Mito 7: "Quem celebra a Missa não é o Padre, e sim toda a comunidade"
A Instrução Redemptions Sacramentum (n. 42), de 2004, discorrendo sobre o Santo Sacrifício da Missa, afirma:
"O Sacrifício Eucarístico não deve, portanto, ser considerado "concelebração", no sentido unívoco do sacerdote juntamente com povo presente. Ao contrário, a Eucaristia celebrada pelos sacerdotes é um dom que supera radicalmente o poder da assembléia. A assembléia, que se reúne para a celebração da Eucaristia, necessita absolutamente de um sacerdote ordenado que a presida, para poder ser verdadeiramente uma assembléia eucarística. Por outro lado, a comunidade não é capaz de dotar-se por si só do ministro ordenado."
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Comentário sobre este ponto (21/05):
Esse mesmo trecho da Instrução Redemptionis Sacramentum (n.42), que citei acima, diz à seguir:
"Urge a necessidade de um interesse comum para que se evitem todas as ambigüidades nesta matéria e se procure o remédio das dificuldades destes últimos anos. Portanto, somente com precaução, faça-se acabar com termos do tipo: «comunidade celebrante» ou «assembléia celebrante», em equivalentes em outras línguas vernáculas: «celebrating assembly», «assemblée célébrante»,«assemblea celebrante», e outros termos deste tipo."
Nos ensina o Sagrado Magistério da Igreja que Deus dá somente aos sacerdotes a graça de realizar o Sacramento da Eucaristia, na Santa Missa, que é a Renovação do Santo Sacrifício da Nosso Senhor, que faz Presente Verdadeiramente e Substancialmente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números Cat. 1362-1372; 1374-1377.
Se eu, que sou leigo, "tentar consagrar as espécies" evidentemente continuará sendo pão e continuará sendo vinho.
"Só os sacerdotes validamente ordenados podem presidir a Eucaristia e consagrar o pão e o vinho para que se tornem o Corpo e o Sangue do Senhor."
E o Código de Direito Canônico (cânon 900):
"Somente o sacerdote validamente ordenado, que fazendo as vezes de Cristo, é capaz de realizar o Sacramento da Eucaristia."
O saudoso Papa João Paulo II, na sua maravilhosa Encíclica Ecclesia de Eucharistia, nos ensina a respeito desta questão (n.29):
"A afirmação, várias vezes feita no Concílio Vaticano II, de que « o sacerdote ministerial realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo (in persona Christi) », estava já bem radicada no magistério pontifício. Como já tive oportunidade de esclarecer noutras ocasiões, a expressão in persona Christi « quer dizer algo mais do que “em nome”, ou então “nas vezes” de Cristo. In persona, isto é, na específica e sacramental identificação com o Sumo e Eterno Sacerdote, que é o Autor e o principal Sujeito deste seu próprio sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém ». Na economia de salvação escolhida por Cristo, o ministério dos sacerdotes que receberam o sacramento da Ordem manifesta que a Eucaristia, por eles celebrada, é um dom que supera radicalmente o poder da assembleia e, em todo o caso, é insubstituível para ligar validamente a consagração eucarística ao sacrifício da cruz e à Última Ceia."
"A assembleia que se reúne para a celebração da Eucaristia necessita absolutamente de um sacerdote ordenado que a ela presida, para poder ser verdadeiramente uma assembleia eucarística. Por outro lado, a comunidade não é capaz de dotar-se por si só do ministro ordenado. Este é um dom que ela recebe através da sucessão episcopal que remonta aos Apóstolos. É o Bispo que constitui, pelo sacramento da Ordem, um novo presbítero, conferindo-lhe o poder de consagrar a Eucaristia. Por isso, « o mistério eucarístico não pode ser celebrado em nenhuma comunidade a não ser por um sacerdote ordenado, como ensinou expressamente o Concílio Ecuménico Lateranense IV »."
