sábado, 25 de dezembro de 2010

Na Confissão, por meio do Sacerdote, Jesus nos perdoa


Introdução

Uma das páginas mais comovedoras do Evangelho é a parábola do filho pródigo, que retrata a conduta de um filho ingrato para com seu pai. Eram dois irmãos e o menor decide abandonar a casa; depois de pedir sua parte na herança, foi-se embora para um país longínquo onde gastou tudo, levando uma vida má. Então, teve que por-se a cuidar de porcos para poder viver, até que um dia sentiu vergonha de sua situação e decidiu voltar para casa, e pedir perdão a seu pai: "Pai, pequei contra o céu e contra ti" (Lucas 15,18). O pai, que o esperava, quando viu que se aproximava, saiu a seu encontro, abraçou-o e o beijou. E foi tão grande sua alegria que ordenou aos criados que preparassem um banquete e uma grande festa para celebrar a volta do filho mais novo.

Esta parábola pode nos ajudar a entender o sacramento da Penitência, que é o sacramento da misericórdia de Deus.

Idéias Principais:

1. Os Sacramentos de Cura

Estudamos os sacramentos da iniciação cristã: o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia, que outorgam a vida nova em Cristo. Mas, apesar de tantas graças, o ser humano é débil, pode pecar e carrega consigo as misérias do pecado.

Cristo quis que na Igreja existisse um remédio para estas necessidades, e nós podemos encontrá-lo nos sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos, chamados Sacramentos de Cura, porque curam a debilidade e perdoam os pecados. 




2. Para salvar-se, é preciso que nos arrependamos dos pecados

Não existe possibilidade de salvação sem o arrependimento dos pecados, que é absolutamente necessário para aquele que ofendeu a Deus. É o que nos diz Nosso Senhor Jesus Cristo: "Se não fizerdes penitência, todos, igualmente, perecereis" (Lucas 13,3).

Antes da vinda de Jesus Cristo, a humanidade não tinha nenhuma segurança de poder ter obtido o perdão de seus pecados. A segurança foi-nos trazida por Jesus, que pode dizer: "Teus pecados te são perdoados" (Mateus 9,2).

3. A instituição do sacramento da Penitência, para o perdão dos pecados

Na tarde do domingo da Ressurreição, Jesus Cristo instituiu o sacramento da Penitência, ao dizer a seus discípulos: "Recebei o Espírito Santo; aqueles a quem lhes perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos" (João 20,22-23). Instituiu este sacramento como um juízo, mas juízo de misericórdia, para que os Apóstolos e seus legítimos sucessores pudessem perdoar os pecados.

"Olha que entranha de misericórdia tem a justiça de Deus! - Porque nos juízos humanos, se castiga aquele que confessa sua culpa: e no divino, se perdoa. Bendito seja o Santo Sacramento da Penitência!" (Caminho, 309).

Este sacramento é denominado também Sacramento da Conversão, da Reconciliação, ou Confissão.

4. É o mesmo Jesus Cristo, por meio do sacerdote, quem absolve

Só os sacerdotes - com potestade de ordem e a faculdade de exercê-la - que podem perdoar os pecados, pois Jesus Cristo deu o poder só a eles. Não se obtém o perdão, portanto, dizendo os pecados a um amigo, ou diretamente a Deus. Além disso, no momento da absolvição é Cristo mesmo quem absolve e perdoa os pecados por meio do sacerdote, já que o pecado é ofensa a Deus e só Deus pode perdoá-lo. O sacerdote deve guardar - sob obrigação gravíssima - o sigilo sacramental.



5. Efeitos deste sacramento

Os efeitos deste sacramento são realmente maravilhosos:
  • A reconciliação com Deus, perdoando o pecado para recuperar a graça santificante;
  • A reconciliação com a Igreja;
  • A remissão da pena eterna contraída pelos pecados mortais e das penas temporais - ao menos em parte - segundo as disposições;
  • A paz e a serenidade de consciência, com um profundo consolo do espírito;
  • Os auxílios espirituais para o combate cristão, evitando as recaídas no pecado.

6. Necessidade da Penitência

O sacramento da Penitência é completamente necessário para aqueles que, depois do batismo, cometeram pecado mortal. A Igreja ensina que existe a obrigação de confessar os pecados mortais ao menos uma vez por ano, em perigo de morte e quando se for comungar.

Mas uma coisa é a obrigação e outra muito diferente é aquilo que convém fazer quando se quer que aumente nosso amor a Deus. Não existe a obrigação, por exemplo, de se beijar nossa mãe, nem a de cumprimentar nossos amigos, nem de comer todos os dias..., mas qualquer pessoa normal faz estas coisas. Se quisermos progredir no amor a Deus, devemos nos confessar freqüentemente, e nos confessar bem.

7. Conveniência da confissão freqüente

A Igreja recomenda vivamente a prática da confissão freqüente, não só dos pecados mortais - que devem ser confessados imediatamente - mas também dos pecados veniais. Desta maneira: 
  • Aumenta-se o conhecimento de si mesmo; 
  • Cresce-se na humildade; 
  • Desenraizam-se os maus costumes; 
  • Faz-se frente à tibieza e à preguiça espiritual; 
  • Purifica-se e se forma a própria consciência; 
  • Ajuda-se a crescer na vida interior, e aumenta a graça em virtude do sacramento.

Para crescer no amor a Deus é muito conveniente ter em muita estima a confissão: confessar-se com freqüência e bem.

