Catedral de Santa Cruz e Santa Eulália - Barcelona, Espanha |
Segunda Seção - A Profissão da Fé Cristã
(624-630)
Capítulo Segundo - Creio em Jesus Cristo, Filho Único de Deus
Artigo 4 - «Jesus Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos
foi Crucificado, Morto e Sepultado»
Parágrafo 3 - Jesus Cristo foi Sepultado
624. « Pela graça de Deus, ele experimentou a morte, para proveito de todos » (Heb 2, 9). No seu plano de salvação, Deus dispôs que o seu Filho, não só «morresse pelos nossos pecados» (1 Cor15, 3), mas também «saboreasse a morte», isto é, conhecesse o estado de morte, o estado de separação entre a sua alma e o seu corpo, durante o tempo compreendido entre o momento em que expirou na cruz e o momento em que ressuscitou. Este estado de Cristo morto é o mistério do sepulcro e da descida à mansão dos mortos. É o mistério do Sábado Santo, em que Cristo, depositado no túmulo (513), manifesta o repouso sabático de Deus (514) depois da realização (515) da salvação dos homens, que pacifica todo o universo (516).
O Corpo de Cristo no Sepulcro
625. A permanência do corpo de Cristo no túmulo constitui o laço real entre o estado passível de Cristo antes da Páscoa e o seu estado glorioso atual de ressuscitado. É a mesma pessoa do «Vivente» que pode dizer: «Estive morto e eis-Me vivo pelos séculos dos séculos» (Ap 1, 18):
«É este o mistério do desígnio de Deus àcerca da morte e da ressurreição dos mortos: se Ele não impediu que a morte separasse a alma do corpo, segundo a ordem necessária da natureza: mas juntou-os de novo um ao outro pela ressurreição, a fim de ser Ele próprio na sua pessoa o ponto de encontro da morte e da vida, suspendendo em Si a decomposição da natureza produzida pela morte e tornando-Se, Ele próprio, princípio de reunião para as partes separadas» (517).
626. Uma vez que o «Príncipe da Vida», a quem deram a morte (518), é precisamente o mesmo «Vivente que ressuscitou» (519), é forçoso que a pessoa divina do Filho de Deus tenha continuado a assumir a alma e o corpo, separados um do outro pela morte:
«Embora Cristo, enquanto homem tenha sofrido a morte e a sua santa alma tenha sido separada do seu corpo imaculado, nem por isso a divindade se separou, de nenhum modo, nem da alma nem do corpo: e nem por isso a Pessoa única foi dividida em duas. Tanto o corpo como a alma tiveram existência simultânea, desde o início, na Pessoa do Verbo; e, apesar de na morte terem sido separados, nenhum dos dois deixou de subsistir na Pessoa única do Verbo» (520).
«Não deixareis o Vosso Santo sofrer a Corrupção»
627. A morte de Cristo foi uma verdadeira morte, na medida em que pôs fim à sua existência humana terrena. Mas por causa da união que a Pessoa do Filho manteve com o seu corpo, este não se tornou um despojo mortal como os outros, porque «não era possível que Ele ficasse sob o domínio» da morte (At 2, 24) e, por isso, «o poder divino preservou o corpo de Cristo da corrupção» (521). De Cristo pode dizer-se ao mesmo tempo: «Foi cortado da terra dos vivos» (Is53, 8) e: «A minha carne repousará na esperança, porque Tu não abandonarás a minha alma na mansão dos mortos, nem deixarás que o teu santo conheça a corrupção» (At 2, 26-27) (522). A ressurreição de Jesus «ao terceiro dia» (1 Cor 15, 4; Lc 24, 46) (523) era disso sinal, até porque se julgava que a corrupção começava a manifestar-se a partir do quarto dia (524).
«Sepultados com Cristo...»
628. O Batismo, cujo sinal original e pleno é a imersão, significa eficazmente a descida ao túmulo, por parte do cristão que morre para o pecado com Cristo, com vista a uma vida nova. «Fomos sepultados com Ele, pelo Batismo, na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova» (Rm 6, 4) (525).
Resumindo:
629. Para benefício de todos os homens, Jesus experimentou a morte (526). Foi, de verdade, o Filho de Deus feito homem que morreu e foi sepultado.
630. Durante a permanência de Cristo no túmulo, a sua pessoa divina continuou a assumir tanto a alma como o corpo, apesar de separados entre si pela morte. Por isso, o corpo de Cristo morto «não sofreu a corrupção» (Act 13,37).
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Notas:
513. Cf. Jo 19, 42.
514. Cf. Heb 4, 4-9.
515. Cf. Jo 19, 30.
516. Cf. Cl 1, 18-20.
517. São Gregório de Nissa, Oratio catechetica, 16, 9: TD 7, 90 (PG 45, 52).
518. Cf. Act 3, 15.
519. Cf. Lc 24, 5-6.
520. São João Damasceno, Expositio fidei, 71 [De Fide orthodoxa 3, 27]. PTS 12, 170 (PG 94, 1098).
521. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 3, 51, 3. ad 2: ED. Leon. 11, 490.
522. Cf. Sl 16, 9-10.
523. Cf. Mt 12, 40: Jo 2, 1; Os 6, 2.
524. Cf. Jo 11, 39.
525. Cf. Cl 2, 12: Ef 5, 26.
526. Cf. Heb 2, 9.
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