Também o Papa Pio XII, na sua fabulosa encíclica Mediator Dei - que foi escrita alguns anos antes do Concílio Vaticano II, mas responde essencialmente as grandes polêmicas litúrgicas atuais -, aprofunda a nossa argumentação:
"É necessário, veneráveis irmãos, explicar claramente a vosso rebanho como o fato de os fiéis tomarem parte no sacrifício eucarístico não significa todavia que eles gozem de poderes sacerdotais. Há, de fato, em nossos dias, alguns que, avizinhando-se de erros já condenados, ensinam que em o Novo Testamento se conhece apenas um sacerdócio pertencente a todos os batizados, e que o preceito dado por Jesus aos apóstolos na última ceia - fazer o que ele havia feito - se refere diretamente a toda a Igreja dos cristãos e só depois é que foi introduzido o sacerdócio hierárquico. Sustentam, por isso, que só o povo goza de verdadeiro poder sacerdotal, enquanto o sacerdote age unicamente por ofício a ele confiado pela comunidade. Afirmam, em conseqüência, que o sacrifício eucarístico é uma verdadeira e própria "concelebração", e que é melhor que os sacerdotes "concelebrem" junto com o povo presente, do que, na ausência destes, ofereçam privadamente o sacrifício." (n.75)
E mais adiante:
"É inútil explicar quanto esses capciosos erros estejam em contraste com as verdades acima demonstradas, quando falamos do lugar que compete ao sacerdote no corpo místico de Jesus. Recordemos apenas que o sacerdote faz as vezes do povo porque representa a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo enquanto é Cabeça de todos os membros e se oferece a si mesmo por eles: por isso vai ao altar como ministro de Cristo, inferior a ele, mas superior ao povo. O povo, ao invés, não representando por nenhum motivo a pessoa do divino Redentor, nem sendo mediador entre si próprio e Deus, não pode de nenhum modo gozar dos poderes sacerdotais." (n. 76)
O que faz alguns se confundirem é um certa interpretação feita em cima de uma frase do Catecismo da Igreja Católica, que diz que "é toda a comunidade, o Corpo de Cristo unido à Sua Cabeça, que celebra" (n.1140).
Ora, aqui é preciso compreender que Igreja é o Corpo Místico de Cristo (Cat. 78-796), do qual Ele é a Cabeça e nós somos os membros (ICor 12,27; Col 1,18). Na Santa Missa, que é a Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor, é o próprio Cristo-Sacerdote que se oferece em Sacrifício ao Pai, com todos os que estão inseridos Nele (por isso nossos sacrifícios podem ser oferecidos na Santa Missa, unindo nossa vida ao Sacrifício de Nosso Senhor). É nesse sentido que toda a Igreja (o Corpo Místico do Cristo-Sacerdote, que se oferece no altar) celebra a Liturgia.
Porém, como vimos nas citações acima, o sacramento da Eucaristia se realiza pela pessoa do sacerdote ordenado. Assim, quem celebra, no sentido de realizar o Sacramento, é o sacerdote ordenado (e num sentido místico mais profundo, o próprio Cristo-Sacerdote), e NÃO "a comunidade reunida na igreja", nem mesmo "o sacerdote mais a comunidade reunida na igreja" – tanto que o sacerdote absolutamente NÃO precisa da comunidade para celebrar, e seja aconselhável que ele ofereça diariamente o Santo Sacrifício da Missa (embora o ideal seja que mesmo nas Missas privadas haja um assistente)
O próprio Código de Direito Canônico afirma (cânon 904):
"Lembrando sempre que no ministério do Sacrifício Eucarístico se exerce continuamente a Obra da Redenção, os sacerdotes celebrem frequentemente; e mais, recomenda-se com insistência a celebração cotidiana, a qual, mesmo não se podendo ter presença de fiéis, é um ato de Cristo e da Igreja, em cuja realização os sacerdotes desempenham seu múnus principal."
Ou seja, eu, leigo, isoladamente, NÃO celebro nenhuma Missa; NEM é a "turminha" (a soma dos fiéis que estão fisicamente presentes em uma Missa) que celebra.
Quem celebra é o sacerdote ordenado, que é "Persona Christi" - "Pessoa de Cristo"- (Cat. 1548-1551); e por isso, é o próprio Cristo-Sacerdote que se oferece, do qual eu sou membro do Seu Corpo Místico. E é nesse sentido recebo participo da celebração. E nesse sentido sim, participo de forma mais profunda quando estou fisicamente presente na celebração, e mais ainda, quando recebo o Santíssimo Corpo de Deus na Comunhão.
Sem o Sacerdote Ordenado NÃO há, portanto, Eucaristia. Por isso, no dizer de São João Maria Vianney, Padroeiro dos Sacerdotes, "o sacerdócio é o Amor do Coração de Jesus", e "o sacerdote só entenderá a si mesmo no céu". São Pio de Pietrelcina, outro sacerdote Santo Eucarístico da Santa Igreja, expressa isso dizendo: "Sou um mistério para mim mesmo."
Dom Rafael Cifuentes, Bispo Emérito de Nova Friburgo-RJ e conhecido por sua incondicional fidelidade à doutrina católica, nos traz essas palavras desconcertantes para definir o que significa ser sacerdote, no sua maravilhosa obra "Sacerdotes para o Terceiro Milênio":
"O Senhor escolheu-me a mim, pessoalmente, antes da constituição do mundo. Sou sacerdote para sempre! O meu sacerdócio representa a dignidade maior a que um ser humano pode ser elevado. Eu tenho a condição de filho do Rei; tenho a mesma dignidade radical que tem o Santo Padre; posso sentar-me na própria sede Papal... Estou acima dos anjos. Maria Santíssima trouxe para a Terra o Filho de Deus uma vez na história. Eu, com a força da minha palavra sacerdotal, posso trazê-lo todos os dias na Santa Missa..."
