em Roma, onda já fixa o cânon. Este cânon permaneceu o mesmo até o Beato João XXIII. Por ser a Liturgia da Igreja de Roma, generalizou-se em todo o Ocidente entre os anos 700 a 1500. 

Com Carlos Magno passa a ser usada no Império dos Francos e foi enriquecida no contato com as diversas liturgias galicanas e orientais. 

Com a crise na Igreja e no papado, o Missal, agora franco-germânico, volta para Roma e vai ser a base para a reforma gregoriana no século X. 

Os ritos foram simplificados para uso interno da Cúria em suas viagens e o Missal Romano passa a ser usado em toda parte. Os franciscanos o adotaram e acabaram por divulgá-lo em todo o Ocidente.

O Concílio de Trento, enfrentando a crise da Igreja na época e as investidas protestantes contra os dogmas eucarísticos, especialmente o valor da Santa Missa, da Eucaristia e do Sacerdócio, ordenou a reforma do Missal e em 1570, com a Bula Quo primum tempore, o Papa São Pio V publicou o Missal Romano, tomando como base o Missal da Cúria e impondo-o como obrigatório em toda a Igreja Latina. 

Por isso o Missal na forma antiga é chamado erroneamente de São Pio V ou Tridentino. Na realidade é muito mais antigo.

Os Papas posteriores reeditaram o Missale Romanum realizando melhorias na formulação das rubricas, revisão de alguns textos e reformas no calendário. A última reforma das rubricas foi feita pelo Beato João XXIII através do Motu Próprio Rubricarum Instructum em 25/07/1960. A última edição conforme as novas Rubricas é do ano 1962. 

É a chamada hoje pelo Papa Bento XVI Forma Extraordinária do Rito Romano. O grande diferencial está na sua história, pois é fruto de uma evolução litúrgica homogênea, e na sua precisão teológica, principalmente no que diz respeito aos dogmas eucarísticos. Aparece mais o sentido do sagrado numa liturgia mais vertical. Pela precisão nas rubricas, está menos sujeita a alterações, o que dá uma certa garantia contra as inovações que podem ocorrer fruto de um mal conhecimento do verdadeiro sentido litúrgico.

ZENIT: O que é a Administração Apostólica São João Maria Vianney? Tem aprovação do Papa?

PE. JOSÉ: A Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney é uma circunscrição eclesiástica, equiparada a uma Diocese, segundo os cânones 368 e 371 § 2, erigida canonicamente em 18 de janeiro de 2002, para atender a uma situação particularmente grave que existia na Diocese de Campos. 

Havia um Bispo e um grupo estável de sacerdotes e de religiosos, com várias comunidades estruturadas, obras sociais e de apostolado e cerca de 30 mil fiéis organizados em torno da Santa Missa e disciplina litúrgica anterior ao Concílio Vaticano II. Formávamos uma União chamada São João Maria Vianney. 

Era uma situação incômoda para nós, pois sempre amamos a Santa Igreja e o Santo Padre, rezávamos por ele no Cânon da Missa e nunca nos consideramos outra Igreja, e sim Católicos romanos. Pedimos ao Santo Padre sermos reconhecidos como Católicos e podermos continuar com a Liturgia na forma antiga. 

Sua solicitude atendeu o nosso pedido e criou uma Administração Apostólica Pessoal.

Com o decreto da Congregação para os Bispos Animarum Bonum, a União São João Maria Vianney foi transformada em Administração Apostólica Pessoal dentro dos limites da Diocese de Campos, tendo à frente um Administrador Apostólico que a governa em nome do Sumo Pontífice. 

Na verdade, são duas circunscrições eclesiásticas dentro do mesmo território, uma territorial, a Diocese de Campos com o seu Bispo próprio, e a Administração Apostólica Pessoal para os fiéis ligados à antiga forma do Rito Romano, hoje chamada Forma Extraordinária. 

No mesmo território, duas formas litúrgicas, mas a mesma fé e a mesma submissão aos legítimos pastores da Igreja. A criação da Administração Apostólica acabou com uma divisão que havia em Campos e foi um fator de enriquecimento para a Igreja, não só em seus limites mas em todo o Brasil, mostrando que é possível conviverem as duas formas litúrgicas em perfeita harmonia, sem detrimento da unidade.

ZENIT - Que tipo de formação precisa o fiel que queira participar dessa Missa?

PE. JOSÉ: Embora muitos que procuram a Santa Missa na forma extraordinária o façam devido a uma certa formação litúrgica, na verdade qualquer fiel bem disposto pode participar. 

Temos esta experiência em nossas inúmeras igrejas e paróquias. Pessoas muito simples, às vezes semi-analfabetas ou até crianças, acompanham e participam da Missa na Forma Extraordinária sem problemas. Talvez se sinta alguma dificuldade no início, como poderia acontecer em qualquer rito desconhecido. No caso da Forma extraordinária, o rito é o mesmo.

É de muita utilidade o uso do Missal apropriado contendo os textos em latim e vernáculo. Caso não seja possível, que se tenha ao menos o texto do Ordinário da Missa para que o fiel possa acompanhar os diversos momentos da liturgia. 

Irá percebendo quando começam as orações ao pé do altar até o Glória e Coleta um caminhar em direção de Deus. Em seguida, Deus se volta para os assistentes com sua Palavra. Depois de professarmos nossa Fé, vamos mais uma vez ao Pai, oferecendo-nos ao Pai com a Vítima divina. 

São belíssimas as orações do ofertório e datam do século XIII. 

Deus recebe nossos dons e vem a nós, dando-nos agora o seu próprio Filho. 

Há, pois um duplo movimento, um ascendente e um descendente: nós vamos a Deus e Ele vem a nós. Isto fica bem claro a qualquer fiel, mesmo que não consiga compreender o teor de cada palavra dita em latim. 

No Brasil, há muitas dioceses onde a Missa na forma extraordinária é celebrada e são muitas as pessoas que a procuram. Muitos procuram nossa Administração Apostólica para aprenderem a celebrar. 

Temos feito um encontro anual para reunir os sacerdotes ligados à Forma Extraordinária, ajudando-os com formação teológica, espiritual e litúrgica. O grande fruto é não só um conhecimento maior da Forma antiga, mas uma melhor celebração, com mais respeito e dignidade da Forma Ordinária em suas paróquias de origem, como deseja o Santo Padre.


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