segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A Intercessão dos Santos


Desde os tempos apostólicos, a Igreja ensina que os que morreram na amizade do Senhor, não só podem como estão orando pela salvação daqueles que ainda se encontram na terra. Tal conceito é conhecido como a intercessão dos santos.

A Doutrina

Sobre a doutrina da intercessão dos santos, o Catecismo da Igreja Católica ensina:

"Pelo fato que os do céu estão mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a toda a Igreja na santidade... Não deixam de interceder por nós ante o Pai. Apresentam por meio do único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, os méritos que adquiriram na terra... Sua solicitude fraterna ajuda, pois, muito a nossa debilidade." (CIC 956)

Portanto, para a Igreja Católica, os santos intercedem por nós junto ao Pai, não pelos seus méritos, mas pelos méritos de Cristo Nosso Senhor, o único Mediador entre Deus e os homens.

Objeções

Os adeptos do fundamentalismo bíblico normalmente apresentam uma série de objeções à doutrina da intercessão dos santos. Neste artigo iremos confrontar as principais:

1ª Objeção: Cristo é o único mediador entre Deus e os homens.

Esta é a principal objeção à doutrina da intercessão dos Santos. 

Os adeptos desta objeção fundamentam sua posição em 1 Tim 2,5 onde lemos: "Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus". Para eles, a Sagrada Escritura não deixa dúvidas de que só Jesus pode interceder pelos homens junto a Deus.

Se isto é verdade, por que São Paulo ensinaria que nós cristãos devemos dirigir orações a Deus em favor de outras pessoas? Vejam 1Tim 2,1: "Acima de tudo, recomendo que se façam súplicas, pedidos e intercessões, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade."

No exposto acima não está São Paulo nos pedindo para que sejamos intercessores (mediadores) junto a Deus por todas as pessoas da terra? Estaria então o Santo apóstolo se contradizendo? É claro que não. A questão é que a natureza da mediação tratada no versículo 1 é diferente da do versículo 5.

A mediação tratada em 1Tm 2,5 refere-se à Nova e Eterna Aliança. No AT a mediação entre Deus e os homens se dava através da prática da Lei. No NT, é Cristo que nos reconcilia com Deus, através de seu sacrifício na cruz. É neste sentido que Ele é nosso único mediador, pois foi somente através Dele que recuperamos para sempre a amizade com Deus, como bem foi exposto por São Paulo: "Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos." (Rom 5,19)

Portanto, a exclusividade da medição de Cristo refere-se à justificação dos homens. A mediação da intercessão dos santos é de outra natureza, referindo-se à providência de Deus em favor do nosso semelhante. Desta forma, o texto de 1Tm 2,5 dentro de seu contexto não oferece qualquer obstáculo à doutrina da intercessão dos santos.

2ª Objeção: Os santos não podem interceder por que após a morte não há consciência.

Os defensores desta objeção usam como fundamento as palavras do Eclesiastes: 

"Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida" (Ecl. 9,5) e ainda "Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria" (Ecl. 9,10).

Já que a Bíblia é um conjunto coeso de livros, não podemos aceitar a doutrina da "dormição" ou "inconsciência" dos mortos simplesmente pelo fato de que há versículos claros na Sagrada Escritura que mostram que os mortos não estão nem "dormindo" e nem "inconscientes" (cf. Is 14, 9-10; 1Pd 3,19; Mt 17,3; Ap 5,8; Ap 7,10; Ap 6,10); o que faria alguém pensar que há contradições na Bíblia.

A questão é que os versículos citados do Eclesiastes não fazem referência a um estado mental dos mortos, mas sim ao infortúnio espiritual em que se encontram por causa do lugar onde estão. Os mortos os quais os textos se referem são aqueles que morreram na inimizade de Deus, e não a qualquer pessoa que morreu. Vejamos os versículos abaixo:

"Ignora ele que ali há sombras e que os convidados [da senhora Loucura] jazem nas profundezas da região dos mortos" (Prov 9,18)

"O sábio escala o caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos" (Prov 15,24)

Os versículos acima mostram que a região dos mortos é um lugar de desgraça, onde são encaminhados os inimigos de Deus. Isto é ainda mais evidente em Prov 15,24. O sábio é aquele que guarda a ciência de Deus, este quando morrer não vai para a "morada dos mortos". 