8. Propósitos de Vida Cristã:

Devemos mostrar um grande amor e estima ao sacramento da Penitência. Fazer o propósito de recebê-lo com freqüência e bem preparados.


Saiba mais: Catecismo da Igreja Católica, 1422-1498




Autor: Jayme Pujoll e Jesus Sanches Bielar
Fonte: Livro "Curso de Catequesis" da Editora Palabra, España
Tradução: Pe. Antonio Carlos Rossi Keller
Extraído de http://www.veritatis.com.br/

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Importante: Os Erros de Interpretação da Bíblia Sagrada - Edição Pastoral


Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” - Professor Felipe Aquino

Saiba mais: Catecismo da Igreja Católica, n. 84-87; "Instrução sobre alguns aspectos da teologia da libertação" (Sagrada Congregação para Doutrina da Fé). 


Em síntese: A “Bíblia. Edição Pastoral”, em tradução e notas de Ivo Storniolo e Euclides Balancin, não preenche a finalidade que se propõe. Inspirada por ideologia marxista, deturpa as concepções da história sagrada e da teologia; a leitura materialista aplicada ao texto sagrado torna a mensagem imanentista, fazendo-a perder o seu caráter transcendental. O Vocabulário do fim do volume e as notas de rodapé dão as chaves de interpretação dos livros bíblicos; a própria tradução portuguesa, num ou noutro ponto, deturpa o sentido do texto sagrado. Em conseqüência, deve-se lamentar a difusão de tal obra nos ambientes eclesiásticos do Brasil. A Pastoral não significa incitamento à luta de classes e às divisões entre os homens.

As Edições Paulinas publicaram uma nova tradução da Bíblia dita “Pastoral” (BP), acompanhada de notas de rodapé e Vocabulário, que vêm suscitando perplexidade: há os que defendem tal edição, devida a Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, como sendo “o livro ideal” (ver “Jornal de Opinião”, 1-7/7/90, p. 3). Mas há também os que a impugnam com argumentos sérios, mostrando graves falhas na inspiração básica e na confecção de tal tarefa. 

Voltamo-nos ao problema, aduzindo observações provenientes, em grande parte, de D. João Evangelista Martins Terra S. J., Bispo Auxiliar de Olinda-Recife, Membro da Equipe Teológica do CELAM e da Pontifícia Comissão Bíblica.

1. Três observações básicas

A tradução do texto bíblico da Edição Pastoral é aceitável com algumas ressalvas. Todavia, as notas de pé de página e o Vocabulário, encontrado às pp. 1616-23, pretendendo dar a chave de leitura e interpretação da Bíblia, são alheios à Tradição bíblica judeo-cristã e distorcem a mensagem sagrada para o setor da ideologia sócio-político-econômica. Sem o perceber, o leitor desprevenido vai absorvendo uma concepção filosófica não cristã sob a capa de Palavra de Deus. Isto se depreende facilmente desde que se dê um pouco de atenção ao Vocabulário dessa Edição.

1.1. O elenco do Vocabulário

Eis os principais verbetes que interessam aos estudos e ao linguajar bíblicos ou os principais vocábulos da mensagem bíblica tomada como tal: Aarão, Abel, Abraão, Ação de graças, Adão, Adoração, Adultério, Água, Alma, Anjo…

Bem diferentes são os verbetes do Léxico da Edição Pastoral dispostos segundo a ordem alfabética: Aliança, Alienação, Amor, Autoridade, Auto-suficiência, Campo, Celebração, Cidade, Comércio, Compaixão, Comunidade, Conflito, Consciência, Conversão, Corrupção, Dinheiro, Direito, Discernimento, Dominação, Educação, Encarnação, Escravidão, Esperança, Exploração, Fé, Fraternidade, Gratidão, Herança, História, Idolatria, Injustiça, Integridade, Javé, Jesus, Julgamento, Justiça, Lei, Liberdade, Libertação, Liderança, Lucro, Memória,… Poder,…Produção, Projeto de Deus, Prosperidade,… Repressão,… Riqueza, Roubo, Tributo,… Violência… Estes vocábulos têm sua repercussão nas notas de rodapé, inspirando uma doutrina que já não é bíblica, mas preponderantemente marxista. Os próprios vocábulos tipicamente bíblicos que ocorrem no Léxico Pastoral, são esvaziados de seu conteúdo próprio e característico para assumir significação ideológica. Assim, por exemplo:

Aliança: É o centro da Bíblia. Deus se alia com os pobres e oprimidos para construir uma sociedade e uma história voltadas para a vida”.

Ora é de notar que a Aliança de Deus com os homens não começa na época dos pobres e oprimidos, mas é universal ou destinada a todos desde o início; o segundo Adão, Jesus Cristo, Mediador da nova e definitiva Aliança, tem sua imagem ou seu esboço no primeiro Adão, pai de toda a humanidade, conforme Rm 5, 14; é com os primeiros pais que Deus trava a primeira Aliança, voltada para todos os homens, conforme Eclo 17, 10.

Amor: Mistério de Deus e do homem. Gera a relação de onde brotam a liberdade e a vida”.

Celebração: Reunião do povo para comemorar os fatos centrais da vida e conservar a lembrança dos acontecimentos que marcaram a caminhada do povo”.

