segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

JMJ Rio de Janeiro e financiamento público

Rede Record quer colocar a nação brasileira contra a JMJ




A TV do Edir Macedo deu a largada na campanha laicista contra a Jornada Mundial da Juventude. Numa reportagem eivada de erros, imprecisões e mentiras, a rede da IURD pretende criar um clima contrário a qualquer financiamento público do evento católico que reunirá milhões de jovens católicos de todo o mundo no Rio de Janeiro em 2013.

Assistam à reportagem:


São ouvidas duas pessoas que reclamam do caos no trânsito, como se tal situação fosse rara de se ver no Rio e só se verificasse numa JMJ. O que se dirá da Copa? Das Olimpíadas?


Mas o foco da reportagem é a aprovação do projeto de financiamento apresentado pela deputada Myriam Rios à ALERJ. Um repórter chega a afirmar que a JMJ deverá ser financiada com dinheiro público, como se todas as despesas do evento fossem pagas pelo contribuinte. O projeto, entretanto, pede somente 5 milhões de reais do orçamento estadual de 2012. A maior parte das despesas, entretanto, é bancada pela própria Igreja, pelas empresas privadas e pelos próprios jovens.

Um senhor é ouvido e, previsivelmente, afirma que o dinheiro seria mais bem aplicado em hospitais públicos. Eu estaria pronto a concordar com a tese, caso o problema da saúde pública fosse uma questão de falta de recursos. A falência da saúde pública, entretanto, se dá por incompetência ou corrupção.

O mais curioso da reportagem diz respeito ao governador Sérgio Cabral. Prevendo que o governador aprovará a lei orçamentária, em que se inclui o projeto da deputada, e no intuito poupar o governador, diz o repórter: “sem tempo para ler emenda por emenda, a tendência é que o governador aprove o pacote inteiro”. Como assim? O governador não tem tempo para ler um projeto de lei orçamentária? Fica assim isento da responsabilidade sobre os projetos que aprova sem ler? Feliz o político que conta com uma mídia amiga, a qual pratica o que se poderia chamar de “defesa preventiva”.




Aparece um ilustre desconhecido teólogo que dá a entender que o Estado esteja se “envolvendo” com a religião. Segundo o “tiólogo”, isto se dá quando o Estado “patrocina”, “impõe” ou “conduz” a religião. Não, meu senhor, o Estado não está se envolvendo com a religião, nem a impondo, menos ainda a conduzindo. O patrocínio se dá em benefício dos contribuintes católicos, da cidade em geral e do bem-estar da Nação. E ademais a religião não é uma questão de foro íntimo, ou o senhor desconhece o que significa ser “luz do mundo”? De foro íntimo são as preferências futebolísticas, e nem por isso o Estado está impedido de patrocinar a Copa.

O deputado Edino Fonseca-PR/RJ evoca a Constituição Federal, dizendo que o Estado não pode “intervir”, “financiar” ou “patrocinar” evento religioso. O parlamentar mistura alhos com bugalhos. De fato, a Constituição impede interferência do Estado em matéria religiosa e o financiamento ou patrocínio da religião; mas onde está a proibição de patrocínio de eventos que, embora de natureza religiosa, sejam de interesse do Estado?

A reportagem termina afirmando que a Arquidiocese diz não se responsabilizar pelo evento – sério? – e a suposta Organização do evento transferiu a responsabilidade para deputada Myriam Rios, que não teria querido falar com a Record.

Ocorre que a divulgação do evento é crucial para seu bom êxito. Se a JMJ do Rio repetir a apoteose da JMJ de Madri, em setembro passado, ficarão cerca de 300 milhões de reais nos cofres da cidade. Isto não é financiamento, mas investimento, se quisermos ficar apenas no impacto econômico de um tal evento. Já os benefícios humanos, morais e espirituais para a juventude brasileira são incomensuráveis.

Por outro lado, leiam o que publicou o deputado Anthony Garotinho do mesmo PR/RJ em seu blog (http://www.blogdogarotinho.com.br/lartigo.aspx?id=9671):

"Como vocês acompanharam a TV Globo promoveu o Festival Promessas de música gospel, sábado, no Aterro que reuniu 15 mil pessoas, segundo a PM. O evento foi gravado e vai virar um especial na semana do Natal. Mas vejam que beleza, não precisou gastar um centavo, apesar de ir faturar alguns milhões com o patrocínio do especial.

Eduardo Paes bancou tudo, desde os artistas até a montagem do palco. Desviou R$ 2,9 milhões da RIOTUR, da verba para promoção do turismo na cidade e deu para a Globo. Não satisfeito colocou a Guarda Municipal e a COMLURB para trabalharem para a emissora. E mobilizou um esquema operacional, que só a CET – RIO colocou mais de 400 operadores de trânsito, esquema que só no réveillon e no carnaval utiliza tanta gente.

Engraçado que outras emissoras de televisão tentam o patrocínio da prefeitura e do governo do Estado para eventos ao vivo, mas Cabral e Paes só querem saber da Globo. Estão transformando o Rio no quintal da Globo." 

O deputado, embora protestante, está tendo uma atitude corretíssima em relação à JMJ. No interesse do estado e da cidade do Rio, tem se ocupado da preparação do evento e recebido os organizadores, no legítimo cumprimento de suas atribuições parlamentares. Percebam que ele não condena o financiamento do evento enquanto tal, mas o fato de se dar em benefício de uma empresa privada que deveria ela própria financiar um evento de seu interesse.

A prefeitura destinou cerca de 3 milhões de reais para um evento de 15 mil pessoas (sic!), 200 reais por pessoa. Se vierem ao Rio os mesmos 1 milhão de jovens que foram a Madri, o financiamento de 5 milhões sairá por 5 reais por pessoa. E quanto gastarão aqui? Percebem o que está em jogo do ponto de vista financeiro? Cabe ainda mencionar a visibilidade e a publicidade gratuita que a cidade terá no mundo inteiro, neste terreno ainda pouco explorado que é o turismo na Cidade Maravilhosa.

A reportagem e o que está por detrás dela são um misto de malícia, mentira e burrice. Que a Arquidiocese do Rio de Janeiro e a Organização do evento saibam se comunicar com o povo brasileiro e carioca para que a JMJ não se perca nas polêmicas estéreis.



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