As expressões "morada dos mortos" ou "região dos mortos" fazem alusão a um lugar de desgraça, onde os inimigos de Deus estão privados da Sua Graça.

Voltando aos versículos do Eclesiastes, o escritor sagrado ao escrever que para os mortos "não há mais recompensa", "não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria", refere-se unicamente ao infortúnio que existe "na região dos mortos, para onde eles vão". Eles quem? Os que estão mortos para Deus.


Portanto, dentro de seu contexto, os versículos do Eclesiastes também não oferecem qualquer imposição à doutrina da intercessão dos santos.

3ª Objeção: Os santos não podem ouvir as orações dos que estão na terra porque não são oniscientes e nem onipresentes.

São Paulo nos ensina que a Igreja é o corpo de Cristo . Desta forma, os que estão unidos a Cristo através de seu ingresso na Igreja, são membros do Seu corpo. Isso quer dizer que tantos nós que estamos na terra, quanto os que já morreram na amizade do Senhor, todos somos membros do Corpo Místico de Cristo, onde Ele é a cabeça. Vejam:

    * São Paulo ensina que a Igreja é corpo de Cristo: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja" (Col 1,24)

    * São Paulo ensina que somos membros do corpo de Cristo e por isto os cristãos estamos ligados uns aos outros: "assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro" (Rom 12,5)

   * São Paulo ensina que Cristo é a cabeça do seu corpo que é a Igreja: "Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja" (Col 1,18)

Isso quer dizer que nós e os santos (que estão na presença de Deus) estamos ligados, pois somos membros de um mesmo corpo, o corpo de Cristo, que é a Igreja.

Assim como minha mão direita não pode se comunicar com a esquerda sem que esse comando tenha sido coordenado pela minha cabeça (caso contrário seria um movimento involuntário), da mesma forma, no Corpo de Cristo os membros não podem se comunicar sem que essa comunicação aconteça através da cabeça que é Cristo. 

Desta forma, quando nós pedimos para que os santos intercedam por nós junto a Deus (comunicação de um membro com o outro no corpo de Cristo), isso acontece através de Cristo. Assim como a nossa cabeça pode coordenar movimentos simultâneos entre os vários membros de nosso corpo, Cristo que é a cabeça da Igreja e é onisciente e onipresente possibilita a comunicação entre os membros do Seu corpo.

Portanto, a falta de onipresença e onisciência dos santos não apresenta qualquer impedimento para que eles conheçam ou recebam nossos pedidos e então possam interceder por nós junto a Deus.

4ª Objeção: Nós não podemos dirigir nossa orações aos santos pois isto caracteriza evocação dos mortos que é severamente proibida na Bíblia.

Esta objeção baseia-se principalmente nos versículos abaixo:

"Não se ache no meio de ti quem pratique a adivinhação, o sortilégio, a magia, o espiritismo, a evocação dos mortos: porque todo homem que fizer tais coisas constitui uma abominação para o Senhor" (Dt 18, 9-14) .

"Se uma pessoa recorrer aos espíritos, adivinhos, para andar atrás deles, voltarei minha face contra essa pessoa e a exterminarei do meio do meu povo. (...) Qualquer mulher ou homem que evocar espíritos, será punido de morte" (Lev 20, 6 - 27). 

Conforme vimos, Deus abomina a evocação dos mortos. No entanto, há uma diferença tremenda entre evocar os mortos e dirigir nossos pedidos de orações aos santos.

A evocação dos mortos é caracterizada pelo pedido de que o espírito do defunto se apresente e então se comunique com os vivos como se ainda estivesse na terra. 

Esta prática é condenada por Deus, pois em vez de confiarmos na Providência Divina quanto ao futuro e às coisas que necessitamos, deseja-se confiar nas instruções dos espíritos. Conforme a Sagrada Escritura dá testemunho em I Samuel 28.