Este conceito se aplica às celebrações cívicas, não, porém, às celebrações litúrgicas, nas quais se torna presente e atuante a Páscoa (morte e Ressurreição) de Jesus Cristo para fazer que os homens participem da obra da Redenção.

Esperança: Dinamismo que mantém o povo aberto para realizar plenamente o projeto de Deus. A esperança leva o povo a buscar transformações econômicas, políticas, sociais e religiosas”.

Silencia-se o objeto supremo da esperança cristã, que é a vida eterna com a visão de Deus face-à-face.

Fraternidade: … Relação igualitária, onde todos, como irmãos, podem participar das decisões que constroem a sociedade, e juntos usufruir dos bens que cada um produz”.

Javé: É o misterioso Deus vivo que se manifesta respondendo ao clamor dos pobres e oprimidos para os libertar dos exploradores e opressores. Ele é a fonte e a meta da liberdade e da vida. Por isto é aliado daqueles que buscam liberdade e vida, opondo-se a todas as pessoas e estruturas que produzem escravidão e morte”.

Justiça: Realização do projeto de Deus. A justiça se concretiza na partilha e na fraternidade, dirigindo-se a sociedade para a solidariedade e a paz. Exige, para todos, a distribuição igualitária dos bens e a possibilidade de participar das decisões que regem a vida e a história do povo. Na Bíblia a justiça é eminentemente partidária, visando a defender a causa dos indefesos”.

Como se vê, os conceitos bíblicos são todos analisados em chave sócio-política, que supõe a luta de classes na sociedade.

Duas noções merecem especial atenção.

1.2. A Revelação

Eis como a apresenta o Vocabulário:

“Revelação: Manifestação de Deus através das realidades da vida e dos acontecimentos da história. Mostra o caminho que o povo deve seguir. Exige a atenção do homem, pois Deus está continuamente se revelando”.

O conceito de Revelação que até hoje se prolonga, é ambíguo. A fé católica distingue:

1) A Revelação de Deus normativa que manifesta o desígnio de Deus e os meios de salvação; encerra-se com Jesus Cristo, como diz a própria S. Escritura: “Outrora muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos pais pelos Profetas. No período final, em que estamos, falou-nos por meio do Filho” (Hb 1,1s).

2) Após Jesus Cristo, não há Revelação normativa; Deus proporciona “os sinais dos tempos” que reavivam no homem a consciência das verdades da fé, mas nada acrescentam de novo; estamos nos últimos tempos relativamente à doutrina (cf. 1Jo 2, 18).

O Papa Pio X condenou explicitamente a proposição modernista que dizia:

“A Revelação que constitui o objeto da fé católica, não se encerrou com os Apóstolos” (Denzinger-Schönmetzer, Enchiridion n.º 3421 [2021]).

O Concílio do Vaticano II reafirmou a clássica doutrina:

“"Jesus Cristo aperfeiçoa e completa a Revelação e a confirma com o testemunho divino de que Deus está conosco… A economia cristã, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e não há que esperar nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1Tm 6,14 e Tt 2,13)” (Const. Dei Verbum n.º 4).

Vê-se pois, que o Vocabulário da Bíblia Pastoral está longe do genuíno pensamento católico.

1.3. Projeto de Deus

Todo o Vocabulário e as notas de rodapé são perpassadas pela noção de projeto de Deus, que dá o sentido aos demais verbetes. Ocorre mais de seiscentas vezes na Edição Pastoral, e até mesmo cinco ou seis vezes na mesma frase.

Ora “projeto de Deus” no contexto dessa obra não é uma noção teológica; não significa nem Providência nem desígnio de Deus, mas, sim, algo de tipicamente marxista, como se depreende a seguir:

Projeto de Deus: Aliando-se aos que são marginalizados pelo sistema injusto. Deus entra na história com novo caminho: promover a liberdade e a vida para todos. Todavia esse projeto está sempre em conflito com o projeto das nações que alicerçam sua riqueza e poder sobre a escravidão e a morte do povo. A luta para manter vivo dentro da história o projeto de Deus é o ponto de honra do povo de Deus”.

Como dito, a expressão “projeto de Deus” entra na composição de muitos outros verbetes do Vocabulário como um chavão ideológico. Eis alguns espécimens:

Comércio: Atividade econômica fundamental da cidade, destinada… a gerar lucro, exploração e riqueza. No projeto de Deus, o comércio é superado pela partilha e gratuidade”.

Conflito: Choque entre grupos que têm objetivos e interesses diferentes. Na Bíblia, o principal conflito aparece entre o projeto de Deus para a vida e os projetos da auto-suficiência, que geram a morte”.

Consciência: Compreensão que o povo tem da realidade, a partir do projeto de Deus. Ela demitiza a ideologia da classe dominante, e cria discernimento para se construir uma sociedade fundada na justiça e na fraternidade”.

Educação: Relação entre gerações (pais-filhos), na qual se transmite a memória das lutas do povo, a fim de que a nova geração aprenda com os erros e acertos de seus pais. Dessa forma, a nova geração poderá criar caminhos novos e alternativos para realizar o projeto de Deus na história. As tradições da Bíblia se conservaram graças a esse processo”.

Encarnação: Deus encarna-se na vida e na história humanas, mostrando o valor inestimável que elas têm diante dele. A coerência com a fé exige que nos encarnemos também para que o projeto de Deus transforme as estruturas políticas e econômicas, dirigindo a história para a liberdade e a vida”.