Por isso Dom Rafael, na obra, coloca as seguintes palavras na boca de um sacerdote:
"Nunca tinha tomado consciência da minha dignidade. Eu sou outro Cristo, o próprio Cristo, de verdade! Não apenas no nome, não apenas segunda a inveterada expressão Saerdos alter Christus, mas na realidade sacramental de cada dia. Sinto-me pela primeira vez orgulhoso, santamente orgulhoso, de ser padre. Sou um privilegiado!"
E arremata Dom Rafael, falando à respeito do seu sacerdócio:
"Será que nós sabemos valorizar a nossa inigualável e radical dignidade, quando, às vezes, nos surpreendemos alimentos certos sentimentos de frustração e inferioridade? Será que o fato de termos assumido a nobre condição de sacerdote eterno não tem suficiente força para levantar-nos, como um potente guindaste, das nossas depressões e dos nossos complexos?"
Como é grande a responsabilidade depositada em suas mãos, e o ódio de Satanás em querer destruir esses Santos Mistérios na alma dos sacerdotes!
Apresentado acima o problema (a distorção) e a solução, segundo os documentos oficiais da Santa Igreja, olhemos agora para a movimentação modernista, revolucionário e mesmo espiritual que está por detrás de polêmicas litúrgicas que é comum vermos hoje, a respeito dessas questões.
Em tempo: existe uma Revolução Cultural Anticristã, em processo em nossa sociedade, quer abolir na sociedade as justas desigualdades e hierarquias (Cat., n. 874-896), e a teologia modernista quer abolir o Sacerdócio, igualando a figura do sacerdote a qualquer outro leigo.
Muitos liturgistas adeptos da teologia modernista, ou influenciados por ela, e que com as suas novas interpretações litúrgicas pretendem negar ou ofuscar os Mistérios da Presença Real e Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, da Santa Missa como Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor e do Sacerdócio Ministerial.
Nestes casos, é ignorada a essência mística do Sacerdócio, e o sacerdote é rebaixado a ser, simplesmente, alguém que ocupa um cargo à frente de uma comunidade. Neste aspecto, é o mesmo igualitarismo revolucionário que no séc. XVI os protestantes fizeram, atentando contra a hierarquia da Santa Igreja, instituída por Nosso Senhor.
Há destes liturgistas que conhecem bem o poder dos símbolos e da linguagem para a alma humana, e o utilizam em suas estratégias.
Muitos vezes, são exemplos disso:
- os sacerdotes andarem "vestidos de leigos" – não usarem nem batina nem clergyman (ou hábito religioso, no caso dos sacerdotes religiosos). Em tempo: o Código de Direito Canônico determinada que os cléricos usem veste clerical (cânon 284).
- os sacerdotes usarem cada vez menos paramentos na Santa Missa, deixando de usar a casula, que é o paramento próprio para a Santa Missa, e usando apenas somente alva e estola (e por vezes nem isso!) – enquanto os leigos usam cada vez mais "vestes litúrgicas" – e estranhamente, em vários lugares, "vestes de leitor" que parecem casulas. Ocorre, então, dois processos similares e igualitaristas: a laicização do clero e a clericalização do leigo.
- o sacerdote dizer para os fiéis recitarem orações na Santa Missa que são sacerdotais, como o "Por Cristo" e a "Oração da Paz" (Instrução Inaestimabile Donum, n.4).
- uso de Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão sem real necessidade (e a real necessidade é exigida pelas normas litúrgicas para eles atuarem, como afirma a Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 151).
- o Mito do "sacerdócio feminino", que segundo a doutrina católica não existe nem poderá existir; etc), como define doutrinalmente a Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, do saudoso Papa João Paulo II.
- a apologia de que o sacerdotes e os fiéis devem ficar, necessariamente, ao "redor do altar" (ilustrando que "todos celebram"), rechaçando a celebração da Santa Missa em "Versus Deum" ("Voltados para Deus", que é a forma como o Santo Padre recomenda que se faça no seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia"), já que nesta forma, o sacerdote se coloca, fisicamente, diante de Deus, em nome dos fiéis, como Cabeça.
É preciso percebermos este perigoso movimento cultural, teológico e litúrgico, e reagirmos.
Façamos, portanto, o que Roma nos diz: deixemos de usar os termos "comunidade celebrante" e similares. Penso que seria bom, também, por exemplo, os comentaristas parar de usar termos que podem ser entendidos no mesmo sentido, como: "Boa noite irmãos e irmãs, vamos celebrar nas seguintes intenções", ou cantar-se em Canto de Entrada músicas como "Vamos celebrar com júbilo..."
Que pela poderosa intercessão da Santíssima Virgem, a Grande Mãe de Deus, Mãe do Santíssimo Sacramento e Mãe dos sacerdotes, os Seus Filhos Prediletos, possamos nós conhecer e acolher a Verdade Católica, nos entregando junto com o Seu Santíssimo Filho no altar, e venerando o Sacerdócio de Nosso Senhor, presente na alma dos Sacerdotes Ordenados!
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