Na intercessão dos santos, não estamos pedindo que o santo se apresente para "bater um papo" a fim obter qualquer tipo de informação, mas sim, dirigimos a eles nossos pedidos de oração, como se estivéssemos enviando uma carta solicitando algo (o que é bem diferente de evocar mortos). Na intercessão dos santos continuamos confiando na Providência Divina, pois os santos são apenas mediadores, logo, quem atende aos nossos pedidos é Deus.

Desta forma, as proibições divinas quanto à prática de espiritismo não se aplicam à doutrina da intercessão dos santos.

5ª Objeção: Não há sequer uma única referência bíblica em relação à intercessão dos santos

Há diversos versículos bíblicos que mostram que os santos oram na presença de Deus. Vejamos:

"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra? Foi então dada a cada um deles uma veste branca, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para ser mortos" (Ap 6,9-11).

No trecho acima, os santos estão clamando a Deus por Justiça. Alguém poderia dizer: "mas eles estão intercedendo por eles mesmos e não pelos que ficaram na terra". 

Ora, e o que impede que o façam pelos que estão na terra? São Paulo mesmo não recomenda que oremos pelos outros? (cf. 1Tm 2,1). 

Por alguma razão estariam os santos incapazes de continuarem orando pelos que estão na terra? Ora, alguém que esteja no seu juízo perfeito, há de convir que, o fato dos santos estarem na presença de Deus, não é motivo impeditivo para que intercedam pelos outros, muito pelo contrário, não há melhor lugar e momento para fazê-lo. Veja ainda:

"Os quatro viventes e os vinte e quatro anciãos se prostraram diante do Cordeiro. Tinha cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfumes, que são as orações dos santos" (Ap 5,8). "A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.? (Ap 8,4).

Nos versículos acima os santos oram para Deus. Por que estariam orando, já que estão salvos e gozando da presença do Senhor? Oram em nosso favor, para que os que estão na terra também possam um dia estar com eles na presença do Senhor.

No livro do profeta Jeremias lemos:

"Disse-me, então, o Senhor: Mesmo que Moisés e Samuel se apresentassem diante de mim, meu coração não se voltaria para esse povo. Expulsai-o para longe de minha presença! Que se afaste de mim! (Jr 15,1).

No tempo do profeta, ambos Moisés e Samuel estavam mortos. Que sentido teria este versículo caso não fosse possível que os dois intercedessem por Israel?

O Testemunho dos primeiros cristãos

Vejamos agora o que professava os cristãos no tempo em que não havia divisão na Cristandade, em relação à doutrina da intercessão dos santos:

"O Pontífice [o Papa] não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos juntos também se unem a eles na oração" (Orígenes, 185-254 d.C. Da Oração).

"Se um de nós partir primeiro deste mundo, não cessem as nossa orações pelos irmãos" (Cipriano de Cartago, 200-258 d.C. Epístola 57)

"Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos". (Santo Hilário de Poitiers, 310-367 d.C).

"Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires, para que Deus, por suas intercessões e orações, se digne receber as nossas." (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).

"Em seguida (na Oração Eucarística), mencionamos os que já partiram: primeiro os patricarcas, profetas, apóstolos e mártires, para que Deus, em virtude de suas preces e intercessões, receba nossa oração" (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).

"Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?" (São Jerônimo, 340-420 d.C, Adv. Vigil. 6).

"Portanto, como bem sabem os fiéis, a disciplina eclesiástica prescreve que, quando se mencionam os mártires nesse lugar durante a celebração eucarística, não se reza por eles, mas pelos outros defuntos que também aí se comemoram. Não é conveniente orar por um mátir, pois somos nós que devemos encomendar suas orações" (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 159,1)

"Não deixemos parecer para nós pouca coisa; que sejamos membros do mesmo corpo que elas (Santa Perpétua e Santa Felicidade) (...) 

"Nós nos maravilhamos com elas, elas sentem compaixão de nós. Nós nos alegramos por elas, elas oram por nós (...) Contudo, nós todos servimos um só Senhor, seguimos um só Mestre, atendemos um só Rei. Estamos unidos a uma Cabeça; nos dirigimos a uma Jerusalém; seguimos após um amor, envolvendo uma unidade" (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 280,6).