Propriedade: O direito de propriedade é sagrado, e o mundo deve ser igualitariamente distribuído entre todos. A acumulação de propriedade, formando latifúndios, e a especulação imobiliária são contrárias ao projeto de Deus”.

Ressurreição: Passagem da morte para a vida. Não se refere apenas à morte física, mas a todas as mortes geradas por projetos contrários ao projeto de Deus”.

Sociedade: Grupo humano que realiza um projeto em comum, organizado em nível econômico, político, social e ideológico. Nem sempre a sociedade vive o seu projeto de acordo com o projeto de Deus, que provoca transformações profundas nas relações sociais”.

Estes poucos espécimens mostram que a mensagem bíblica é toda repensada e posta estritamente a serviço de transformações sócio-político-econômicas imanentes, sem que haja acenos à transcendência para a qual devem caminhar o homem e a história. A justiça e a reta ordem social neste mundo são germens do Reino de Deus, que só estará consumado no fim dos tempos ou no Além, jamais no decorrer da história. O materialismo marxista é que julga poder prometer a plena realização das aspirações dos homens no decurso da história mediante a redistribuição dos meios de produção material.

2. A filosofia subjacente

Quem lê atentamente os verbetes do Vocabulário e as notas de rodapé da BP verifica que são devedores ao que se chama “a leitura materialista da Bíblia”. Esta não nega Deus e os valores espirituais, mas julga que são “super-estrutura” ou derivados da “infra-estrutura” ou do jogo dos bens materiais no curso da história. Com outras palavras: supõe que os fatores decisivos da história sejam de ordem material (econômica) e política; a procura de posse dos bens materiais e do poder moveria todos os acontecimentos da história e condicionaria a crença em Deus, o culto religioso e a definição das normas morais. 

Adotando teses do marxismo, os fautores da leitura materialista da Bíblia contrapõem entre si campo e cidade, como, aliás, fazem I. Storniolo e E. Balancin:

Campo: É o polo fundamental da produção que sustenta a vida. É explorado pela cidade”.

Cidade: Lugar da riqueza e do poder, que se concentram na mão de poucos, produzindo conflitos, principalmente com o campo” (p. 1616).

Partindo destes conceitos, os autores das notas da BP comentam o texto bíblico de maneira artificial e deformante:

Assim, por exemplo, o livro do Gênesis refere que Lot se separou de Abraão, ficando aquele com as cidades, e este com os campos. A nota a Gn 13,1-18 diz então o seguinte: “Ló escolhe a região onde estão as cidades; assim ele entra no âmbito de uma estrutura que se sustenta graças à exploração e opressão do povo. Abraão, ao invés, fica aberto para uma história nova, fundada unicamente no projeto de Deus” (p. 26).

O comentário de Js 4,1-24 justifica a partilha da terra de Canaã pelos filhos de Israel nos seguintes termos:

“Antes da instalação de Israel, Canaã era um conjunto de cidades-Estado que oprimiam e empobreciam a população camponesa, através do sistema tributário. A conquista realizada por Israel derrotou esse sistema e implantou o sistema das doze tribos…, visando construir uma sociedade justa e igualitária… A nova geração deve ser educada a não voltar para trás, reproduzindo o sistema social injusto” (p. 244).

Vejam-se as notas paralelas:

“Só existe verdadeira paz quando se erradica completamente o sistema injusto que explora e oprime o povo” (p. 253).

“A conquista da terra… destrói um sistema classista injusto” (p. 255).

“As Cidades-Estado de Canaã justificavam a política opressora e exploradora dos seus reis” (p. 272).

“Sem poder mais explorar os camponeses e suas terras, tais cidades não conseguiram oferecer sacrifício… seus armazéns ficaram vazios por falta de trigo. Enquanto isso, os camponeses vitoriosos conseguiram livrar-se dos tributos e puderam gozar da fartura” (p. 274).

“Para uma volta ao projeto de Javé, é necessário romper… o sistema opressor das cidades” (p. 276).

A leitura materialista da Bíblia, julgando que as cidades se enriquecem mediante o tributo cobrado dos camponeses, afirma que os templos religiosos vêm a ser centros econômicos e políticos nos quais se deposita o lucro resultante da exploração comercial e tributária. É por isto que na p. 1237 se lê em rodapé:

“No tempo de Jesus o templo (de Jerusalém) possui imensas riquezas e toda a cúpula governamental age a partir daí. Desse modo a casa de oração e ofertas a Deus se torna um imenso Banco e lugar de poder político. Em outras palavras, a religião se torna instrumento de exploração e opressão do povo”.

Desnecessário é dizer que esta descrição fantástica do Templo no tempo de Jesus carece de toda base histórica. Esse Templo, devido ao rei Herodes, ainda estava em fase de acabamento na época de Jesus; as obras de decoração demoravam por falta de recursos, como descreve pormenorizadamente o historiador judeu contemporâneo de Jesus, Flávio José (Antigüidades Judaicas 15, 380-425).

Pelos mesmos motivos é despropositado o comentário feito em rodapé a Mc 11,15 (expulsão dos vendilhões do Templo):

“Acusando e atacando o comércio existente dentro do Templo, Jesus retira as bases sobre as quais se apoiava toda uma sociedade. Com efeito, era com esse comércio que se sustentava grande parte da economia do país. O gesto de Jesus mexe não só com um modo de vida religiosa, mas com toda uma estrutura que usa a religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e sustentar uma visão mesquinha de salvação. Por isso, os que se favorecem desse sistema, pensam em matar Jesus, mas temem o povo” (p. 1298).

