segunda-feira, 2 de abril de 2012

As Dores de Nossa Senhora


Rememorando com piedade os sofrimentos que por nossa salvação padeceu a Virgem Maria, recebemos de Deus grandes graças e benefícios. E cumprimos um preceito do Espírito Santo: "Não te esqueças dos gemidos de tua mãe"

É impossível não sentir profunda emoção ao contemplar alguma expressiva imagem da Mater Dolorosa e meditar estas palavras do Profeta Jeremias, que a piedade católica aplica à Mãe de Deus: "Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor semelhante à minha dor" (Lm 1, 12). A esta meditação nos convida a Liturgia do dia 15 de setembro, e também na Semana Santa. Antes de fazer parte da liturgia, as dores de Maria Santíssima foram objeto de particular devoção.

Os primeiros traços deste piedosa devoção encontram-se nos escritos de Santo Anselmo e de muitos monges beneditinos e cistercienses, tendo nascido da meditação da passagem do Evangelho que nos mostra a dulcíssima Mãe de Deus e São João aos pés da Cruz do divino Salvador.


Foi a compaixão da Virgem Imaculada que alimentou a piedade dos fiéis. Somente no século XIV, talvez opondo-se às cinco alegrias de Nossa Senhora, foi que apareceram as cinco dores que variariam de episódios:

1. A profecia de Simeão

2. A perda de Jesus em Jerusalém

3. A prisão de Jesus

4. A paixão

5. A morte

Logo este número passou para dez, mesmo quinze, mas o número sete foi o que prevaleceu. Assim, temos as sete horas, uma meditação das penas de Nossa Senhora, durante a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo:

Matinas - A prisão e os ultrajes

Prima - Jesus diante de Pilatos

Terça - A condenação

Sexta - A crucifixão

Nona - A morte

Vésperas - A descida da cruz

Completas - O sepultamento

As chamadas Sete Espadas desenvolvem-se por circunstâncias escolhidas dentre as da vida da Santíssima Virgem:

Primeira Espada: Outra não é que a da profecia de Simeão.

Segunda Espada: O massacre dos inocentes, a mandado de Herodes.

Terceira Espada: A perda de Jesus em Jerusalém, quando o Salvador então contava doze anos de idade, feito homem.

Quarta Espada: A prisão de Jesus e os julgamentos iníquos, pelos quais passou.

Quinta Espada: Jesus pregado na Cruz entre os dois ladrões e a morte.

Sexta Espada: A descida da Cruz.

Sétima Espada: A sepultura de Jesus

As sete tristezas de Nossa Senhora formam uma série um pouco diferente:

1. A profecia de Simeão
2. A fuga para o Egito
3. A perda de Jesus Menino, depois encontrado no Templo
4. A prisão e a condenação
5. A Crucifixão e a morte
6. A descida da Cruz
7. A tristeza de Maria, ficando na terra depois da Ascensão.

Este total de sete, que os simbolistas cristãos tanto amam, impunha uma escolha entre os episódios da vida da Santíssima Virgem, por isso que se explicam certas diferenças. 


Pecadores redimidos,
Com o sangue do Senhor,
Atendei, Olhai se existe
Dor igual a minha dor. 


A série que acabou por dominar é a seguinte:

1. A profecia de Simeão

Havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem (era) justo e temente (a Deus), e esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte, sem ver primeiro Cristo (o ungido) do Senhor. Foi ao templo (conduzido) pelo Espírito de Deus. E levando os pais, o Menino Jesus, para cumprirem as prescrições usuais da lei a seu respeito, ele o tomou em seus braços, e louvou a Deus, dizendo:

- Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra; Porque os meus olhos viram tua salvação. A qual preparaste ante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo.

Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam. E Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua Mãe:

- Eis que este Menino esta posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada trespassará a tua alma, a fim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos. (Lc. 2, 25-35)


Dolorosa, aguda espada
Transpassou-me o coração
Quando a morte do meu Filho
Me predisse Simeão! 