"Por vezes, é a intercessão dos santos que alcança o perdão das nossas faltas [1Jo 5,16; Tg 5,14-15] ou ainda a misericórdia e a fé" (São João Cassiano. 360-435 d.C. conferência 20).

Conclusão

Como pudemos ver, a doutrina da intercessão do santos, não é invenção do catolicismo (como pensam alguns), mas sim, uma legítima doutrina cristã, embasa tanto nas Sagradas Escrituras, quanto na Tradição Apostólica. Os primeiros cristãos jamais tiverem dúvidas quanto a ela (note que este tema jamais foi centro de disputas conciliares). Esta doutrina confirma o Amor de Deus para conosco e Seu plano de que sejamos uns para outros instrumentos deste Amor.



sábado, 29 de janeiro de 2011

SÉRIE - MITOS LITÚRGICOS COMENTADOS - Mito 2: Eucaristia e Adoração

Mito 2: "A Eucaristia é para ser comida e não para ser adorada"
 
É para ser adorada, sim!

A Hóstia consagrada é a Presença Real e substancial de Nosso Senhor, e por isso a Santa Igreja dedica a ela toda a adoração. O Santo Padre Bento XVI responde (Exortação Sacramentum Caritatis, n.66, de 2006) :"...aconteceu às vezes não se perceber com suficiente clareza a relação intrínseca entre a Santa Missa e a adoração do Santíssimo Sacramento; uma objeção então em voga, por exemplo, partia da idéia que o pão eucarístico nos fora dado não para ser contemplado, mas comido. Ora, tal contraposição, vista à luz da experiência de oração da Igreja, aparece realmente destituída de qualquer fundamento; já Santo Agostinho dissera: « Nemo autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; (...) peccemus non adorando – ninguém come esta carne, sem antes a adorar; (...) pecaríamos se não a adorássemos ». De facto, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração d'Aquele que comungamos." 


Dizer que a Eucaristia não é para ser adorada implica em negar a que a Hóstia Consagrada é o Corpo de Nosso Senhor, ou pensar que Deus não é digno de adoração...
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Comentário sobre este ponto (14/04):

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, ainda antes de ser, escreveu no seu maravilhoso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia":

"Já Paulo expõe peremptoriamente a transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo como um fato de ser O Ressuscitado, Ele próprio, que está aqui, oferecendo-se-nos para comer. A ênfase, com que em Jo 6 é realçada a Presena Real, quase não tem igual. Também os primeiros Padres da Igreja - referimo-ns a Justino, o Mártir, ou a Inácio de Antioquia - não tem a mínima dúvida acerca do Mistério desta Presença, que nos é oferecida na transformação dos dons na Oração Eucarística. Até um teólogo tão virado para o espiritual como Agostinho, nunca manifestou nenhuma dúvida."

E mais adiante:

"Ninguém diga agora, a Eucaristia seja para tomar e não para olhar. Como realçam as tradições mais antigas, ela não é . Tomá-la é - como já dissemos - é um acontecimento esiritual, inteiramente humano. significa: adorá-lo. significa: deixá-lo entrar em mim, a fim de minha pessoa ser transformada, a fim de que Nele nos tornemos , abrindo-se para o grande (Gl 3, 17). Deste ponto de vista, a adoração não se encontra em posição oposta à comunhão nem ao lado dela; a comunhão só alcançará a sua profundidade quando sustentada e envolvida pela adoração."

Vemos, portanto, que no coração da fé católica, há três mistérios sublimes:

- a Presença Real de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada (Cat. n. 1374-1377)

- a Renovação incruenta do Sacrício de Nosso Senhor na Santa Missa (Cat. n. 1362-1372; 1411)

- o Sacerdócio (Cat. 1536-1600)

São mistérios que expressam de forma encantadora o amor entre a Santíssima Trindade e Amor de Deus por nós. Nosso Senhor foi até o fim em seu aniquilamento, como nos ensina São Paulo (Fil 2,7); e Nosso Senhor fez isso por obediência ao Pai Eterno e por amor à nós.