Este comentário fica longe da realidade histórica. O que ocorria no tempo de Jesus, era o seguinte: como em todos os santuários (ou mesmo como em todos os lugares onde se aglomera muita gente), no Templo de Jerusalém acorriam, nos dias de festa, camelôs e vendedoras ambulantes que armavam suas bancas para vender alimentos, objetos para o culto (vítimas), lembranças ou para fazer o câmbio das moedas estrangeiras. Esses pequenos comerciantes prestavam serviço aos milhares de peregrinos que afluíam ao Templo nas grandes solenidades; mas o acúmulo de gente, com suas necessidades, dava ocasião propícia à ganância e à exploração. Entende-se então que Jesus tenha reagido contra esses abusos; tal reação, porém, não teve, em absoluto, as proporções que a Bíblia Pastoral lhe atribui:

“Acusando e atacando o comércio existente no Templo, Jesus retira as bases sobre as quais toda uma sociedade se apoiava. De fato, era com esse comércio que se sustentava grande parte da economia do país. O gesto de Jesus abala não apenas um sistema de vida religiosa, mas toda uma estrutura que usa da religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e para sustentar uma visão mesquinha de salvação. Jesus é apresentado como o rei legítimo, centro de nova aliança: ele… é aclamado pelas crianças como o Messias. Aqueles que são privados de apoio oficial e de poder, estão prontos para receber Jesus, enquanto as autoridades o rejeitam” (p. 1267).

Eis alguns espécimens da leitura materialista realizada pelos responsáveis da BP. Não se encontra nesta alguma alusão aos Santos Padres, à Tradição e ao Magistério da Igreja; o que aí se incute, é a perspectiva de uma sociedade estruturada segundo o marxismo e não a imagem do Reino de Deus em demanda de sua consumação escatológica.

Mc 8,27-33: A ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres, e poderosos à custa de fracos. Por isto, essa sociedade vai matar Jesus antes que ele a destrua”.

É este o comentário a uma passagem evangélica que fala da morte e ressurreição de Jesus. Estas são simplesmente silenciadas pelos comentadores, como se não tivessem, antes do mais, importância transcendental.

Além de se ressentir de inspiração ideológica marxista, a Edição Pastoral comete seus erros teológicos e exegéticos, como se verá a seguir.

3. Erros doutrinários

1. No tocante à vida póstuma, os autores das notas parecem professar a ressurreição dos corpos logo após a morte do indivíduo, em desacordo com a doutrina oficial da Igreja e dos textos da própria Bíblia. Com efeito, eis o que se lê à p. 1476:

“Em Corinto alguns pensam que, depois da morte, a alma imortal continua vivendo sozinha… Outros pensam que tudo termina com a morte… Paulo mostra que ambas as opiniões são contrárias ao núcleo da fé cristã”.

Na verdade, a própria S. Escritura (ou o próprio São Paulo) professa a sobrevivência da alma sem o corpo, ficando a ressurreição da carne reservada para o fim dos tempos. Ver, por exemplo:

1Cor 15, 22-24a : “Assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda (parusia). A seguir, haverá o fim”.

1Ts 4,16s: “Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor nos ares”.

Estes dois textos situam a ressurreição dos mortos no momento da parusia ou da segunda vinda de Cristo. – Entre a morte do corpo e a ressurreição no fim dos tempos, a alma separada do corpo goza da sua sorte eterna (bem-aventurada, se a pessoa morreu em graça):

2Cor 5,8: “Estamos cheios de confiança, e preferimos deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor”.

Fl 1,23: “Meu desejo é partir e estar com Cristo, pois isto me é muito melhor”.

Lc 23, 43: Disse Jesus ao bom ladrão pouco antes de morrer: “Em verdade eu te digo: Hoje estarás comigo no paraíso”.

A Congregação para a Doutrina da Fé explicitou esta doutrina numa Instrução datada de 17/05/1979, onde se lê:

“…3) A Igreja afirma a sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual, dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o “eu humano” subsista, mesmo sem corpo. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra “alma”, consagrada pelo uso que dela fazem a Sagrada Escritura e a Tradição. Sem ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos significados, Ela julga, não obstante, que não existe qualquer razão séria para o rejeitar e considera mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para sustentar a fé dos cristãos…

5) A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera a gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, que Ela considera como distinta e diferida em relação àquela condição própria do homem imediatamente depois da morte.

6) A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tirasse o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único; ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos”.

2. Algumas vezes as notas de rodapé da BP, de índole histórica, são derivadas da Bíblia de Jerusalém. Mas nem sempre de modo inteligente. Assim, por exemplo, no comentário de Ex 23, 14-19 a Bíblia Pastoral repete o mesmo erro que já ocorria na Bíblia de Jerusalém em português, afirmando que a festa das Semanas era celebrada durante sete semanas ou cinqüenta dias (p. 96). Ora a Festa das Semanas, chamada Pentecostes em grego, era celebrada cinqüenta dias após o começo da colheita, como explicam Dt 16,9 e Lv 23,16, mas não durava cinqüenta dias; durava um dia apenas!