2. A fuga para o Egito

Então Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles cuidadosamente acerca do tempo em que lhes tinha aparecido a estrela; e, enviando-os a Belém, disse:

- Ide e informai-vos bem acerca do menino, e, quando o encontrardes, comunicai-mo, a fim de que também eu o vá adorar.

Eles, tendo ouvido as palavras do rei, partiram; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente. Ia adiante deles, até que, chegando sobre onde estava o menino, parou. Vendo (novamente) a estrela, ficaram possuídos de grandíssima alegria. E, entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe e, prostrando-se o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes, ouro, incenso e mirra. E, avisados por Deus em sonhos para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para a sua terra. Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, e lhe disse:

- Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para lhe tirar a vida. E ele, levantando-se de note, tomou o menino e sua mãe, e retirou-se para o Egito; e lá esteve até a morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor, por meio do profeta que disse: Do Egito chamei o meu Filho (Mt. 2. 7-15)


Junto ao Filho para o Egito

Eu fugi, com dor Atroz
Quando Herodes O buscava
Para dá-lo ao vil algoz

3. A perda de Jesus em Jerusalém

Seus pais iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa, acabados os dias (que ela durava), quando voltaram, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o advertissem. 

Julgando que ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e (depois) procuraram-no entre os parentes e conhecidos. Não o encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dele. Aconteceu que, três dias depois, encontraram-no no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que ouviam, estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas. Quando o viram, admiraram-se. E sua Mãe disse-lhe:

- Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição. Ele lhes disse:

- Para que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai? Eles, porém, não entenderam o que lhes disse (Lc. 2, 41-50)


Quem dirá meu sentimento,

Desolada me encontrei
Vendo o Filho perdido
Por três dias O busquei

4. O encontro de Jesus no caminho do Calvário

Quando o iam conduzindo, agarraram um certo (homem chamado) Simão Cireneu, que voltava do campo; e puseram a cruz sobre ele, para que a levasse após Jesus. Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres as quais batiam no peito, e o lamentavam. Porém, Jesus, voltando-se para elas, disse:

- Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos. Porque eis que virá tempo em que se dirá: Ditosas as estéreis, e (ditosos) os seios que não geraram, e os peitos que não amamentaram. Então começarão (os homens) a dizer aos montes: Cai sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos (Os. 10, 8). Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco. (Lc. 23, 26-31)


Que martírio na minh'alma
Encontrando o meu Jesus
No caminho do Calvário
Arquejando sob a Cruz

5. A crucifixão

Então, entregou-lhe para que fosse crucificado. Tomaram, pois Jesus, o qual, levando a sua cruz, saiu para o lugar que se chama Calvário, e em hebraico Gólgota, onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de um lado, outro de outro lado, e Jesus no meio. Pilatos escreveu um título, e o pôs sobre a Cruz. Estava escrito nele: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS.

Muitos dos judeus leram este título, porque estava perto da cidade o lugar onde Jesus foi crucificado. Estava escrito em hebraico, em latim e em grego. Diziam, porém, a Pilatos, os pontífices dos judeus:

- Não escrevas reis dos Judeus, mas o que ele disse? Eu sou o Rei dos Judeus. Respondeu Pilatos:

- O que escrevi, escrevi.

Os soldados, pois, depois de terem crucificado Jesus tomaram os seus vestidos (e fizeram dele quatro partes, uma para cada soldado) e a túnica. A túnica, porém, não tinha costura, era toda tecida de alto a baixo, Disseram, pois, uns para os outros:

- Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver a quem tocará.

Cumpriu-se deste modo a Escritura, que diz: Repartiram os meus vestidos entre si, e lançaram sortes sobre a minha túnica (S. 21, 19). Os soldados assim fizeram. 

Entretanto, estavam de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cleofas, e Maria Madalena. Jesus, vendo sua Mãe, e junto dela o discípulo que ele amava, disse a sua Mãe:

- Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo:

- Eis aí a tua Mãe. E, desta hora por diante, levou-a o discípulo para sua casa. Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado para se cumprir a Escritura, disse:

- Tenho sede.