Tal aniquilamento chega ao seu extremo na Calvário e na Hóstia Consagrada, onde Ele se oferece por nós e à nós, mesmo sabendo que:

- seria tratado por muitos com indiferença e incredulidade na Hóstia Consagrada

- se cometeriam sacrilégios que aconteceriam, pelas que comungariam sem estarem preparados (Cat. 1385).

- que muitos fragmentos das Hóstias Consagradas que seriam perdidos por falta de zelo

- que Hóstias Consagradas seriam roubadas das igrejas para serem profanadas em cultos satânicos

- que haveriam sacerdotes que não viveriam uma vida condinzente com o seu ministério e não celebrariam o Santo Sacrifício da Missa da forma como manda a Santa Igreja

Nesse contexto, compreendemos bem o que Nosso Senhor falou a Santa Maria Margarida Alacoque, quando revelou a devoção ao Seu Sagrado Coração:

"Eis o Coração que tanto tem amado os homens, que a nada tem se poupado até se esgotar e consumir para testemunhar-lhes o seu amor; e em reconhecimento não recebo da maior parte deles senão ingratidões por meio das irreverências e sacrilégios, tibiezas e desprezo que usam para comigo neste Sacramento de amor. E o que mais me custa é serem corações a mim consagrados os que assim me tratam."

Eis o aniquilamento de Deus!Eis o desconcertante Amor de Deus para com os homens! Ignorar isso é ignorar a própria essência desconcertante da Liturgia Católica...

Por ser a Eucaristia a expressão máxima do Amor de Deus, o Demônio investe todosos esforços para que o Corpo Eucarístico de Nosso Senhor não seja adorado. O reconhecido teólogo dol século XIX, P. Emmanuel (Prior do Mosteiro de Mesnil-Saint-Loup) afirma que o Anticristo, ou seja, aquele que se opõe a Cristo (IJo 2, 22), pretende aboliar o "Sacrifício Perpétuo" que fala o profeta Daniel (Dn 12,11), isto é, abolir o Santo Sacrifício da Missa.

Embora reconhecemos um poder espiritual maligno que atua, em toda a história da humanidade, por detrás das limitações humanas, nunca é demais lembrar que nestes estudos NÃO temos nenhuma pretensão de julgar as intensões de quem eventualmente defende mitos ou distorções litúrgicos, pois este julgamento não nos cabe. A avaliação que fazemos aqui é somente a nivel de conteúdo. E desta forma, queremos por amor ao Deus-Amor Sacramento e a Santa Igreja, prestar este serviço, para o bem das almas e a Glória de Deus.

Retomados este pressupostos, prosseguimos a reflexão:

Dizem alguns teólogos modernistas que a Liturgia, durante séculos, teve "erroneamente", como centro, a Presença Eucarística de Nosso Senhor (!). Tais modernistas compreender bem o valor dos símbolos para o ser humano, e para que suas novas concepções litúrgicas sejam aos poucos assimiladas, fazem questão de desprezar os sinais externos da Liturgia que apontam para sua verdadeira essência e para a adoração de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada:

- o dobrar os joelhos para adorar

- as paramentações completas do sacerdote que celebra
- o altar esplendoroso, ornamentado com castiçais e arranjos de flores


- o uso frequente do incenso


- o valor do latim como língua sagrada


- a Santa Missa celebrada em "Versus Deum" ("Voltado para Deus", com sacerdote e povo voltados para a mesma direção, como o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, recomenda que se faça no seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia")

...e assim por diante.

Muitas dessas atitudes destes liturgistas modernistas são sustentadas por muitos dos demais Mitos Litúrgicos que estamos estudando no artigo citado. Estes e outros aspectos serão estudados com maior profundida durante esta sequência de postagens, quando estudarmos os demais Mitos.

Ignorar o valor desses sinais sagrados é ignorar a própria alma humana, a influência do meio externo e a importância dos elementos simbólicos. A Liturgia católica é extremamente humana: compatível com todas as necessidadesdo ser humano.

Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que pela intercessão da Santíssima Virgem e dos santos anjos, nós façamos parte daqueles que ADORAM a Presença Real e Substancial do Deus-Amor Sacramentado, na Hóstia Consagrada!


Postado por: Francisco Dockhorn

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Perigo: Católico e Espírita? O Espiritismo e seus erros.


Allan Kardec

O Concílio Vaticano II chamou os leigos a participarem ativamente da vida da Igreja. Através do Decreto Apostolicam Actuositatem pede: 

"Grassando na nossa época gravíssimos erros que ameaçam inverter profundamente a religião, este Concílio exorta de coração todos os leigos que assumam mais conscientemente suas responsabilidades na defesa dos princípios cristãos." (AA,6) 

Em que pese a doutrina da Igreja, bem como a sua Tradição e o seu Magistério, mostrarem a radical incompatibilidade entre o Cristianismo e o espiritismo, muitos "católicos", fracos na fé e pouco conhecedores da doutrina, teimam em persistir neste sincretismo perigoso. Vão à missa e ao culto espírita, como se isto não fosse proibido pela fé católica. 

É preciso ficar bem claro que o espiritismo (bem como suas derivações) contradiz "frontalmente" a doutrina católica em muitos pontos, sendo, portanto, impossível a um católico ser também espírita. 

Em 1953, os Bispos do Brasil disseram que o espiritismo é o desvio doutrinário "mais perigoso" para o país, uma vez que "nega não apenas uma ou outra verdade da nossa fé, mas todas elas, tendo, no entanto, a cautela de dizer-se cristão, de modo a deixa , a católicos menos avisados, a impressão erradíssima de ser possível conciliar catolicismo com espiritismo." ( Espiritismo, orientação para os católicos, D. Boaventura Kloppenburg, Ed. Loyola, 5ª Ed., 1995,pag.11) 

Muitas passagens da Bíblia comprovam o que está dito acima. A principal delas é a que está no livro do Deuteronômio: 

"Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha [magia negra], nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à evocação dos mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles que se dão a essas práticas..." (Deutr 18,9´13) 

Essas palavras da Bíblia são muito claras e fortes e não deixam dúvida sobre a proibição "radical" de Deus a todas as formas de ocultismo e busca de poder ou de conhecimento fora da vontade de Deus. E isto é um perigo para a vida cristã, porque "contamina" a alma. Deus "abomina" aqueles que se dão a essas práticas, diz a Palavra de Deus. Abomina quer dizer, detesta, odeia, rejeita. Não consigo imaginar nada pior nesta vida do que uma pessoa ser abominável a Deus, por própria culpa. 

O livro do Levítico traz a mesma condenação: 

"Não vos dirijais aos espíritas nem aos adivinhos: não os consulteis para que não sejais contaminados por eles." (Lev 19,31) 

Essa "contaminação" espiritual é perigosa para o cristão. Por se tratar de um pecado grave, essa prática o coloca sob a influência e dependência do mundo tenebroso dos demônios. 

A primeira consequência para a pessoa que se dá a essas práticas proibidas é um "esfriamento" espiritual. Começa a esfriar na fé, deixa a oração, os sacramentos, e torna-se fraco na fé, na esperança e na caridade, até, digamos, morrer espiritualmente. 

Se você entra num ambiente espírita, de macumba, candomblé, etc, mesmo que seja apenas por curiosidade, "sem maldade", você está pecando e colocando-se sob o jugo do demônio. Neste assunto, é a "curiosidade" que leva muitos católicos ao pecado. 

Sabemos que o demônio pode se fazer presente nesses ambientes, já que a Igreja nos garante que nenhum "espírito" dos mortos andam perambulando pelo mundo e, muito menos "baixando" em lugar algum. Os espíritos que baixam nesses "centros", se baixam, são certamente espíritos malignos. 

Repete a Palavra de Deus, pelo livro do Levítico: 

"Se alguém se dirigir aos espíritas ou aos adivinhos para fornicar com eles, voltarei o meu rosto contra esse homem..." (Lev 20,6) 

Por "adivinhos" devemos entender todas as formas de se buscar o conhecimento de realidades ocultas, conhecer o futuro, etc. Entre essas práticas estão, entre outras, a invocação dos mortos (necromancia), a leitura das mãos (quiromancia), a astrologia, os búzios, cartomancia, consultas aos cristais, tarôs, numerologia, etc. 