3. A BP traduz 1Cor 7, 36-38 nos seguintes termos:

“Se alguém, transbordando de paixão, acha que não conseguirá respeitar a noiva, e que as coisas devem seguir o seu curso, faça o que quiser. Não peca; que se casem. Ao contrário, se alguém, por firme convicção, sem constrangimento e no plano uso de sua vontade, resolve respeitar a sua noiva, está agindo bem. Portanto, quem se casa com sua noiva faz bem; e quem não se casa, procede melhor ainda”.

Ora o texto grego original fala de virgem (parthénos), e não de noiva (nymphe). A tradução clássica é apresentada pela Bíblia de Jerusalém:

“Se alguém julga agir de modo inconveniente para com a sua virgem, deixando-a passar da flor da idade, e que portanto deve casá-la, faça o que quiser; não peca. Que se realize o casamento! Mas aquele que, no seu coração, tomou firme propósito, sem coação e no pleno uso da própria vontade, e em seu íntimo decidiu conservar a sua virgem, esse procede bem. Portanto procede bem aquele que casa a sua virgem; e aquele que não a casa, procede melhor ainda”.

Em nota a Bíblia de Jerusalém alude à tradução adotada pela BP como sendo pouco habitual. A BP prefere a nova maneira de traduzir, sem dar informações sobre o seu caráter muito hipotético.

4. Conclusão

É louvável a intenção de tornar o texto bíblico acessível e compreensível ao maior número possível de leitores. Isto, porém, não significa incutir determinada opção ideológica, de mais a mais que a ideologia marxista se apresenta ao mundo de hoje como fracassada e ultrapassada. A Justiça Social é sumamente desejável, sim; ela decorre da própria mensagem bíblica que a Doutrina Social da Igreja, através das encíclicas papais, vem desenvolvendo e aplicando aos nossos tempos. A Igreja não precisa de recorrer a sistemas heterogêneos para propor aos homens a autêntica mensagem da salvação.

Notemos a grande responsabilidade que toca a tradutores e editores da Bíblia: a linguagem do texto sagrado penetra e forma a mentalidade do povo que a lê. A tradução de Lutero plasmou a língua alemã. Permita Deus que a sua santa Palavra não sirva de instrumento para levar o povo cristão à deterioração e a desvios da fé!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

São Paulo contra o Adventismo do Sétimo Dia


Assim a lei se nos tornou pedagogo encarregado de levar-nos a Cristo, para sermos justificados pela fé. Mas, depois que veio a fé, já não dependemos de pedagogo, porque todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo”. (Gl 2,24-26).

O fundador da denominação adventista é Willian Miller (1782-1849), camponês, nascido de pais piedosos batistas. Em 1816, comparando os textos sagrados entre si, chegou à conclusão de que a segunda vinda de Cristo se daria em 1843. Os 2300 dias mencionados em Dt 8,5-11 deveriam ser tidos como anos, que ele começava a contar a partir do retorno de Esdras a Jerusalém, ou seja, a partir de 457 a.C. Donde 2300 - 457 = 1843.


O fim do mundo, portanto, haveria de se dar, precisamente, entre 21/03/1843 e 21/03/1844. Nesse período de tempo, Cristo reapareceria sobre a terra e reinaria com os santos pelo espaço de mil anos, durante os quais se daria a exaltação dos bons e a condenação dos maus, como parecia sugerido por Ap 20,6s.


Em 1842-1843, Miller realizou 120 assembléias nos campos, com a participação global de 1500 ouvintes. A comunidade batista o excomungou. Miller tinha 5 mil discípulos em 22/10/1843.


Na verdade, porém, o prazo previsto passou sem novidade alguma... Então, o discípulo de Miller, S.S. Snow, refez o cálculo, alegando que o ano hebreu não correspondia ao ano cristão; por conseguinte, o termo exato da segunda vinda do Senhor seria o dia 22/10/1844. Foi por esta ocasião que os seguidores de Miller tomaram o nome de "adventistas". Todavia, também esta nova data decorreu sem alteração da história, e o entusiasmo de muitos discípulos se arrefeceu.


Surgiu então a figura ardorosa da Sra. Ellen Gould White. Era metodista, quando aderiu à pregação de Miller e esperou a vinda de Cristo em 1844. Ellen dizia ter revelações que ela assim explicava: em 1844 se deu realmente algo de novo, não na terra, mas no céu. O santuário de que fala Dn 8,14 é o Santuário celeste, do qual trata também Hb 9,11s; Jesus, naquele ano, entrou no "Santo dos Santos" do céu. A sra White dizia tê-lo visto com seus próprios olhos...


A tese, assim proposta pela "vidente", conseguiu convencer muita gente. Depois que Miller morreu, tornou-se Ellen White a grande mestra do adventismo. Outra tese que a profetisa incutiu aos adventistas foi a observância do sábado... Entre 1840 e 1844, alguns grupos batistas passaram a observar o sábado em lugar do domingo. Os Adventistas do Sétimo dia (sabatistas), exigem a fé não somente nas Escrituras, mas também no espírito de profecia de Ellen Gould White.


Impunha-se também aos novos crentes a abstinência de fumo e álcool, sob pena de excomunhão da Vida Eterna. A Ceia do Senhor era celebrada com suco de uva, sem álcool. À medida que os adventistas foram se organizando, as cisões se multiplicavam em seu âmbito, originando ramos diversos: adventistas evangélicos, cristãos adventistas, a Igreja de Deus, a União da Vida e do Advento, os adventistas da era vindoura...