Tinha sido ali posto um vaso cheio de vinagre. Então (os soldados), ensopando no vinagre uma esponja, e atando-a a uma cana de hissopo, chegaram-lha à boca. Jesus tendo tomado o vinagre, disse:

- Tudo está consumado. E inclinando a cabeça, rendeu o espírito (Jo 19, 16-30)


Mas, ó céus, ó terra, vede:

Dor maior não pode haver
Vendo a morte do meu Filho
Foi milagre eu não morrer!

6. A descida da Cruz

Então um homem chamado José, que era membro do Sinédrio, varão bom e justo, o qual não tinha concordado com a determinação dos outros, nem com os seus atos, (oriundo) de Arimatéia, cidade da Judéia, que também esperava o reino de Deus, foi ter com Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus: e, tendo-o descido (da Cruz), envolveu-o num lençol. (Lc 23, 50-53).


Contemplai meu sofrimento,
Minha angústia ao pé da Cruz:
Pela lança transpassado
Vi meu Filho, o meu Jesus.



7. O sepultamento

Ora, no lugar em que Jesus foi crucificado, havia um horto e no horto um sepulcro novo, em que ninguém ainda tinha sido sepultado. Por ser o dia da Parasceve dos Judeus, visto que o sepulcro estava perto, depositaram aí Jesus (Jo 19, 41-42)


Oh! Que dor mais cruciante,
Que suprema solidão,
Ao levarem-no ao sepulcro,
Invadiu-me o coração.


No século XV, o século que conheceu a grande cintilação da devoção a Nossa Senhora das Sete Dores, foi que surgiram os mais tocantes testemunhos daquela devoção nas artes. E os artistas, sempre a procura de episódios que mais tocassem a sensibilidade dos cristãos, acabaram por trazer, com predileção, o que deveria ser o mais doloroso da vida de nossa Mãe Bendita - o momento, pungente em que, desligado da Cruz, o Salvador, inerte, pousara sobre os puros joelhos da Senhora. 


A devoção às sete dores de Maria teve origem de modo especial na ordem dos servitas, ou servos de Maria. Compõe-se de sete partes ou séries de grãos, cada uma formada de um Pai Nosso e sete Ave Marias em honra das Sete Dores da Santíssima Virgem.

Santo Afonso M. Ligório, Doutor da Igreja, em seu livro "Glórias de Maria Santíssima", diz: "Se é certo que todas as graças que Deus nos concede, como eu tenho por certo, passará pelas mãos de Maria, também tenho por certo que só por meio de Maria poderemos esperar e conseguir a sublime graça da perseverança final. E certamente a conseguimos, se confiadamente a pedimos sempre a Maria suplicando-lhe por intermédio de suas benditas dores. Pobres daqueles que se afastam desta defesa e deixam de ser devotos de Maria e de se encomendar e Ela em todas a suas necessidades. Perca uma alma a devoção a Maria e logo ficará em trevas. Ai daqueles que desprezam a luz deste sol."

Dom Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Málaga, em seu livro "A Devoção das Dores a Maria", diz: Virgem Doloríssima, eu seria um ingrato se não me esforçasse em promover a memória e o culto de vossas dores. Vosso Divino filho tem vinculado a devoção de vossas dores, particulares graças para uma sincera penitência, oportunos auxílios e socorros em todas as necessidades e perigos e particularmente na hora da morte. Vinde todos que tendes sede, vinde fartar-vos neste manancial de abundantes graças".

São Germano chamava a Virgem Maria de a "respiração dos cristãos", porque assim como o corpo não pode viver sem respirar também a alma não pode viver sem recorrer e sem se encomendar a Maria, por cujo meio seguramente se adquire e se conserva em nós a vida da divina graça.


É a caridade, de um modo particular, a virtude que aprendemos de Maria em suas Dores.


Vida dos Santos, Padre Rohbacher
www.adapostolica.org

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