Uma verdade bíblica que todo católico precisa saber, é o que disse São Paulo aos coríntios: 

"As coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas aos demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demônios. Não podeis beber ao mesmo tempo o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou quereis provocar a ira do Senhor?" (1 Cor 10,20-22) 

Qual é o grande ensinamento que esta Palavra nos traz? 

Que todo culto que se presta a uma entidade espiritual, é recebido ou por Deus ou por Satanás. Como os pagãos não prestam o seu culto a Deus, então, por exclusão, quem o recebe é o demônio. Daí podermos entender porque Deus abomina aqueles que se dão a essas práticas pagãs já citadas. Neste caso, Deus é rejeitado, é traído. E daí podemos entender também porque o "ambiente" fica propício à presença e manifestação do Mal. 

O Antigo Testamento está repleto da "fúria" de Deus para com o seu povo eleito, quando esse povo "prevaricava", isto é, praticava a idolatria. Nessas situações, Deus abandonava o seu povo nas mãos dos seus inimigos, que os vencia nos combates, e muitas vezes os escravizava. O socorro de Deus só chegava depois que o povo se arrependia do mal que praticara. Pela boca do profeta Jeremias o Senhor diz: 

"Eu os condenarei pelos males que cometeram, por me haverem abandonado, ofertando incenso a outros deuses e adorando a obra de suas mãos." (Jer 1,16) 

"Ó céus, plasmai, tremei de espanto e horror..." 

"Porque o meu povo cometeu uma grande perversidade: abandonou-me, a mim, fonte de água viva, para cavar cisternas, cisternas fendidas que não retém a água." (Jer 2,11-13) 

E o povo de Deus tinha plena consciência de que era a prática da idolatria que atraia sobre ele os castigos: 

"Porque decretou o Senhor contra nós todos esses flagelos? Qual é o pecado, qual é o crime que cometemos contra o Senhor nosso Deus? Tu lhe dirás: É que vossos pais me abandonaram – oráculo do Senhor – para correr após outros deuses, rendendo-lhes um culto e diante deles se prosternando. E porque me abandonaram e deixaram de cumprir a minha lei, e porque vós mesmos fizestes pior que vossos pais, cada qual, sem me ouvir, obstinou-se em seguir as más tendências de seus corações. Assim, expulsar-vos-ei desta terra para vos lançar numa terra que não conhecestes, nem vós, nem vossos pais. Lá, dia e noite, rendereis culto aos deuses estranhos, porque eu não vos perdoarei."(Jer16,10´13) 

Os Atos dos Apóstolos, escrito por S. Lucas, contam que S. Paulo expulsou um "espírito de adivinhação" de uma moça escrava que, com suas adivinhações dava muito lucro a seus senhores. Disse S. Paulo a esse espírito de adivinhação: 

"Ordeno-te em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora saiu." (At 16,16-18) 

É óbvio que S. Paulo não falara a um "fantasma" ou a algo inexistente, apelando para a autoridade do Nome de Jesus. São Paulo expulsou da escrava um demônio, um espírito de adivinhação que estava na moça e dava-lhe o poder de adivinhar. 

Isso muitas vezes ocorre nos centros espíritas e nos terreiros de macumba. O demônio sabe se "transfigurar em anjo de luz" (II Cor 11,14), como nos alerta São Paulo. E muito católico desavisado cai nas suas armadilhas. Como ele é um anjo, embora decaído, conserva os seus poderes superiores aos nossos. Sua inteligência é muito mais perfeita que a dos homens. E ele faz também os seus "milagres". Para conferir isto com a Palavra de Deus, basta ler o que São Paulo fala na carta aos tessalonicenses: 

"A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores. Ele usará de todas as seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar." (2 Ts 2,9-10) 

O espiritismo nega pelo menos 40 verdades da fé cristã: 

1 - Nega o mistério, e ensina que tudo pode ser compreendido e explicado. 