O Adventismo do Sétimo Dia é um ramo bem particular do Protestantismo, principalmente pelo seu sincretismo entre os princípios da Reforma e a Lei judaica. Como toda denominação protestante dizem que sua doutrina se baseia única e exclusivamente na Bíblia, mas, no entanto é a própria Bíblia que os desmentem. Como seria demasiado longo escrever sobre todos os pontos em que a doutrina adventista se choca com a Sagrada Escritura e sobre os ensinamentos dela que são totalmente desprezados, neste trabalho trataremos somente da doutrina paulina. Com efeito, ninguém foi mais duro com os judaizantes do que S. Paulo. 

A autoridade do AT e do NT

Para os adventistas o AT e o NT possuem a mesma autoridade. Defendem esta tese com as seguintes palavras de S. Paulo: "Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça" (2 Tm 3,16).

Dizem eles “Toda é Toda”, concluindo que não se pode ter preferência pelo NT em detrimento ao AT. Com efeito, de forma alguma negamos a inspiração divina do AT, nem tampouco dizemos que dele não se deve tirar proveito. Entretanto é o próprio Apóstolo que diz que a Lei não vale mais com o advento de Cristo:

Irmãos, vou apresentar-vos uma comparação de ordem humana. Se um testamento for feito em boa e devida forma, por quem quer que seja, ninguém o pode anular ou acrescentar-lhe alguma coisa. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: aos seus descendentes, como se fossem muitos, mas fala de um só: e a tua descendência, isto é, a Cristo. Afirmo, portanto: a lei, que veio quatrocentos e trinta anos mais tarde, não pode anular o testamento feito por Deus em boa e devida forma e não pode tornar sem efeito a promessa. Porque, se a herança se obtivesse pela lei, já não proviria da promessa. Ora, pela promessa é que Deus deu o seu favor a Abraão. Então que é a lei? É um complemento ajuntado em vista das transgressões, até que viesse a descendência a quem fora feita a promessa; foi promulgada por anjos, passando por um intermediário. Mas não há intermediário, tratando-se de uma só pessoa, e Deus é um só. Portanto, é a lei contrária às promessas de Deus? De nenhum modo. Se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, em verdade a justiça viria pela lei; mas a Escritura encerrou tudo sob o império do pecado, para que a promessa mediante a fé em Jesus Cristo fosse dada aos que crêem. Antes que viesse a fé, estávamos encerrados sob a vigilância de uma lei, esperando a revelação da fé. Assim a lei se nos tornou pedagogo encarregado de levar-nos a Cristo, para sermos justificados pela fé. Mas, depois que veio a fé, já não dependemos de pedagogo, porque todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo”. (Gl 2,15-26) 

Aqui S. Paulo expõe muito bem a distinção de autoridade entre o AT e o NT. O Primeiro é o ministério da Lei através de Moisés, o segundo é ministério da Graça através de Cristo. O primeiro teve sua utilidade, mas pela Fé em Cristo não dependemos mais dele. Para S. Paulo o AT não é igual ao NT, nem tem a mesma autoridade. Interessante, pois aqui S. Paulo mostra que o NT é mais antigo que o AT.

Ainda: “Sepultados com ele [Cristo] no batismo, com ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos. Mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão da vossa carne, chamou-vos novamente à vida em companhia com ele. É ele que nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz" (Cl 2,12-14) .

S. Paulo mais uma vez esclarece que o AT foi abolido por Cristo na Cruz. Para os sabatistas o Apóstolo está se referindo apenas às observâncias cerimoniais. Ora, desde quando estas observâncias acusavam os judeus? O que os acusavam eram as prescrições morais da Lei (cf. Tg 2,10-11). Mas os sabatistas que dizem ter a Bíblia como única regra de Fé e prática dizem que tais prescrições ainda valem para nós cristãos.

A doutrina Paulina entre os Testamentos também é expressa de forma clara em Hebreus 9.

Sobre os Dez Mandamentos

Para os sabatistas, os Dez Mandamentos conforme constam na letra do AT são irrevogáveis. Daí concluem que os cristãos ainda estão obrigados à observância do Sábado dos judeus.

Vejamos o que S. Paulo diz sobre os Dez Mandamentos: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face (embora transitório), quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito! Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais o há de sobrepujar em glória o ministério da justificação! Aliás, sob esse aspecto e em comparação desta glória eminentemente superior, empalidece a glória do primeiro ministério. Se o transitório era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece!" (2Cor 3,7-11) .

A Escritura não deixa dúvidas de que o Apóstolo estava se referindo aos Dez Mandamentos. S. Paulo se refere a um evento registrado no Êxodo:

"Moisés ficou junto do Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água. E o Senhor escreveu nas tábuas o texto da aliança, as dez palavras. Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas da lei. Descendo do monte, Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor. E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele" (Ex 34,28-30) .

Para S. Paulo o Decálogo era transitório e tornou-se pálido com o advento de Cristo. Enquanto para os sabatistas ele é eterno e vivo. Ver ainda 2Cor 3,2-3.

Sobre o Sábado e comidas

Os adventistas crêem que os cristãos devem guardar o Sábado e que devem se abster de carne de porco. Porém, S. Paulo escreveu aos Colossenses: "Ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo" (Col 2,16-17) .

