segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Catequese - XXIX Domingo do Tempo Comum


Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XXIX Domingo do Tempo Comum – Ano B


XXIX Domingo
Mc 10,35-45
Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”. Ele perguntou: “O que quereis que eu vos faça?” Eles responderam: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!” Jesus então lhes disse: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” Eles responderam: “Podemos”. E ele lhes disse: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado”. Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com Tiago e João. Jesus os chamou e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim; quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”.


Laus Tibi Christe!


Comecemos observando o evangelho. Notemos como os dois irmãos, Tiago e João, se dirigem a Jesus: “Queremos que faças o que vamos pedir”. Isto não é modo de pedir nada ao Senhor, isto não é modo de rezar! Aqui não há humildade, não há abertura para procurar a vontade do Senhor a nosso respeito, mas somente o interesse cego de realizar nossa vontade! 

Quanta loucura e presunção! Muitas vezes, é assim também que rezamos, com esse tom, com essa atitude! Recordemos a palavra do Apóstolo: “Não sabemos o que pedir como convém” (Rm 8,26). Somos tão frágeis, tão incapazes de compreender os desígnios de Deus, que nossos pedidos muitas e muitas vezes não são segundo o coração do Senhor e, portanto, não são para o nosso bem!

Como, então, pedir de acordo com a vontade do Senhor? Escutemos ainda São Paulo: “O Espírito socorre a nossa fraqueza. O próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). Eis! É somente quando nos deixamos guiar pelo Santo Espírito do Cristo, que compreendemos as coisas de Deus e pediremos segundo Deus! 


Nunca compreenderá o desígnio de Deus, quem não pede segundo Deus… e nunca pedirá segundo Deus, quem não se deixa guiar pelo Espírito de Deus! Aqueles dois não pediam segundo Deus, não suplicavam segundo o Reino, mas segundo seus interesses: queriam glória, queriam honra, queriam os primeiros lugares, queriam seus interesses, de acordo com sua lógica e modo de pensar!

A resposta de Jesus demonstra o seu desgosto: “Vós não sabeis o que pedis!” E o Senhor completa com um desafio – que é para os dois irmãos e para todos nós, caros irmãos e irmãs: “Podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” 

De que cálice, de que batismo Jesus está falando? Do seu sofrimento, do seu caminho de dor e humilhação, pelo qual ele entrará no Reino e o Reino virá a nós: “O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor. Por esta vida de sofrimento, alcançará a luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”. 

Este é o caminho de Jesus: fazer-se servo humilde e causa de nossa salvação. Isso os discípulos não compreendiam… nem nós compreendemos! Também a nós o Senhor convida a participar do seu batismo e do seu cálice. Escutemos mais uma vez, São Paulo: “Não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova. Porque se nos tornamos uma só coisa com ele por uma morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante à sua” (Rm 6,3-5). 

Podeis ser batizados no meu batismo? Estais dispostos a mergulhar vossa vida no meu caminho de morte e ressurreição, morrendo para vós mesmos e buscando a vontade do Pai de todo o coração? Eis o que é ser batizado em Cristo! E nós o fomos! O desafio agora é viver o batismo no qual fomos batizados, tornando-nos, em Cristo, criaturas novas, abertas para a vontade do Pai, como Jesus. 

E, não somente ser batizado no batismo de Jesus, mas também beber o cálice de Jesus: “Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,26); “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo?” (1Cor 10,16). 

Vejam só: comungar na eucaristia é aprofundar aquilo que já começamos a viver no batismo: fazer da vida uma vida em comunhão com o Senhor na sua morte e ressurreição! Não se pode nem sonhar em ser cristão pensando num caminho diferente, num modo diverso de viver! Tiago e João não tinham compreendido isso; os Doze também não compreenderam; nós, tampouco, compreendemos!

Observem ainda como os dois irmãos são presunçosos: quando Jesus pergunta: “Podeis beber o cálice? Podeis ser batizados?” Eles respondem: “Podemos!” Na ânsia pelos primeiros lugares, no desejo de obterem o que pedem, prometem aquilo que somente com a graça de Deus seriam capazes de prometer! A mesma lógica nossa, nosso mesmo procedimento, tantas vezes! 

Como Pedro, que, mais tarde dirá: “Darei a minha vida por ti” (Jo 13,37); e de modo tão presunçoso quanto o dos dois irmãos, exclamará: “Ainda que todos se escandalizem, eu não o farei!” (Mc 14,29). Pobre Pedro, pobres Tiago e João, pobres de nós! Sem a graça de Deus em Cristo, que poderemos? Vamos nos escandalizar, vamos fugir da cruz, vamos descrer no Senhor, vamos abandonar o caminho! Como não compreendemos a estrada de Jesus! 

Tudo é graça. Por isso Jesus diz que, ainda que eles bebam o seu cálice e sejam mergulhados no seu batismo, ainda assim, será graça de Deus conceder os primeiros lugares… Não podemos cobrar nada de Deus: “É para aqueles a quem foi reservado!”

Finalmente, a atitude dos outros Doze, que também buscavam o primeiro lugar e se revoltam contra os dois irmãos! E Jesus chama os Doze e nos chama também a nós, e fala-nos do mundo, com seus jogos de poder, sua ganância, sua hipocrisia e sua mentira… e nos diz: “Entre vós, não deverá ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”. 

Aqui está o modelo do caminho cristão: o Cristo, totalmente abandonado à vontade do Pai, totalmente disponível, totalmente pobre… Ele é o modelo de como devemos viver entre nós e em relação ao Pai: no serviço mútuo, na disponibilidade, na confiança no Pai, no abandono ao seu desígnio a nosso respeito. Somente Jesus poderia rezar com toda a liberdade: “Pai, não o que eu quero, mas o que tu queres!” (Mc 14,36).

Olhando nossa fraqueza, nossa pouca disponibilidade, olhando quanto na vida buscamos nossos interesses e nossas vantagens, não desanimemos! Sigamos o conselho do Autor da Carta aos Hebreus: “Temos um Sumo-sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos! Temos um Sumo-sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós!” 

Confiemos no Senhor e supliquemos que ele converta o nosso coração, dando-nos seus sentimentos, suas atitudes de doação, serviço e humildade, sua confiança no Pai e, finalmente, a graça de participar daquela glória que no céu ele tem com o Pai e o Espírito Santo. Amém.


D. Henrique Soares da Costa

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