2 - Nega a inspiração divina da Bíblia.

3 - Nega o milagre. 

4 - Nega a autoridade do Magistério da Igreja. 

5 - Nega a infalibilidade do Papa.

6 - Nega a instituição divina da Igreja. 

7 - Nega a suficiência da Revelação. 

8 - Nega o mistério da Santíssima Trindade. 

9 - Nega a existência de um Deus Pessoal e distinto do mundo. 

10 - Nega a liberdade de Deus. 

11 - Nega a criação a partir do nada. 

12 - Nega a criação da alma humana por Deus. 

13 - Nega a criação do corpo humano. 

14 - Nega a união substancial entre o corpo e a alma. 

15 - Nega a espiritualidade da alma. 

16 - Nega a unidade do gênero humano. 

17 - Nega a existência dos anjos. 

18 - Nega a existência dos demônios. 

19 - Nega a divindade de Jesus. 

20 - Nega os milagres de Cristo. 

21 - Nega a humanidade de Cristo. 

22 - Nega os dogmas de Nossa Senhora (Imaculada Conceição, Virgindade perpétua, Assunção, Maternidade divina). 

23 - Nega nossa Redenção por Cristo (é o mais grave!). 

24 - Nega o pecado original. 

25 - Nega a graça divina. 

26 - Nega a possibilidade do perdão dos pecados. 

27 - Nega o valor da vida contemplativa e ascética. 

28 - Nega toda a doutrina cristã do sobrenatural. 

29 - Nega o valor dos Sacramentos. 

30 - Nega a eficácia redentora do Batismo. 

31 - Nega a presença real de Cristo na Eucaristia. 

32 - Nega o valor da Confissão. 

33 - Nega a indissolubilidade do Matrimônio. 

34 - Nega a unicidade da vida terrestre. 

35 - Nega o juízo particular depois da morte. 

36 - Nega a existência do Purgatório. 

37 - Nega a existência do Céu. 

38 - Nega a existência do Inferno. 

39 - Nega a ressurreição da carne. 

40 - Nega o juízo final. 

Apesar de tudo isso muitos continuam a proclamar que "o espiritismo e o Cristianismo ensinam a mesma coisa..." [ e não é mesmo!!! ]

Na verdade é o "joio no meio do trigo" (Mt 13,28), que o inimigo semeou na messe do Senhor. Nada, como o espiritismo, nega tão radicalmente a doutrina católica. 

Ouçamos, finalmente, a palavra oficial da nossa Mãe Igreja, que tão bem nos ensina através do Catecismo: 

"Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõem ‘descobrir’ o futuro. A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia (leitura das mãos), a interpretação de presságios e da sorte, os fenômenos de visão (bolas de cristais), o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e finalmente sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Estas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus." (N° 2116). 

"O espiritismo implica frequentemente práticas de adivinhação ou de magia. Por isso a Igreja adverte os fiéis a evitá-lo." (N° 2117). 

Os católicos que se deram a essas práticas condenadas pela Igreja podem e devem abandoná-las com urgência. Devem procurar um sacerdote, fazer uma confissão clara dos seus pecados e prometer a Deus nunca mais se dar a essas práticas. 

É preciso também destruir todo material (livros, imagens, gravuras, vestes...) usadas e consagradas nesses cultos. 

O pecado dessas práticas é contra o primeiro mandamento da Lei de Deus: "Amar a Deus sobre todas as coisas". A gravidade está no fato da pessoa ir buscar poder, fama, dinheiro, consolação, etc, num lugar e numa prática não permitida por Deus e pela Igreja. Isto ofende a Deus. 

Essas práticas eram usadas na Mesopotâmia antiga, no Egito, entre os povos de Canaã, enfim, entre os pagãos, e eram terminantemente proibidas por Deus ao seu povo. 

Parece que hoje, grande parte do povo, volta ao paganismo e às suas práticas idolátricas. Isto nega o Cristianismo. A Igreja, como Mãe bondosa e cautelosa não quer que os seus filhos se percam.


Extraído de: http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=SEITA&id=sei0850