Dizem os adventistas que S. Paulo estava se referindo aos sábados festivos e comemorativos. Porém, S. Paulo utiliza aqui a palavra grega Sabbaton, que quando utilizada na forma como empregou o Apóstolo (sem ser precedida de numeral ordinal: primeiro, segundo e etc) significa Sétimo Dia. No NT TODAS AS VEZES em que este ela aparece nesta forma refere-se ao Sétimo Dia. Por quê só em Col 2,16 não?

Os sábados comemorativos são as festas e as luas novas (cf. Nm 10,10; 1Cr 23,31; Jt 8,9; Is 1,13-14; Os 2,13). Se S. Paulo estivesse referindo-se somente aos sábados comemorativos não relacionaria do Sétimo Dia ao lado das festas e luas novas.
Ellen White, a "profetisa" que errou
S. Paulo ensina aos Colossenses que os cristãos não devem ser incomodados por causa de comida e bebida, entretanto Ellen White prescreveu uma série de restrições alimentares. No Domingo acontecia a Ceia do Senhor, reunião de adoração a Deus.

Em 1Cor 11 S. Paulo dá instruções sobre como os fiéis devem se comportar nas reuniões de Culto a Deus. Os versículos 20 e diante tratam exatamente da Ceia do Senhor que era ordinariamente celebrada no primeiro dia da semana, isto é, Domingo (cf. At 20,7). Ainda em 1Cor 16,2 há instruções sobre as coletas. Isso prova que a Ceia do Senhor não era uma mera reunião de refeição como ensina Ellen White. Prova também que o Domingo desde os tempos apostólicos já era observado como dia de culto.

O Juízo Investigativo

Ellen White ensina que Jesus em 22 de Outubro de 1844 entrou no Santuário Celeste para espiar os pecados dos homens. Porém em Hebreus lemos: "[...] [Cristo] Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus" (Hb 1,3). Logo Jesus não realizou a expiação dos pecados em 1844, mas com seu sacrifício na Cruz.

Também consta em Hebreus: "Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. [...] sem levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma redenção eterna" (Hb 9,11-12) (grifos meus). A Escritura ensina que Cristo entrou no santuário celeste logo após sua morte e não em 22 de Outubro de 1844.

Jesus tinha pecado?

Ellen White ensina que Jesus era tudo semelhante a nós, inclusive no pecado. Como pode Deus ser inimigo de Si mesmo, já que o pecado é uma ofensa a Ele? É claro que a Escritura rechaça tamanho absurdo. Veremos qual é o ensino Paulino sobre esta matéria:

"E esta aliança da qual Jesus é o Senhor, é-lhe muito superior. Além disso, os primeiros sacerdotes deviam suceder-se em grande número, porquanto a morte não permitia que permanecessem sempre. Este, porque vive para sempre, possui um sacerdócio eterno. É por isso que lhe é possível levar a termo a salvação daqueles que por ele vão a Deus, porque vive sempre para interceder em seu favor. Tal é, com efeito, o Pontífice que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado além dos céus, que não tem necessidade, como os outros sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro pelos pecados próprios, depois pelos do povo; pois isto o fez de uma só vez para sempre, oferecendo-se a si mesmo" (Hb 7,22-27) .

É a própria Escritura na qual os adventistas dizem ser sua regra única de Fé que afirma que Jesus não tinha necessidade de oferecer sacrifícios por seus pecados, pois eles eram inexistentes, pois era “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores”. É um absurdo que tamanha heresia seja ensinada como doutrina cristã autêntica.

Quem obterá vitória sobre o Demônio?

Ellen White ensina que a “Igreja Remanescente”, isto é, a Igreja Adventista, obterá a vitória final contra o Demônio. Entretanto lemos na carta aos Romanos: "a todos os que estão em Roma, queridos de Deus, chamados a serem santos: a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo! Primeiramente, dou graças a meu Deus, por meio de Jesus Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo é preconizada a vossa fé [...] O Deus da paz em breve não tardará a esmagar Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco!" (Rm 1,7-8.20) .

S. Paulo não só ensina como também profetisa que a vitória será da Igreja Romana.

Conclusão

Seria necessário escrever um livro para apresentar todas as contradições da doutrina adventista em relação à Bíblia. Tais contradições são gritantes e bradam até aos céus!

Aos seguidores de Ellen White valem ainda as palavras de S. Paulo: "Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado" (1 Cor 5,7). Com efeito, ainda estão ligados ao velho fermento dos fariseus (cf. Mt 16,6), por isso possuem tanta dificuldade em aceitar toda a Graça de Cristo. Também sobre isso S. Paulo ensinou: "Não fazemos como Moisés, que cobria o rosto com um véu para que os filhos de Israel não fixassem os olhos no fim daquilo que era transitório [o Decálogo]. Em conseqüência, a inteligência deles permaneceu obscurecida. Ainda agora, quando lêem o Antigo Testamento, esse mesmo véu permanece abaixado, porque é só em Cristo que ele deve ser levantado. Por isso, até o dia de hoje, quando lêem Moisés, um, véu cobre-lhes o coração. Esse véu só será tirado quando se converterem ao Senhor" (2 Cor 2,13-16).

Dizem os adventistas que as obras de Ellen White são uma “luz menor” que explica a “luz maior” que é a Bíblia. Entretanto a prática é bem outra: os livros de Ellen White são a verdadeira Regra da Fé para os adventistas. Para que a doutrina adventista tivesse coerência com seus próprios princípios deveria fazer como os ebionitas que recusaram como Escritura todas as cartas de S. Paulo.